20 de maio de 2015

Criogenia

O congelador é um mundo inexplorado e não sei direito o que tem lá dentro. Eu me sinto como um Indiana Jones no Ártico: encontro um pedaço de algo congelado e tento descobrir o que será deve ser aquilo. Será que é comestível? Será que vai me matar?

Já descongelei uma pedra de gelo vermelha que só poderia ser bife. Mas na verdade era carne moída. Já era meus planos de comer um picadinho, mas então fui fazer um quibe. A vida do dono-de-casa é assim.

Eu já abri potes de sorvete jurando que era de chocolate, mas era só feijão.

E tem frutas esquecidas desde o natal (será que vou usar aquelas cerejas para alguma coisa?). Tem caldo de legumes caseiro. Tem até algumas claras congeladas que sinceramente nunca vou usar. Eu sei, guardei porque fiquei com dó de jogar fora em um receita que pedia muitas gemas e pensei em fazer suspiro, pudim de claras ou até mesmo tentar macarrons, mas eu sei que não vai rolar.

Comecei a tentar esvaziar meu Polo Norte. Trouxe pro almoço um pedaço de torta de fango que estava há muitos meses por lá. Fiquei com receio, cheirei, provei e realmente ainda estava gostosa. Freezer + microondas e eu me sinto meio Jetsons: você tira de uma máquina, coloca em outra máquina e come.

A porta dessa era glacial quase não fecha. Outro dia achei que estava muito bagunçado e tentei arrumar tudo, mas ficou de um jeito que não fechava mais a porta. É um quebra-cabeça. Tirei tudo de novo e arrumei como estava antes de tentar arrumar. A porta fechou.

Quando minha mãe vem me visitar ela sempre me leva uma sacola de coisas congeladas: frutas do quintal, empadão, pão de queijo. Eu digo para ela que não cabe, mas de alguma forma mágica ela faz o impossível: torna um congelador abarrotado em um abarrotadíssimo. E a porta fecha. Isso que importa! Joga lá dentro, fecha a porta e esquece.

Aliás, minha mãe é uma expert em congelamento. Ela tem um freezer horizontal no quintal e dois verticais na cozinha. Quando eu era pequeno e não tínhamos empregada, minha mãe contratava uma cozinheira para fazer pratos e porções para congelar. A moça trabalhava um dia inteiro sem parar. Acho que não existe mais esse tipo de serviço e eu não me imagino contratando algo parecido.

A minha última geladeira tinha um congelador interno, desses que a camada de gelo vai crescendo um pouco todos os dias. Esqueci um pote de sorvete lá dentro e ele ficou soterrado no gelo. Foi terrível, mas era lindo ver aquele monte de neve dentro da geladeira. Eu nunca vi neve de verdade, essa é a minha neve. E o feltro na época das decorações de natal.

Hoje meu congelador é frost-free (ou frósfri). Não tem neve, mas agora cabe mais coisa. Cabe um frango inteiro, muitas peças de queijo e, quem diria, até formas de gelo vazias.

19 de maio de 2015

Gotas

O caos faz sempre parte da vida. Quando tudo está muito certo, uma hora vai surgir uma bomba para bagunçar tudo.

As bombas caem o tempo todo. Algumas são uns estalinhos de festa junina. Outras são cogumelos nucleares com efeitos que duram um bom tempo.

A última bomba que caiu me jogou para fora da órbita da Terra. Fiquei flutuando um bom tempo sem saber exatamente para onde ir, mas não estava ruim flutuar sem rumo.

Aos poucos voltei pro planeta, encontrei algumas coisas que me fazem bem e comecei a pensar em rumos pra reconstrução.

Acordei atrasado para vir ao trabalho e vi umas gotas nas folhas da planta que fica na sala (uma Monstera deliciosa). Achei aquilo tão bonito que tive de tirar uma fotografia. E pensei que a planta não controla muito onde ela está. Ela no máximo vira as folhas em direção ao sol, além de soltar algumas gotas de água pela transpiração. E assim ela sobrevive.

Talvez eu tenha começado a sentir a direção em que o sol está.

18 de maio de 2015

Primeiro passo

A gente sempre tem uma ideia do que precisa ser feito para chegar a algum resultado. Nem sempre é certa, mas em geral leva ao caminho certo.

A barriga, por exemplo. Para emagrecer é preciso comer direito e fazer exercício. Simples assim. Mas por que é tão difícil colocar em prática?

Para se chegar a algum resultado é preciso rotina e consistência. É um esforço diário. Todo dia um pouco. Ou então é melhor nem se enganar e assumir logo a barriguinha de cerveja, o que também não é nenhum problema. Ruim é essa insatisfação entre querer emagrecer, mas não fazer nenhum esforço para isso.

É tão melhor chegar do trabalho, comer uma besteira e ver TV e internet até a hora de dormir.

O mesmo pensamento se aplica quando se quer guardar dinheiro, mudar de emprego, estudar. Tudo é muito simples na teoria. Mas na prática, a teoria é outra.

E nunca vai chegar aquela vontade avassaladora de correr, guardar dinheiro e fazer algo que será bom a longo prazo. É sempre complicado sair da inércia, da preguiça, do "eu mereço".

Mas é preciso dar um primeiro passo.

15 de maio de 2015

Ressacas

Nem lembro a última vez que saí no meio da semana. Com o tempo a vida fica cada vez mais cheia de responsabilidade e mais cotidiana.

E então eu saí ontem para um samba numa quinta-feira. Hoje acordei com uma bomba dentro da minha cabeça e o último lugar que queria estar era o escritório.

Apesar de estar aqui com a cabeça explodindo, essas escapadas no dia-a-dia são imprescindíveis. Ou então a vida vira um manual cheio de regras rígidas: dormir tantas horas, comer bem, chegar no horário.

A vida precisa ser mais leve, ser mais descontraída. E uma ressaca num dia de trabalho pode não ser a melhor coisa do mundo, mas é tão bom dar uma quebrada no cotidiano e lembrar que tem tanta coisa pra se fazer numa noite de semana.

14 de maio de 2015

Moscas e borós

A gente contruiu torres imensas para morar e ficar cada vez mais longe do chão, talvez para fugir dos bichos que moram próximos ao solos e ficarmos mais assépticos.

Mas os bichos não se importam com a distância, talvez sintam falta da gente. Querem ficar próximos a nós e à nossa sujeira. Devem gostar do nosso cheiro.

Hoje quando acordei tinha uma mosca parada no vidro da janela. Ela voou mais de quarenta metros pra vir me ver, comer minha comida, colocar seus ovos. Pensando assim, ela merece estar ali e usufruir de todos os benefícios.

Acho que acordei de bom humor e a deixei do mesmo jeito que encontrei, parada no vidro.

Quando eu voltar talvez ela tenha ido embora. Ou tenha conversado com as traças que teimam em aparecer. Formigas e baratas eu ainda não vi por ali, mas outro dia tinha uma lagarta no vaso de hortelã que comprei. Os piores visitantes, sem dúvida, foram as larvas de mosquito que surgiram na lixeira da cozinha.

Já tinha mais de duas semanas que eu não trocava aquele lixo, então mereci ser recepcionado por vários borós. Aliás, esse nome parece ser de algo tão simpático e não mini minhocas filhas de moscas. Não foi uma cena bonita ver vários grãos de arroz se mexendo e agora quando cozinho troco o lixo na mesma hora. Malditos borós.

Será que a mosca que veio me visitar hoje de manhã foi um daqueles borós?

13 de maio de 2015

Corporativo

Sempre trabalhei em ambiente corporativo. Mesa, computador, roupa social, caneca, divisórias e conversas próximas ao filtro de água e à garrafa de café.

Sonho em trabalhar em algo diferente. Fora do escritório talvez. Meu próprio negócio? Uma ONG? Não sei ainda.

Trabalhar em um ambiente corporativo é bem cômodo. Há vários graus de hierarquia, modelos para os documentos a serem produzidos, etiqueta para reuniões, há espaço para conversas descompromissadas, há cursos de capacitação, em geral os horários de expediente são cumpridos e, o melhor, férias remuneradas, décimo terceiro.

Apesar da comodidade, uma hora o trabalho, mesmo que exaustivo, começa a ser pouco e passa a não suprir a necessidade de fazer algo relevante, algo mais em sintonia com quem queremos ser. E agora?

Ler, pesquisar, entender a si mesmo e finalmente chegar à ideia de qual será a nova profissão. Parece bem simples. Mas na verdade dói e dá muito medo. Medo de não conseguir dinheiro, de largar algo certo. Uma hora tem que sair algo!



12 de maio de 2015

Propósito

Acho incrível quando vejo pessoas que encontraram o propósito de suas vidas e mudam tudo, reviraram-se e fazem algo de relevante. Gente que largou o emprego na multinacional para ajudar refugiados na África, outros que fundaram uma start-up e ainda aqueles que escreveram livros, fizeram filmes, abriram baladas. Na verdade, adoro histórias que começam com "largou seu emprego e foi fazer o que realmente tinha vontade".

Largar o emprego é assustador, mas nem sempre significa aterrissar no seu propósito de vida. Eu tive essa experiência há alguns anos. Não larguei meu emprego, apenas tirei uma licença não remunerada de três anos. E fui atrás do que eu estava com vontade: trabalhar com meio ambiente em São Paulo. Entrei em um escritório de advocacia ambiental e fiquei lá por quase todo o tempo da licença. Foi uma experiência incrível e não me arrependo. Aprendi um monte de coisas, mas ainda não sintia como se estivesse no emprego certo.

Não consegui encontrar ainda qual o meu trabalho. Voltei pra Brasília e para o meu emprego anterior. E desde então tenho lido vários textos sobre vida, empregos significativos e tudo mais. Mas nada ainda. Parece que tem uma barreira que me impede de sequer pensar no que eu deveria fazer.

Meu trabalho atual tem uma carga de trabalho tranquila e trabalho oito horas por dia. Eu poderia então pensar em um hobbie ou emprego que eu pudesse conciliar até que eu ficasse só com esse novo emprego.

E então comecei a pensar nos meus hobbies, nos meus interesses, no que eu realmente gosto de fazer no meu tempo livre. E no que eu estaria disposto a abrir mão. Nada ainda. É tão frustrante!

Eu gosto de cozinhar, mas não quero ter restaurante ou café. Pensei em começar a escrever um blog de gastronomia, mas não simplemente com receitas. Pensei em algo mais exótico. Ingredientes diferentes, receitas malucas e um bom design.

Adoro escrever, adoro a internet, adoro cozinhar e tirar fotos. Talvez seja um bom começo rumo a um trabalho mais significativo. Quem sabe!?

Hoje faz quatro meses que voltei para o meu emprego antigo e ainda não fiz nada para mudar.

11 de maio de 2015

Comida caseira

Depois de começar a cozinhar mais em casa desenvolvi uma relação diferente com a comida. Cozinhar não é difícil, mas é um pouco trabalhoso ter que planejar o que comer, preparar, guardar e limpar tudo. É muito mais fácil ir a um restaurante, escolher o que se vai comer e pagar. Mas além do preço mais caro a se pagar ao se comer fora, nem sempre a comida vale o investimento: tempero sem graça e ingredientes de má qualidade são algumas das coisas que me fazem me arrepender de ter ido a um restaurante.

Cozinhar é como um músculo. No começo é chato, dói e é complicado, mas aos poucos se pega o jeito.

E no caminho se preparam pratos que não ficam do que jeito que foram planejados. Alguns ficam até difíceis de comer. Outros tem que ir direto pro lixo. E quando um prato sai ainda melhor do que foi pensado, aí dá aquele gosto de comer. E é ótimo ver como aos poucos o preparo se torna mais encadeado, o corte da cebola saí mais bem feito, as receitas dos livros sofrem pequenas modificações e até viram pratos completamente novos.

8 de maio de 2015

Simples

Nessa semana, enquanto esperava um café e uma empada eu fui invadido por uma sensação tão boa.

O lugar estava cheio e barulhento, os garçons perdidos, o pedido demorava muito. Mas ficar sentado ali e observar o final da tarde cair, sentir o clima gostoso após a chuva no jardim da parte de trás do Café e estar junto de quem eu amo me fez sentir tão bem.

De repente foquei não no meu trabalho chato, mas sim no fato de não ter uma carga gigantesca de tarefas e, o melhor, terminar o expediente em um horário decente e poder sair para tomar um café e ir ao cinema de rua que fica próximo ao café.

E isso me motivou a pensar em como me condicionei a enfatizar sempre o lado ruim. De tudo. O tempo todo. O lado bom se perde no mar de coisas ruins. E isso foi me sufocou aos poucos, ao ponto de não conseguir enxergar nenhuma saída para mudar.

E então num simples lanche após o trabalho, percebi como minha vida é boa e como ela pode ser simples.

Foi quase como apertar um botão dentro da minha cabeça. Aliás, foi como um exame no oftamologista. O médico vira as lentes daquela máquina gigantesca e pergunta: "Esse está melhor? Ou este?". Parece que estava com um binóculos e troquei por uma lupa.

Claro, minha vida continua cheia de pepinos, abacaxis e bombas. E sempre vai ser assim. Mas também tem tanta coisa boa, dessas que passam despercebidas. É uma sessão de cinema, um livro bacana, um sorriso da moça do caixa, uma promoção de um produto que ia comprar de qualquer forma. E são tardes gostosas esperando um café e uma empada.

7 de maio de 2015

Leitura

Livros sempre fizeram parte da minha vida. Sou filho de dois professores, então lá na casa dos meus pais tem mais livros e estantes do que qualquer outra coisa. E não importa o tanto de vezes que minha mãe organiza livros para doação, sempre aparecem mais livros. Acho que eles se reproduzem durante a noite.
Nos últimos dois anos de São Paulo li muito pouco. Fiquei esse tempo com só um livro, o "2666" do Roberto Bolaño. É um calhamaço de quase novecentas páginas, mas não é difícil de ler. Demorei por preguiça mesmo. Na verdade são uns cinco livros dentro desse, então não fica assim tão ruim a minha média.
Comecei a ler a coletânia de poesias do Leminski e da Ana Cristina César, mas ainda não terminei. Eu nunca tinha comprado nada de poesia.  Depois que cheguei em Brasília li uma coletânea do Caio Fernando Abreu ("A vida gritando pelos cantos") e o "Alta Fidelidade", do Nick Hornby.
Tento mais de um livro ao mesmo tempo, assim quando chego numa parte chata, pulo para o outro livro. E gosto de ler livros com capítulos mais curtos, não gosto de deixar um capítulo na metade, mas às vezes não tem jeito.
Nesse ano resolvi ler mais. E comecei a experimentar os livros digitais. Desde então tenho tentado ler ao menos um capítulo por dia, independente de quão cansado eu esteja.
Foi assim que terminei de ler "Barba Ensopada de Sangue", do Daniel Galera, e "O Fim" da Fernanda Torres". E agora estou no final da biografia de Clarice Lispector, escrita por Benjamin Moser.
Eu adoro os livros de papel, mas depois de tantas mudanças de apartamento e de ter uma estante que já está lotada, não tenho comprado mais livros de papel. Ainda tem vários livros que ganhei e ainda não li, me esperando nas prateleiras.
Não tenho um desses leitores que imitam papel, então leio no celular e no tablet. Não é tão bom quanto um livro de verdade ou aparelho de e-ink, mas como o celular está sempre comigo, consigo ler quando estou numa fila, depois do almoço ou sempre que sobra um tempo. O melhor é poder carregar centenas de livros no bolso e quando terminar não se preocupar onde guardar.


6 de maio de 2015

Marmita Marmota

Eu adoro comer, mastigar, experimentar coisas novas. E agora restaurantes, chefs e programas de cozinha na TV estão mais em alta do que nunca.

Apesar de adorar comer, não gosto muito de cozinhar. Preguiça, falta de criatividade e de tempo também não ajudam muito. Mas sempre vejo várias receitas na internet e nos programas de TV para quem sabe um dia colocar em prática. Mas esse dia nunca chega.

Nessa semana me fiz um desafio: levar marmita para o trabalho. Hoje foi o terceiro dia e vamos ver se consigo fechar uma semana. No primeiro dia quinoa e um franguinho que já estava pronto lá em casa, no segundo dia macarrão integral com pesto de manjericão da horta do apartamento e hoje trouxe carne louca (adoro esse nome! Deviam existir mais comidas loucas) com arroz e castanha. A comida pode não ter ficado assim uma maravilha, mas está boa e saudável, além de me ajudar a escapar da vontade de comer uma fritura ou doce.

Eu já estava cansado de comer nos restaurantes perto do trabalho, além da logística de precisar pegar o carro para sair, achar vaga e tudo mais. E, sei lá, as refeições em geral são meio sem graça.

Agora eu esquento minha comida e desço para o jardim. Depois me sobra um tempo para mandar mensagens pelo celular, ficar em dia com as atualizações das redes socias e ainda ler um pouco no celular.

Volto pro computador mais tranquilo, me alimento de forma mais saudável e ainda aprendo a cozinhar. Tem várias receitas que quero experimentar e vai ser legal sentar, pesquisar e planejar as compras da semana.

E essa foto é das flores que apareceram no pé de manjericão. Elas são lindas e bem miúdas, mas significam que a planta está preparada para morrer. Engraçado isso do manjericão: ele só tem uma floração. Depois frutifica, joga suas sementes e morre. Ouvi dizer que se cortar as flores o pé demora mais a morrer. Eu cortei, apesar de ficar triste em cortar algo tão bonito. E comi hoje no almoço (uma delícia!).

5 de maio de 2015

Internet

Há mais ou menos uns vinte anos meu irmão instalou um modem no computador que todo mundo dividia lá na casa dos meus pais. Ninguém entendia muito bem para o que servia a internet e todos aqueles barulhos intergaláticos para a conexão. Eram 20 ou 30 horas por mês, um só e-mail, além dos gastos com o telefone.
 
O primeiro site que entrei foi o da Nasa e depois o da Coca Cola. Não me lembro qual foi o primeiro site brasileiro, quase não havia. Todos os sites conectavam muito devagar, quase sem imagens e com fundo cinza. E ficava aquela dúvida: se eu entrar em um site japonês vou pagar por uma ligação telefônica para Tokyo?
 
Naquela época não havia redes sociais, não havia YouTube e baixar uma música demorava horas ou dias. Eu consumia só textos e imagens. Havia muitos sites pessoais - não eram blogs ainda - com assuntos específicos: homenagem a bandas, filmes, seriados, quase tudo hospedado no Geocities.
 
Não havia Google e as buscas eram feitas pelo Altavista, Yahoo, Cadê. Eu lembro que pesquisava mais. Colocava uma palavra-chave na caixa de busca e ia pulando de um site para o outro.
 
Os blogs começaram para mim lá para os anos 2000. Eu comecei o meu primeiro em 2001. Era uma plataforma chamada Weblogger. Lá abri o mininoobjeto, assim com "i" mesmo e tudo junto, bem diário mesmo. Eu passava horas tentando entender HTML para mudar o layout no Frontpage. Quase nunca dava certo e eu nunca entendi mesmo HTML. O blog entrou para os destaques uma vez e consegui mais de 100 comentários em alguns posts. Me senti meio celebridade.
 
Depois abri o Upa!Neguinho também no Weblogger. Em 2004 tive muitas brigas na família por me expor demais na internet e tive que fechar meu blog. Não guardei nenhum histórico dos textos. Ia ser engraçado ler esses textos tanto tempo depois.
 
Meu próximo blog foi o Lima Limão, já no Blogger. Não lembro muito sobre esse. E aí em 2007 abri o Nuancez, que é esse que escrevo até hoje, mas que uma hora virou Ceznuan. De vez em quando gosto de abrir aleatoreamente um texto antigo e lembrar como me sentia naquela época. Escrever esse blog para mim é quase como uma historiografia. Talvez seja esse medo de perder a memória, de lembrar de mim em uma época passada, de não me desconectar de mim mesmo.
 
A internet, por ser esse mundo com espaço praticamente ilimitado, facilita essa busca por um histórico, por arquivamento.
 
Hoje minha vida é dominada por internet todo o tempo. Não tenho jornal impresso, nem revistas. Não compro dvds ou cds, só vejo filmes e séries online. Escuto e baixo música pela internet. Leio livros digitais no tablet e no celular. A maioria das minhas compras são pela internet ou ao menos pesquiso antes de comprar em uma loja física. Pesquiso sobre viagens, lugares aqui em Brasília, tudo pela internet.
 
Pesquiso bem menos, é verdade. Hoje tem tantas sugestões de artigos e sites no Facebook, no twitter e nos meus feeds. É raro eu encontrar algo que não seja por essas curadorias.
Mas de vez em quando sinto uma saudade da época em que a vida era mais simples, menos ligada 24h por dia. Já era. Agora é tudo sempre conectado o tempo todo.

4 de maio de 2015

Pérolas

Acordei com o título do livro do Rubem Alves ecoando em minha cabeça: "ostra feliz não faz pérola". Realmente, para fazer pérolas a ostra precisa ficar incomodada com algo que tenha entrado em seu organismo.

Já há algum tempo estou com váios grãos de areia que me incomodam, mas nem sinal de pérola. Mas vi que uma ostra demora mais ou menos três anos para fazer uma pérola. E vive uma média de 20 anos, ou seja, um sexto da vida fabricando pérolas. Mas enquanto ela fabrica essas pérolas, a vida dela não pára.

No meu campo profissional não saiu ainda nenhuma pérola, apesar do tanto de areia. Mas vai, pelo tempo que estou me sentindo incomodado, acho que está para sair um colar inteiro de pérolas para que eu use no meu próximo emprego, que eu ainda não tenho ideia do que vai ser.

Pelo jeito vai ser tipo aqueles colares gigantescos dos anos 20, que de tão grandes é preciso dar um nó.

 

1 de maio de 2015

Sonhos

Até hoje ninguém sabe direito porque a gente dorme. Os gregos antigos achavam que dormíamos quando o cérebro se esvaziasse de todo o sangue, para encher-se de novo de sangue quando formos dormir. Quando li isso achei que fazia todo o sentido. Talvez o cérebro não esvazie de sangue, mas precise renovar o sangue que está por ali. Imagino o cérebro como uma esponja elétrica cheia de sangue.

Eu simplesmente apago. Sono para mim é quase como uma morte. E durmo com barulho, com luz e até com os olhos abertos. Já dormi até dentro do Madame Satã, mas acho que foi a combinação de cansaço com álcool. Em geral durmo bem e raramente sonho. Ruim que tenho dormido pouco, algo como seis, no máximo sete horas.

Li também que na época da Revolução Industrial as pessoas dormiam sentadas, com os braços amarrados em cordas que pendiam do teto. Talvez eu não conseguisse dormir assim, mas com as jornadas de trabalho de 18 horas, os operários não dormiam, mas sim desmaiavam.

Ultimamente não sonho, mas já tive muitos sonhos quase reais. Desde deja vus ridículos até sonhos sexuais em que acordava com a cueca melecada. Já sonhei que voava, que caia, que nadava, que meus pais morriam, que alguém me perseguia e até alguns sonhos lúcidos em que eu sabia que estava sonhando. Não sonhei com pessoas mortas ainda. Já sonhei que era amigo de pessoas famosas, tipo o Michael Jackson.

Apesar de estar no metrô, escrever sobre isso me deu muito sono. Acho que é o balanço do trem, a passagem passando lá fora. Espero sonhar hoje!

30 de abril de 2015

Cerrado

Nascer no Planalto Central deixa a gente impregnado de cerrado. Árvores pequenas e tortas, cascas grossas, folhas com pelinhos, poeira e seca por todos os lados, mas, ao mesmo tempo, perto dos rios tem umas árvores grandes e exuberantes.

Antes da construção de Brasília ninguém queria saber o que era o cerrado. Se não era litoral, era sertão. Derruba tudo, corta e transforma em pasto.

Depois da inauguração de Brasília não mudou muita coisa, mas trouxe muita gente pra cá. E mais pessoas começaram a se impregnar de cerrado.

Aliás, o próprio nome cerrado já é uma dificuldade: fechado,  instransponível. Savana é muito mais simpático e me faz sentir ali na África com girafas, elefantes e leões.

E o solo? Ácido e difícil. Mas a vida é meio assim! Então vamos encher de calcário pra equilibrar e poder plantar soja? Bem, quando a gente viaja de carro aqui pelo Centro-Oeste só se vê campos de soja, com uma árvore ou outra isolada.

Mas o cerradão tem me encantado. E encanta outras pessoas também! Nos últimos anos já é fácil encontrar sorvetes e sobremesas com frutas daqui: cagaita, pequi, baru. araticum, cajuzinho-do-cerrado.

Adoro esse diminutivo nos nomes de alguns frutos do cerrado, dá impressão que posso colocar tudo no cerrado, desde que sejam versões em miniatura: maçãzinha-do-cerrado, uvinha-do-cerrado, melanciazinha-do-cerrado (essa existe de verdade e chama cabacuí!).

E quem sabe os ingredientes daqui entrem nos pratos clássicos. Afinal de contas, será que não dá pra substituir um pinole por um baru no molho pesto? Um creme de araticum ao invés de um crème pâtissière tradicional no mil-folhas? Uma tarte tatin de pequi? Risoto de gabiroba? Sei lá, talvez alguns desses não rolem mesmo, mas dá pra sair do arroz-de-pequi e do frango-com-pequi. Arroz-de-baru? Frango-com-jatobá?

E tem gente pesquisando o cerrado, buscando inovar. Nessa semana fui numa palestra do Ossobuco (http://ossobu.co/) com o chef Agenor Maia do restaurante Olivae (http://www.olivaerestaurante.com.br) e ele falou exatamente sobre essa pesquisa e valorização dos ingredientes do cerrado. Tem castanha do pequi, tem baunilha-do-cerrado (na verdade um baunilhão-do-cerrado, ela é dez vezes maior que a outra), chocolate de jatobá, azeite de pequi, além de várias outros tesouros escondidos por aqui.

E eu com toda essa curiosidade tenho vontade de experimentar tudo! E de pesquisar e me impregnar cada vez mais com esse cerrado.

29 de abril de 2015

Chá chá chá

Um bom chá sempre me ajuda quando estou com algum problema. Acho que ferver a água, colocar o sachê ou a peneirinha na xícara e esperar o sabor de todas aquelas ervas se diluir no calor e nos vapores. E tomar com calma.

Quando eu era pequeno nunca fui fã de chás, pois era quase um sinônimo de remédio. Chá de boldo para dor de barriga, chá de limão para gripe, chá de gengibre para dor de garganta. Dessa época, o único que gostava era o chá de cidreira, porque não é remédio para nada e até hoje tem um arbusto enorme na casa dos meus pais.

Quando fiquei mais velho virei fã de chá mate gelado com limão. Depois fazia em casa e deixava em garrafas enormes na geladeira.

Um pouco depois disso virei o doido do chá. Sempre tinha uma caixinha em casa. E então fui para Buenos Aires e entrei na loja mais incrível de chás, a Tealosophy. Era quase como entrar em uma loja de brinquedos, só que de chá. Várias latas enormes com folhinhas e cascas secas e com nomes e aromas maravilhosos. O vendedor abriu muitas latas com toda a paciência. Acabamos com todos! Ainda bem que minha mãe foi há pouco para lá e me trouxe muitas latas, então ainda tenho um estoque. Sem dúvida naquele dia entendi realmente o que é fazer um chá, misturar sabores e a importância de preparar uma xícara de chá com calma, beber e relaxar.

Mas comecei a escrever porque estava naqueles dias em que tudo parece escuro e sem graça. Abri minha gaveta aqui no escritório e lembrei que tinha uma caixa de chá de gengibre com limão. Preparei uma xícara e as coisas continuavam escuras e sem graça, mas ao menos eu tomava algo saboroso e um pouco mais aquecido. Aos poucos foram surgindo ideias e inspirações.

Eu passo tanto tempo no trabalho e em casa e tenho produzido tão pouco. Leio alguns textos interessantes entre uma tarefa e outra, mas não coloco muito em prática. Um blog sobre Brasília e coisas do cerrado? Um blog com palestras do TED e de outros sites? Um blog sobre criatividade, inspiração?

Aos poucos tenho tentado fazer algumas coisas para melhorar minha criatividade. Tenho brincado com jogos de videogames antigos no celular, tenho lido todos os dias um livro sobre a Clarice Lispector e, bem, tenho tentado não enlouquecer. E tomado chás. E até meditei outro dia.

Então as coisas não estão assim tão ruins. O trabalho não me consome, ganho um salário razoável e tenho tempo para ler, pensar e ver besteiras na tv. Está pouco, eu sei. Mas aos poucos as coisas vão se encaixando. O importante é fazer, escrever, sem pensar muito.

27 de abril de 2015

Saudades, São Paulo!

São Paulo foi minha casa por quase três anos. Subi e desci tantas vezes a rua Augusta e a Frei Caneca, que mapeei os quarteirões em minha cabeça. E a mesma coisa para a Paulista.

Aliás, uma das experiências que mais gostei desse período foi não ter carro. Andar a pé, usar o metrô e ônibus e, claro, táxi de vez em quando.

E agora, quase seis meses depois de voltar de lá, sinto uma saudade imensa das ruas cheias de gente, das pixações, dos prédio e casarões do centro, do café da manhã na Casa Mathilde, de andar na Paulista, de assistir filmes no Reserva Cultura, no cinema da Livraria Cultura ou no Frei Caneca, de tomar cerveja no Barão de Itararé, de comer hambúrguer de madrugada no Rock'n'Roll ou na Bella Paulista, de descobrir lojas, restaurantes e bares. Sinto falta de ir ao MASP, à Pinacoteca, de descobrir coisas incríveis no centro. Sinto falta dos shows nos SESCs, nos parques.Sinto muita falta dos amigos que fiz lá. Dos happy hours, dos almoços. Sinto falta até da maluquice do escritório que eu trabalhava.

Mas eu sentia a mesma coisa em relação à Brasília. Acho que é uma eterna nostalgia do passado. Na hora tudo parece tão complicado, mas com um distanciamento de alguns meses, tudo se torna lindo e harmônico. Eu sei que passei por muitos perrengues na época paulista, mas hoje em dia só ficaram as coisas boas.

Eu preciso focar no presente. Em construir algo legal agora e parar de ficar idealizando o passado e com medo do futuro. Minha casa agora é Brasília e eu preciso fazer com que seja a melhor experiência possível.

Mas sinto falta de SP. Acho que preciso pegar um final de semana e ir lá matar a saudade. Vai ser bom rever minha versão de SP.

13 de abril de 2015

Molhar-se faz parte da vida

Viver um dia após o outro tem me deixado completamente desconectado de mim mesmo. Eu não tenho conseguido fazer nenhum plano para nada, seja para coisas simples como emegracer ou para mais complexos como mudar de trabalho.

Minha vida tem sido medíocre desde a volta para Brasília. O que parecia ser uma chance para me reinventar, virou uma prisão com as portas abertas, mas que não consigo sair.

Pensei em fazer mais uma pós, tentar um mestrado, estudar para um concurso, mas estou eternamente em uma estado de falta de motivação. Minhas únicas vontade são ler livros de literatura, comer besteiras, andar de bicicleta e assistir televisão.

Tem três anos desde o dia que peguei o diploma da minha pós e desde então nunca mais estudei. Nada. Não sei para que rumo seguir, não sei o que quero fazer, não sei qual trabalho ou curso procurar. E sinto que posso ficar nessa situação por anos.

Parece tão simples me matricular em um curso. Ok, o meu salário não é lá essas coisas, mas se eu apertar um pouco sobra o dinheiro da mensalidade. E o mestrado é de graça. Uma discipliana como aluno especial é bem barato. A questão é que não consigo me motivar.

Não tenho interesse para nada, estou sempre cansado e com sono. E as horas durante o dia demoram uma eternidade para passar. E de noite voam.

Hoje fez três meses que voltei ao meu trabalho antigo. E eu preciso dar um rumo para minha vida. Sempre interpretei como um passo para trás para dar dois pra frente. Mas ficar nessa indefinição tem me sufocado. Parece que estou em um  eterno moonwalk do Michal Jackson e ando sempre para trás. Preciso de algo para me trazer alegria. Preciso de um projeto. Preciso criar.

Ok, vamos lá. O que preciso fazer? Atividade física. Correr e caminhar já é um bom começo. Cozinhar mais em casa para me alimentar direito. Filé de frango, carne de panela, coisas assim, nada muito elaborado. Ler algums textos que me acrescentem e me ajudem. Deixar as redes sociais de lado. Criar mais, tirar mais fotos, escrever mais, passear, arejar a cabeça. Rir.

E do que eu gosto? Afinal de contas estou completamente desconectado de quem eu era/sou, né? Eu gosto de tirar fotos.  Gosto de ler, pesquisar, ouvir música e podcasts, escrever, cozinhar, ir a exposições de arte, ir ao cinema, ao teatro. Gosto de ler jornais e feeds. Gosto de andar de bicicleta, andar a pé, viajar. Gosto de ir a restaurantes e lanchonetes. Ok, não enxergo nada disso como um possível rumo para uma profissão.
Mas o que todas essas coisas tem em comum? Tudo isso tem a ver com criatividade, eu sei. E talvez não criar nada, não ser criativo, tem me causado tanta angústia. E não enxergar um crescimento na minha vida tem me esmagado.
Eu não tenho medo de trabalhar, mas preciso acreditar nesse trabalho. E não acredito que ficarei muito tempo por aqui. Acho pequeno para mim. Não me inspira. É só um quebra-galho até eu arranjar outro emprego. Mas esse outro emprego tem demorado tanto.

Então vamos lá. Uma coisa de cada vez. Vou tentar, ou melhor, vou sair desse marasmo e vou começar a fazer pequenas coisas. Correr depois do trabalho já ajuda (antes do trabalho não dou conta). E vou pesquisar algumas receitas para voltar a cozinhar. E tentar criar algo, seja um desenho, seja uma foto, seja um projeto.

Vou começar pequeno. Três tarefas para hoje: correr, pesquisar receitas e criar algo. Bora! Molhar-se faz parte da vida!

21 de março de 2015

O Mar

Moro a uns mil quilômetros do mar mais próximo, bem no meio do país. Não sei como seria viver perto do oceano, pois o máximo que morei na praia foi por seis meses.

Lembro que nessa época sempre que me sentia triste ia ver o por-do-sol em qualquer praia da cidade e de repente a tristeza já nem era mais tão importante. E fiquei com a pele tão queimada que muita gente achou que eu era indiano.

O mar me deixa hipnotizado com o barulho rítmico, as cores, o cheiro. Entro no mar e sinto uma ancestralidade, quase uma volta pra uma casa que saí há muito tempo, que já não me lembro muito bem. Como ver uma foto da casa dos avós, em uma cidade bem distante que a gente visitou quando era quase muito pequeno para lembrar.

Quando entro no mar procuro conversar, mas não com alguém, mas com algo muito antigo e muito grande. E ouço a resposta pelo barulho das ondas quebrando. Sinto o abraço da água, além de sentimento ou sensação. Fico tão insignificante que só me resta pedir ajuda para achar meu rumo, pra cortar essas amarras que me prendem a tanta coisas que já nem sei bem a que. Pulo por baixo das ondas e sinto a espuma passar forte por minhas costas. Escuto vários sons quando estou submerso.

Posso ficar horas olhando o vai e vem, a arrebentação, encho meus pulmões com esse cheiro salgado, úmido e antigo. Sinto uma melancolia, mas que não chega a ser triste.

Algumas vezes quando entro na maré baixa enxergo minha perna de criança de três, quatro anos entrando no mar. Daquela sensação de não saber se estou indo pra frente ou pra trás quando o mar puxa a areia embaixo dos pés.

Quase nunca sinto medo do mar. Uma vez tinha uns quinze anos e estava na praia com minha mãe. Já não dava mais pé e eu não conseguia voltar. Mas não senti medo e nem vontade de nadar para a costa. Achei que minha vida tinha sido boa e que não tinha problema ir embora. Não gritei, não ouvi minha mãe. Mas chegou um salva-vidas e me tirou de lá. Até hoje não entendo essa sensação.

Outra vez viajei de barco com meus pais para uma ilha perto da cidade da minha mãe. Na volta choveu e o mar estava muito bravo. Eu, minha mãe e meus irmãos conseguimos sair quando o barco chegou no porto. Meu pai ficou embarcado e teve que sair do pier junto com a tripulação para voltar só quando o mar ficasse mais calmo. Chovia muito e voltamos pra casa da minha avó com muita tristeza. Eu rezei muito ou o que eu achava que era rezar com cinco, seis anos. Achei que meu pai não ia voltar e fiquei com muita raiva do mar. Meu pai voltou e me arrependi de ter sentido raiva e medo do mar.

Um dia vou morar perto da praia. Não sei quando e nem por quanto tempo. Mesmo no inverno. Imagino uma casa pequena numa cidade tranquila, ouvindo as ondas quando dormir e acordar, abrir as cortinas e as janelas e olhar a praia. .

Um dia vou entender essa paixão oceânica.

2 de março de 2015

Charada

No começo de 2012, há quase três anos, eu havia pedido uma licença sem salário do meu emprego e tirei uma semana de folga antes de embarcar para São Paulo.

Lembro que fui quase todos os dias à Água Mineral, praticamente vazia, para ler "Cem Anos de Solidão", do García Marquez, nadar e pensar no que faria nos próximos meses. Além das expectativas de morar em uma nova cidade, minha meta era conseguir um emprego na área ambiental de algum escritório de advocacia, mesmo sem ter experiência profissional para isso. Não tinha angústia, nem nada. Simples assim.

Semana passada voltei para o mesmo lugar na Água Mineral, quase como para encerrar um ciclo. Consegui emprego em um grande escritório e fiquei por lá o tempo que morei em São Paulo. Mas três anos depois voltei para Brasília e para o mesmo emprego de 2012.

Diferente da época pré-SP, eu não tenho uma meta específica. Ainda não sei o que quero com a volta, além de fatores gerais como ficar mais perto da minha família e ter mais qualidade de vida.

Passar em outro concurso? Fazer outro curso? Fazer mestrado? Abrir uma empresa? Montar uma start-up? Criar um app?

Uma das metas específica é comer de forma mais saudável e fazer exercícios. Eu já não sou mais tão jovem e tenho abusado de frituras e açúcar. A barriga também não tem ajudado. E, claro, comprar uma bicicleta.

Agora na parte profissional, não tenho ideia. Não estou motivado no meu novo/velho trabalho. E não sei que rumo seguir. É uma situação cômoda, pois recebo um salário que paga minhas contas e consigo voltar pra casa em um horário bom, com uma carga de trabalho razoável.

Mas o que eu quero fazer profissionalmente? O que quero fazer nos próximos três anos?

Tento não me angustiar muito com isso. Continuo vivendo e procuro prestar atenção nos sinais, no acaso. Mas nada tem me chamado atenção. Não tenho mais paixões, não tenho mais ideias. Até inventei um cheesecake de cupuaçu que e vendi para um restaurante, mas nem isso me fez ter vontade de investir nesse ramo.

Vou continuar pesquisando, meditando e refletindo. Uma hora descubro a resposta da charada.