25 de abril de 2023

Barco a vela



Essa maré de feriados tem me feito bem. Não aconteceu nada demais, mas é bom ter um final de semana maior. Mais tempo para ler, para ver tv, para não fazer nada. A vida não precisa ser tão corrida e acho que tenho aprendido algumas ferramentas para não me deixar entrar nessa espiral de ansiedade do trabalho. Chegou notificação de mensagem do trabalho fora do expediente? Eu só ignoro e respondo no começo do expediente do dia seguinte. Claro, fica uma pontinha de preocupação, o cérebro começa a trabalhar um pouco, mas o jeito é respirar e tentar tirar essa caraminhola da cabeça. Meditação, yoga, chá, brincar com o cachorro, ler, tudo ajuda. Mas é amadurecimento também. Só com a idade consigo ver tudo isso com mais nitidez. Não adianta conselhos, vídeos, textos motivacionais. É preciso viver, sofrer e aprender a colocar limites. Nem acredito que daqui a alguns meses vou fazer quarenta, mas apesar do susto de entrar nos "enta", tenho gostado muito de envelhecer. É como um barco a vela que continua a seguir, dependendo dos ventos.

14 de abril de 2023

Descongelar



Neste ano houve um alinhamento dos planetas e vários feriados vão cair nas sextas ou segundas. Pensei em como seria bom ter uma semana com três dias de final de semana, mas não sei se isso aconteceria um dia. De qualquer forma é ótimo poder aproveitar os feriados, mesmo sem nenhum plano específico além de descansar. A vida tem sido tranquila nos últimos tempos. Tenho gostado de ler, passear com o cachorro, jogar um pouco de videogame, assistir séries e filmes na TV de casa. Nada muito elaborado, mas a vida não precisa ser muito elaborada. Tenho tentado aproveitar essas pequenas coisas, que aliás já são enormes. E vida flui. Sinto aos poucos descongelar do trauma dos últimos anos, como alguns animais no final da hibernação. Foi uma ótima estratégia de sobrevivência, mas não dá para ficar para sempre congelado na toca. Aos poucos tem uma bar com as amigas, shows, comemorações de aniversário. Tudo com calma, sem aperreio. Não dá pra descongelar no micro-ondas, é preciso tirar do congelador e deixar aos poucos chegar na temperatura ambiente.

11 de abril de 2023

Chocolate



Gosto de chocolate. Acho que toda semana como um pouco de chocolate. Gosto do branco, do preto, ao leite, com ou sem castanhas ou coisas crocantes. Gosto de barras, bombons, biscoitos. E gosto do feriado. Já há algum tempo não sigo uma religião, então não faço questão dos ritos de Páscoa, mas gosto dos ovos de chocolate. Quase não ganho ovos, mas sempre é bom um presente. Ainda sobrou um pouco, que quebrei em pedaços e deixei em um pote fechado. De vez em quando pego um pedaço quando tomo café ou coloco na panqueca de banana do café da manhã. Chocolate deixa tudo mais especial. E os feriados estão aí para sair da rotina, dormir, comer besteiras e beber demais.

6 de abril de 2023

Feriado e nada



Os planetas e as estrelas se alinharam e finalmente houve um ano que muitos feriados vão cair na sexta e na segunda. Não tenho nada planejado, só quero mesmo não fazer nada. Aliás, fazer nada anda tão difícil ultimamente, apesar de parecer tão fácil. Sempre tem algo a ser feito ou ao menos para deixar um pouco adiantado. E então chegam os feriados e pronto, não fazer nada. Nadinha.

5 de abril de 2023

Apartamento-campo



Moro em um prédio alto, no décimo terceiro andar em um bairro um pouco afastado do centro da cidade. Diferente do planejamento urbanístico modernista do Plano Piloto. Um apartamento pequeno, mas para duas pessoas e um cachorro está ótimo. Como não há muitos prédios por aqui, temos uma vista de cento e oitenta graus da cidade. Quase todos os dias o pôr-do-sol é cinematográfico. Como tenho trabalhado de casa, desenvolvi outra relação com o ambiente. Acho que só fui entender minha casa depois de trabalhar de forma remota. Várias vezes enquanto preparo meu café da manhã tenho a sensação de que estou numa casa isolada, na roça. Olho pela janela e vejo tanto verde, tantas árvores e pássaros. Do lado de fora parece haver uma colina verde com casas e até uma linha de trem. Há uma sensação de isolamento, mas ao mesmo tempo de acalanto. E me sinto acolhido na minha casa e gosto de cada pedaço. Mesmo depois de tantos anos ainda me sinto encantado com a vista, com as plantas, os móveis, com a casa em si. Gosto dessa casa de campo virtual, pois é só descer o elevador e a ilusão se desfaz. Mas também basta entrar novamente que a pequena casa da fazenda se reconstrói.

31 de março de 2023

Impressão 3D caseira



Nos últimos anos tem se popularizado a impressão em três dimensões. A impressora não é mais aquela máquina para reproduzir documentos e fotos, pois alguns modelos têm um cartucho de resina ou plástico que imprime objetos em três dimensões, de acordo com um projeto. Eu nunca vi uma impressora dessas e não tenho a menor ideia de como funciona. Mas tenho observado meus próprios machucados, especialmente no meu dedo mindinho. Eu ralei a "dobradiça" do meu dedinho e por ser um lugar que não fica parado, tem demorado para cicatrizar. Quando lavo as mãos, as louças ou tomo banho o machucado fica ainda mais estranho. Mas hoje notei que finalmente parece que vai finalmente fechar e voltar a ser pele, não simplesmente uma casquinha de machucado. E então percebi que somos também uma grande impressora em três dimensões. Meu corpo se preocupa em reconstruir aquela parte que foi machucada. Ele (ou eu) pensa no projeto, nos materiais e como aquilo vai funcionar e se adequar com o que já está lá. E eu nem preciso pensar muito, só não atrapalhar. Nos primeiros dias após o machucado minha mesa de trabalho ficou cheia de coisas orgânicas gosmentas de cicatrização, mas agora já está tudo seco e quase pele de novo. Engraçado pensar que não existe simplesmente a pele, mas inúmeras camadas de células e líquidos. Em alguns dias nem vou me lembrar que me ralei todo, como quase não me lembro dos inúmeros machucados que já tive, afinal de contas o corpo é formado por essas impressoras que procuram consertar tudo da melhor forma para que nós (eu, as impressoras, os líquidos e todos os microrganismos que fazem parte desse eu) possamos viver ainda bastante tempo.

30 de março de 2023

Incêndio



Um apartamento do prédio ao lado pegou fogo, ainda não se sabe o que causou. Talvez um curto-circuito, uma vela acessa, cigarro? Não se sabe. Mas ver o fogo assim de perto é assustador. O apartamento foi inteiramente destruído e dava para escutar pequenas explosões e estilhaços de azulejos, além da fumaça densa que invadiu as janelas aqui de casa. Várias cabeças curiosas encheram a fachada para tentar ver mais detalhes. Os bombeiros chegaram, interditaram a via. Em seguida chegou o caminhão com a escada magirus. O incêndio foi controlado. Não havia ninguém em casa, mas um cachorro e um gato morreram por causa da fumaça. Pensei em todas as memórias que foram queimadas, além da perda de tudo aquilo que faz a casa ser uma casa. O apartamento agora é apenas um espaço chamuscado e com entulho. Pensei que ninguém está livre de um incêndio. Melhor não pensar nisso.

29 de março de 2023

Natureza



Tenho reparado mais na natureza. Quer dizer, a natureza é tudo, inclusive nós, mas tenho buscado prestar mais atenção nas plantas e nos bichos que cruzam meu caminho. Abri a janela esses dias e encontrei várias andorinhas empoleiradas no brise do ar condicionado. A maioria bateu as asas assim que me viu, mas essas duas ficaram ainda e consegui tirar essa foto. Trabalho de frente a uma janela em que consigo ver várias árvores e a linha do horizonte cheia de prédios. Todos os dias o por do sol é lindo por aqui. Gosto de olhar e respirar um pouco, sair do computador por algum tempo. A cidade é muito arborizada, mas na maioria dos dias são apenas borrões verdes e coloridos, sem forma definida. Então simplesmente consegui focar e prestar atenção nas árvores, flores, frutos e pássaros. Eles estão lá, mesmo que invisíveis aos desatentos. Então agora quero prestar mais atenção. A vida pode ficar pequena e artificial, mas esses pequenos recados da natureza me fazem lembrar que a vida é tão maior, simultânea e múltipla. A gente é natureza e está conectado a tudo.

28 de março de 2023

Papelaria e viagem no tempo



Eu adoro coisas de papelaria, mesmo que quase não escreva à mão ou desenhe. Na escrivaninha há um pequeno armário cheio de lápis, canetas, borrachas e cadernos. Quase todos novos ou com pouco uso. Ficam ali meio esquecidos. No final de semana entrei numa livraria aqui perto de casa. Metade livros, metade papelaria e informática. Eu adoro olhar os lançamentos, folhear, sentir aquele cheio de livro novo. Então cheguei na parte da papelaria. Na mesma hora me lembrei da lista de materiais dos primeiros anos da escola. A alegria de ter cadernos, canetas e lápis novos. Não tenho saudade da escola em si, mas dessa parte de escolher os materiais e imaginar como seriam usados. Um apontador em formato de latinha me transportou direto para a infância. Não comprei nada, mas adorei a sensação e a pequena viagem no tempo. Será que estou precisando escrever mais à mão, desenhar e usar os materiais que já tenho em casa?

27 de março de 2023

Frutas


Tenho me conectado com meus pais através de frutas. No final de semana vou na casa do meus pais e levo algumas frutas diferentes que compro na feira aqui perto de casa ou em uma barraca perto de um mercado. Gosto de comprar as bem diferentes como araticum, atemoia, pitaia, mas também algumas mais comuns como ata, caqui, caju, dependendo do que está mais fresco e mais bonito. Procuro escolher frutas que eles não comprariam, então nada de banana, laranja, maçã ou uvas. Eles sempre ficam felizes com os presentes e contam histórias enquanto comem alguns pedaços. De longe a que mais fez sucesso foi uma graviola que pedi para o rapaz da banca escolher a melhor. Eu jamais escolheria aquela específica: a casca estava mole, como se a fruta tivesse batido em algo duro, mas decidi não discutir. Quando abrimos a graviola o cheiro maravilhoso invadiu a cozinha. Ela estava perfeita. Madura, saborosa e muito suculenta. Meus pais comiam com tanta alegria, pareciam de novo crianças. A graviola acabou em minutos. É muito duro envelhecer e fico tão feliz de ter esses pequenos momentos de alegrias com meus pais. Uma conexão mediada por frutas diferentes. 

24 de março de 2023

Notificação



Comecei a fazer um experimento. Tirei a vibração do meu celular, mas deixei as notificações. Meu celular quase sempre fica no silencioso, nem lembro qual o toque para quando me ligam. No começo do trabalho remoto deixei os barulhos do celular todos ativos, afinal tinha de estar disponível se chegasse alguma mensagem de trabalho. Claro que isso me deixou estressado e ansioso, afinal havia várias mensagens de grupos e que não era exatamente para mim. Depois consegui configurar o Teams para não me notificar nada antes das 08h e depois das 18h30 e nada nos finais de semana. Mas deixei a vibração. Agora resolvi tirar a vibração e deixei apenas as notificações na tela, pois meu celular vibrava o tempo todo para várias notificações. Agora o celular não vibra mais, mas deixei uma configuração que a tela fica sempre ligada apenas com o relógio e alguns ícones de notificação. Então de vez em quando dou uma olhada para a tela do celular para ver se tem algo novo. Olho no meu tempo, sem o barulho de vibração e a curiosidade. Por enquanto tem funcionado. Aliás, cada vez mais tenho tentado não ficar à toa no celular. Claro, adoro ver as mensagens dos meus amigos e da minha família, além de ver as redes sociais, mas não quero mais ficar apenas passando as telas. Vamos ver se esse experimento vai dar certo, tenho gostado de ficar mais no meu ritmo, sem tanto estímulo de barulhos e vibrações.

22 de março de 2023

Ralados



Na infância era tão comum correr, pular e então cair no chão, ralar a mão e os joelhos. Mas então a gente cresce e já não corre tanto, nem sobe em árvores. O computador e o celular não parecem assim tão perigosos. Mas então tem uma promoção no bar em comemoração ao dia do Saint Patrick (que eu só vi a saber da existência depois de adulto) para tomar várias cervejas e chopps por um preço fixo que dá mais ou menos o valor de dez copos de cerveja. Parece uma boa ideia. E então depois de várias cervejas eu pisei em falso e cai no chão. Claro, o tanto de cerveja não ajudou no equilíbrio. Não quebrei dente, não estraguei meus óculos ou minhas roupas, mas ralei minhas duas mãos. Nada demais, claro. Mas como é ruim ficar com as mãos raladas. Mesmo sem merthiolate ou salmoura. Mesmo só com um spray antisséptico que nem arde. Lavar louça, usar o mouse, digitar, tudo incomoda. Eu não lembrava como era chato. Mas logo logo a pele vai se regenerar e esses ralados vão virar história, como aconteceu com os vários ralados da infância. O sangue, o vermelho, as camadas de pele, tudo vai ser coberto como se fossem dunas de um deserto ou sedimentos em um rio. Como é bom ter um corpo.

17 de março de 2023

Escrever



Gosto de escrever. Aliás, eu me sinto em uma máquina de escrever quando olho para esse retângulo em branco e digito as letras no teclado. Gosto do barulho das teclas, tanto que prefiro um teclado tradicional ao invés do que vem acoplado no notebook. Levei um tempo para entender que o que escrevo no trabalho também são textos, também é escrita. Claro, sem muita criatividade, mas mesmo assim precisa fazer sentido e atender as regras gramaticais. Posso não ser um grande escritor, mas gosto dos meus textos, mesmo a escrita burocrática do trabalho.

E mesmo que ninguém leia meus textos, gosto de escrever. E de vez em quando leio aleatoriamente alguns textos antigos que escrevi por aqui e me surpreendo com a acidez, a ironia ou mesmo o carinho que esse distanciamento me faz perceber.

Vou continuar a escrever por aqui sempre que tiver um tempo. E também sempre vou olhar o que aconteceu nos anos anteriores para tentar resgatar ou mesmo me reconhecer nesses flashbacks. 

Espero sempre continuar a escrever.

14 de março de 2023

Ainda no teletrabalho



Já são três anos desde que comecei a trabalhar de forma remota. E sempre me lembro em março. Por trabalhar no serviço público nunca achei que eu poderia trabalhar de casa, seria algo das empresas de tecnologia e inovação. E desde o começo me adaptei bem e uso basicamente a mesma configuração, apenas troquei o notebook por um mais novo e com Windows, pois tudo no meu trabalho é da Microsoft e havia alguns conflitos com o sistema da Apple. Aliás, tenho gostado muito do Windows novo e da integração com o Teams e o Office.

Em março de 2020 havia ainda muita incerteza em relação ao COVID-19, nem sinal de vacinas ou medicamentos eficazes. E meu pai estava internado por uma questão médica que até hoje não chegamos a um diagnóstico, mas de qualquer forma ele está bem e estável.

Em tese eu poderia trabalhar de qualquer lugar. Ir a um café, restaurante ou mesmo ir para a casa de alguém, mas gosto mesmo de trabalhar de casa. Montei uma mesa com o notebook, teclado, mouse, suporte, água e uma plantinha. Não me imagino mais ir para a sede do meu trabalho, tanto que não tenho mais um computador ou uma mesa lá. 

Várias empresas já voltaram ao presencial ou adotaram um sistema híbrido, como aconteceu com o trabalho do meu marido. Mas no meu trabalho continua normal para quem quiser continuar no trabalho remoto. 

Não tive grande problemas nesses últimos anos a não ser algumas reuniões que ocorreram de noite, mas são exceção. No mais tudo tem corrido bem. Não tive também problemas tecnológicos, pois quando há problema na internet consigo rotear pela internet do celular. E mantive o notebook antigo para ficar de reserva caso dê problema no meu computador principal.

Espero continuar a trabalhar de casa. Mesmo que em vários dias tenha apenas a companhia do nosso cachorro, que gosta de dormir aqui perto da minha cadeira. Eu adoro a minha casa e adoro poder trabalhar diretamente dela. Adoro poder comer comida caseira no almoço e depois ir para a cama tirar uma soneca ou ler um pouco. Nunca imaginei trabalhar de home office, mas agora não me imagino mais de outra forma.

3 de março de 2023

Insônia



Tenho acordado cada vez mais cedo, sem despertador. Gosto quando me levanto nos últimos minutos antes do dia começar a clarear, quando a noite está para acabar. Não é ainda noite nem dia. Tenho ido dormir cedo também, umas dez da noite já estou com os olhos pesados. Mas algo me despertou mais cedo ainda nesta semana. Acordei às duas da manhã sem saber que horas eram ou onde eu estava. Tentei tomar um pouco de água e voltar a dormir, mas já estava desperto. Tentei meditar e nada. Então voltei para o meu livro. Li por quase uma hora e aí sim me deu sono. Não adianta lutar com a insônia e não quero ainda tomar remédios para dormir. No dia seguinte acordei às quatro. Acho que aos poucos vou voltar para levantar um pouco antes das seis. De qualquer forma eu gosto de olhar lá para fora e ver a cidade silenciosa pela janela. Até o ar fica diferente.

2 de março de 2023

Mar e memória



Esses dias me lembrei de um grande medo que passei na infância. Fomos passar as férias na cidade da minha mãe, uma cidade de praia. Pegamos um barco para outra cidade de praia e foi preciso ir para o alto mar. É uma sensação estranha ver mar por todos os lados, parecia estar solto no espaço sideral ou em um planeta feito de gelatina. E, claro, que eu fiquei enjoado e precisei vomitar, pois a fatia de limão não me ajudou. Correu tudo bem na outra praia, mas na volta começou a chover muito e mar ficou muito agitado. Nunca tinha vivenciado algo tão assustador. O barco parecia feito de brinquedo. As mulheres e as crianças desembarcaram primeiro, mas como o mar e a chuva não diminuíram, o capitão do barco decidiu desatracar e ir com o barco para além da linha das ondas. Meu pai ainda estava no barco e voltei para casa da minha avó rezando e torcendo para correr tudo bem. Acho que foi a primeira vez que vivenciei um perigo e a possibilidade de morte. Talvez por ser de uma perspectiva da infância o perigo parecia ainda maior. Há alguns dias conversei com meus pais sobre esse episódio que ocorreu há trinta anos e a memória deles foi completamente diferente, ao invés de algo assustador foi apenas um evento corriqueiro, nada demais. As memórias não são confiáveis. De qualquer forma, não fiquei com medo do mar e ainda acho um dos maiores encantos. Essa viagem continua mágica e assustadora para mim.

22 de fevereiro de 2023

Carnaval 2023



O último carnaval pra mim foi em 2020, antes da pandemia. Foi um carnaval um pouco estranho, pois já havia casos de COVID em alguns países e inclusive piadas, pois até então estávamos acostumados com a epidemia de H1N1 que foi bem mais simples. Ninguém conseguia imaginar que a pandemia seria tão complexa e duraria tanto tempo. Mas chegou e foi terrível. Agora quase três anos depois conseguimos ter o primeiro carnaval mais ou menos como os de antes. Mais ou menos, pois já se passou muita coisa desde 2020. Eu até a véspera do carnaval não sabia direito o que fazer. A agenda dos blocos estava confusa, talvez a gente fosse apenas em alguns dias. Chegou então o sábado de carnaval e já fomos em uma festa e foi divertido, apesar de não parecer ainda carnaval, apenas uma festa com músicas de carnaval. Samba Urgente sempre é bom! No domingo fomos em um bloco mesmo, na Vila Planalto, o Tropicaos. Parecia que eu estava em outra cidade, uma dessas cidades do interior. Só aí entendi que estava no carnaval e como é importante estar na rua, dançar, sorrir, encontrar pessoas, abraçar. Foi uma experiência maravilhosa que eu não sabia o tanto que meu corpo e minha mente precisavam. Sair cedo e voltar cedo pra casa, de dia ainda, mas há muitas horas na rua. Segunda no Setor Comercial Sul, num bloco que sempre vamos, o Aparelhinho. Caminhamos pela cidade, interagimos com as pessoas, cruzamos o Eixão a pé até a Praça dos Prazeres. E então teve a terça, o melhor bloco para mim, o Calango Careta. Caminhar atrás do bloco, todo mundo fantasiado, orquestra incrível, pessoas com perna de pau, um calango gigante como se fosse aqueles dragões chineses. Caminhar pelas quadras da Asa Sul, chegar no Cine Brasília e voltar para a W3 sul. Várias pessoas, vários amigos. O carnaval é assim, não precisa planejar muito, mas precisa estar na rua. Agora sim meu 2023 começou. Estou com o corpo dolorido e muito cansado. Fiquei a manhã toda descansando, mas mesmo assim estou bem cansado. De qualquer forma é uma maravilha poder trabalhar de casa, sem precisar ir até o escritório. Se bem que tradicionalmente a quarta de cinzas no escritório a gente só devia conversar com os colegas sobre como foi o carnaval e hoje tive bastante trabalho, mas bom que o dia passou ligeiro. Amanhã oficialmente 2023, depois de um carnaval maravilhoso. Demorei para entender e para gostar do carnaval, agora não passo mais sem.

10 de fevereiro de 2023

Saudades e silêncio



Estou há uns dez dias sozinho com meu cachorro em casa. Mas a não ser pela saudade enorme do meu marido, os dias têm passado tranquilos. Eu gosto da minha casa. Gosto de trabalhar em casa. Gosto de ficar em casa. Computador, televisão, livros, músicas, caminhadas. Cozinhei também para a semana, juntei vários vegetais cortados, misturei azeite, sal e temperos e deixei no forno, olhando e mexendo de meia em meia hora. As engrenagens da vida funcionam bem. A casa silenciosa e tranquila, mas não vejo a hora de chegar meu marido com as novidades, barulhos, conversas. Sinta muita saudade.

7 de fevereiro de 2023

Saudades



Meu marido viajou a trabalho para o exterior há uma semana e ainda vai ficar alguns dias. O apartamento ficou gigantesco e silencioso. Tenho tido conversas com nosso cachorro, tirado um tempo para brincar com ele, passearmos aqui por perto. Tinha tempo que eu não ficava tanto tempo só, afinal de contas há pouco tempo houve a pandemia e não havia viagens a trabalho. Eu amo a rotina com meu marido em casa. Eu trabalho de casa todos os dias e ele consegue trabalhar de casa alguns dias por semana, então temos nossa rotina, mesmo no apartamento pequeno. Sinto saudades de acordar e ver seu rosto dorminhoco. Ou de estar na sala já em várias atividades e ele chegar sonolento para dar bom dia para mim e para nosso cachorro. Ou almoçarmos juntos na frente da TV para ver ao algum vídeo rápido no YouTube e voltar para o quarto para ler ou tirar uma soneca antes de voltar ao trabalho. Ou nossas noites de sexta em que abrimos cada um seu vinho (eu gosto de tintos e ele de brancos e rosés), comer algum petisco, ouvir músicas e conversar. Ou nossas manhãs de sábado que temos tempo para tomar um café da manhã tranquilo, depois ir na feira e arrumar algum passeio legal para levarmos o nosso cachorro. Mesmo ele tão longe conseguimos conversar pelo celular, saber como está o dia-a-dia, ver as quase instantaneamente as fotos dos lugares que ele tem ido. Por aqui a vida continua, tenho minha rotina, tenho meu trabalho, tenho meus livros, filmes, tenho as caminhadas aqui por perto, os passeios com o cachorro, tenho os momentos de preparar as comidas, fazer as compras. A vida continua, mas ela é mais colorida com meu marido aqui por perto.

3 de fevereiro de 2023

Já é carnaval



Eu passei minha vida quase toda sem gostar do carnaval. Gostava do feriado, dos vários dias sem escola, mas não lembro de ir em bailes ou blocos, no máximo assistir a algum desfile na televisão. Não me lembro de fantasias na infância, festas ou matinês. E então em São Paulo, um dos últimos lugares em que esperava encontrar algum carnaval, fui no meu primeiro bloco de rua. Lembro que estávamos na nossa casa e de repente lá longe um barulho e música. E então decidimos ir no bloco com a roupa de casa mesmo e nos divertimos. Lembro de irmos em blocos com poucas pessoas também, praticamente sem estrutura, passear pelas ruas e cantar músicas antigas de carnaval. E Brasília tinha sempre os blocos antigos e decadentes, então há uns dez anos chegaram blocos novos e uma vontade de curtir o carnaval aqui, sem viajar. De repente a gente começou a ir a armarinhos e preparar fantasias, pensar no que usar em cada um dos dias, pensar no carrinho de feira com bolsa térmica pra levar cerveja e voltar para casa com os pés doloridos e com purpurina em cada centímetro de pele e do cabelo. Mesmo depois de muito banho ainda encontrar brilhos e confetes na cama e pela casa, a dor no corpo, o zumbido no ouvido e a ressaca. Então chegou a pandemia. Aliás, em 2020 ainda teve um pouco de carnaval, já com piada do "beijei um italiano (e provavelmente peguei COVID)". Nem dava para imaginar que poucas semanas após o carnaval tudo seria interrompido e a vida como um todo seria modificada para sempre. Agora, após quase três anos, vamos ter um carnaval mais ou menos como era antigamente. Se bem que já não somos como antigamente e ainda não conseguimos entender exatamente o que tem acontecido. E o primeiro carnaval após esse desgoverno que finalmente acabou. 

Sábado passado teve uma festa de carnaval. Festa privada, higienizada, mas de carnaval. Com Silva e Liniker (aliás, adoro o Silva, mas seria ótimo um Bloco da Liniker!). Músicas antigas tocadas ao vivo. Dançar. Há quanto tempo não dançava, nem me lembro quando dancei e me diverti em uma festa. Abraçar amigos, rir, conversar. Beber cerveja cara, mas gelada. Enfrentar filas. Ainda não estou com vontade de fantasias, nem nada muito elaborado, mas sei que o melhor é deixar acontecer naturalmente, como diz aquele pagodinho dos anos 2000. Final de semana tem mais pré-carnaval...