2 de abril de 2020

Hospital


Já estamos há duas semanas aqui no hospital. Venho dia sim dia não para ajudar meu pai e dar um descanso para minha mãe. Nesse período meu pai mudou da figura forte e independente para alguém que precisa da ajuda para sentar na cama, andar e ir no banheiro. Já ajudei meu pai a se limpar, troquei suas roupas, caminho com ele apoiado em meu braço. A gente só sabe como vai reagir quando está na situação. E é ótimo poder ajudar meu pai, não penso em mais nada, só em vê-lo bem. Vejo tanta gente reclamando da quarentena e acho que adoraria estar apenas em quarentena se soubesse que meus pais estariam bem, sem estarem expostos a esse vírus. Eu estaria bem em casa, faria meu trabalho, veria séries. Mas somado à quarentena tem as visitas ao hospital e a constante preocupação pela saúde do meu pai e da minha mãe como sua principal acompanhante.

Minha ansiedade é tanta nesses dias que fiquei com falta de ar. Na mesma hora pensei que estava já infectado pelo corona, mas ansiedade também dá falta de ar. E não tive febre. Agora ponho a mão na minha testa o tempo todo para verificar minha temperatura. A gente se adapta a tudo.

Meu pai cada dia está melhor, mas ele não vai voltar a ser quem era há algumas semanas. Ele não vai mais dirigir e vamos ter que adaptar o quarto e o banheiro dele com barras, cadeira de banho e andador. E ele não perde o humor, conversa com toda a equipe do hospital. Ele teve de mudar de quarto porque o andar de cima está em reforma, mas ele brincou que esqueceu de pagar o aluguel e colocaram ele pra fora do quarto. Tenho aprendido muito sobre mim, sobre minha família, sobre a vida. Tudo nos faz amadurecer.

Tudo fica tão mais relativo agora. O mundo nesse colapso e eu e minha família nesse pequeno colapso íntimo. Tudo vai ser diferente daqui pra frente, tanto para esse meu micro-mundo familiar quanto para o mundo como um todo.

Uma hora vai melhorar...

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