16 de março de 2012

Tudo novo de novo

Comprei a passagem. Pela primeira vez vou viajar só de ida, sem saber quando vou voltar. Escolhi o dia e a hora e sei que na véspera vou estar enlouquecendo. Ou quem saiba eu esteja sereno e só vou perceber a mudança alguns dias depois, quando aí sim vou enlouquecer.

Detesto despedidas e acho que por isso tenho vivido dentro de uma casca de ovo, lendo vários livros ao mesmo tempo e escutando música no meu quarto na casa dos meus pais.

Nunca li tanto, livros que tenho há mais de três anos e que nunca tinha folheado. E vai ser difícil escolher os dois ou três ou quatro ou cinco que vou levar comigo. Ou seis.

E penso em levar cada vez menos coisas.

Sinto um carinho tão grande pelas coisas mais simples. Acho minha cidade cada vez mais linda, o pessoal do trabalho mais divertido, meus amigos mais carinhosos, minha família mais comercial de margarina.

Várias vezes paro e presto atenção na paisagem, no rosto dos meus pais, na frase de um amigo. Quero guardar cada momento comigo e me dói saber que vou ficar um segundo sequer longe desse tanto de gente que eu amo.

E não tem uma noite que deito na minha cama e não me questiono se vou dar conta de me virar em outra cidade. Se vou conseguir um emprego bom, se as contas vão ser pagas e se não vou ser engolido pela muvuca.

Mas ao mesmo tempo percebo que preciso passar pra tudo isso. Não quero ser um adolescente de trinta anos. E não quero deixar esfriar nosso amor.

Mal posso esperar pra dormir e acordar do seu lado todos os dias de novo.

11 de março de 2012

Simples e descomplicado

É tão fácil se adaptar. Talvez seja uma característica minha, mas percebi que mesmo com o meu mundo de pernas pro ar, consigo manter uma certa sensação de lar. Moro nesse quarto na casa dos meus pais há duas semanas, depois ter morado sozinho por quase três anos. Mudou completamente minha rotina e já não tenho várias coisas que gosto, mas mesmo assim está tudo ótimo. Pra mim sinceramente não preciso de muito: uma cama confortável (a que estou agora, por exemplo é a maior e mais confortável que já deitei!), meu computador, internet, uma plantinha (meus bambus que só precisam de água), uma garrafa de água, algumas roupas, tênis e meus perfumes, cremes e coisas de higiene. Já não sinto falta do tanto de coisa que julgava serem imprescindíveis e com certeza vou levar ainda menos pra quando eu me mudar daqui a algumas semanas.

O primeiro apartamento que morei era todo lindo, enfeitado, parede colorida, cheio de fotografias, adesivos de parede, plantas. No segundo já não tinha paredes coloridas, adesivos e havia somente duas plantinhas. No terceiro, provavelmente só vai ter um colchão, geladeira, fogão, maquina de lavar e internet. Ok, também não é pra tanto, mas sei que vai ser bem simples. Cada vez mais simples e descomplicado!

A vida por si só já é tão complicada, pra que complica-la ainda mais?

10 de março de 2012

Externar

Eu nunca fui de passar por grandes emoções. Não que eu não as tenha vivido, mas simplesmente descobri que não consigo externá-las. Minha família sempre foi muito emotiva, muito grito, muita risada. Talvez seja a raiz nordestina, não sei. Apesar disso, sempre fique muito na minha, sempre muito reservado. E então ouço essa semana que é difícil perceber se estou feliz ou triste, pois meus sinais são muito sutis. Claro, foi um choque pra mim. Me senti a pessoa mais blasé do mundo e fui me questionar se realmente tenho esse comportamento. E sim, não externo emoções, fico com essa eterna cara de paisagem. Mais aos poucos sinto que vou contornando essa deficiência. Ok, eu nunca vou ser o mais emotivo, mas ao menos estou tentando passar um pouco mais de emoção. Aqui dentro o mundo explode em um milhão de cores. Mas por fora é quase uma sépia...

7 de março de 2012

Centrão

O centro de Brasília, como o resto da cidade, é cheio de siglas: SBN, SCN, SDN, SBS, SCS e SDS. Lá estão os prédios altos e antigos, as pessoas engravatadas, os mendigos, as lojas de bugingangas, os restaurantes a quilo e lanchonetes. Tem grafite, tem marcas de fuligem, tem pixos, tem lixo. É o lugar que mais me lembra uma cidade normal, sem o clima tão bucólico do Plano Piloto. Hoje saí do meu trabalho no SBN (Setor Bancário Norte) e fui caminhando até o SCS (Setor Comercial Sul), mas prestando atenção no caminho, nas pessoas, nos carros. E me surpreendi. O centro é demais e tem várias coisas que não dá pra ver no trajeto de carro, como o rosto das pessoas atrasadas pro trabalho, os defeitos nas paredes antigas, as promoções nas lojas populares. E caminhar na hora que as lojas começam a abrir dá uma sensação de que há ainda todo um dia pela frente...

6 de março de 2012

Pirações

Eu tinha adorado as fotos, mas na apresentação vi que elas eram muito certinhas, limpinhas, meio sem alma. Várias pessoas fizeram fotos bem pessoais, com desfoque, meio estouradas. Ficaram lindas! Eu quero fazer algo mais assim, menos certinho, arrumado, equilibrado. Quero surpreender! Tenho a impressão de parecer (e ser!) uma pessoa muito certinha, arrumadinha, equilibradinha, mais ou menos como as fotos que tirei. E juntei isso à terapia de hoje em que percebi que quase não externo emoções. E que praticamente não as sinto. Me senti autista, me senti travado, congelado. Todo mundo me olha e vê uma pessoa tranquila, serena, equilibrada, planejada, que não bebe, não fuma, não faz nada de errado, não tem conflitos. Em um palavra: um cara chato.

Isso me fez perceber exatamente isso. E tudo se encaixou. Eu só tenho poucos amigos, que eu já conheço há mais de dez anos. Praticamente não consegui fazer novas amizades. Eu não consegui fazer uma amizade independente com seus amigos. Eu sou muito calado, eu fico muito em casa vendo filmes e lendo. Não tenho tiradas engraçadas, não gosto de beber, não fumo, não uso drogas. Faço tudo certinho. Sou uma velha!

Argh!

5 de março de 2012

Ao quadrado

Um quadrado. Não a forma geométrica, mas sim uma pessoa quadrada, com amarras, medos, travas, prisões. Eu não consigo criar algo verdadeiro, mas apenas imitações de imitações, sem alma, sem brilho, sem cor. Preciso de um pouco de loucura na minha vida quadrada. É exatamente isso que preciso. Loucura! Eu sei que não existe meia loucura, é por isso que quero uma loucura completa pra escapar dessa bolha. Quero voltar a ter emoções, a rir, chorar, me desesperar, achar que nada tem sentido, cair, me levantar. Quero o fundo do poço, quero me machucar, parar de fingir. Quero criar, quero viver. Viver dói pra caralho.

1 de março de 2012

Rasgar

Às vezes eu tenho um vislumbre de quem eu sou de verdade. Não aquele que quero ser ou aquele como me vêem. Dou uma arranhada no meu eu real, mas nunca consigo mais do que esse simples arranhão. Logo a imagem é puxada e volto para o meu eu de sempre. Preciso aprender a rasgar esse eu e me ver ali por baixo.

Tenho medo de nunca conseguir mais do que o simples arranhão. Tenho medo de nunca conseguir ser meu eu pleno.

Contagem regressiva

Começou a contagem regressiva pra mudança. Não sei se vou conseguir emprego rápido, não sei se vou arranjar um emprego bom, não sei se a grana vai dar, não sei onde vou morar, não sei se vou dar conta da saudade. Bem, já vi que não sei de nada, só sei que daqui a trinta vai ser meu último dia dia de trabalho e, consequentemente o último salário. Depois disso tudo é uma incógnita, só me resta achar o "x" da equação. E toda incerteza chega a ser libertadora!

28 de fevereiro de 2012

Adaptacción

Eu me adapto fácil, rapidinho já crio uma nova rotina, quase como se esse novo dia-a-dia fosse o cotidiano de sempre. Não sinto falta de várias coisas que antes pareciam ser essenciais, mas tento deixar a vida mais ou menos arrumadinha, com alguns mimos pra mim. E o resto fica pra trás, uma memória boa. Eu tinha me esquecido de como gosto de novidades na vida...

25 de fevereiro de 2012

Tonelada

Não entendo como se pode juntar tanta quinquilharia. Entre ontem e hoje enchi cinco vezes meu carro pra levar as coisas do meu apartamento para a casa dos meus pais. Coisas que eu nem lembrava que tinha, outras que nunca havia usado. Resolvi fazer tudo isso sozinho, assim teria a real noção do peso das minhas coisas. Encaixotar, levar para o carro, enchê-lo, dirigir até a casa dos meus pais, esvazia-lo e depois começar tudo de novo.

No começo me deu uma vontade danada de chorar, de deitar na nossa cama e fingir que tudo isso passar num estalar de dedos e eu já estaria morando aí. Mas foi bom passar esse sufoco e perceber que se eu não fizer, ninguém vai fazer por mim. E então tudo começou a ficar mais leve. Aquela tonelada começou a ficar mais e mais leve.

Claro, é bem difícil deixar o apartamento que gostei tanto de morar, deixar minha privacidade, meu domínio do tempo, de fazer o quisesse ali dentro. E voltar pra casa dos meus pais, a mesma casa que nasci e fui criado. E tentar enxergar isso não como um retrocesso, mas sim um recolhimento necessário antes de um passo maior. Aliás, um passo gigantesco!

Agora acho que a cada um ano e meio ou dois anos tem de se fazer uma mudança. Jogar fora o que não se usa mais, ficar só com o necessário!

E vou chegar lá no nosso próximo apartamento bem levinho. Só com o mínimo! E vamos crescer muito por aí!

23 de fevereiro de 2012

A vida é boa

Minha vida aqui em Brasília é muito boa. Moro sozinho em um quarto-e-sala lindo, perto de um parque e a dez minutos de carro do trabalho. Meu emprego é estável, paga um salário decente, os colegas são legais e o volume de trabalho não é sobrehumano, sempre sei a hora que entro e saio. Tenho amigos maravilhosos que conheço há mais de dez anos e que posso sempre contar. Minha família mora pertinho e sempre que posso almoço com meus pais. E a cidade é ótima, claro, tem seus defeitos como toda cidade, mas é bonita, o clima é gostoso, é cheia de árvores, parques e galerias de arte.

Eu devo ser um louco por querer me mudar pra uma cidade gigantesca, longe dos meus amigos e família, sem emprego certo. Mas eu vou! Afinal minha vida é sempre muito certinha e preciso de um pouco de mudanças, preciso viver novas experiências e preciso dormir e acordar de novo com você...

Não sei se vai dar certo, nem se sou realmente tão corajoso como quero. Mas vou tentar. De toda maneira vai ser uma experiência que vou levar comigo pro resto da vida. E quero realmente que dê certo!

22 de fevereiro de 2012

Carnavália

Eu nunca fui muito de pular carnaval, aliás nos últimos anos não tive muito de folia. No carnaval desse ano redescobri a diversão de pular carnaval, de usar roupas ridículas, dançar marchinhas antigas, de seguir blocos de rua. E no dia seguinte as pernas completamente doloridas!

20 de fevereiro de 2012

Cabeça de veado

A primeira compra da casa nova. Eu ainda moro na casa velha, mas só penso na tal casa nova, que nem sequer existe, mas está perto de nascer. E hoje em um passeio pra dar uma olhada em apartamentos encontramos um outlet de moveis, eis que surge uma cabeça de veado, mais ou menos como imaginamos. A casa nem existe e já tem a primeira moradora.

19 de fevereiro de 2012

Nascer do sol

Foi lindo ver o sol nascendo acima das nuvens. Acho que isso é o melhor de se viajar de madrugada. E, claro, ver os prédios na descida, pensando em como o piloto consegue aterrissar sem que as asas do avião encostem nos arranha-céus.

Carnaval em S. Paulo

Eu achei que não ia ter nada carnavalesco, mas quando percebi já estava com um bigode pintado no rosto, um chapéu Panamá e sambando em um bloco de rua na Vila Madalena chamado "Vai Quem Quer". Hoje minhas pernas estão bem doloridas e só fico me lembrando da gente cantando marchinhas antigas e subindo e descendo ladeiras com o bloco.

18 de fevereiro de 2012

Undererê

Minha cidade não é famosa pelo carnaval. Bem, tem blocos de rua, sambódromo e tudo mais, mas não chega a ser carnavalesca. E eu também não sou muito de Rei Momo e Globeleza. O melhor mesmo são os quatro dias e meio pra fazer o que quiser. E nada melhor do que viajar. Vou agora pra São Paulo - também não muito famosa pelo carnaval - curtir a folia junto com meu undererê. E estou aqui às cinco e pouco da madrugada dentro de um avião lotado de gente com chapéu Panamá, roupas curtinhas e cara de sono. Só quero conseguir cochilar essas quase duas horas!

14 de fevereiro de 2012

Vícios

Todo mundo tem um vício em algo. Eu gosto de chá mate gelado com limão, tomo quase todos os dias. Aliás, chás em geral, quentes ou gelados. Mas percebi que estava realmente viciado quando senti uma dor nas costas - provavelmente de estresse, segundo o médico - e me prescreveram um relaxante muscular. Dormir sem sentir aquela dor chata foi uma das melhores sensações. E então sempre que eu estava meio tenso, antes de dormir tomava um comprimido. Mas parei com isso, por mais que até hoje sinta muita vontade de tomar um relaxante muscular de vez em quando. Parei por achar estranha essa vontade de tomar um comprimido. Bem, melhor ficar só no meu vício de chá mate gelado com limão!

12 de fevereiro de 2012

Encaixote

Minha vida cabe em caixas. Bem, claro que não cabe, mas esse encaixote me fez perceber que não se precisa de muita coisa. Ou melhor, claro que se precisa, mas não dá pra levar tudo. Tendo essa limitação em mente, foi difícil escolher os livros, os discos, os filmes e as coisas imprescindíveis. Então com esse limitador - e põe limitador nisso - tive de escolher o essencial do essencial. Mesmo assim ainda levo uma ou outra coisa inútil, como por exemplo a televisão. Não gosto de assistir, mas ela foi cara (apesar de ser uma das mais baratas). E bem, vai que ela uma hora vem a calhar? Coube numa mala grande, junto com isopor e um edredon antigo pra dar uma amortecida. Espero que chegue!

Engraçado é que deixar pra trás coisas que guardo ainda da adolescência não tem sido tão doloroso quanto achei que seria. Sinto mais leve. Bem, até a próxima mudança, quando terei juntado de novo um monte de tranqueiras.

2 de fevereiro de 2012

Viajero

Eu sempre gostei de viajar. Quando eu era pequeno, a cada semestre meus pais enchiam o carro de coisas, colocavam eu e meus irmãos e viajávamos dois ou três dias de carro. Conhecemos o nordeste pra visitar uma parte da família, íamos para São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e até Paraná. Eu sempre adorei essa viagens de carro, pois era sempre ótimo reparar a paisagem mudar pelas janelas. E foram rodovias esburacadas, estradas de terra, atoleiros, hotéis de beira de estrada. E apesar de curtir essas viagens, eu sempre enjoava muito. Então foram muitas paradas para vomitar! Faz muito tempo que não viajo de carro, a maioria das vezes fui de avião. Horas de espera, voos atrasados e de vez em quando um enjôo quando acontece uma turbulência mais forte. Se um dia eu ganhar muito dinheiro, não quero carrões ou mansões. Quero viajar pra lugares distantes, conhecer a Índia, a Rússia, as Ilhas Maurício, Galápagos, Copenhague, Japão, Peru, Groelândia, Islândia e vários outros lugares. Se eu pudesse eu só viajava!

1 de fevereiro de 2012

De volta ao tronco, com frio na barriga

Voltar ao batente não tem sido fácil. Ainda mais agora que foram dados os primeiros passos para a mudança -aliás, eu não lembro de ter sentido tanto frio na barriga. Mas vou trocar tudo o que é certo profissionalmente, por algo completamente novo para mim, o que pode ser um movimento certeiro, mas pode dar tudo errado, daí o danado do frio na barriga ou das borboletas no estômago.

Ao mesmo tempo, o que me tranquiliza é que sempre posso apertar o botão "desfazer" e voltar para cá, mantendo meu emprego.

A verdade é que eu ainda não me conheço, pois achava que era alguém que gostava de estabilidade e previsibilidade, mas percebo que curto um pouco de aventura, de incerteza, de renovação.

Dizem que alguns períodos na vida são mortos, quer dizer, aparentemente inúteis, mas eles servem para ligar dois períodos mais vivos, mais intensos. Vamos ver o que acontece!