29 de fevereiro de 2024

Um dia a mais


Não é todo ano que aparece esse dia a mais, mas no final das contas é apenas mais um dia. E calhou de ser bem na semana após as férias e é impossível escapar da ressaca das férias. Há poucos dias eram passeios, comidas gostosas e tudo era novidade, agora é a rotina de sempre, nem boa ou ruim, apenas a rotina. A ressaca atinge também os bichos. Nosso cachorro está em uma mistura de não acreditar que a gente viajou e o abandonou, mas também que ele saiu da casa com jardim em que ele podia brincar e correr o dia todo com outros cachorros. Eu entendo, também me sinto assim. A casa com jardim e cachorros era a viagem. Ao mesmo tempo não tem lugar como a nossa casa e não tem país como o nosso. E é preciso trabalhar, afinal ainda estamos no capitalismo. E ainda tem um dia a mais no ano.


28 de fevereiro de 2024

México





O México está no meu imaginário desde a infância. Foram anos de Chaves e Maria do Bairro, mas não muito mais que isso. Mais tarde conheci Frida e o filme maravilhoso da Salma Hayek. E, claro, os restaurantes Tex-Mex que até hoje estão pela cidade. Ficou sempre a vontade de conhecer o México e finalmente apareceu a oportunidade.

Achei que encontraria uma cidade como São Paulo, mas a cidade do México é mais arborizada, mais cheia de parques e praças, mais colorida. Todos os lugares que fomos servem uma comida maravilhosa e sem contar o tanto de lojas de churros pela cidade. A música é maravilhosa e quase todos o carros tocam música mexicana, bem romântica e dramática. E muitas calaveras por todos os lados.

Claro, não podia faltar a Casa Azul de Frida, o Museu de Antropologia, Museu de Arte Popular, Museu Soumaya, as ruínas de Teotihuacan e o passeio de trajineras pelos canais de Xochimilco. Eu me apaixonei pelo melhor café da manhã do mundo, o maravilhoso chilaquiles, que não conhecia.

Uma cidade antiga, com muitas camadas de história. Casarões antigos, prédios modernos, muita coisa dos EUA, mas junto com muita cultura mexicana, tudo misturado. Voltei ainda mais apaixonado pelo México e com saudades da comida maravilhosa.

15 de fevereiro de 2024

Fogo brando



A panela que mais uso é de inox e fundo triplo. Ela não tem nenhum revestimento e precisei ler o manual com atenção antes de usar. Ela precisa ser aquecida em fogo brando por alguns minutos, sem nada. Somente a panela, o fogo e o tempo. Depois de alguns minutos a panela pode ser utilizada, não há necessidade de precisão, mas o momento certo é algo que vem com a prática. O azeite desliza suavemente pela panela quente sem soltar fumaça. Em seguida entram os alimentos. Lembro da primeira vez que consegui fazer um ovo que dançava pela superfície da panela. E mesmo com o uso diário ela se mantém quase como nova, apenas alguns arranhões.

Não foi fácil aprender a usar essa panela e o jogo não foi barato. Com certeza já se pagaram há muito tempo, pois são muito usadas. Só depois de alguns anos percebi que vale a pena investir dinheiro e tempo para certas coisas.

Tenho entendido que minha vida é como essa panela. Ela é usada em fogo brando. Não tenho grandes surpresas na vida. A vida corre tranquila, desliza. Cozinho lentamente algumas coisas, mas não sei quais outros alimentos e temperos vão surgir na panela. Mas sigo em frente, afinal o controle é só uma ilusão. 

Gosto de ter uma vida simples com poucos gastos. Rotina repetida, quase todos os dias iguais. Mas de vem em quando surgem elementos novos, como uma viagem a um país distante.

Não tenho pressa. Espero viver muitas coisas. Gosto da tranquilidade. E gosto de me preparar para algumas surpresas, não se sabe quando podem chegar. 

Enquanto isso sigo no fogo brando, com calma e paciência. 


14 de fevereiro de 2024

Carnaval



O carnaval sempre é maravilhoso. Teve eventos nos quatro dias e tudo correu bem. Cervejinha, risadas, músicas gostosas, encontrar amigos. Ir e voltar cedo, acordar sem ressaca, mas com as pernas doendo. Lembrar das risadas e das histórias. Carnaval é tão importante, tem toda a história, a cultura, o povo. Quando eu era mais novo não entendia a importância do carnaval, mas bom que entendi e desde 2013 tenho curtido todos os anos. Fantasias, glitter, risadas, danças, cortejos. Estar junto com as pessoas nas ruas, festejar a vida. Que bom que nasci no Brasil e que bom que amo o carnaval.

1 de fevereiro de 2024

Fevereiro



Chegou fevereiro e o ano parece estar seguindo ligeiro. Daqui a pouco chega o carnaval e o ano começa de vez. Não sei bem o que vai ser desse ano, mas também tanta coisa pode acontecer. Não dá para controlar muito. O que eu faço é tentar ter saúde e guardar um pouco de dinheiro, o resto não dá mesmo para saber o que vai acontecer. Aliás, a vida acontece, apesar da gente. 

19 de janeiro de 2024

Tranquilidade



O ano começou tranquilo. Apesar de todas as questões profissionais com os novos concursos que apareceram, tenho tentado me manter tranquilo. Gosto de trabalhar onde estou e não sei para qual direção quero ir. Pensei muito e decidi ficar onde estou. Sei que vou viver muita coisa e sei também que trabalho para mim é apenas uma ferramenta. Gosto de trabalhar, mas não tenho satisfação pessoal no trabalho e não é por causa de onde trabalho, mas não consigo pensar em um trabalho que me traria felicidade. Gosto de ter um trabalho e ganhar meu dinheiro para então gastar meu dinheiro com o que me faz bem. Sei também que a segurança é uma ilusão e tudo pode mudar a qualquer hora. Mas cada agonia na sua hora. Agora é sexta e quero curtir o final de semana!

15 de janeiro de 2024

Mudanças e continudades



Resolvi começar o ano com um corte de maluco bem maluco. Escolhi uma cuia e na hora meu amigo que corta meu cabelo perguntou se não teria algum problema com meu trabalho por estar com um cabelo estranho. Respondi que não e então ele começou. É muito bom sair do normal, escolher algo maluco, ainda mais em relação aos cabelos, pois voltam a crescer. E sempre demoro a me acostumar com a nova versão após o corte de cabelos. Gostei de cara, no dia seguinte detestei, depois gostei de novo, enfim, um eterno vai-e-vem.

É importante poder mudar de vez em quando. Tenho pensado muito nisso, especialmente ao envelhecer. Tenho pensado em trabalho também, pois já estou há 12 anos no mesmo trabalho, com um pequeno intervalo de dois anos em outra empresa. Tem várias oportunidades de mudança, mas eu realmente não sei o que gostaria de fazer da minha vida profissional. Gosto muito do meu emprego, ainda mais por poder trabalhar de casa e fico com receio de mudar para um emprego com um salário melhor, mas que também vai me demandar mais em todos os sentidos, seja trabalhar mais horas, com mais responsabilidades, seja com um trabalho presencial.

Ainda não me decidi. Tenho pendido para continuar no meu trabalho, pois já é algo conhecido e ainda gosto do trabalho e das pessoas. Mas será que vou chegar no limite e ficar estagnado? Ao mesmo tempo não sei em que gostaria de trabalhar. O que gosto mesmo é de previsibilidade e de poder curtir minha vida fora do trabalho para poder ler, pesquisar e me divertir.

De qualquer forma ainda tenho mais uns trinta anos de vida profissional e muita coisa pode rolar. Imagino que vou viver muitas vidas profissionais diferentes. Mas sei que gosto de um trabalho tranquilo, longe dos holofotes. Sei que minha realização pessoal não está no trabalho, mas sim fora dele, sem esquecer de tudo o que um trabalho me proporciona de saúde mental, financeira e física.

Não tem uma resposta certa, mas por enquanto vou continuar onde estou e buscar me conhecer melhor para então saber o que quero fazer na próxima fase. Sei que o caminho é longo e vagaroso, então quero poder curtir a jornada.

14 de janeiro de 2024

Livros 2023



Com certeza um dos meus remédios para a saúde mental é ler. Depois do almoço descanso um pouco e então leio por alguns minutos. E às vezes antes de dormir. E, claro, nas viagens para esperar as eternas horas até a hora de embarcar. Tento ler de tudo, pegar indicações com amigos e em perfis de literatura na internet. E gostei da maioria dos livros que li em 2023. E sempre coloco na ordem cronológica em que li:

Ursula - Maria Firmina dos Reis
Meu marido foi para a Flip de 2022 e me trouxe esse livro e o da Camila Sosa Villada. Eu não conhecia a Maria Firmina dos Reis, mas o livro é maravilhoso. É um romance romântico, mas extremamente moderno por o primeiro livro brasileiro em que uma pessoa escravizada conta sua própria vida e seus anseios. E uma autora negra do século XIX no Maranhão escreveu essa história, que ficou esquecida por anos. Foi um ótimo começo de ano para mim.

O parque das irmãs magníficas - Camila Sosa Villada
Um dos meus livros favoritos do ano. Já quero ler os próximos livros da Camila. Gostei do realismo fantástico e também da realidade das pessoas LGBT, que parece tão próximo do que vivemos aqui no Brasil.

Lolita - Vladmir Nabokov
O livro mais difícil do ano. Ele é muito bem escrito, mas em vários momentos senti um enjoo terrível com o que acontecia com a Lolita e o narrador. Acho que é importante a arte também causar esse desconforto. Não sei se leria novamente.

Sul da fronteira, oeste do sol - Haruki Murakami
Todos os anos gosto de ler algo do Murakami, meu autor favorito. Gosto do estilo de escrita, dos temas e não li nenhum livro que seja ruim. Sul da fronteira é um livro antigo, mas mesmo assim muito bom.

Crying in H Mart - Michelle Zauner
Chorei em algumas partes desse livro e fiquei com muita vontade de experimentar os pratos coreanos mencionados em vários capítulos. É um livro lindo e parece que vai virar filme ou série. Mal posso esperar para ver!

O Hobbit - J. R. R. Tolkien
Sempre quis ler os livros do Tolkien e decidi começar pelo Hobbit. Um livro juvenil muito lindo e que foi a base para as histórias de fantasia medieval. Um livro para todos, mas que é um retrato da época. Não há personagens femininas e é uma narrativa bastante europeia. Mas mesmo assim um ótimo livro.
 
O Senhor do Anéis - J. R. R. Tolkien
Um livro enorme e que me fisgou mesmo com os vários personagens, nomes malucos para personagens e lugares. O livro apresenta mapas que facilitam muito o entendimento. Há mais personagens femininas do que no Hobbit, mas muito poucas. Um livro maravilhoso e que nos transporta para um universo de fantasia complexo.

O Silmarillion - J. R. R. Tolkien
Mesmo com o Hobbit e Senhor dos Anéis na bagagem, esse livro foi mais difícil. As lendas de formação do mundo são lindas, mas não é um romance. É quase uma reunião de textos sobre a formação do mundo criado por Tolkien.

Uma autobiografia - Rita Lee
A morte de Rita Lee me impactou como se fosse um parente próximo. Eu li no lançamento em 2016 e reler após a morte de Rita deu todo um novo significado. Um livro maravilhoso.

Dropz - Rita Lee
Textos leves escritos por Rita. Foi um ótimo aperitivo após ler a biografia.

Outra biografia - Rita Lee
Esse livro é lindo e impactante. Rita já sabia da proximidade de sua morte e escreve de um jeito leve e complexo sobre a finitude da vida. Depois de terminar minha saga Rita Lee escutei todos os seus discos. Realmente ela é um dos meus ídolos da vida. Não consegui ir a nenhum show de Rita, pois sempre achava que haveria outros. Mas suas músicas estão presentes em minha vida.

A estrada - Cormac McCarthy
Gosto de narrativas pós-apocalípticas. O livro é muito bem escrito e envolvente. Depois vou querer ver o filme e outros livros de McCarthy, falecido em 2023.

Mrs Dalloway - Virginia Woolf
Comecei a ler várias vezes o Mrs. Dalloway depois de assistir o filme As Horas. Dessa vez embarquei na vida de Mrs. Dalloway, as festas, a compra de flores e a vida da burguesia inglesa no século XIX.
 
The hearing trumpet - Leonora Carrington
Peguei a dica em um podcast e fiquei interessado em ler esse romance surrealista da pintora inglesa/mexicana Leonora Carrington. O livro é maravilhoso e forte. E pensei muito no envelhecimento e no tanto de coisas que é possível fazer, mesmo que absurdas.

Escravidão volume II - Laurentino Gomes
O volume I já me impactou muito e não poderia deixar de ler o volume II. É importante saber dos três séculos de escravidão no Brasil e todos os impactos.

Fogo morto - José Lins do Rego
Foi um dos meus presentes de aniversário. Não conhecia o José Lins do Rego, além das aulas de Literatura no colégio. Gostei muito do livro por mostrar a decadência dos engenhos no final do século XIX.
 
Veias abertas da América Latina - Eduardo Galeano
Depois de viajar ao Peru fiquei com vontade de conhecer mais dos vizinhos da América Latina. O Brasil é sempre tão isolado, como se não fosse latino também. Depois de ler esse livro do Galeano vi que temos muito mais semelhanças do que diferenças. E não tem como escapar dessa dominação norte/sul a não ser com a união.

O Lugar - Annie Ernaux
Não conhecia Annie Ernaux até ela ser ganhadora do Nobel. O livro é realmente maravilhoso. Conta a vida de seus pais, principalmente como Annie vivenciou o luto de seu pai. Fiquei com vontade de ler outros livros de Ernaux.

Os sete maridos de Evelyn Hugo - Taylor Jenkins Reid
Peguei a dica em um podcast de Literatura e foi um ótimo livro. A vida de uma estrela de Hollywood fictícia, mas baseada em várias atrizes da era de ouro. Li notícias que vai virar série ou filme e já estou com vontade de assistir.

A Hora da Estrela - Clarice Lispector
Esse livro foi com certeza o que mais me impactou das leituras obrigatórias da época do colégio. E foi ótimo reler depois de mais de vinte anos. O livro é curto e o último publicado por Clarice em vida. Macabea ficou comigo por semanas após o livro.
 
Lavoura arcaica - Raduan Nassar
É um livro que eu queria ler há muito tempo e fiquei curioso com a decisão do Raduan não escrever mais livros, mesmo após o sucesso literário. Hoje ele é um fazendeiro. Lavoura arcaica é um livro muito bonito e sobre os conflitos de família. Fiquei pensando em várias passagem do livro e de como as famílias são todas complicadas e com dificuldade diálogo. Eu vi o filme há muito tempo, depois preciso rever

Um copo de cólera - Raduan Nassar
Quis continuar na saga Raduan Nassar. Eu assisti o filme há muito tempo, mas já não me lembrava. Uma grande briga de casal, sem interrupções, sem capítulos. E a gente ali como testemunha, sem entender muito bem. Adorei!

Elke, mulher maravilha - Chico Felitti
Elke é um dos meus ídolos, junto com Rita Lee. Sempre gostei da figura mágica que aparecia na televisão e sempre gostei de todas as entrevistas que vi com ela. Essa figura linda e ao mesmo tempo extremamente lúcida e inteligente. Também senti a morte de Elke como se fosse um parente próximo.

Como se estivéssemos em palimpsesto de putas - Elvira Vigna
Esse foi o último livro de Elvira, publicado um pouco antes de seu falecimento. A personagem principal sem nome, mas muito forte. A vida de um cara boêmio viciado em contratar prostitutas. Aliás, fui pesquisar o que é um palimpsesto e são os pergaminhos raspados e reescritos várias vezes por cima. Um livro lindo e que me deixou com vontade de ler outros livros de Elvira.


5 de janeiro de 2024

Uma vida legal



Eu adoro estar de férias, mas tem algo que gosto de voltar ao trabalho. É difícil voltar, mas o trabalho é a vida normal. E essa vida não tem a pressão das férias de sempre ter que aproveitar e fazer várias coisas. Na vida normal é um dia de cada vez. Chegar no final do dia já é uma vitória. Já nas férias o tempo voa e é preciso aproveitar para fazer várias coisas.

Voltar para a vida normal não é fácil. Mas é a vida normal. Segunda a sexta. Horário comercial, intervalo de almoço. E os finais de semana. Gosto dessa vida, não saberia viver sem essa rotina. E gosto de receber o salário no final do mês, tudo certinho. Acho que todo mundo tem um lado artista, mas sei que o meu é apenas um lado. Não poderia ser artista, gosto dessa vida simples de assalariado. E gosto da vida tranquila de trabalhar de casa, ter horário, passear com o cachorro.

Não tenho talento para gerenciar pessoas, participar de processos decisórios, falar em público. Gosto da vida de bastidores, gosto de ter chefe, metas, avaliações. Não dá para todo mundo ser chefe. Para mim os bastidores estão ótimos. Não gosto mesmo de aparecer, nem mesmo no meu aniversário gosto de ser o centro das atenções.

Quando era mais novo pensava que o trabalho precisava ter um propósito e que eu poderia mudar o mundo. Nos últimos tempos tenho entendido que o propósito é seguir vivo e fazer algumas coisas legais. Não são coisas maravilhosas, mas coisas legais, bem mais tranquilas. Um filme é legal. Uma série, um jogo, um livro, um passeio, brincar com o cachorro, namorar, dormir junto, viajar, tomar um chá, um café, um vinho, uma cervejinha, ir a shows, danças, peças de teatro, exposições de arte, uma trilha. Meu propósito é esse: seguir vivo para fazer coisas legais. Não vou mudar o mundo, mas quero me divertir um pouco com coisas simples.

3 de janeiro de 2024

Começou o ano


O ano começou e estou com boas expectativas. Quem diria que comer um monte de coisas gostosas sem se preocupar com nada iria me fazer engordar? De qualquer forma é isso, não tem problema. Valeu a pena as rabanadas, pizzas, pavês e biscoitos amanteigados. E é bom também voltar a fazer exercícios e comer de forma mais saudável. Logo o peso se estabiliza de novo, sem pressa. E o ano começa de novo, sem resoluções ou grandes planos.

30 de dezembro de 2023

Férias



Eu gosto de férias, mesmo sem viajar. Consegui resolver várias coisas que estavam enroladas, como ver se meu grau aumentou (não aumentou) e se está tudo certo com meus olhos, curtir a piscina do prédio, ajeitar coisas em casa, ler, jogar, passear pela cidade como se fosse turista, ir em exposições de arte, limpar a bicicleta, encher os pneus e andar por aí e, claro, descansar. Foi uma pequena amostra da vida de aposentado. Agora é voltar ao cotidiano, mas ao menos com a cabeça boa.

19 de dezembro de 2023

Bicicleta zen



Compramos duas bicicletas um pouco depois de voltar para Brasília. São bicicletas lindas e que imitam um modelo antigo. Usamos bastante nesse começo, mas ficaram um pouco esquecidas, estacionadas na frente da vaga do carro. Devia ter uns quatro anos que eu não andava e nem cuidava delas. Decidi então limpar, encher os pneus, passar um pouco de óleo nelas e, claro, dar uma volta. Enquanto limpava apareceu uma vizinha lamentando que as bicicletas estavam abandonadas. Sim, estavam abandonadas, mas elas têm dono e ainda me fazem muito feliz. Foi bom cuidar novamente delas e dar uma volta pela cidade. Um volta aqui no bairro deu oito quilômetros. Eu não preciso usar todos os dias algo que eu tenha carinho ou que me faça bem. Essas bicicletas são mais do que simplesmente um veículo de duas rodas. Elas são uma conexão com minha infância, uma conexão com uma vida mais simples, de passear perto de casa. Nem tudo precisa ter uma lógica, às vezes é apenas algo que me faz bem.

14 de dezembro de 2023

Envelhecimento



O envelhecimento dos pais não é fácil. Meu pai está com um problema motor que ainda não tem o diagnóstico fechado e passa por alguns episódios complicados. Fomos a alguns exames e foi complicado. Ele está com pouca mobilidade, mas não quer usar a cadeira de rodas. Ele passou mal por causa do esforço, mas mesmo assim não quis a cadeira. Ele tem sofrido com a perda da autonomia e realmente não deve ser fácil. E ele sabe que não tem mais muito tempo por aqui. Não é fácil entender a finitude dos pais. E não tem espaço para idealização. A vida é real e é dolorida. O jeito é seguir em frente.

8 de dezembro de 2023

CD e viagem no tempo



Cheguei cansado esses dias e me deu vontade de me jogar no sofá e escutar alguns CDs. Claro, os streamings são muito práticos, mas tem um certo charme abrir uma caixa ou um envelope, olhar a capa, a ordem das músicas e então colocar para tocar. E alguns dos discos eu lembro quando comprei, há mais de 20 anos. Um pequeno disco de plástico carrega tanta história e ainda funcionam. Já foram comigo para várias casas e estão por aqui. A música é uma forma de viagem no tempo e no espaço. Lembrei de shows, da faculdade, de outras vidas. Tudo isso em um pequeno disco de plástico. Parece que até o som é diferente. Bom ter ainda um toca disco e alguns discos em casa. Nem tudo precisa ser digital e na nuvem. 

4 de dezembro de 2023

Rabanadas



O ano praticamente acabou. Eu nem senti direito 2023 e já vai ser 2024. Completei meus 40 anos, mas mesmo assim passou muito depressa. De qualquer forma, finalmente chegou dezembro e mesmo com o calor e as chuvas, algumas dessas comidas de natal eu adoro, como a maravilhosa rabanada. Não gosto de fazer em casa, prefiro as de padaria. Então dezembro chegou e com ele as rabanadas vendidas em quase todas as padarias.

23 de novembro de 2023

Como nascem os livros



Eu sempre gostei de livros. Desde pequeno há muitas prateleiras com vários livros na casa dos meus pais. Livros técnicos, mas também coleções de romances. Livros sempre estiveram presente na minha vida e sempre fui estimulado a ler desde pequeno. Hoje em dia fico mais no livros digitais pela praticidade, mas os livros físicos são encantadores. Eu não sabia como era o processo de criação de um livro. Além da escrita em si, há um longo processo de releitura, discussão, diagramação, desenho da capa e a impressão. Meu marido lançou um livro maravilhoso em que reconta alguns episódios da infância misturados com fantasia. O livro nasceu em um curso de escrita criativa e na semana passada ocorreu o lançamento. Que alegria ver tanta gente querida se reunir em um jardim de uma livraria em um sábado de sol. E poder celebrar uma obra de arte que eu vi nascer desde os primeiros esboços. Agora já sei como os livros nascem e continuo cada vez mais encantado por eles.

10 de novembro de 2023

Besteiras



Tenho gostado das coisas inúteis. Nem tudo precisa ter uma necessidade ou importância. Uma panela em forma de abóbora? Claro! Um porta ovo cozido mole? Sim! Passei muito tempo em que sempre analisava a necessidade de algo antes de comprar ou fazer e percebi que nem tudo precisa ser importante e necessário. E então tenho tentado brincar mais, encontrar um pouco de leveza. Ainda carrego um pouco do pós-guerra que foi a pandemia, mas é importante balancear um pouco com o lúdico. Aliás, nem eu mesmo tenho importância, por que as outras coisas precisam ter?

3 de novembro de 2023

Um corte de cabelo



Desde a pandemia me acostumei a cortar meu cabelo em casa. Eu tenho cabelo ondulado e grosso, então ele não fica muito marcado. Não ficava um corte maravilhoso, mas quebrava um galho. Quebrar um galho? Minha vida estava cheia desses galhos quebrados espalhados pelo chão e eu precisava de um mimo. Tudo meio cinza, meio sem graça. Tudo meio igual. Finalmente marquei de ir em um cabelereiro meu amigo, o salão aqui perto de casa e que já tinha ido algumas vezes antes da pandemia. 

Um corte de cabelo parece algo simples, mas não é. É preciso arrumar um horário e cumprir o agendado. Eu tinha me esquecido como é bom se cuidar, tirar um tempo para si. Conversar sobre tudo, pegar dicas. Agendei no começo da semana, achei um bom horário. Meu amigo tem duas ajudantes caninas e que também me ajudaram muito. Eu não tinha ideia de como queria cortar, então falei que tirando a química e as linhas raspadas, o resto eu topo tudo. Meu cabelo estava cada parte de um tamanho, todo descuidado. Eu não enxergo de longe, então tirei meus óculos e me senti naqueles programas de televisão em que uma pessoa toda esculhambada passa por uma transformação em um período de meia hora, o tempo de um episódio. A vida não é um programa de TV e minha vida não foi transformada por uma equipe, mas o corte de cabelo já me ajudou muito.

Em uma hora já estava renovado. Conversas boas, corte de cabelo, dicas. Uma alegria ao recolocar meus óculos. Um respiro na hora do almoço de um dia normal de trabalho. Um corte de cabelo e já me sinto com vontade de colocar uma roupa legal, usar um bom perfume e sair para jantar com meu marido ao invés de pedir uma pizza e assistir de pijamas uma série na TV. Um corte de cabelo e uma pequena luz se acendeu dentro de mim. Um lampejo ainda e tudo bem, pois um corte de cabelo é apenas um corte de cabelo e não um milagre. É um passo e eu já me sinto melhor. Gosto do reflexo no espelho, gosto de me ver aos quarenta anos com um cabelo bem cortado.

2 de novembro de 2023

Memórias sensoriais e temporais



Um jeito de prolongar a viagem é comprar um chá ou uma bebida. Trouxe uma caixa de chá de coca lá de Cusco. Finalmente criei coragem para abrir. Tomei chá de coca assim que chegamos no hotel para ajudar com o mal de altitude. Mate de coca. Eu achei que era erva mate com coca, mas não, mate é um sinônimo para chá. E todos os dias no café da manhã tinha uma chaleira elétrica com mate de coca me ajudava a acordar. 

Preparei meu chá, deixei infusionar por três minutos e tomei. O chá de coca não tem um gosto muito específico, parece um pouco o chá verde. É um gosto herbal, mas que eu adoro. E já me lembrou na hora das alpacas, das ruínas incas e de tudo mais. Ainda não inventarem o teletransporte ou a viagem no tempo, mas um perfume, uma comida ou um simples chá me ajudam um pouco a viajar no espaço e no tempo.

O dia de finados me deixa um pouco pensativo, acho importante esse recolhimento. Um dia mais para dentro para pensar na própria mortalidade e também nos que já foram. É um dia que sempre fica nublado e chuvoso por aqui. E eu me senti assim também. O chá me deu um pequeno lampejo de alegria no meio da melancolia. Mas é importante sentir tudo, inclusive a melancolia.

30 de outubro de 2023

Tênue



Lembro de alguma aula de ciências da escola em que a professora comentou que alguns planetas têm uma atmosfera tênue. Eu nunca tinha ouvido falar dessa palavra, mas ela tentou explicar que é uma atmosfera muito leve, muito fina. Não entendi muito bem, mas adorei a palavra. Tenho me sentido assim nos últimos dias, ando tênue. Na definição do dicionário é fraco, débil. Estou mesmo com uma sensação de flutuar por aí, meio perdido. Nada muito ruim, mas nada bom. Continuo com a rotina, como uma corda que me prende no chão, mas a cabeça longe. Durmo muito, como nos livros do romantismo, do escape da realidade. Mas não tem como escapar. O que tem me ajudado é fazer a faxina em casa, ajeitar a bagunça. De alguma forma arrumo um pouco a bagunça interna. Limpar o banheiro, trocar os lençóis, tirar o pó, passar o pano no chão. De repente a casa está limpa, arejada, o sol passa pelas janelas. De alguma forma arrumo um pouco a bagunça da minha cabeça. Mas é importante ficar tênue também, flutuar por aí. Espero algo acontecer, não sei bem o que.