Amanhã vai ser outro dia

Depois de quatro anos tristes com mortes e descaso e uma eleição tensa, finalmente ter a confirmação que vamos ter um novo presidente. Que alegria! Eu chorei tantas lágrimas que nem sabia que estavam em mim. Chorei alto e ri. Que alegria! Amanhã vai ser outro dia!

Lembro que esses dias fui comprar pão aqui perto de casa. Comprei duas baguetes. Total: 13 reais. O rapaz da padaria então: "Olha, deu treze!". E eu não sabia se ele fazia piada ou era apoio. Achei melhor não falar nada, afinal de contas eu adoro essa padaria, dá para ir a pé e os tempos estão dão estranhos. Só respondi: "Verdade!". Cinco minutos depois voltei, pois esqueci que tinha que comprar uma ciabata e um rolinho de doce de leite. Total: 13 reais. E ele: "Deu treze de novo!". Só dei uma leve risada a paguei. Mas tomei esses dois treze com um presságio.

Teatro

Eu adoro cinema e televisão, mas o teatro é outra coisa. Os atores estão ali ao vivo, perto. Dá para ouvir, ver, sentir cheiros. Há erros, improvisações, novidades, recados. Eu não ia a uma peça de teatro há anos, desde antes da pandemia. Não lembro quando nem qual foi, mas tem muito tempo. Sábado passado fomos ver uma peça linda, musical, brasileira. Chama-se Céu Estrelado, no teatro do CCBB. Ando meio anestesiado com tudo o que tem acontecido, então foi bom me emocionar, pensar em um outro Brasil e lembrar que tem tanta coisa por aqui. Que saudade que eu estava do teatro.

Cansaço

As eleições são a cada quatro anos, mas desde 2018 eu não sinto esse cansaço tão grande como se a qualquer momento a democracia como um todo fosse ruir. As disputas eram entre dois candidatos que não tinham pretensões ditatoriais. Mas nos últimos anos essa ilusão de um país tropical com samba, futebol e carnaval foi completamente rasgada. Ódio, armas, igrejas, preconceitos e uma elasticidade do que seria crime eleitoral e abuso do poder econômico de quem tem acesso à estrutura administrativa do país e não poderia conceder vários benefícios com viés eleitoreiro. Eu não ideia do tanto de ódio que havia no país, inclusive na minha família e em pessoas próximas. E ao mesmo tempo apenas um senhor de mais de setenta anos, que deveria estar curtindo sua aposentadoria, pode ter chances de sair vencedor dessa disputa em que muita gente prevê algo como 51% a 49%. Mesmo com a má gestão da pandemia com centenas de milhares de mortes, a liberação da venda de armas a qualquer pessoa, ao orçamento público problemático e sem transparência e as constantes frases estúpidas e odiosas, mesmo assim quase metade da população ainda prefere votar no atual presidente. Mas mesmo com um placar apertado, eu espero que ver a vitória do ex-presidente para que ele possa cumprir mais um mandato. Enquanto não chega o segundo turno, já estou exausto. Mas tenho esperança ainda. E tenho procurado me distrair um pouco com pequenas surpresas como essas frutinhas do cerrado, o cajuzinho e a cagaita.

Sexta!

Sim, essa semana teve duas sextas, mas também duas segundas. O feriado foi ótimo exatamente por não ter feito nada, apenas li, joguei e assisti tv. O dia passou ligeiro. Aliás, os dias têm passado muito ligeiros e ao mesmo tempo é uma demora para chegar o dia da eleição. Não sei porque colocaram um intervalo tão grande entre os dois turnos. Eu só espero que o atual presidente não seja reeleito. Só isso que eu espero. Enquanto isso, ao menos é sexta.

Sexta!

Primeira sexta de outubro. Eu tinha expectativa que a eleição acabaria no primeiro turno, mas, claro, não seria fácil assim. Mas vai ser então no segundo turno. O mês começou cheio, muita coisa no trabalho, muitas emoções. Os dias passaram depressa e quando vi já era sexta de novo. E uma ventania por aqui. Quem sabe esses ventos tragam boas notícias. Espero que o final de semana seja bom!

Sexta!

Não sei de foi ter ficado longe do trabalho por quinze dias ou se realmente houve algum alinhamento astral, mas essa semana foi uma das mais difíceis e longas em muito tempo. Todos os dias houve bombas no trabalho, várias reuniões, prazos e tudo o que Murphy previu na maldita lei. Mas finalmente chegou a sexta! E volta um pouco a esperança, quem sabe! Domingo vão ocorrer as eleições e eu realmente espero ter notícias boas depois de quatro anos de uma névoa interminável. Ao menos um lampejo de esperança. Quem sabe volte o tesão, um sorriso e lágrimas de alegria? Quem sabe...

Cerrado

Eu sou apaixonado pelas árvores tortas e de casca grossa. Eu nasci aqui no cerrado e acho que também desenvolvemos essa casca grossa e essa sinuosidade tão comum na vegetação daqui. Um dos meus passeios favoritos desde que eu era pequeno é a Água Mineral, ou o Parque Nacional de Brasília. O ingresso custa 16$ e podemos passar o dia todo para fazer trilhas, meditar e tomar banho de piscina. Pra mim as trilhas são o melhor do passeio. Tanto a trilha mais exuberante, curtinha e verde (a da Capivara), quanto a mais cerradão (a Cristal Água). Eu sempre começo com a da Capivara, toda coberta com a copa das árvores, cheia de placas informativas. Em seguida vou para o ponto de meditação e sigo para a Cristal Água para uma caminhada de 5 km no meio do cerrado. Aliás, eu tive quase uma experiência de viagem no tempo e espaço. Enquanto caminhava me senti na caatinga, depois me senti em uma época há séculos quando não havia ainda Brasília e então minha água acabou faltando ainda mais de um quilômetro (a umidade estava muito baixa e me bateu um desespero). De repente escuto um barulho de água e vejo dois chuveiros enormes ligados. Corri para tomar banho e senti meu corpo inteiro estremecer com o choque térmico e de umidade, uma sensação maravilhosa. Em um minuto estava em uma escassez de água e morrendo de calor, no outro já estava em uma abundância de água corrente. Depois de meses em casa eu precisava de um pouco de natureza. Afinal de contas nós somos também bicho e água. Não quero mais ficar tanto tempo sem ir para o mato, mesmo que seja um mato aqui dentro da cidade.

39

Eu adoro comemorar aniversário. Dessa vez mesmo que o meu dia tenha caído em um sábado, não me animei para fazer nada grande ou elaborado. Apenas comemorei com a família. Um almoço aqui perto de casa na churrascaria americana e argentina com mesinhas ao ar livre na praça, depois sushi de noite e um café da manhã no hotel chic com meus pais, minha irmã, meu cunhado, sobrinho, minha sogra, minha cunhada e meu marido. Café da manhã de hotel, mesmo sem sair da cidade. Consegui uma folga do trabalho e estou aqui na piscina do prédio tomando um pouco de sol. E esse ipê rosa que floresce perto do meu aniversário na frente aqui do prédio. Os dias estão tranquilos. Tem sido bom envelhecer. Que essa nova idade seja boa, leve e que eu continue a aprender.  

Independência

O sete de setembro é o feriado colado no meu aniversário. Sempre foi um feriado que gostei, afinal a independência do país é uma data importante e até então era apenas um desfile na Esplanada, a esquadrilha da fumaça e uma moto com vários homens em cima. Mas desde 2018 esse feriado virou uma coisa maluca. Não sei como vai ser amanhã. Realmente não sei o que vai acontecer amanhã, mas quero ficar quieto em casa. Não vejo a hora de acabar esse governo e que tudo acabe já agora no começo de outubro. Força para nós!

Setembro

Começou o mês que eu mais gosto. É o mês do meu aniversário e quando começam as primeiras chuvas depois da seca, mas que neste ano ainda não apareceram. É o mês que me dou alguns mimos e recebo também. Nem parece que daqui a poucos dias vou fazer 39. Mas me sinto bem e até feliz. Que setembro seja bom e leve. Com cafés, chás, risadas, saídas e comidas gostosas.

Sofás

O sofá muda a casa toda. Parece exagero, mas eu sinto a mudança aqui em casa depois que chegou o novo sofá. Eu gostava do antigo, mas ele já estava bem desgastado. Era uma delícia se jogar nele. Grande, macio, extensível e desengonçado. Eu me sentia afundar em uma deliciosa areia movediça que me abraçava enquanto assistia a alguma coisa na televisão. E proporcionava um túnel para o nosso cachorro fazer de toca. O novo sofá é bem diferente. Ele é antigo e moderno, confortável na medida, mas que não permite a modalidade afundar na areia movediça. Ele é de couro e madeira. Escuro, minimalista, elegante. Não proporciona uma toca ao nosso cachorro, então compramos uma que fica ao lado. O sofá antigo ficou oito anos com a gente, espero que esse fique pelo menos oito anos também. Ou até mais. Obrigado, sofá antigo. Nós o doamos a uma oficina de reparo de sofás para ser reformado e vendido. Benvindo, sofá novo.

Feira

Depois de anos a gente voltou na feira aqui perto de casa. Agora como trabalhamos de casa dá pra ir na hora do almoço no meio da semana. Vira outra feira, bem tranquila e silenciosa, até mesmo a barraca de pastel. Aliás, que delícia comer um pastel com caldo de cana. Que passeio bom!

E.C.T.

Não me lembro da última vez que fui a uma agência dos Correios, mas tem muito tempo. E é tão bom que ainda existam agências de bairro, dessas pra ir pertinho de casa. Tudo lá dentro me lembrou da infância, quando as idas eram mais frequentes pra comprar selos, cartões de natal ou postar cartas e encomendas. E tudo foi muito rápido e tranquilo, quase sem filas. Comprei um tênis que deu defeito após cinco meses de uso, mandei e-mail para o SAC da empresa com fotos e uma breve descrição, então me responderam com um SEDEX reverso já pago (que eu não sabia que existia). Fui na papelaria aqui perto de casa para imprimir o comprovante que a empresa mandou, embalei o tênis e a caixa e levei aos Correios. Retirar a senha, esperar enquanto observo as outras pessoas na fila, imagino suas histórias. E então ser atendido por alguém que não quer muito papo e já faz todo o serviço com muita habilidade, calejado de prestar atendimento ao público. Pequenos passeios e resoluções de perrengues que dá pra resolver na hora do almoço. Que bom que os Correios resistem e seguem lá praticamente como sempre.

Sexta!

Mais uma sexta. Os dias estão corridos e têm passado depressa. A seca está complicada e o frio voltou do nada. Mas eu adoro essa época, ainda mais agora que os ipês amarelos floresceram. Dei uma engordada nos últimos meses e agora voltamos a caminhar e a tentar pedir menos entrega de restaurante. E nas caminhadas é bom poder espairecer e ver as árvores aqui perto de casa. E esse final de semana vai ser tranquilo, sem festivais de música. 

Mais uma colação

Depois de treze anos da colação da minha primeira graduação, ontem me formei na minha segunda graduação. Além da mudança nas cores da faixa da beca, também há esses treze anos que separam minha versão de 25 anos e minha versão de 38. E foram doze anos de UnB somando as duas graduações. Eu gosto de estudar, gosto de concluir as etapas. Eu gostei de estudar direito e depois estudar história da arte. Não sei o que vou estudar ainda, mas logo vou encontrar um assunto. Por enquanto tenho gostado de ler livros de literatura. Fiquei emocionado no caminho de casa até a UnB pela última vez com o vínculo de estudante. E fiquei emocionado também na cerimônia de colação, os discursos de todos foram bonitos. E a esperança por tempos melhores, sem sucatear a educação e a cultura. Fiquei feliz de ser incluído no grupo dos artistas (artistas visuais, artistas cênicos, músicos e designers - e só eu e outra colega formando em teoria, crítica e história da arte). Estou feliz com mais essa etapa. E foi ótimo poder comemorar com meu marido e minhas melhores amigas.

COMA

Nesse final de semana teve a 4ª edição do COMA, o melhor festival de música aqui de Brasília. A gente foi em todas as edições desde 2017 e compramos o ingresso há oito meses, sem nem saber se haveria a edição de 2022, depois de dois anos de hiato por causa da pandemia e nem quem viria tocar. O festival foi maravilhoso e pra mim os melhores shows foram da Gal Costa, da Gaby Amarantos, do Atoxxa com Carlinhos Brown e da Leci Brandão com Samba Urgente. E, claro, foi ótimo conhecer bandas novas também como o Bala Desejo e o Lamparina. Dois dias de festival, muita terra seca na roupa, no corpo e nas narinas, muito chopp e uma ressaca hoje que deixou a segunda-feira bem arrastada, mas uma sensação boa de ter curtido tanta música boa ao vivo junto com os amigos. Quase não tirei fotos, mas adorei essa que ficou bem borrada.

Reforma

O prédio está em reforma na fachada. Janelas e cortinas fechadas pra não cair cacos e para um pouco de privacidade. A casa se torna outra. Escura e fechada. Quase como tenho me sentido nos últimos tempos. E então perto do final da tarde os trabalhos acabam e gosto de abrir as janelas e as cortinas todas da casa. O vento e o sol quente invadem a casa. Fecho um pouco os olhos para sentir. Preciso abrir também minhas cortinas e janelas. Sinto algumas frestas, não dá para escancarar tudo. As janelas, minhas e da casa, são importantes, tanto abertas quanto fechadas. É preciso saber a hora de abrir e de fechar também.

Nós dois

Tanta coisa que a gente passou nesses quinze anos desde aquele primeiro beijo na festinha de rock, depois de algumas caipirinhas. E mudamos nossas vidas, mudamos de casas, de cidades, voltamos. É tão bom amar você, vivermos juntos, planejarmos nossa vida. Você me mostra tantas coisas, eu te mostro outras. E a gente vive e se ama todos os dias. Mesmo quinze anos depois eu amo viver com você. Amo acordar e dormir com você, rir, tomarmos vinhos, cuidarmos do Tominhas e da nossa casa. Eu te amo muito! 

Ressaca

Eu me adaptei bem com o isolamento. Nossa casa é pequena, mas confortável para nós três (eu, meu marido e nosso cachorro). Livros, música, filmes, séries, conversas, carinhos, sonecas, entrega de compras, vinhos, pães e besteiras. Quase dois anos e meio depois que começamos a ir para shows e encontrar amigos. Hoje estou com ressaca em plena segunda-feira, mas foi ótimo ter ido ao show da Dona Onete, Lia do Itamaracá, Luedji Luna e Jussara Marçal. Show gratuito ao ar livre, perto do museu da República. Reencontrar amigos que não via há anos em um espaço que não ia há anos. E isso também é forma de se alimentar, de viver, rir, tomar cerveja, conversar na fila. A vida é cheia de surpresas e de momentos. E de ressaca também. De sair do controle, de aproveitar e curtir. De viver, experimentar ao vivo, algo produzido ali na mesma hora, tudo junto. Não tem sido um retorno fácil. Ainda há medo da covid e da varíola, mas aos poucos nosso corpo e nossa mente se readaptam.

Sexta e pequenas decisões

Moro aqui há quase oito anos, mas só nos últimos dois anos trabalho de casa. Grande parte desse período foi isolado em casa. Mas na última semana resolvi nadar na hora do almoço na piscina aqui do prédio nadar. Hoje consegui repetir. Parece um teletransporte. É o meu prédio, mas ao mesmo tempo me senti no clube em que nadava há alguns anos. E o melhor: só precisei colocar a sunga, separar o óculos e a touca e descer pelo elevador. Não preciso pegar o carro, enfrentar trânsito, estacionar e chegar no clube. Ainda não consigo nadar muito, uns vinte minutos está bom. Aliás, como eu que conseguia nadar quase uma hora?

A vida é cheia dessas pequenas decisões que mudam tanta coisa. Tudo ao redor continua o mesmo, mas uma pequena decisão é capaz de mudar praticamente tudo. Decidi comprar uma pulseira fit que conecta no celular e monitora as atividades físicas. Decidi nadar na hora do almoço em alguns dias. Decidi caminhar mais. A gente precisa às vezes de um pequeno empurrão. E espero conseguir manter essas boas decisões.

E praticamente do nada essa planta maravilhosa na nossa sala solta um pendão com botões e começa a florescer. Uma vez por ano ela faz isso, mas sempre me surpreendo. Não sei os mecanismos, mas nunca é no mesmo mês do ano. E sempre é uma festa quando ela solta essas flores lindas na sala.

E que bom que hoje é sexta! Ufa!