2 de março de 2023

Mar e memória



Esses dias me lembrei de um grande medo que passei na infância. Fomos passar as férias na cidade da minha mãe, uma cidade de praia. Pegamos um barco para outra cidade de praia e foi preciso ir para o alto mar. É uma sensação estranha ver mar por todos os lados, parecia estar solto no espaço sideral ou em um planeta feito de gelatina. E, claro, que eu fiquei enjoado e precisei vomitar, pois a fatia de limão não me ajudou. Correu tudo bem na outra praia, mas na volta começou a chover muito e mar ficou muito agitado. Nunca tinha vivenciado algo tão assustador. O barco parecia feito de brinquedo. As mulheres e as crianças desembarcaram primeiro, mas como o mar e a chuva não diminuíram, o capitão do barco decidiu desatracar e ir com o barco para além da linha das ondas. Meu pai ainda estava no barco e voltei para casa da minha avó rezando e torcendo para correr tudo bem. Acho que foi a primeira vez que vivenciei um perigo e a possibilidade de morte. Talvez por ser de uma perspectiva da infância o perigo parecia ainda maior. Há alguns dias conversei com meus pais sobre esse episódio que ocorreu há trinta anos e a memória deles foi completamente diferente, ao invés de algo assustador foi apenas um evento corriqueiro, nada demais. As memórias não são confiáveis. De qualquer forma, não fiquei com medo do mar e ainda acho um dos maiores encantos. Essa viagem continua mágica e assustadora para mim.

22 de fevereiro de 2023

Carnaval 2023



O último carnaval pra mim foi em 2020, antes da pandemia. Foi um carnaval um pouco estranho, pois já havia casos de COVID em alguns países e inclusive piadas, pois até então estávamos acostumados com a epidemia de H1N1 que foi bem mais simples. Ninguém conseguia imaginar que a pandemia seria tão complexa e duraria tanto tempo. Mas chegou e foi terrível. Agora quase três anos depois conseguimos ter o primeiro carnaval mais ou menos como os de antes. Mais ou menos, pois já se passou muita coisa desde 2020. Eu até a véspera do carnaval não sabia direito o que fazer. A agenda dos blocos estava confusa, talvez a gente fosse apenas em alguns dias. Chegou então o sábado de carnaval e já fomos em uma festa e foi divertido, apesar de não parecer ainda carnaval, apenas uma festa com músicas de carnaval. Samba Urgente sempre é bom! No domingo fomos em um bloco mesmo, na Vila Planalto, o Tropicaos. Parecia que eu estava em outra cidade, uma dessas cidades do interior. Só aí entendi que estava no carnaval e como é importante estar na rua, dançar, sorrir, encontrar pessoas, abraçar. Foi uma experiência maravilhosa que eu não sabia o tanto que meu corpo e minha mente precisavam. Sair cedo e voltar cedo pra casa, de dia ainda, mas há muitas horas na rua. Segunda no Setor Comercial Sul, num bloco que sempre vamos, o Aparelhinho. Caminhamos pela cidade, interagimos com as pessoas, cruzamos o Eixão a pé até a Praça dos Prazeres. E então teve a terça, o melhor bloco para mim, o Calango Careta. Caminhar atrás do bloco, todo mundo fantasiado, orquestra incrível, pessoas com perna de pau, um calango gigante como se fosse aqueles dragões chineses. Caminhar pelas quadras da Asa Sul, chegar no Cine Brasília e voltar para a W3 sul. Várias pessoas, vários amigos. O carnaval é assim, não precisa planejar muito, mas precisa estar na rua. Agora sim meu 2023 começou. Estou com o corpo dolorido e muito cansado. Fiquei a manhã toda descansando, mas mesmo assim estou bem cansado. De qualquer forma é uma maravilha poder trabalhar de casa, sem precisar ir até o escritório. Se bem que tradicionalmente a quarta de cinzas no escritório a gente só devia conversar com os colegas sobre como foi o carnaval e hoje tive bastante trabalho, mas bom que o dia passou ligeiro. Amanhã oficialmente 2023, depois de um carnaval maravilhoso. Demorei para entender e para gostar do carnaval, agora não passo mais sem.

10 de fevereiro de 2023

Saudades e silêncio



Estou há uns dez dias sozinho com meu cachorro em casa. Mas a não ser pela saudade enorme do meu marido, os dias têm passado tranquilos. Eu gosto da minha casa. Gosto de trabalhar em casa. Gosto de ficar em casa. Computador, televisão, livros, músicas, caminhadas. Cozinhei também para a semana, juntei vários vegetais cortados, misturei azeite, sal e temperos e deixei no forno, olhando e mexendo de meia em meia hora. As engrenagens da vida funcionam bem. A casa silenciosa e tranquila, mas não vejo a hora de chegar meu marido com as novidades, barulhos, conversas. Sinta muita saudade.

7 de fevereiro de 2023

Saudades



Meu marido viajou a trabalho para o exterior há uma semana e ainda vai ficar alguns dias. O apartamento ficou gigantesco e silencioso. Tenho tido conversas com nosso cachorro, tirado um tempo para brincar com ele, passearmos aqui por perto. Tinha tempo que eu não ficava tanto tempo só, afinal de contas há pouco tempo houve a pandemia e não havia viagens a trabalho. Eu amo a rotina com meu marido em casa. Eu trabalho de casa todos os dias e ele consegue trabalhar de casa alguns dias por semana, então temos nossa rotina, mesmo no apartamento pequeno. Sinto saudades de acordar e ver seu rosto dorminhoco. Ou de estar na sala já em várias atividades e ele chegar sonolento para dar bom dia para mim e para nosso cachorro. Ou almoçarmos juntos na frente da TV para ver ao algum vídeo rápido no YouTube e voltar para o quarto para ler ou tirar uma soneca antes de voltar ao trabalho. Ou nossas noites de sexta em que abrimos cada um seu vinho (eu gosto de tintos e ele de brancos e rosés), comer algum petisco, ouvir músicas e conversar. Ou nossas manhãs de sábado que temos tempo para tomar um café da manhã tranquilo, depois ir na feira e arrumar algum passeio legal para levarmos o nosso cachorro. Mesmo ele tão longe conseguimos conversar pelo celular, saber como está o dia-a-dia, ver as quase instantaneamente as fotos dos lugares que ele tem ido. Por aqui a vida continua, tenho minha rotina, tenho meu trabalho, tenho meus livros, filmes, tenho as caminhadas aqui por perto, os passeios com o cachorro, tenho os momentos de preparar as comidas, fazer as compras. A vida continua, mas ela é mais colorida com meu marido aqui por perto.

3 de fevereiro de 2023

Já é carnaval



Eu passei minha vida quase toda sem gostar do carnaval. Gostava do feriado, dos vários dias sem escola, mas não lembro de ir em bailes ou blocos, no máximo assistir a algum desfile na televisão. Não me lembro de fantasias na infância, festas ou matinês. E então em São Paulo, um dos últimos lugares em que esperava encontrar algum carnaval, fui no meu primeiro bloco de rua. Lembro que estávamos na nossa casa e de repente lá longe um barulho e música. E então decidimos ir no bloco com a roupa de casa mesmo e nos divertimos. Lembro de irmos em blocos com poucas pessoas também, praticamente sem estrutura, passear pelas ruas e cantar músicas antigas de carnaval. E Brasília tinha sempre os blocos antigos e decadentes, então há uns dez anos chegaram blocos novos e uma vontade de curtir o carnaval aqui, sem viajar. De repente a gente começou a ir a armarinhos e preparar fantasias, pensar no que usar em cada um dos dias, pensar no carrinho de feira com bolsa térmica pra levar cerveja e voltar para casa com os pés doloridos e com purpurina em cada centímetro de pele e do cabelo. Mesmo depois de muito banho ainda encontrar brilhos e confetes na cama e pela casa, a dor no corpo, o zumbido no ouvido e a ressaca. Então chegou a pandemia. Aliás, em 2020 ainda teve um pouco de carnaval, já com piada do "beijei um italiano (e provavelmente peguei COVID)". Nem dava para imaginar que poucas semanas após o carnaval tudo seria interrompido e a vida como um todo seria modificada para sempre. Agora, após quase três anos, vamos ter um carnaval mais ou menos como era antigamente. Se bem que já não somos como antigamente e ainda não conseguimos entender exatamente o que tem acontecido. E o primeiro carnaval após esse desgoverno que finalmente acabou. 

Sábado passado teve uma festa de carnaval. Festa privada, higienizada, mas de carnaval. Com Silva e Liniker (aliás, adoro o Silva, mas seria ótimo um Bloco da Liniker!). Músicas antigas tocadas ao vivo. Dançar. Há quanto tempo não dançava, nem me lembro quando dancei e me diverti em uma festa. Abraçar amigos, rir, conversar. Beber cerveja cara, mas gelada. Enfrentar filas. Ainda não estou com vontade de fantasias, nem nada muito elaborado, mas sei que o melhor é deixar acontecer naturalmente, como diz aquele pagodinho dos anos 2000. Final de semana tem mais pré-carnaval...

27 de janeiro de 2023

Dias ligeiros



Os dias passam ligeiros. Outro dia era réveillon e de repente janeiro já está no final. Talvez seja a quantidade de trabalho, reuniões e tudo mais, mas cada dia que passa percebo como eu gosto de trabalhar de casa. Não sinto falta de nada da época de trabalhar na firma. O meu trabalho é o mesmo, mas a qualidade de vida, quanta diferença, apenas para parafrasear aquela propaganda antiga de creme para cabelos. E meu colega de escritório tira longas cochiladas na almofada que deixei perto de onde eu passo a maior parte do tempo. Eu nunca imaginei que eu poderia trabalhar assim e não cansei, mesmo após três anos. Gosto de silêncio, gosto de ficar sozinho e amo minha casa. Que bom que já chegou a sexta...

23 de janeiro de 2023

Livros 2022



Continuo com o hábito de ler quase todos os dias depois do almoço e em 2022 consegui ler livros maravilhosos. Não teve nenhum livro que não gostei, mas alguns me marcaram mais. Peguei indicações de vários lugares, anoto sempre no bloco de notas de celular. E alguns livros puxaram outros. Percebi que a capa do meu kindle ficou bem marcada com o tanto que ele foi levado comigo em bolsas e mochilas, além de ir e voltar da praia. 

O álbum branco - Joan Didion
Eu tinha visto o documentário da Joan Didion na Netflix e fiquei com vontade de ler mais textos dela. Ainda não tive coragem de ler o livro sobre a morte do marido e da sua filha, então peguei um mais leve. O álbum branco é uma leitura deliciosa.

Homens sem mulheres - Haruki Murakami
Todos os anos tento ler algum livro do Haruki Murakami, um dos meu autores favoritos. Nesse livro de contos há o que virou um filme de muito sucesso (Drive My Car), que eu ainda não assisti, mas o conto é maravilhoso. Não tem erro para mim, o texto do Murakami é sempre sensacional.

Kadosh - Hilda Hilst
Eu não entendi muito bem o Kadosh, mas não preciso entender para gostar. O texto de Hilda Hilst veio como ondas, sensações e cores. Vários fluxos e imagens na minha mente. 

Antropoceno: notas sobre a vida na Terra - John Green
Esse livro do John Green ouvi por indicação no podcast de Aline Valek (o Bobagens Imperdíveis) e foi uma leitura leve e muito interessante. Eu me senti lendo os blogs de antigamente e aprendi várias coisas sobre aqueles adesivos de arranhar e que soltam um cheirinho, algo que não fez parte da minha infância.

Breasts and eggs - Mieko Kawakami
Eu não lembro onde peguei a indicação para esse livro, acho que foi no podcast da Companhia das Letras ou no da 451 mhz. Fiquei curioso com o título e valeu a pena. A história de uma moça japonesa que recebe em sua kitnet a visita da irmã e da sobrinha. A irmã quer fazer uma cirurgia de implante de silicone. O livro traz ainda a questão da maternidade, a falta de desejo sexual e vontade de ter filho sem estar em uma relação amorosa. Eu adorei o livro e fiquei com vontade de experimentar um chá gelado de cevada que as personagens sempre tomam, o mugicha.

O avesso da pele - Jeferson Tenório
Eu ouvi falar muito desse livro há meses e finalmente consegui ler. O livro é doloroso, mas é impossível de parar de ler. Uma história de violência policial, racismo, a dificuldade de ser professor na periferia e de luto. Mal posso esperar para ler os outros livros de Jeferson Tenório. E ainda deu de presente para uma amiga, junto com o livro da Natércia.

Os tais caquinhos - Natércia Pontes
Eu conheci a Natércia na época que morava em São Paulo, ela é amiga de um amigo. Quando vi que ela lançou esse livro fui atrás para ler. O livro é doloroso também e muito sensorial, mas é uma leitura voraz. Depois de terminar fiquei um bom tempo com essa história na cabeça. E escutei muito "Pra começar", da Marina Lima, música que inspirou o título.

Se o passado não tivesse asas - Pepetela
Eu nunca tinha lido  um autor angolano. Ganhei esse livro de uma amiga há muito tempo, tinha começado a ler, mas não engrenou, pois são muitas expressões diferentes do Português do Brasil. Mas dessa vez recomecei e a história me cativou e aprendi muitas expressões angolanas, como o bué (que é muito). Fiquei curioso nos pratos e bebidas citadas e percebi como há mais semelhanças com o Brasil do que eu pensava. As duas histórias são bem costuradas, com dois recortes temporais. Fiquei curioso para ler outros livros de Pepetela e outros autores angolanos.

Pequenos discursos. E um grande - Hilda Hilst
Eu adoro Hilda Hilst, mesmo sem entender alguns de seus livros. Estou lendo a coletânea de prosa picadinho para durar mais.

O guia definitivo do mochileiro das galáxias - Douglas Adams
Precisei de um pouco de leveza e ficção científica e lembrei do Guia do Mochileiro das Galáxias. Peguei essa coletânea com todos os livros (a trilogia de cinco livros) e adorei todos os personagens e os nomes malucos. Agora consigo entender a necessidade da toalha e tudo mais, que sempre é mencionada no dia 25/05. Ficção científica é sempre sobre a nossa realidade, mas de uma outra forma. Gostei das críticas, dos personagens, do ambiente. E gostei que começou como um programa de rádio. Algumas coisas muito inglesas eu não consegui captar completamente, mas de qualquer forma é uma ótima leitura.

A elegância do ouriço - Muriel Barbery
Peguei essa indicação no podcast da 451 mhz. E valeu cada minuto. Eu adorei a história da concierge que gosta de ler e estudar. E da adolescente filha de ricos e que não quer mais viver. O livro é curtinho e uma leitura maravilhosa.

Anna Karenina - Leon Tolstoy
De tanto que Anna Karenina é mencionado em A Elegância do Ouriço (os nomes dos gatos de dois personagens importantes são Levin e Kitty (dois personagens importantes em Anna Karenina) e Leon (o autor). O livro é denso, mas entendi porque é um clássico. Os personagens são todos muito bem construídos e desde o começo já percebemos que o destino de Anna não vai ser dos melhores, ela precisa ser uma heroína trágica para dar andamento na história. Consegui imaginar a Rússia da época dos czares, as viagens de trem, os agricultores, os chás e cafés nos samovares e as festas da elite. Depois fui ver a versão de 2012 com Keira Knightley e Jude Law, agora já tendo lido o livro e gostei bastante da adaptação mais teatral.

O manual da faxineira - Lucia Berlin
Peguei essa indicação em uma entrevista com a Letrux para o Arte1 e achei que seria um livro leve e engraçado com contos sobre faxinas na casa das pessoas. Esse é um dos livros mais pesados e maravilhosos que eu já li. Contos sobre pessoas marginalizadas e com problemas com o álcool, contos sobre infância, família e histórias quase surreais (como a da neta do dentista que ajudou a extrair os dentes do avô). Pesquisei sobre Lucia Berlin e vários de seus contos são inspirados em sua própria vida. E que somente após sua morte é que seus livros tiveram destaque. Mal posso esperar para ler outros livros de Lucia.

Cidades invisíveis - Italo Calvino
Eu ganhei esse livro na adolescência, mas nunca tinha lido. Depois de uns 20 anos resolvi ler e gostei muito. Imaginei todas as cidades narradas e nessa história costurada por um Marco Polo que inventou todas essas cidades, mas que a partir do momento que ele inventa essa cidades passam a existir. 

Sandman, Endless Nights, Death Deluxe, Overture, Nightmare Country - Neil Gaiman
Depois de ver a série do Sandman no Netflix fiquei interessado em ler os gibis e realmente nunca tinha lido algo assim. Devorei os 75 números originais e mais alguns que saíram após. E mal posso esperar para a 2ª temporada da série.

A viagem do elefante - José Saramago
Tinha tempo que não lia Saramago e chegou para mim esse sobre a viagem de um elefante de Lisboa até a Áustria. Uma história que realmente aconteceu, mas que ganha ainda mais realidade e cor a partir do momento que Saramago decidi contá-la. Fiquei dias pensando no elefante Salomão e no cornaca. 

Querida Kombini - Sayaka Murata
Mais um livro japonês, o terceiro do ano. Eu não podia ficar apenas no Murakami. Esse livro é curtinho, conta a história de uma moça neurodiversa, mas que não sabemos qual é o seu diagnóstico, apenas que ela é diferente de todo mundo ao seu redor e decidi se adequar à "normalidade" trabalhando numa loja de conveniências de uma rede famosa japonesa. A loja tem regras para vestimentas, para falar com o cliente e tudo mais, que a ajudam a guiar sua rotina e sua vida. Ela já trabalha há 20 nessa loja e gostava muito de trabalhar lá, sua vida estava boa, mas todo mundo ao seu redor achava estranho e queria que ela se adequasse a uma vida normal. Eu adorei o livro e me coloquei no lugar da personagem principal. Todo mundo tem alguma neurodiversidade, todo mundo sofre pressão para se adequar. É um livro árido e que ficou comigo muito tempo.

Anos de chumbo - Chico Buarque
Comecei a ler esse livro no avião com destino às férias na Bahia. Eu adoro os livros do Chico e esse livro curtinho de contos maravilhosos. O meu preferido é o do fã de Clarice Lispector. Eu li quase todo no avião e foi uma ótima companhia.

Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres - Clarice Lispector
Esse livro é citado no conto do Chico Buarque o "Anos de Chumbo" e fiquei curioso. Uma mulher e um homem que querem ficar juntos, mas que precisam entender várias coisas antes de ficarem juntos. Uma mulher independente e inteligente. Um livro dolorido, mas com cenas lindas, como o banho de mar solitário de madrugada. O livro retrata as poucas possibilidades das mulheres nos anos sessenta e o que era precisa sacrificar para poder ter uma vida do jeito que se queria. Pensei muito em Lóri depois que terminei o livro. Não sei se é o melhor livro para se ler nas férias, mas foi o livro que li na Bahia.

Tieta do Agreste - Jorge Amado
Eu lembro da novela e o do filme, mas nunca tinha pensado em ler o livro até que foi indicado por Chico Felitti em seu instagram. Aproveitei que estava na Bahia e resolvi ler Jorge Amado. Não poderia ter escolhido um livro melhor. Comecei a ler no final dos meus dias de férias, mas a Bahia me acompanhou até ontem, quando finalmente acabei o livro. Tieta é bem diferente do livro e da novela. E é um livro que não envelheceu. Trata de meio ambiente (ainda não sei o que dióxido de titânio), de política, de corrupção, de hipocrisia, de uma religião cristã menos punitiva e mais harmoniosa e, claro, trata de prostituição como uma empresa e como função social. Tieta é uma personagem maravilhosa e com a capacidade de mudar toda uma cidade. Ainda estou impregnado de Bahia e de Tieta. E que bom!

18 de janeiro de 2023

Saudades do mar



Já tem muitos dias que voltei pra casa. É ótimo voltar, mas sinto muita falta do mar. As ondas, o cheiro, o sal. Gosto de morar aqui no cerrado, longe do litoral. Vivo aqui quase minha vida inteira, mas gosto de imaginar como seria morar em uma cidade de praia. Será que uma hora ela perde o encanto? Talvez seja melhor doses homeopáticas mesmo. De vez quando o mar, a maioria do tempo o cerrado. Sobram memórias, saudades e fotos.

Voltei da Bahia, mas ainda não terminei o livro que comecei por lá. Uma história que se passa na Bahia e na praia. Parece que me transporto para as férias quando leio Tieta, mas já estou quase no final. A volta ao cotidiano tem sido atenuada com a literatura.

Mas a saudade, a imaginação, a criatividade também são formas de viver. Sinto que tenho encontrado de novo um pouco de umidade, sol e maresia. Foi muito tempo num deserto cinza apocalíptico, talvez ainda não tenha entendido quão cinza, desértico e distópico, mas com o passar do tempo vou entender.

Tem tanto sal e água no nosso corpo. O mar está aqui também, em qualquer lugar.

11 de janeiro de 2023

Despaixão



Ando sem paixões, sem vontades avassaladoras. Não sinto a falta de ar, o aperto no peito, a boca seca, a necessidade extrema. Não sinto apego. Não sinto necessidade, apenas as básicas: comer, beber água, dormir. Não tenho desejo. Não tenho sonhos. Sobrevivo desde não me lembro quando. E continuo a sobreviver. Minha única meta é sobreviver. Penso lá na frente, espero ter saúde e dinheiro na minha velhice. Já vivi tempo suficiente para saber que a vida é feita de estações, não apenas as quatro do ano, mas várias estações, algumas que duram bastante tempo. Sinto que estou em uma longa estação, talvez um longo inverno de preparação para sobreviver. Tenho plantado de alguma forma, da forma que é possível, não sei quando ou o que irei colher. Nesta estação a vida está pequena. Leituras, músicas, conversas, passeios. Vida pequena sem grandes planos, mas vida mesmo assim. A vida também é miúda e simples. Sem gerúndios e superlativos. Vida simples, quase no infinitivo, mas no presente, indicativo. E continuo, sobrevivo, miúdo. 

10 de janeiro de 2023

Distopia brasiliense



Domingo eu fui dormir mal ao ver a destruição da Praça dos Três Poderes por tantos fanáticos. Eu não conseguia imaginar ser possível tanta irresponsabilidade das forças de segurança que deveriam cuidar desses prédios e tanta maldade das milhares de pessoas que se deslocaram a Brasília para rasgar obras de arte, destruir vidraças, quebrar móveis, roubar e destruir tudo o que estivesse pela frente. Parecia que eu assistia a um filme distópico na TV, mas que se passava a alguns quilômetros de casa. Espero que essa cena não se repita e que possamos aprender a evitar tudo isso. E que os responsáveis paguem por todo esse estrago. E é bom saber que o Governo Federal e os demais poderes agiram rapidamente, já que o GDF não fez nada, aliás, apenas ajudou na destruição.

2 de janeiro de 2023

Posse


Depois de quatro anos de tristeza, violência e banalização da morte, finalmente foi possível respirar aliviado com posse para o terceiro mandato de Luís Inácio! De manhã, com ressaca do ano novo, a gente acompanhou pela televisão, mas no final da tarde fomos para um dos festivais de música mais maravilhosos que eu já participei. Fomos de metrô, andamos pela rodoviária e pela Esplanada junto com uma multidão de pessoas. E foram tantos artistas que me emocionaram (Maria Rita, Martinho da Vila, Tulipa, Fernanda Takai, Otto, Odair José), além de um discurso surpresa do recém empossado presidente. Os shows foram até de manhã (teve ainda Pabllo, Duda, Walesca, Gaby, Margareth Menezes e muita gente) e foi com o coração apertado que fomos embora um pouco antes de meia noite, mas muita gente ainda chegava enquanto fomos pegar nosso metrô para ir embora procurar algum lugar pra comer. E mesmo com as ameaças de bombas, tiros e tudo mais, que não passaram de ameaças dos extremistas, foi uma sensação indescritível sentir paz, amor e tranquilidade com um novo governo preocupado em reconstruir o país e unir as pessoas. Cheguei em casa com as pernas doloridas e um cansaço sem tamanho, mas com o sentimento de ter participador de um momento histórico e que me encheu de lágrimas de alegria em vários momentos. Estou aqui com ressaca de sono e com dor no corpo, mas muito feliz. E fez um dia de sol lindo, atípico para essa época de muita chuva.

1 de janeiro de 2023

Ano novo


Os últimos réveillons temos passado em casa, mais simples e mais introspectivos. O ano novo é uma data que eu sempre fico bem pensativo, acho que é uma forma de fazer um balanço. De qualquer forma tenho gostado de envelhecer, a passagem do tempo tem sido boa. Então fomos nós três aqui em casa e, claro, os vizinhos sempre se empolgam com os fogos de artifício, mas Tominhas está um pouco mais tranquilo. Demos um ossinho defumado e ele não se estressou tanto com o barulho dos fogos e nem foi se esconder no banheiro. Abrimos uns vinhos, fizemos um pedaço de pernil, farofa, arroz, lentilha e compramos rabanadas e pães recheados para o dia seguinte... Mas mesmo com uma tacinha de espumante à meia noite, acordei com ressaca e azia... De qualquer forma 2023 já começou ótimo! 

29 de dezembro de 2022

Maresia


A sensação era de estar dentro de um casulo, como essas sementes que guardam o gérmen para quando a umidade voltar. Morar tão longe do litoral me faz apreciar cada minuto de maresia e a ter respeito e medo do mar, tão misterioso e imenso.

Agradeci aos orixás, santos, espiritualidade e ao universo pela possibilidade de me banhar nas ondas e me encher de iodo, sódio e sargaço. Não sei quando voltarei, mas sempre retorno ao mar.

Comi pratos com polvos, lulas, peixes, camarões e mariscos, tudo fresco como não é possível ter na minha terra. Minha pele e meu corpo estão renovados. E minha alma teve um descanso do cotidiano "todo dia ela faz quase tudo sempre igual" de quase três anos. Não tem massagem, reza, meditação ou substância que provoca o relaxamento de alguns dias na praia. Arraial D'ajuda me ajudou demais.

E agora a volta para casa. Mas já não mais a mesma casa, mesmo que seja. Volto para a casa limpa e aconchegante. E volto limpo e aconchegado.

26 de dezembro de 2022

Praia



Praia sempre é maravilhoso, ainda mais pra quem mora a mais de mil quilômetros do litoral. Tem chovido quase todos os dias, mas mesmo assim é maravilhoso. Caminhadas na areia, peixe e camarão no dendê, acarajé. Eu acho o litoral uma sensação maravilhosa. O iodo, o sódio, a maresia. E hoje finalmente abriu um sol. Acho que mesmo se eu fizesse meditação todos os dias em casa não teria o mesmo relaxamento que o mar proporciona. E de estar longe de casa. Praia é bom demais. Três anos depois da última viagem ao litoral.

21 de dezembro de 2022

Viagem pra praia



Depois de três anos vou entrar em um avião e vamos para a praia. Três anos sem sair de Brasília, três anos voltado para dentro. Depois de pesquisar muito encontramos uma passagem para Porto Seguro que não estava em um preço absurdo, depois de olhar praticamente todas as cidades com praia que dá pra chegar de avião. A passagem sem direito a nada, nem remarcar ou despachar bagagem. Mas está ótimo. O aeroporto continua com preços absurdos, mas sempre foi assim. Daqui a pouco vamos chegar na praia, depois de um trecho de avião, um táxi, uma balsa e uma van, chegaremos em Arraial D'ajuda. 

Eu não lembrava que a viagem começava logo após a compra da passagem. Todo um planjeamento, listas de coisas para não esquecer, remédios, protetor, boné. Mas eu só quero mesmo chegar na praia e poder deitar numa espreguiçadeira com meu marido, ouvir as ondas e tomar uma cervejinha. Não vejo a hora de chegar na praia!

7 de dezembro de 2022

Férias



Chegou dezembro. O mês mais curto, pois quando se dá conta já é o ano seguinte. Fiquei doente de um jeito que há muito tempo não me senti. Comi algo que não me fez ou talvez tenha sido apenas a gota d'água que fez o copo transbordar. Fiquei um dia inteiro de cama, justo uma sexta e o primeiro dia das minhas férias. Mas tudo bem, talvez seja o cansaço acumulado do ano todo. Aliás, um ano que não foi fácil , mas que termina melhor do que começou.

E essas férias vão ter praia, mas até lá para mim está ótimo só de estar em casa, cozinhar, tomar meu chá, ler, jogar videogame e estar com a cabeça tranquila. Passear com Thominhas sem horário, brincar, ouvir música. Dormir de tarde... Não preciso de muito. Mas é ótimo estar de férias. 

29 de novembro de 2022

Tantas coisas, vida e morte



Os últimos dias foram corridos no trabalho. Muitas tarefas que não precisavam de urgência de repente furaram a fila e viraram para ontem. Mas tudo bem, faz parte. Aliás, trabalho é trabalho, já estou conformado. Mas muitas coisas aconteceram nesses últimos vinte dias. Gal morreu. É das poucas cantoras que eu sinto como se fosse alguém da família, uma amiga próxima que não via há tempos. As músicas dela estão presentes em tantos momentos da minha vida, inclusive Dê um rolê foi o tema que escolhemos para abrir nossa cerimônia de casamento, não houve nem questionamento. Afinal, não há nada mais forte do que "eu sou, eu sou, eu sou amor da cabeça aos pés". Ouvimos muita Gal nesses últimos dias. É a artista que mais temos discos e a que mais fomos a shows. Inclusive o último show que vimos, em agosto desse ano, no COMA, foi absolutamente maravilhoso. Gal estava forte e bem humorada. Dancei muito, cantei todas as músicas. Parecia haver ainda muitos shows de Gal pela frente, mas não deu tempo. A vida é assim.

Tenho pensado muito nesses dias e acho que entendi alguns nós na minha vida. Engraçado como de repente algo que sempre estava bem na frente faz sentido, como se uma peça tivesse finalmente se encaixado ou como se a ficha da época dos orelhões antigos tivesse caído. Entendi um desconforto familiar. A vida está sempre em construção, até a hora que morremos. Mesmo o passado também é reconstruído pelo presente.

A vida tem sido solitária nos últimos tempos, mesmo que eu goste muito da solidão com livros, músicas, filmes e jogos. Eu amo ficar em casa. Amo a vida com nós dois e nosso cachorro. A pandemia me deixou com um pouco de fobia social, de vontade de não sair de casa. Eu acho que ainda não está fora de controle, mas sei que é um pulo para virar um distúrbio. Então sempre que aparece um convite a gente se força para ir, mas depois é bom interagir, conversar ao vivo. Não aparecem muitos convites, afinal amizade é uma via de mão dupla e sinto que não tenho cultivado as amizades, mesmo no online. Os poucos que aparecem nós vamos, mesmo que eu sinta uma vontade de desistir ou sinta um nervosismo desproporcional nos minutos que antecedem e chegada ao lugar. Enfim, é como um músculo, é preciso trabalhar essas interações sociais.

Tantas coisas...

9 de novembro de 2022

Chuva



Tenho trabalhado de casa nos últimos anos, desde o começo da pandemia. Minha qualidade de vida melhorou de uma forma que nem dá para comparar com a minha vida anterior. Recebi então o pedido de exames periódicos do meu trabalho e vi que era preciso imprimir o pedido e levar em uma rede de laboratórios que tem uma unidade aqui perto. Como quase não imprimo nada, a impressora está sem tinta, mas tem uma papelaria aqui perto que imprime por um real. Então comecei minha saga a pé: papelaria e laboratório para pegar um frasco para exame e tirar dúvidas sobre jejum. Eu adoro andar a pé aqui perto, mas no meio do caminho a chuva. Sorte que tenho sempre saquinhos de plástico no bolso por causa dos passeios com nosso cachorro, afinal de contas nunca sei quando ele vai querer fazer cocô no meio do passeio. Então embalei os papeis e o meu celular e fui na chuva mesmo. Não lembro da última vez que peguei chuva, mas foi libertador tomar banho de chuva sem me preocupar. Deu tudo certo, nada de importante se molhou e hoje fiz os exames normalmente, também a pé, carregando um frasco de xixi em uma sacolinha.

4 de novembro de 2022

Ufa!



Esses dias consegui respirar bem depois de quatro anos. É impressionante como política afeta tudo, inclusive a saúde mental. E é tudo tão frágil, todas as conquistas sociais, econômicas e políticas podem desaparecer em poucos anos. Mas é bom poder respirar, saber que em poucas semanas haverá uma pessoa não vai falar barbaridades, rir das desgraças e nem manipular as pessoas. Ufa! E ainda chegou uma frente fria que mudou completamente o tempo.

1 de novembro de 2022

Oito anos de casa



Há oito anos nos mudamos para o Guará. Nunca pensei em morar aqui, já que em Brasília quase todo mundo quer morar no Plano Piloto, o centro da cidade que tem uns 15 km de largura. Os prédios são mais caros, o paisagismo é mais bonito e o acesso é mais fácil. Mas de repente apareceu a possibilidade de morar no Guará logo que voltamos de São Paulo. Desde então estamos aqui no mesmo apartamento. Vamos a pé para a Feira do Guará, para as padarias aqui perto e depois de caminhar a pé por vários lugares tenho a sensação gostosa de vizinhança. O apartamento não é grande, mas eu adoro morar e trabalhar aqui. Somos só nós três: eu, meu marido e nosso cachorro, então está ótimo. E a vista é maravilhosa, todos os dias o por do sol é maravilhoso aqui, mesmo o sol batendo direto no final do dia. A única parte ruim é voltar para casa quando saímos de noite para alguma festa ou show, pois os carros de aplicativo em geral demoram para aceitar a corrida, então temos que pedir uma categoria mais cara. Mas mesmo assim amo morar aqui e não penso em me mudar. Já é o apartamento que moramos há mais tempo. Já é nossa casa.