Comprei a passagem. Pela primeira vez vou viajar só de ida, sem saber quando vou voltar. Escolhi o dia e a hora e sei que na véspera vou estar enlouquecendo. Ou quem saiba eu esteja sereno e só vou perceber a mudança alguns dias depois, quando aí sim vou enlouquecer.
Detesto despedidas e acho que por isso tenho vivido dentro de uma casca de ovo, lendo vários livros ao mesmo tempo e escutando música no meu quarto na casa dos meus pais.
Nunca li tanto, livros que tenho há mais de três anos e que nunca tinha folheado. E vai ser difícil escolher os dois ou três ou quatro ou cinco que vou levar comigo. Ou seis.
E penso em levar cada vez menos coisas.
Sinto um carinho tão grande pelas coisas mais simples. Acho minha cidade cada vez mais linda, o pessoal do trabalho mais divertido, meus amigos mais carinhosos, minha família mais comercial de margarina.
Várias vezes paro e presto atenção na paisagem, no rosto dos meus pais, na frase de um amigo. Quero guardar cada momento comigo e me dói saber que vou ficar um segundo sequer longe desse tanto de gente que eu amo.
E não tem uma noite que deito na minha cama e não me questiono se vou dar conta de me virar em outra cidade. Se vou conseguir um emprego bom, se as contas vão ser pagas e se não vou ser engolido pela muvuca.
Mas ao mesmo tempo percebo que preciso passar pra tudo isso. Não quero ser um adolescente de trinta anos. E não quero deixar esfriar nosso amor.
Mal posso esperar pra dormir e acordar do seu lado todos os dias de novo.
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