3 de janeiro de 2024

Começou o ano


O ano começou e estou com boas expectativas. Quem diria que comer um monte de coisas gostosas sem se preocupar com nada iria me fazer engordar? De qualquer forma é isso, não tem problema. Valeu a pena as rabanadas, pizzas, pavês e biscoitos amanteigados. E é bom também voltar a fazer exercícios e comer de forma mais saudável. Logo o peso se estabiliza de novo, sem pressa. E o ano começa de novo, sem resoluções ou grandes planos.

30 de dezembro de 2023

Férias



Eu gosto de férias, mesmo sem viajar. Consegui resolver várias coisas que estavam enroladas, como ver se meu grau aumentou (não aumentou) e se está tudo certo com meus olhos, curtir a piscina do prédio, ajeitar coisas em casa, ler, jogar, passear pela cidade como se fosse turista, ir em exposições de arte, limpar a bicicleta, encher os pneus e andar por aí e, claro, descansar. Foi uma pequena amostra da vida de aposentado. Agora é voltar ao cotidiano, mas ao menos com a cabeça boa.

19 de dezembro de 2023

Bicicleta zen



Compramos duas bicicletas um pouco depois de voltar para Brasília. São bicicletas lindas e que imitam um modelo antigo. Usamos bastante nesse começo, mas ficaram um pouco esquecidas, estacionadas na frente da vaga do carro. Devia ter uns quatro anos que eu não andava e nem cuidava delas. Decidi então limpar, encher os pneus, passar um pouco de óleo nelas e, claro, dar uma volta. Enquanto limpava apareceu uma vizinha lamentando que as bicicletas estavam abandonadas. Sim, estavam abandonadas, mas elas têm dono e ainda me fazem muito feliz. Foi bom cuidar novamente delas e dar uma volta pela cidade. Um volta aqui no bairro deu oito quilômetros. Eu não preciso usar todos os dias algo que eu tenha carinho ou que me faça bem. Essas bicicletas são mais do que simplesmente um veículo de duas rodas. Elas são uma conexão com minha infância, uma conexão com uma vida mais simples, de passear perto de casa. Nem tudo precisa ter uma lógica, às vezes é apenas algo que me faz bem.

14 de dezembro de 2023

Envelhecimento



O envelhecimento dos pais não é fácil. Meu pai está com um problema motor que ainda não tem o diagnóstico fechado e passa por alguns episódios complicados. Fomos a alguns exames e foi complicado. Ele está com pouca mobilidade, mas não quer usar a cadeira de rodas. Ele passou mal por causa do esforço, mas mesmo assim não quis a cadeira. Ele tem sofrido com a perda da autonomia e realmente não deve ser fácil. E ele sabe que não tem mais muito tempo por aqui. Não é fácil entender a finitude dos pais. E não tem espaço para idealização. A vida é real e é dolorida. O jeito é seguir em frente.

8 de dezembro de 2023

CD e viagem no tempo



Cheguei cansado esses dias e me deu vontade de me jogar no sofá e escutar alguns CDs. Claro, os streamings são muito práticos, mas tem um certo charme abrir uma caixa ou um envelope, olhar a capa, a ordem das músicas e então colocar para tocar. E alguns dos discos eu lembro quando comprei, há mais de 20 anos. Um pequeno disco de plástico carrega tanta história e ainda funcionam. Já foram comigo para várias casas e estão por aqui. A música é uma forma de viagem no tempo e no espaço. Lembrei de shows, da faculdade, de outras vidas. Tudo isso em um pequeno disco de plástico. Parece que até o som é diferente. Bom ter ainda um toca disco e alguns discos em casa. Nem tudo precisa ser digital e na nuvem. 

4 de dezembro de 2023

Rabanadas



O ano praticamente acabou. Eu nem senti direito 2023 e já vai ser 2024. Completei meus 40 anos, mas mesmo assim passou muito depressa. De qualquer forma, finalmente chegou dezembro e mesmo com o calor e as chuvas, algumas dessas comidas de natal eu adoro, como a maravilhosa rabanada. Não gosto de fazer em casa, prefiro as de padaria. Então dezembro chegou e com ele as rabanadas vendidas em quase todas as padarias.

23 de novembro de 2023

Como nascem os livros



Eu sempre gostei de livros. Desde pequeno há muitas prateleiras com vários livros na casa dos meus pais. Livros técnicos, mas também coleções de romances. Livros sempre estiveram presente na minha vida e sempre fui estimulado a ler desde pequeno. Hoje em dia fico mais no livros digitais pela praticidade, mas os livros físicos são encantadores. Eu não sabia como era o processo de criação de um livro. Além da escrita em si, há um longo processo de releitura, discussão, diagramação, desenho da capa e a impressão. Meu marido lançou um livro maravilhoso em que reconta alguns episódios da infância misturados com fantasia. O livro nasceu em um curso de escrita criativa e na semana passada ocorreu o lançamento. Que alegria ver tanta gente querida se reunir em um jardim de uma livraria em um sábado de sol. E poder celebrar uma obra de arte que eu vi nascer desde os primeiros esboços. Agora já sei como os livros nascem e continuo cada vez mais encantado por eles.

10 de novembro de 2023

Besteiras



Tenho gostado das coisas inúteis. Nem tudo precisa ter uma necessidade ou importância. Uma panela em forma de abóbora? Claro! Um porta ovo cozido mole? Sim! Passei muito tempo em que sempre analisava a necessidade de algo antes de comprar ou fazer e percebi que nem tudo precisa ser importante e necessário. E então tenho tentado brincar mais, encontrar um pouco de leveza. Ainda carrego um pouco do pós-guerra que foi a pandemia, mas é importante balancear um pouco com o lúdico. Aliás, nem eu mesmo tenho importância, por que as outras coisas precisam ter?

3 de novembro de 2023

Um corte de cabelo



Desde a pandemia me acostumei a cortar meu cabelo em casa. Eu tenho cabelo ondulado e grosso, então ele não fica muito marcado. Não ficava um corte maravilhoso, mas quebrava um galho. Quebrar um galho? Minha vida estava cheia desses galhos quebrados espalhados pelo chão e eu precisava de um mimo. Tudo meio cinza, meio sem graça. Tudo meio igual. Finalmente marquei de ir em um cabelereiro meu amigo, o salão aqui perto de casa e que já tinha ido algumas vezes antes da pandemia. 

Um corte de cabelo parece algo simples, mas não é. É preciso arrumar um horário e cumprir o agendado. Eu tinha me esquecido como é bom se cuidar, tirar um tempo para si. Conversar sobre tudo, pegar dicas. Agendei no começo da semana, achei um bom horário. Meu amigo tem duas ajudantes caninas e que também me ajudaram muito. Eu não tinha ideia de como queria cortar, então falei que tirando a química e as linhas raspadas, o resto eu topo tudo. Meu cabelo estava cada parte de um tamanho, todo descuidado. Eu não enxergo de longe, então tirei meus óculos e me senti naqueles programas de televisão em que uma pessoa toda esculhambada passa por uma transformação em um período de meia hora, o tempo de um episódio. A vida não é um programa de TV e minha vida não foi transformada por uma equipe, mas o corte de cabelo já me ajudou muito.

Em uma hora já estava renovado. Conversas boas, corte de cabelo, dicas. Uma alegria ao recolocar meus óculos. Um respiro na hora do almoço de um dia normal de trabalho. Um corte de cabelo e já me sinto com vontade de colocar uma roupa legal, usar um bom perfume e sair para jantar com meu marido ao invés de pedir uma pizza e assistir de pijamas uma série na TV. Um corte de cabelo e uma pequena luz se acendeu dentro de mim. Um lampejo ainda e tudo bem, pois um corte de cabelo é apenas um corte de cabelo e não um milagre. É um passo e eu já me sinto melhor. Gosto do reflexo no espelho, gosto de me ver aos quarenta anos com um cabelo bem cortado.

2 de novembro de 2023

Memórias sensoriais e temporais



Um jeito de prolongar a viagem é comprar um chá ou uma bebida. Trouxe uma caixa de chá de coca lá de Cusco. Finalmente criei coragem para abrir. Tomei chá de coca assim que chegamos no hotel para ajudar com o mal de altitude. Mate de coca. Eu achei que era erva mate com coca, mas não, mate é um sinônimo para chá. E todos os dias no café da manhã tinha uma chaleira elétrica com mate de coca me ajudava a acordar. 

Preparei meu chá, deixei infusionar por três minutos e tomei. O chá de coca não tem um gosto muito específico, parece um pouco o chá verde. É um gosto herbal, mas que eu adoro. E já me lembrou na hora das alpacas, das ruínas incas e de tudo mais. Ainda não inventarem o teletransporte ou a viagem no tempo, mas um perfume, uma comida ou um simples chá me ajudam um pouco a viajar no espaço e no tempo.

O dia de finados me deixa um pouco pensativo, acho importante esse recolhimento. Um dia mais para dentro para pensar na própria mortalidade e também nos que já foram. É um dia que sempre fica nublado e chuvoso por aqui. E eu me senti assim também. O chá me deu um pequeno lampejo de alegria no meio da melancolia. Mas é importante sentir tudo, inclusive a melancolia.

30 de outubro de 2023

Tênue



Lembro de alguma aula de ciências da escola em que a professora comentou que alguns planetas têm uma atmosfera tênue. Eu nunca tinha ouvido falar dessa palavra, mas ela tentou explicar que é uma atmosfera muito leve, muito fina. Não entendi muito bem, mas adorei a palavra. Tenho me sentido assim nos últimos dias, ando tênue. Na definição do dicionário é fraco, débil. Estou mesmo com uma sensação de flutuar por aí, meio perdido. Nada muito ruim, mas nada bom. Continuo com a rotina, como uma corda que me prende no chão, mas a cabeça longe. Durmo muito, como nos livros do romantismo, do escape da realidade. Mas não tem como escapar. O que tem me ajudado é fazer a faxina em casa, ajeitar a bagunça. De alguma forma arrumo um pouco a bagunça interna. Limpar o banheiro, trocar os lençóis, tirar o pó, passar o pano no chão. De repente a casa está limpa, arejada, o sol passa pelas janelas. De alguma forma arrumo um pouco a bagunça da minha cabeça. Mas é importante ficar tênue também, flutuar por aí. Espero algo acontecer, não sei bem o que. 

25 de outubro de 2023

Respiro



Os dias estão bem sombrios com várias guerras que parecem o tempo todo que irão escalar para conflitos regionais ou mundiais. Ao mesmo tempo fico com essa vontade de saber sempre as notícias, afinal é só entrar em um aplicativo de redes sociais ou os portais de jornais para saber tudo o que tem acontecido. Acordo e já acesso essa montanha de informação, tudo urgente, caótico e apocalíptico. Termino uma tarefa no trabalho e então já volto para a minha dieta de informação. Só um pouquinho para saber o que tem acontecido. E então me distrair com alguma novidade de um amigo ou alguém que sigo. Ou uma notícia mais amena de alguma pessoa famosa. Antes de dormir giro as linhas do tempo intermináveis dos aplicativos. Quando me dou já passou uma hora de giro infinito. Estou esgotado. Preciso de uma dieta em vários sentidos. Preciso respirar. Preciso sair da minha rotina. Hoje tive um evento presencial no trabalho, um seminário de um assunto que não é minha atribuição principal. Tenho preguiça de ir presencialmente, mas estou cansado de ficar na frente do computador. Encontrei colegas. E tem sido bom sair da rotina. Vim almoçar em um centro cultural perto de onde é o evento. Não abri os aplicativos de redes e nem vi notícias. Coloquei uma música no celular, um álbum de música clássica, bem baixinho. Escuto as cigarras que gritam na área verde aqui perto. Respiro um pouco enquanto espero o almoço. Depois vou ver uma exposição de arte. Respiro. Não dá pra controlar tudo, mas parece que às vezes o universo tenta de alguma forma comunicar que é preciso respirar. Como as cigarras que gritam agora aqui perto, enquanto escrevo e espero meu almoço chegar.


23 de outubro de 2023

Ufa!



Correu tudo bem na cirurgia e realmente o ser humano é mais forte do que pensa. Minha mãe foi muito forte, teve coragem de enfrentar a cirurgia e a internação na UTI. E eu consegui ficar com ela por mais de sessenta horas, dormindo em uma poltrona reclinável ao lado da cama dela, junto daquelas paredes de cortina que delimitam os quartos. Tudo correu bem, conversamos e pude ajudá-la no que foi necessário. Ficar em um UTI é estar em um mundo paralelo, sem saber se é dia ou noite, sem saber se já passou um dia ou uma semana. E saber que tanta gente está ali para ajudar. E agora é torcer para a recuperação da minha mãe ser plena.

11 de outubro de 2023

Tudo vai dar certo



Minha mãe vai fazer uma cirurgia na semana que vem, uma cirurgia complicada e demorada. Estou com muito medo. A burocracia do plano de saúde levou meses, então tudo ficou apenas no plano das ideias. No começo da semana finalmente foi aprovada e então recebi um misto de emoções: felicidade pela aprovação e se tudo der certo minha mãe vai parar de sentir dores no joelho, mas ao mesmo tempo um medo irracional, pois é um procedimento arriscado. Repito um mantra quase diariamente, tanto para mim quanto para ela. Tudo vai dar certo. Tudo vai dar certo. Mas não deixo de sentir medo. Meus pais estão velhos e frágeis. Vejo as fotos que o celular me mostra e percebo como eles envelheceram nos últimos cinco anos. Muita aconteceu, claro, mas é nítido o envelhecimento. É difícil lidar com o envelhecimento, mas é mais difícil lidar com a finitude dos pais. Eu sempre existi em um mundo em que meus pais estão vivos, mas sei que eles não estarão aqui para sempre. Sei racionalmente, de forma abstrata, mas só de pensar um pouco mais já sinto uma dor enorme. E essa cirurgia me fez entrar um pouco mais nessa piscina de dor. Acho que se fosse eu a estar naquela sala de operações não sentiria essa agonia. Mas tudo vai dar certo. Tudo vai dar certo. É o que me resta tentar me confortar com esse mantra. Tudo vai dar certo.

6 de outubro de 2023

Outubro



O ano já praticamente acabou. Depois do dia das crianças os shoppings e lojas já devem colocar as decoração de natal. O tempo passa ligeiro. Meus pais ficam cada vez mais velhos. Envelhecer não é fácil. Gostaria que eles tivessem muito ainda, mas sinto que terei pouco tempo com eles. Tento aproveitar o máximo. Falo sempre com minha mãe, procuro saber como ela está e se dormiu bem ou se precisa de algo. Estamos em uma fase boa. Daqui a pouco é seu aniversário. Meu pai está estável, mas sinto que ele já está na contagem regressiva para a partida. Não se interessa por coisas novas, não quer sair de casa, ele está parado no tempo. Eu entendo o lado dele, não é fácil estar há tanto tempo na terra. Ele já viveu tanta coisa. Não sei como vai ser minha velhice. Espero ter independência e saúde. Espero que ainda haja um planeta. Espero viver muitas coisas ainda. Aprender muito, conhecer coisas novas. Mas de qualquer forma estou vivo, minha família está viva. E hoje é sexta!

28 de setembro de 2023

Ida e volta



De volta. É difícil, mas ter ido compensa tudo. É importante sair da rotina, sair de tudo, chegar em outro planeta em que tudo é diferente. Outras comidas, outras pessoas, outra língua. E é bom ter para onde voltar, mas a volta é difícil. O mundo continua a roda, então tudo é diferente na volta, inclusive eu mesmo. Mas é preciso voltar, para depois ir de novo em outro momento. Como um pêndulo eterno. Vai e volta. O pêndulo é eterno, mas cada movimento é diferente. Voltar é difícil, mas é preciso voltar. E rever tudo. Mas também reencontrar, inclusive comigo mesmo. Depois de tanta cor, sabor e som, acho que é importante voltar para o cinza, insosso e silencioso para entender mais essas cores, sabores e som e pensar nos próximos.

25 de setembro de 2023

Peru



O Brasil se considera um continente, diferente dos outros países da América Latina. Não chegam muitas informações ou notícias dos vizinhos, a não ser quando ocorre algo muito fora do comum, mas em geral mesmo assim são pequenas notas. 
Antes de viajar ao Peru eu só sabia que lá se come ceviche, quinoa e milhos de vários tipos, não necessariamente nessa ordem. Vizinho ao Acre. E que lá estão as ruínas dos incas, principalmente Machu Picchu. E que houve uma tentativa de golpe de estado há poucos meses, com a prisão do presidente. Pronto, pequeno resumo da cultura peruano que chega ao Brasil.

Para comemorar meus quarenta anos fomos para o Peru. Voo direto de Brasília a Lima, poucas horas. E depois para Cusco, a capital do império inca e o umbigo do mundo inca. Assim que chegamos já deu para sentir uma identificação, pois há muito mais coisas parecidas do que diferentes. Colonização europeia, desigualdade social e instabilidade política. 

Cusco me pareceu um pouco as cidades históricas mineiras com suas ruas de paralelepípedo e os sobrados coloniais. Mas sem a escravização africana e o extermínio dos povos tradicionais. E com as ruínas incas, construções que resistiram a séculos de colonização e a vários terremotos.

Machu Picchu foi um dos lugares mais lindos que eu já fui. Até agora não consigo explicar. O trem (com uma pequena peça de teatro musical), o ônibus (rente ao despenhadeiro), a chegada de perder o fôlego, as ruínas em si, os alinhamentos com o sol e as estrelas. Sentir a cultura inca ainda tão viva. O condor, o jaguar e a serpente. As lhamas e alpacas pastando aos pés das ruínas. Tão tranquilas, como grandes poodles misturados com ovelhas e camelos.

Lima parece uma mistura de Rio de Janeiro com São Paulo. Uma metrópole com praia, cheia de restaurantes e cafés, igrejas coloniais. Mas bem segura e limpa.

Foram muitos ceviches, chichas moradas, inca colas, chicharrónes, choclos, arroz chifas, tacu tacu, lomo saltado, cusqueñas, piscos e tudo mais. Voltei apaixonado pelo Peru, pelos soles, pelas lhamas, alpacas, cuis (não tive coragem de comer os porquinhos-da-índia). As pessoas todas muito simpáticas, muita gente com roupas típicas sem ser para turista ver. Uma viagem perfeita! Mal posso esperar para voltar. Mais fotos aqui.

11 de setembro de 2023

40tinha



Cheguei nos quarenta. Não foi fácil chegar até aqui, mas nunca é. Claro, não faltaram crises, mas também teve muita risada e muito amor. Não gosto de ser o centro das atenções, então é bem difícil organizar uma festa de aniversário e ser o anfitrião, mas respirei fundo e fui. Contratei churrasqueiro, garçom, preparei um convite, encomendei o bolo e os docinhos com minha amiga, conversei com várias pessoas e comprei aos poucos as bebidas. Decidi fazer na churrasqueira da casa dos meus pais, da casa da minha infância. O quintal cheio de plantas, um dia de sol. Meus pais chamaram alguns amigos e eu decidi chamar apenas as pessoas que considero família, não queria algo muito grande. Pensei em 25 pessoas, mas no final, como foi no meio do feriado, vieram umas vinte. E foi ótimo. Um dos dias mais divertidos que eu já tive. Esses rituais são importantes. Certamente se eu não tivesse comemorado eu teria me arrependido. Fiquei muito cansado, mas com um sorriso de orelha a orelha. E todos se divertiram muito, inclusive meus pais. O único contratempo foi uma tentativa de golpe bancário bem na hora que eu ia cantar os parabéns. Depois liguei para o banco e correu tudo bem.

Finalmente chegaram os 40 e estou feliz de envelhecer. O mais difícil é que o tempo não fica parado, então todos envelhecem, inclusive os mais velhos. Mas é a regra. O tempo cronológico só vai em uma direção, implacável. O jeito então é seguir e aproveitar os bons momentos, comemorar sempre que possível.

O bom do aniversário cair no final de semana é que foram dois dias de festa. No sábado o churrasco e no domingo apenas preguiça. Meu marido encomendou pães, croissants e muitas coisas gostosas para um café da manhã especial aqui em casa. Até pensei em sair, mas depois da festa senti tanto cansaço que queria apenas ficar em casa. Aliás, tenho amado cada vez mais minha casa. Talvez já é um indicativo da passagem do tempo.

Eu não me sinto velho, mas ao mesmo tempo sei que não sou mais jovem. Não sei o que vai acontecer nos próximos anos. Sei que sou apegado e acomodado, mas também sei que tudo tem seu tempo. Espero viver bastante e viver muitas vidas. Quem sabe quais novas oportunidades podem aparecer. De qualquer forma sei que sou cauteloso e me preparo sempre para os momentos difíceis. E que venham os próximos anos. Tenho gostado muito do que já vivi, talvez a metade da minha vida tenha passado e é ótimo. A vida não é para sempre.

8 de setembro de 2023

Respiro e tradições



Tenho uma tradição de sempre tirar férias perto do meu aniversário. E agora não foi exceção. Consegui tirar uns dias fora do trabalho para comemorar meus quarenta anos e ainda viajar aqui pela América Latina. Na frente do prédio tem um ipê rosa que sempre floresce no começo de setembro e segura a floração até meu aniversário. Virou também uma pequena tradição. Assim que saio do prédio a pé ou de carro vejo logo em frente esse ipê lindo e agora florido. Aproveitei uma caminhada para ir mais perto dele, sentir as pétalas que caiam com o vento, como em um filme japonês antigo, só que não é floração de cerejeira, mas é quase. Gosto de observar esses pequenos tesouros da vida. Enquanto vejo o por do sol da janela do escritório aqui de casa escrevo esse texto e deslogo dos sistemas do trabalho. Sinto uma felicidade calma. Um respiro. Estou feliz comigo mesmo e com minhas escolhas. Feliz em envelhecer. Feliz.

6 de setembro de 2023

Mergulho do corpo



Chegou um convite para um evento presencial de trabalho. Na mesma hora já me veio a ansiedade de sair completamente da minha rotina e de deixar meu cachorro sozinho em casa. Mas então o jeito é resolver uma coisa de cada vez. Não tenho mais roupas de trabalho, pois há quase quatro anos trabalho de casa, ou seja, camiseta e bermuda. Na mesma hora entrei em uma loja online e escolhi algumas camisas de botão, que foram entregues antes do dia que eu precisei ir ao evento. Programei vários lembretes no calendário do meu celular, pois sempre imagino que minha versão do futuro não tem nenhuma memória.

Na noite anterior já não dormi direito, acordei bem mais cedo do que de costume. Brinquei com meu cachorro e expliquei para ele que precisava ficar o dia todo fora. Coloquei um café da manhã caprichado para ele, descemos para passear e depois meu café. Esqueci como o trânsito de horário comercial é pesado. Como é bom trabalhar de casa. Cheguei, não tinha mais cadastro e não havia feito minha biometria, mas expliquei que vim para o evento e me liberaram com crachá provisório. Assim que entrei encontrei um colega da época da faculdade e que também ia para o evento. Conversamos. Fui para o setor do meu trabalho conversar com os colegas que estão no presencial. Foi bem legal rever as pessoas e conhecer outras tantas que só via pela janelinha da videochamada. 

Hora do evento. Muitas palestras. Mais encontro com colegas. Almoço com o pessoal no restaurante de quilo de comida nordestina. Mais palestras. Pausa pra o lanche. Conversas com outros colegas. Fim do evento. Engarrafamento. Já chego em casa de noite. Meu cachorro briga comigo, mas abana o rabo e já está feliz que vai comer seu jantar. Estou completamente esgotado do trânsito e das interações sociais.

No dia seguinte a mesma coisa, mas dessa vez na hora do almoço vou a um centro cultural ao lado do meu trabalho ver um pouco de arte. Oiticica e Portinari. Parece que sou turista na minha própria cidade. É bom ter um respiro de arte no meio de tudo isso. Saudades da minha casa. Mais palestras. Engarrafamento pior do que do dia anterior, chego ainda mais tarde e meu cachorro já está adaptado a essa nova rotina. Mas bom que foram só dois dias.

É bom sair da rotina, viver coisas novas, reencontrar colegas, interagir. Mas eu gosto mesmo da minha boa e velha rotina.