16 de julho de 2021

Sexta



Finalmente sexta. Um cansaço no corpo, uma tristeza entalada. Cansaço e tristeza. Desânimo. Ao menos é sexta. Ao menos tenho saúde. Mas o corpo e a cabeça estão cansados. Ao menos ainda estou aqui, ainda sobrevivo. Raiva do Brasil estar assim, raiva de não estar vacinado ainda, raiva de ter ainda tanta gente hipócrita e reacionária. Queria estar com o coração mais brando, mas não é possível. São muitas mortes, muita corrupção. Eu quero sobreviver, quero estar em um país melhor. Espero que melhore. Espero sobreviver. Vou sobreviver. Vamos sobreviver.

14 de julho de 2021

Encolhido



Tenho me sentido recolhido. Como se eu não quisesse nada de fora, nada de externo. Quero ficar apenas aqui dentro. Dentro de casa, dentro de mim. Tenho encolhido e hibernado. Tudo em câmera lenta, tudo devagar. Talvez seja uma fase, uma forma de resistir a tudo o que tem acontecido. Será que após o final da pandemia vou voltar ao mundo externo? Não sei. Acho que tudo vai ser uma adaptação. Mas ando pequeno, encolhido e seco. Não choro, não sorrio, não sofro. Eu me sinto anestesiado. Talvez seja uma forma de sobreviver. E tenho conseguido sobreviver.

9 de julho de 2021

Sexta

É sexta, mas já acordei cansado. Acordei cedo, escuro ainda, não consegui mais dormir. Tenho um cansaço que não sai de mim. E me sinto esgotado. São tantas atribuições, tantas obrigações. Estou cansado e esse cansaço não sai de mim. Não adianta não fazer nada, não adianta dormir. É um cansaço sem fim. Estou irritado com tudo. Queria conseguir relaxar, mas não consigo. Preciso relaxar.

8 de julho de 2021

Sobreviver



Ando em um cansaço sem tamanho. Os dias se passam iguais, até gosto da rotina. Mas são muitos dias em que o medo está presente o tempo todo, inclusive em sonhos. Algumas vezes sonhei que saía em um lugar público sem máscara e não entendia como fui parar ali. Os dias são quase iguais, mas não tem refresco e nem descanso. Claro, estar vivo e saudável é uma grande vitória, mas a vida segue no mínimo necessário. Não há planos, não há descanso, não há riso, não há nada além do mínimo necessário para sobreviver. É como viver em uma guerra silenciosa e sem prazo para acabar. Conto os dias para poder me vacinar, mas sei que a vacina não é o fim disso tudo. Só vai haver um alívio quando quase todo mundo vacinar. Mas quero sobreviver, acredito que o país vai melhorar, acredito que a vida vai melhorar. Vamos sobreviver...

2 de julho de 2021

Sexta!



Finalmente a sexta. Estou bem cansado, corpo e cabeça. Os dias estão iguais, mas ao menos estamos vivos ainda. É muita coisa, eu sei, mas não é fácil continuar assim. Não há opção, precisamos sobreviver. Precisamos pensar em um mundo após tudo isso. Quero envelhecer, quero viver muitas coisas. Quero sobreviver... Enfim, a sexta. Um respiro, um leve alívio, um pouco de entorpecimento do vinho e das conversas com meu marido. Algumas horas que esquecemos que estamos no Brasil de 2021.

30 de junho de 2021

Caminhadas



Já virou meu hábito caminhar com Tominhas de manhã cedo. Fazemos quase sempre o mesmo percurso aqui perto de casa. Ele já domina o caminho, pula na grama, sobe e desce nos meio-fios, quer saber tudo o que acontece. Enquanto a gente caminha escuto podcasts, penso na vida, presto atenção ao que acontece ao meu redor. Só depois que ele chegou que finalmente tenho a sensação de viver em um bairro. Dou bom dia para algumas pessoas, conheço mais as ruas aqui perto, as fachadas das casas, imagino histórias dos moradores. É uma sensação boa para começar o dia, antes mesmo de tomarmos nosso café da manhã. Tenho gostado da nossa rotina matinal.

28 de junho de 2021

Fora!

Está difícil viver no Brasil em 2021. Estamos com o pior presidente na pior crise sanitária. Uma pessoa insensível, estúpida e genocida. Mais de 500 mil pessoas faleceram em decorrência do COVID-19 e os números de infectados e mortos continuam a crescer. Poucas vacinas disponíveis, mesmo com a expertise e a capilaridade do SUS. Não temos opção a não ser sobreviver, mesmo que abandonados pelo governo. Mas vamos sobreviver. Uma hora esse presidente sairá do poder, uma hora uma pessoa mais sensata vai ocupar o Palácio do Planalto. 




25 de junho de 2021

Sexta!



Finalmente outra sexta. A semana passou até rápido, mas é dolorido. A pandemia continua, mortes, contaminações. Quase sem notícias boas. Mas o jeito é sobreviver. Ao menos chegou a sexta, vai ter vinho, vai ter conversas com meu marido, vai ter música. Um pouco de alento.

23 de junho de 2021

Saudável



Tenho gostado de comer de forma mais saudável nos últimos tempos e tem sido muito bom notar que não tenho mais tanta azia e nem problema de digestão. E tenho conseguido emagrecer. Os quarenta já estão bem ali e quero ser mais saudável. A gente tem dividido as tarefas aqui: meu marido faz as comidas no domingo e eu fico com a faxina da casa. Na semana a gente só esquenta e come. Domingos já são meio chatos mesmo, mas agora é o dia quase todo trabalhando. Tem valido a pena.

22 de junho de 2021

Ovos no purgatório / Shakshuka



É gostoso falar shakshuka, mas é melhor ainda de comer. Significa simplesmente "mistura" no árabe do Magreb. Eu vi a receita em vários programas de televisão, mas é mais uma orientação. Fizemos um molho de tomates assados, congelamos e resolvemos fazer almôndegas com o molho para comer com pão no final de semana passado. Claro, sobrou muito molho, mas não o suficiente para uma grande refeição. Resultado: ovos no purgatório (ou shakshuka). Fiz a versão individual para um café da manhã mais diferente no meio da semana. Bastou esquentar um pouco do molho em uma frigideira pequena, quebrar um ovo com cuidado, colocar um pouco de sal, pimenta e ervas (tinha tomilho aqui em casa) em cima da gema, tampar por alguns minutos e pronto. Enquanto isso, cortei em tiras um pouco de pão e deixei na chapa de ferro com um pouco de manteiga. Depois é só colocar com cuidado em uma cumbuca e comer. E de repente nem parecia que eu estava em casa... Que delícia! Já que não dá para viajar na pandemia, o jeito é fazer comidas de outros lugares.

21 de junho de 2021

Família



Família é uma relação complexa. Cada pessoa é de um jeito, mas parece que não conseguimos enxergar essa individualidade. Eu sou o mais novo e acho que até hoje as pessoas da minha família me enxergam como "café com leite". É cansativo e preciso me posicionar mais, já tenho quase quarenta anos, mas minha imagem ainda não foi atualizada no sistema familiar. Família é complexo demais. São relações fortes e ao mesmo tempo frágeis, muito amor, muita tensão. E a pandemia complica tudo ainda mais. Viver com medo de tudo o tempo todo e por quase um ano e meio é algo impensável. Mas o jeito é seguir em frente e tentar melhorar.

11 de junho de 2021

Sexta!



Finalmente chegou a sexta. As semanas após feriado sempre parecem mais longas. Quase como se tivesse vivido o dobro de dias. Aliás, não tem sido nada fácil viver no Brasil nos últimos meses. Mas o importante é sobreviver. E me dei conta que não chorei nenhuma vez desde o começo da pandemia. Nenhuma lágrima, mesmo com séries e filmes tristes, mesmo com dias tristes no trabalho, mesmo com dias tristes na pandemia. Eu sinto raiva, muita raiva. Raiva do país estar desse jeito, raiva do descaso do presidente, raiva das 500 mil mortes que poderiam ter sido evitadas, raiva da exigência de fingir que nada disso tem acontecido para continuar a trabalhar e a estudar. Descobri que a raiva é maior que a tristeza e sinto que vou chorar uma cachoeira quando tudo isso acabar. Essa tristeza uma hora vai sair. E vai ter muito choro, de alegria e tristeza.

10 de junho de 2021

Paçoca



Adoro festa junina. O clima mais frio, comidas gostosas, milho e amendoim. Essa semana na encomenda das compras pedimos paçoca (é tão fácil de falar e estranho escrever, acho que é esse cedilha no meio da palavra). Minha família é do nordeste, então há dois tipos de paçoca na minha vida, a doce (rolha ou quadradinho de amendoim) e a salgada (farofa de carne seca desfiada no pilão). Eu gosto das duas. Mas a doce é vendida em todos os lugares, especialmente agora na metade do ano. Chegaram as compras e, depois de guardar tudo, preparei um café e comemos. É uma sensação tão boa. Um pouco de infância, um pouco de velhice. É preciso comer com cuidado para não esfarelar. É como a vida...

7 de junho de 2021

Feriadão



Eu precisava não fazer nada. Nem aula, nem trabalho, nada. E foi ótimo ter vários dias para não fazer nada. Acordei hoje sem saber direito que dia era, se precisava ou não trabalhar, mas em alguns segundos me lembrei que é segunda. E sim, preciso trabalhar. Tenho gostado de trabalhar em casa, não sinto falta do trabalho no escritório, nem do percurso de carro. Adoro minha casa e a companhia do meu marido e do nosso cachorro. Já quero mais feriado, mais clima frio, mais coisas de arraial.

3 de junho de 2021

Cogumelo

Eu adoro cogumelos. Shiitake, shimeji, paris, champignon, funghi. Eu fui experimentar um cogumelo fresco só quando já estava adulto, antes era só o champignon em conserva, que até hoje compro pra usar no bom e velho Strogonoff de frango. 

No jardim da casa dos meus pais de vez em quando nascia cogumelos no chão ou em então as orelhas de pau nos troncos de árvores. Sempre senti um certo receio, apesar de saber que as orelhas de pau são comestíveis. 

Comecei a ler o novo livro do Michael Pollan e fiquei mais curioso sobre cogumelos. Resolvi experimentar psilocobina. Devagar, apenas para ver como são. Eu e meu marido, luz baixa, playlist especial, um pequeno ritual para nós dois. A importância do "set and setting", o ambiente sonoro, visual, a segurança e a dosagem. Eu com menos e ele com mais, eu cuidaria caso acontecesse algo. Na vez seguinte invertemos os papeis. 

Uma sensação boa de conexão com o universo. As plantas da minha casa respiravam, as nuvens formavam desenhos que pareciam rochas e cavernas no céu. Introspecção, pensamentos soltos, ideias, o tempo passou ligeiro. Nada de televisão ou celular, apenas nós dois, a música, a respiração, os pensamento.

Na semana seguinte eu com mais e ele com menos. Sensação boa, introspecção, mas agora mais forte. Estampas que se moviam pela parede, plantas inspiravam e expiravam. Parecia haver um tecido fino nas paredes e com muitas plantas por trás. Lembrei a dica do livro do Pollan para apenas aceitar e seguir, não ter medo. Senti um pouco de enjôo e preguiça. Fechei os olhos e parecia que minhas pálpebras eram transparentes, não tinha muita diferença entre estar com olhos abertos ou fechados. A casa se transformou em uma floresta iluminada pelo luar. De repente eu era outra pessoa, vivia e experimentava a vida e então percebia que me enganei, estava em casa. Outra história começava e eu era outra pessoa. Deixei de ser eu mesmo, esqueci das minhas coisas, da minha história. E então me lembrava e me sentia enganado. Depois veio uma sensação de que fiz algo errado no trabalho, mas não lembrava o que era. Mas não importava. Deixei passar, lembrei que era engano novamente. Voltei para a floresta. Cheguei em uma personificação do mundo, uma montanha com rosto. Não tive medo e me senti acolhido. Uma floresta tranquila. Ouvi de longe um sino meio budista, mais sinos. Era o panelaço contra o maldito presidente. Alguns xingamentos, mais panelas. Aos poucos voltei para a minha floresta.

A música conduzia tudo, músicas New Age. De repente reconheço uma Enya ao fundo. A floresta se tornou toda em tons de roxo, folhas, flores e borboletas. E eu planava no ritmo da música. Uma sensação gostosa por todo meu corpo. Depois uma música indígena e cheguei em uma colina, perto de um precipício.  

Aos poucos voltei. A música continuava. Uma sensação boa no corpo todo. Um cansaço de viver tantas coisas. Foram quatro horas de várias vidas, locais, pensamentos. Autoconhecimento. A vida é tão complexa. Não apenas o que vemos. Que bom existem os cogumelos. 


2 de junho de 2021

Respiro e cores



Tem dias que a vida melhora um pouco. Acho que ter uma rotina mais saudável ajuda. Caminhar com o cachorro pela manhã, caminhadas pelo bairro a tarde, comer melhor, saladas, frutas, iogurte, pouca carne vermelha. Tem dias que parece haver um respiro.

28 de maio de 2021

Sexta!



Finalmente chegou a sexta, mas de uma semana tão boa. Teve aniversário do meu marido, sushi, red velvet, cogumelos, flores, pizza. Uma semana boa, como há muito tempo não tinha. E acordei bem hoje, também como há muito tempo não me sentia.

21 de maio de 2021

Sexta!



Meus óculos quebraram. Eles já estão há mais de três anos comigo e a essa altura eu já teria feito novos exames de vistas e encomendado uma nova armação e lentes. Mas estamos numa pandemia, as lentes ainda estão boas, mas a armação começou a desencaixar, o parafuso que segura a ponte na armação ficou solto. Resolvi usar um pouco de cola quente e por enquanto tem segurado... Mas enfim, chegou a sexta!

17 de maio de 2021

Vacinação (de gripe)



Depois de quase um ano e meio sem ir presencialmente ao meu trabalho segui de carro o caminho que fiz por anos, sem engarrafamentos e sem a preocupação em bater o ponto. Nem saí do carro, há uma campanha de vacinação da gripe e foi tudo feito no estacionamento. Não senti tristeza de ver o prédio do meu trabalho. Lembro que em fases mais sombrias de trabalho não conseguia nem passar ali perto para ir ao CCBB no final de semana, preferia fazer um caminho mais longo. E foi bom ser vacinado, mesmo que para influenza e H1N1. Ainda não é a vacina de COVID19, mas quem sabe até o final do ano eu consiga me vacinar. Tenho gostado muito de trabalhar de casa, tenho feito as pazes com meu trabalho.

14 de maio de 2021

Sexta!



Ufa, chegou a sexta! Só quero tomar meu vinho, comer algo gostoso e relaxar! Não está fácil ser brasileiro em 2021...