9 de junho de 2020
Saudades
Sinto falta de caminhar na rua até a feira. Sinto falta de ir na padaria para comer misto. Sinto falta de ir no bar com meu marido e nossas amigas. Sinto falta de ir passear. De andar de bicicleta. De abraçar meus pais e almoçar com eles. Sinto falta de planejar viagens, mesmo que sejam aqui por perto. Sinto falta de ir a restaurantes com meu marido. Sinto falta de não me sentir com ansiedade o tempo todo. Sinto falta das aulas. Sinto falta de acordar disposto. Sinto falta de sentir tranquilidade. Sinto falta de nadar. Que saudades da vida antes da pandemia.
8 de junho de 2020
Carro
Desde o começo da epidemia tenho usado muito pouco o carro. Só mesmo para ir no mercado e ir ao hospital quando meu pai esteve internado. A última vez que abasteci o tanque foi no final de março e desde então tento dar partida uma vez por semana por alguns minutos.
Não sinto falta do carro, não tenho essa vaidade automobilística. Meu carro é usado e já tem sete anos. Pra mim é só uma ferramenta para chegar nos lugares, especialmente numa cidade com transporte público ruim para quem não mora nas áreas nobres. Mas é essencial aqui na cidade, ainda mais nesse contexto de epidemia.
De qualquer forma, não sinto falta nenhuma de dirigir, mas não penso em me desfazer do carro, mesmo que o home office seja mantido após o final da quarentena.
5 de junho de 2020
Flores
Os dias com a quarentena têm sido tão malucos, mas como foi aniversário do meu marido encomendamos algumas flores para deixar a casa mais alegre e também cheirosa. Ligamos no mercado das flores e conseguimos encomendar tudo pelo WhatsApp e com transferência bancária. E foi ótimo ter flores frescas em casa, ainda mais essas tão cheirosas como as angélicas (ou tuberosas). De vez em quando é preciso enfeitar a casa e a vida. É bom estarmos vivos (e ir além um pouco do "modo sobrevivência").
4 de junho de 2020
Comida
Durante a quarentena eu tenho cozinhado muito mais e tenho gostado de encomendar as frutas, verduras, carnes e tudo mais pela internet. Hortaliças, queijos e carnes pelo WhatsApp; pães pelo aplicativo de celular; e mercado pelo computador. Nós fomos só duas vezes ao mercado desde que começou a quarentena, ainda no começo de março, desde então todas as compras são feitas por encomenda pela internet.
A cozinha é feita pela prática também. Eu sou muito demorado para cozinhar, gosto de picar e separar tudo antes de ligar o fogo, mas tenho conseguido ficar cada vez mais rápido. E tenho aprendido a usar mais os temperos e o sal. E me guio menos receitas e mais a intuição. Aprendi alguns preparados pelos programas de culinária na televisão e algumas receitas em livros e na internet. Tenho gostado de fazer os básicos: arroz, feijão, farofa, couve, galinhada. Nada muito incrementado. Fiz outro dia panquecas americanas para o café da manhã, pois o pão tinha acabado e me achei muito dona de casa que se vira com o que tem. Aliás, o café da manhã sempre é feito por mim também, geralmente sanduíche ou torrada para nós dois (e frutas e iogurte com granola para mim).
Tenho usado o programa de anotações do celular para já atualizar a lista de compras e para colocar algum ingrediente assim que tenho ideia de algo para preparar. Esse planejamento é essencial. Tem alimentos que precisam começar o preparo na véspera (como o feijão, o grão de bico, a canjica).
Meu marido tem trabalhado demais e a cozinha que geralmente ficava com ele acabou que eu assumi. E tem sido uma boa experiência. Comer algo gostoso que a gente mesmo que preparou é uma sensação maravilhosa. Ou aprender cada vez mais e ver como o corte da cebola tem melhorado ou como os pratos são preparados mais rapidamente.
Saber preparar alimentos é uma liberdade e acho que todo mundo deveria saber ao menos o básico.
3 de junho de 2020
Friozinho
O clima começou a esfriar. Aqui em casa é sempre quente, pois só pega o sol do final da tarde, então quando a gente coloca o edredom na cama é uma alegria. Essa época é muito boa para dormir e tenho dormido super bem.
1 de junho de 2020
O mundo em ebulição
O mundo está em ebulição. Vários séculos de racismo, de preconceito contra mulheres, contra LGBTQI+, contra minorias étnicas fervem nesse caldeirão. E bastava uma ignição, como foi o assassinato de George Floyd nos EUA, documentado por câmeras e transmitido ao mundo todo. No Brasil diariamente vários homens e meninos negros são assassinados pela polícia em operações nas favelas. São anos de opressão, anos de assassinatos contínuos. E finalmente chegou essa ebulição, como aconteceu também nos anos 60. Aliás, parece mesmo um túnel do tempo. Sinto como se estivéssemos numa viagem temporal ao passado. Talvez quando algo não é devidamente resolvido sempre volta até que seja devidamente vivido e digerido. São séculos de opressão. Foram séculos de escravidão nas Américas. Anos de crimes, de sufocamento. Quem sabe agora a humanidade como um todo consiga dar um basta nessa quantidade absurda de assassinatos, nesse racismo e preconceito. Em momentos críticos como o que passamos agora tudo fica mais visível. Essa pandemia tornou tudo mais concreto. Toda a desigualdade social, toda a opressão se torna hoje mais visível. A falsidade e a mentira são difíceis de esconder. Mas sinto que toda essa luta que ocorre desde a semana passada não vai ser em vão. Todas as coisas horríveis que os governantes de extrema direita têm falado não vão ficar impunes. Acho mesmo que vamos conseguir colocar novamente a desigualdade social e o preconceito racial e contra minorias em pauta. E vai ser possível discutir e chegar em alguma solução, em especial com as eleições já tão próximas. O momento atual é histórico.
29 de maio de 2020
Plantas
Hoje meu marido tirou o dia de folga do trabalho e resolveu cuidar e adubar todas as plantas da casa. E eu descobri que quase matei todas as plantas afogadas. Eu adoro colocar água nas plantas, mas exagerei. Por muito tempo. As plantas estavam com muita água, cinco dias após o dia de rega. Vou prestar mais atenção agora, tentar colocar só o tanto de água que for adequado.
Foi tão lindo ver meu marido pegar cada vaso, revolver a terra, colocar adubo, tirar folhas secas e devolver. Acho que tem alguma coisa primitiva de quando a gente mexe na terra, mesmo que sejam vasos de planta dentro de um apartamento. Esse ato de cuidar é enraizado em nós. Talvez venha antes da nossa civilização.
Enfim, agora temos plantas cuidadas, alimentadas e que vão viver. É tão bom ter tanto verde dentro de casa.
28 de maio de 2020
Dias cinzas
Tem dias que não acontece nada demais, mas vem uma nuvem cinza e paira no ar. O dia hoje não teve nada demais. Não teve uma grande briga, não teve algo extraordinário. Mas estou em um desânimo enorme. Quase que me paralisa. Claro, estamos em um momento de quarentena e com várias pessoas mortas todos os dias. Vários dias eu consigo ter uma atitude positiva em relação a tudo isso, mas hoje bateu forte. Acho que uma hora a conta vem, não tem jeito. Vou deixar esse sentimento fluir, tentar fazer só o mínimo.
26 de maio de 2020
Meu amor
Parabéns, meu amor! De repente ele chegou e mudou toda a minha vida. E deixa minha quarentena mais leve, compartilha tudo comigo dentro dessa nave espacial ou submarino que a gente tem dividido durante o isolamento social. Te amo muito, Iranzito! Parabéns pelo seu aniversário! Eu te desejo só coisas boas! Muitas risadas, muitas viagens, muitos perfumes!
[essa foto é do Popload Festival de 2019, rolou show da Patti Smith e CSS]
[essa foto é do Popload Festival de 2019, rolou show da Patti Smith e CSS]
25 de maio de 2020
Festa online
Eu nunca tinha pensado nas festas pela internet, mas agora com a quarentena e o isolamento social, tenho gostado muito das festas pelo Zoom. A gente se arruma um pouco, prepara as bebidas, entra na sala da festa e liga a caixa de som. Ficam várias janelinhas com as pessoas que também estão na festa, mas de vez em quando passa em tela cheia algumas das telas. Quando chega a nossa vez dá uma vergonha, mas é legal. Então a gente dança um pouco, bebe. E o quarto já está logo ali. Não substitui a festa normal, mas ao menos a gente consegue se divertir um pouco nesses tempos tão malucos.
21 de maio de 2020
Sol e casa
Hoje acordei às seis da manhã. Ainda estava escuro. Fui no banheiro, tomei minha água e peguei meu caderno. O céu ainda estava escuro e enquanto escrevia o sol começava a aparecer. Agora ao trabalhar de casa, da mesma mesa, virado para a mesma janela, sinto todo o percurso do sol. De manhã cedo o sol não chega aqui diretamente, vejo só o reflexo nos prédios que ficam no horizonte. De tarde o sol vem diretamente aqui, umas três da tarde o sol está bem no rosto e tem achado uma delícia. Mais ou menos como um cachorro ou um gato percorre o caminho do sol dentro de casa para tomar fazer um pouco de fotossíntese. Tenho passado meus dias aqui nessa mesa com o computador, mas tem a janela logo atrás. O sol se pôs quase agora. Antes da quarentena eu praticamente só vinha para casa para dormir, não vivia a minha casa. Agora tenho outra relação de viver aqui. Não me sinto refém da casa, nem preso aqui. Na verdade me sinto bem aqui, em casa mesmo. E tenho gostado de ver o sol. Às vezes quando estou em alguma videoconferência do trabalho paro de olhar para a tela do computador e olho para fora da janela. Imediatamente me sinto melhor. Olho para as plantas, as casas, os prédios. O sol me faz bem. E minha casa também. Vai passar essa fase e espero conseguir continuar em casa.
20 de maio de 2020
Ioga
18 de maio de 2020
Passarinhos
Acordei cedo e vim me preparar para a yoga no escritório aqui de casa. Abri a janela e encontro dois passarinhos no suporte do ar condicionado. Acho que são andorinhas. Moro no décimo terceiro andar e sempre me surpreendo com os pássaros que aparecem por aqui. O dia já começou um pouco mais leve só por causa desses passarinhos.
O final de semana foi de tensão. Minha mãe teve febre e foi ao hospital. O resultado do exame foi dengue e é tão maluco estarmos em um momento no mundo em que é um alívio um diagnóstico de dengue. Ela já está melhor, mas estou bem tenso, ainda mais por ter saído de casa e ido ao hospital ficar com ela. Eu não saía de casa desde a páscoa e só de sair já voltei com medo de ter me infectado.
Foi bom ver esses passarinhos logo que acordei. Na hora que fui tirar a foto um deles já tinha voado.
14 de maio de 2020
Solzinho
Sem sair de casa há semanas virei um caçador de sol. Sempre que o sol chega aqui dentro de casa tento sentir o calor e a luz. Lembrei que os gatos e cachorros sempre fazem isso e eles estão certo. Imediatamente me sinto melhor, só de sentir o calor e a luz do sol. Algumas vezes estou em alguma videoconferência de tarde e o sol está bem na minha cara, tenho até que fechar um pouco os olhos, mas me sinto bem. Aqui em casa só pega sol direto no final da tarde, então já sei a hora que tenho que prestar atenção.
13 de maio de 2020
Natação
Eu comecei a nadar quando tinha uns quinze anos por causa de um problema na coluna e sempre gostei muito. Nadei até terminar o colégio, aprendi os quatro estilos, participei de alguns campeonatos. E então voltei a nadar por períodos curtos durante a faculdade. Quando voltamos a morar em Brasília voltei a nadar e não parei desde então. Quer dizer, parei agora por causa da pandemia. Já tem dois meses que não entro na piscina e tenho sentido muita falta. Vai ser ótimo quando essa pandemia passar e eu puder de novo nadar. Já imagino a sensação de entrar na piscina e dar as braçadas.
12 de maio de 2020
Latinidade
Eu sempre me enxerguei como latino. Desde as aulas de geografia do colégio eu via a divisão das Américas em Norte, Central e Sul. E a América Latina como tudo do México para o sul. Nós temos muito mais relações de semelhança com os nosso vizinhos: quase todos passaram por uma ditadura militar durante a Guerra Fria, com o apoio dos EUA. Todos nós fomos colônias de exploração, nossas comidas são parecidas com muitos preparos com milho, cacau e tomate (os três de origem latino-americana). Destilados feitas com cana de açúcar. As músicas são dançantes, alegres e tristes. Não tem como o brasileiro não se ver como latino. Nossa língua é muito parecida com o espanhol, com várias palavras idênticas.
Mas é sempre um choque perceber que muitos brasileiros se sentem muito mais próximos dos EUA e da Europa do que dos países que fazem divisa com o Brasil. Os brasileiros nunca vão ser equiparados aos europeus e norte-americanos. Para eles, todos somos "brown" aqui. Os brancos são eles. Os inteligentes, os cientistas, os artistas; a cultura e a ciência, para eles, é sempre feita no Norte.
Eu queria que os Brasil entendesse a importância de se enxergar como um latino-americano. A potência que tem aqui, tanto cultural quanto política. A gente não precisaria importar modelos que só funcionam por lá. E tem tanta coisa boa feita aqui na nossa região. Vamos todos ser latinos, abraçar essa latinidade.
Tenho gostado de ver mais filmes e séries feitas aqui na América Latina. E de ler autores latinos (o Cortázar e o Bolaño são dois dos meus autores favoritos de qualquer lista). Tem tanta coisa boa. A gente não é europeu aqui, mesmo que seus avós tenham vindo da Itália. A nossa vivência é brasileira, é latina. Eu tenho orgulho da minha latinidade, da minha origem miscigenada com tanta coisa que eu não tenho nem ideia.
11 de maio de 2020
Espaço sideral
Nesse tempo de quarentena me sinto em uma nave espacial que percorre o espaço. A gente até pode sair da nave em casos essenciais, mas é preciso colocar a roupa de astronauta e o capacete, mas esse uniforme todo é são os sapatos, a roupa de sair e a máscara. A gente evita ao máximo sair, pois ao voltar à nave é preciso esterilizar tudo para não trazer nenhuma contaminação e nenhum organismo alienígena. A nave flutua pelo espaço e é preciso cuidar de todos os equipamentos dela, além da limpeza. A tripulação da minha nave são de dois astronautas, mas tem muita nave com um só tripulante. Há plantas, comida, livros, filmes. E tudo é divido, todo mundo faz tudo. E para falar com as pessoas nas outra naves é preciso usar as ligações de vídeo, da mesma forma que nos filmes de ficção científica dos anos sessenta e setenta. Quem iria imaginar que essas videochamadas seriam algo tão simples hoje de fazer pelos celulares e pelos computadores. E tem um simulador de gravidade para ficar com a mesma sensação de estar no planeta (se bem que seria ótimo poder flutuar um pouco pelo ar). Eu não sei quando a nave vai poder aterrissar, mas uma hora ela volta para a Terra.
10 de maio de 2020
Mãe
Eu tenho uma mãe maravilhosa. Ela sempre me ajuda, sempre se preocupa. Nem sempre a gente concorda, mas hoje em dia entendo mais o ponto de vista dela sobre algumas coisas. É uma relação muito complexa essa de pais e filhos, a gente passa a vida toda para entender. Mas acho que cheguei em um ponto bom em que a gente entende os defeitos um do outro e sente amor. Fiz esse desenho com base em uma foto de quando minha mãe era pequena. Nessa foto ela está triste, aliás ela me disse que a infância dela foi meio triste, mais em casa com livros. Era outra época e hoje tento entender todo o contexto da vida da minha mãe ao invés de buscar um embate. Hoje não vou conseguir ir visitá-la, apesar de estarmos a poucos quilômetros. Preferi nos resguardar por causa dessa pandemia. Eu posso ter o vírus sem sintomas e acabar por transmitir para as pessoas da casa dela. Temos nos falado todos os dias por telefone e por mensagens e acho que isso tudo nos aproximou. Te amo, mãe.
8 de maio de 2020
Morning pages
Há algum tempo escutei um podcast com a Julia Cameron em que ela falava sobre seu livro the Artist's Way e fiquei bastante curioso. Ainda não li o livro, mas procurei saber mais sobre as páginas matinais e comecei a fazer. É um exercício trabalhoso, mas faz a gente entrar em contato consigo mesmo e tenho gostado. Aproveitei um caderno que eu já tinha em casa e comecei. É estranho não ter mais o costume de escrever à mão e escrever três páginas causa um pouco de dor. Vou tentar fazer mais vezes.
7 de maio de 2020
Desenhos
Nem lembro quando foi a última vez que desenhei. Engraçado isso, criança desenha todo o tempo e em todo lugar, então a gente cresce e deixa pra lá. Foi bom pegar o tablet e a caneta e desenhar sem se preocupar. Bom que não faz sujeira e dá para apertar o botão voltar. Eu gosto desse efeito de aquarela. Mas quem sabe um dia eu volte para o papel e para as tintas. De qualquer forma, é bom poder fazer algo criativo. E estou apaixonado por esse lírio do amazonas que floresceu há alguns dias e continua florido
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