27 de abril de 2020
Automático
Pensei em quantas coisas eu faço sem nem pensar se quero ou se gosto de fazer, vai assim no automático. Aos poucos isso me deixa cada vez mais sem energia e sem vontade. Parece que foi preciso uma pandemia para eu perceber melhor quais são essas coisas que faço e que não preciso e o melhor, eu posso dizer não. Já tenho dois "não" engatilhados aqui para dizer hoje. Vamos ver como vai ficar. Quero sair desse automático, quero ficar mais perto da minha própria essência. Quero aprender mais sobre mim mesmo.
23 de abril de 2020
De casa
Aproveitei que o dia de trabalho estava mais tranquilo e decidi pegar um pouco mais leve. Não teve videoconferências e nenhum prazo para hoje. Resolvi fazer um almoço mais caprichado, do zero. Piquei tudo, fiz uma programação de etapas e achei que conseguiria fazer rápido, mas levei duas horas para fazer feijão e galinhada. Ficaram bem gostosos e foi muito bom comer algo fresquinho, feito na hora, pois em geral a gente sempre requenta algo que fizemos antes.
Depois do almoço fiquei monitorando a demanda de trabalho pelo celular e pelo computador, mas resolvi trabalhar do quarto enquanto passava aquele filme maravilhoso da Queen Latifah em que ela é diagnosticada com uma doença terminal e resolve aproveitar a vida para descobrir que não tinha doença nenhuma. Adoro esse filme e sempre passa na tv. Há quanto tempo não curto um filme no meio do expediente?
Desde que começou a epidemia eu tento trabalhar como se estivesse no escritório, mas a casa não é um escritório. Foi bom poder ter um dia mais tranquilo em meio a essa crise toda e a demanda maluca de trabalho que tenho tido ultimamente (as pessoas não sabem que estamos numa epidemia? Por que querem trabalhar como se nada tivesse acontecido?).
Enfim, um dia de cada vez. Eu sempre tenho que consultar o calendário do celular para saber exatamente que dia da semana é hoje. Já é a quinta semana que trabalho de casa e não tinha noção de como já tem tempo que a vida mudou completamente. Um dia de cada vez.
16 de abril de 2020
Plantas
Cuidar das plantas tem sido um bom ansiolítico para essa epidemia. A gente acabou matando várias plantas até descobrir as vencedoras. O apartamento é poente, então não pega muito sol durante o dia. Mas ultimamente parece que peguei o jeito para não afogá-las e nem matar de sede. Só de olhar para nossa parede de plantas e para as outras que estão espalhadas pela sala já me deixa mais feliz. Nessa época de não poder sair, olhar pela janela e cuidar para as plantas tem sido um respiro.

15 de abril de 2020
Rotina na quarentena
Os dias não têm muita diferença entre si, mas me surpreendi como a quarentena não tem sido muito difícil por aqui. Claro, tem toda a questão do meu privilégio de classe média, que conta muito nesse meu bem estar no meio da pandemia.
A nossa casa é muito gostosa e estamos somente nós dois aqui. O apartamento é pequeno, mas para duas pessoas é tranquilo, ainda mais por ter um quarto extra que fazemos de escritório. Na maioria dos dias trabalho aqui nesse quarto e meu marido da sala.
Acordo bem cedo, pois tenho ido dormir cedo também. Antes da epidemia meu alarme tocava às 06h30 e era um suplício. Ironicamente acordo nesse horário sem despertador. Acordo antes do meu marido, então jogo um pouco de videogame antigo até a hora que ele acorda. Depois do bom dia começo a fazer nosso café da manhã, em geral um sanduíche na chapa. Corto frutas e sirvo um pouco de iogurte com aveia pra mim. Faço um chá e coloco num copo térmico. Escovo os dentes, lavo o rosto, troco de roupa e vou para o "trabalho". Olho os e-mails e tarefas enquanto tomo meu chá. Vejo notícias, circulo um pouco pela interna, termino os trabalho, faço uma videoconferência. O almoço a gente costuma fazer em grande quantidade, então sempre tem arroz e feijão. Esquento uma porção pra gente e comemos vendo um vídeo no YouTube. Depois passo um café e vamos para o quarto esticar um pouco as pernas. Tomo meu café ouvindo algum programa de TV ou filme. Leio um pouco (agora estou no Grande Sertão Veredas e no livro do Meteoro, gosto de intercalar ficção com não-ficção ao mesmo tempo). Escovo os dentes, fio dental, de volta ao trabalho. Tem sido bom trabalhar com suporte de notebook, mouse e tecladão daqueles tradicionais. Umas 17h termino tudo. Depois vamos pra sala, pensamos no jantar (várias vezes igual ao almoço), jogamos um pouco de videogame, vemos um pouco de TV (sempre coisas bestas, leves), depois já começa a dar um sono e umas 21h a gente vai para o quarto. E tudo de novo.
Eu me adaptei bem a esse monte de videoconferências do trabalho. Coloco um vídeo de música clássica baixinho no fundo, coloco o fone de ouvido, ajeito o cabelo e entro. Quando não tem nada direcionado para mim adianto algum outro trabalho ou dou uma passeada pela internet.
Tenho gostado dessa rotina que montamos. Antes eu almoçava com meu marido uma vez por semana, só no sábado. E jantava quase todos os dias na faculdade. Agora a gente sempre está junto, comemos juntos. Bom que tem sido uma ótima prova de como é bom estarmos juntos. Nunca brigamos.
Não faço ideia de quando essa fase vai passar. Parece que ainda está bem longe. O jeito então é vivermos um dia de cada vez, reaprendermos a trabalhar, a viver, montar uma nova rotina.
Nunca mais coloquei calças e só tenho usado um tênis para ir buscar alguma encomenda no térreo. Não sei como vai ser depois.
8 de abril de 2020
Entregas
Agora que meu pai está de volta em casa, tenho tentado não sair da minha. Com a pandemia muitas lojas e mercados agora entregam e tem facilitado muito a vida. A maioria dos pedidos são feitos direto pela internet ou por mensagem de celular. Até agora não tive nenhum problema. Claro, sinto falta de escolher meus produtos, de ir à feira, interagir com as pessoas, caminhar. Mas por enquanto tem sido uma boa opção. E tenho pedido também para a casa dos meus pais, assim não preciso fazer o mercado para eles e todo mundo tenta evitar contato com esse vírus.
É engraçado que na entrega do mercado há um carrinho que sai de dentro do furgão com as minhas compras. Daí a gente pega o carrinho do prédio e coloca as coisas de um carrinho no outro.
E todos os produtos são limpos antes de ir pra geladeira ou despensa. Álcool e papel toalha em todos. Antes eu simplesmente os guardava. Pois é, precisamos nos adaptar.
Imagino que mesmo após a epidemia as lojas vão continuar com os serviços de entrega.
7 de abril de 2020
Steps
Sinto muita falta da natação, de caminhar até a feira e de poder andar de bicicleta. Ultimamente não tenho feito nenhum esporte. Cheguei até a olhar os vídeos de treinos em casa no YouTube, pessoas que fazem exercícios com cadeiras, garrafas e sacos de feijão, mas não gostei de nenhum ainda. Resolvi parar de usar o elevador e ir sempre de escadas. A gente mora no 13º, então é muita escada. A própria escada em si já parece de filme de terror, com o estouro das portas antifogo ao bater, a falta de ventilação e as luzes que somente se ligam quando alguém atinge o sensor de movimento.
Sempre que uma entrega ou uma encomenda chega, desço de escadas e depois subo. Não é o ideal, mas ao menos faço um pouco de exercício e ainda evito contato com outras pessoas. Tem só uma vizinha que de vez em quando está fazendo exercícios na escada, mas é bem raro.
A vida está bem maluca, mas aos poucos entra nos eixos.
3 de abril de 2020
Alta
Foi uma alegria tão grande no dia que meu pai recebeu alta. Foram quinze dias de hospital, alguns na UTI. E com essa pandemia ninguém consegue relaxar. O ambiente hospitalar, apesar de todo o cuidado da equipe, não é muito acolhedor, não é uma casa. Mas foi ótimo o cuidado que tiveram com ele, apesar de não fechar muito bem o diagnóstico. Foram feitos diversos exames e não se encontrou a causa para a dificuldade de locomoção dele. Mas enfim, agora ele está em casa e tivemos que fazer várias adaptações (barras de apoio, andador, cadeira de banho) e ele tem tido mais autonomia. Ele parecia um menino quando entrou no carro, pois havia muitos dias que não saía do quarto. E agora ele tem um quintal e um jardim, tem seu próprio quarto e banheiro. E quem sabe ele aos poucos recupera o andar?
Só de saber que ele está em casa já me dá uma tranquilidade enorme. Minha mãe vai poder dormir melhor. E todos nós estaremos mais tranquilos.
2 de abril de 2020
Hospital
Já estamos há duas semanas aqui no hospital. Venho dia sim dia não para ajudar meu pai e dar um descanso para minha mãe. Nesse período meu pai mudou da figura forte e independente para alguém que precisa da ajuda para sentar na cama, andar e ir no banheiro. Já ajudei meu pai a se limpar, troquei suas roupas, caminho com ele apoiado em meu braço. A gente só sabe como vai reagir quando está na situação. E é ótimo poder ajudar meu pai, não penso em mais nada, só em vê-lo bem. Vejo tanta gente reclamando da quarentena e acho que adoraria estar apenas em quarentena se soubesse que meus pais estariam bem, sem estarem expostos a esse vírus. Eu estaria bem em casa, faria meu trabalho, veria séries. Mas somado à quarentena tem as visitas ao hospital e a constante preocupação pela saúde do meu pai e da minha mãe como sua principal acompanhante.
Minha ansiedade é tanta nesses dias que fiquei com falta de ar. Na mesma hora pensei que estava já infectado pelo corona, mas ansiedade também dá falta de ar. E não tive febre. Agora ponho a mão na minha testa o tempo todo para verificar minha temperatura. A gente se adapta a tudo.
Meu pai cada dia está melhor, mas ele não vai voltar a ser quem era há algumas semanas. Ele não vai mais dirigir e vamos ter que adaptar o quarto e o banheiro dele com barras, cadeira de banho e andador. E ele não perde o humor, conversa com toda a equipe do hospital. Ele teve de mudar de quarto porque o andar de cima está em reforma, mas ele brincou que esqueceu de pagar o aluguel e colocaram ele pra fora do quarto. Tenho aprendido muito sobre mim, sobre minha família, sobre a vida. Tudo nos faz amadurecer.
Tudo fica tão mais relativo agora. O mundo nesse colapso e eu e minha família nesse pequeno colapso íntimo. Tudo vai ser diferente daqui pra frente, tanto para esse meu micro-mundo familiar quanto para o mundo como um todo.
Uma hora vai melhorar...
30 de março de 2020
Bar virtual
Na quarentena a gente tem que ser criativo. Apesar de todo mundo ter celular, tablet ou notebook, a gente nunca pensa em juntar os amigos para fazer uma chamada, já que é mais fácil combinar um bar. Mas com tudo fechado, o jeito foi apelar para a tecnologia. Ajeitamos um horário, cada um comprou sua bebida e sua comida e ficamos algumas horas conversando, cada um de sua casa. Foi uma experiência muito boa para matar a saudade das amigas, colocar o papo em dia, rir um pouco. Não substitui a ida ao bar, mas agora isso é simplesmente impossível. Já deixamos pré-agendado para a próxima sexta mais um encontrinho.

29 de março de 2020
Novo normal
Eu nunca imaginei viver em um cenário desses de filme pós-apocalíptico. A gente fica em casa quase o tempo todo, mas como meu pai está no hospital, de vez em quando venho ficar com ele para minha mãe poder descansar um pouco. Apesar das maluquices do governo, as pessoas têm respeitado a quarentena. Hoje no caminho para o hospital não vi quase nenhum carro na rua, mas vi pessoas fazendo exercícios (caminhadas, corridas), mas nada de aglomerações.
Como que vai ser a vida pós essa epidemia? Acho que não vamos voltar para o que era antes, mas espero que seja um cenário melhor. A contaminação e as mortes têm avançado muito, ainda não chegamos no ápice. Sinceramente não sei o que esperar.
Mas é interessante ver a nossa capacidade de adaptação. Para mim já virou o novo normal trabalhar de casa, tirar a roupa toda na hora que entra em casa e tomar um banho de spray de álcool. Já me adaptei até ao hospital. Em poucos dias a gente se adapta. Eu sofri muito de ansiedade nos primeiros dias, mas aos poucos surge uma nova rotina. Espero mesmo que encontrem uma vacina e que as pessoas (e o governo) respeitem o isolamento.
25 de março de 2020
Teletrabalho
Acho engraçado esse nome teletrabalho, pois parece algo relacionado à trabalhar com telefone, sei lá. Mas com essa pandemia os chefes do meu escritório decidiram mandar a gente para casa para trabalhar remotamente. Engraçado que já havia todas as ferramentas: o VPN, o acesso remoto, a rede, os processos eletrônicos, tudo pronto, só faltava um grande cataclisma para colocar em prática.
Por enquanto tudo tem corrido bem, consigo fazer todas as atividades, consigo gerenciar meu tempo. E gosto muito de ficar em casa com meu marido. A casa tem um tamanho bom e a gente não tem brigado nenhuma vez. Fizemos umas duas compras grandes, enchemos o congelador, a geladeira e a despensa e temos feito comida em casa.
Tenho gostado da rotina de acordar, jogar um pouco de videogame, esperar meu marido acordar pra tomarmos juntos o café da manhã, dai olho os e-mails, processos e tudo mais, trabalho um pouco, coloco as coisas em dia, quando vejo já é hora do almoço. Dai a gente esquenta a comida, almoçamos e eu passo um café. Descanso um pouco e volto para o trabalho. E de repente já é final da tarde e pronto. Não tem que pegar carro, não tem estresse. E é ótimo estar o dia todo ao lado do meu marido. Geralmente a gente divide a mesa de jantar, cada um no seu notebook
Hoje rolou minha primeira videoconferência e foi estranho no começo. Orientaram a gente a deixar o microfone desligado e só habilitar quando for falar algo. Quem fala fica com a imagem grande. Correu tudo bem e foi interessante ver a casa das pessoas atrás.
Comprei um suporte para notebook e um teclado USB baratinho. Eu já tinha um mouse velhinho, mas que ainda funciona, pois quase não uso. De repente parece que estou trabalhando num computador tradicional. Tudo isso custou uns 80$ e chegou em quatro dias. Mudou minha forma de trabalhar. O notebook é ótimo, mas trabalhar o dia inteiro nele cansa muito. Coloquei uma almofada na cadeira de madeira também.
Alguns dias tenho ido para o hospital para ficar com meu pai, daí levo o notebook e o mouse e consigo trabalhar de lá também com o wifi. Tudo certo.
Não tem previsão de acabar essa pandemia, então vão ser algumas semanas assim. Espero que as pessoas em geral vejam que o home office é uma boa e pode ser usado alguns dias por semana.
22 de março de 2020
Quarentena
A vida não tem sido fácil depois da pandemia. Muito álcool e sabão. Lavar sempre as mãos, desinfetar tudo, tomar muito banho, trocar a roupa toda que foi pra rua, lavar mais as mãos, e de novo. Sair nas ruas vazias parece algo de Chernobil. As roupas da rua carregam um pouco dessa radioatividade, algo invisível que faz mal.
Meu pai está no hospital há alguns dias, mas nada relacionado à pandemia. Foi uma isquemia, um passar mal, não sabemos ainda. Mas ele está melhor, temos conversado muito, apesar do meu medo de ter essa vírus e não ter sintomas. Tomei um banho de álcool antes de vir ao hospital ficar com ele. A alta vai ser só daqui a dois dias e ele me prometeu que não vai sair de casa.
Momentos malucos nesse março. Parece um filme de ficção científica. Mas uma hora vai passar.
17 de março de 2020
Pandemia
Muita gente achou que era só uma gripe, apesar de várias pessoas morrerem por gripe todos os anos. Mas gripes não fecham cinemas, festas, teatros, eventos esportivos, não fazem as pessoas ficarem em casa e nem impedem viagens de avião. Até as aulas foram suspensas. Eu nunca imaginei que nós todos passaríamos por algo parecido com essa pandemia e é muito difícil não ficar com ansiedade em relação a todas essas notícias.
No meu trabalho liberaram o trabalho remoto alguns dias por semana e tem sido muito bom não precisar pegar trânsito e ficar quieto em casa. Tenho aproveitado esses dias para pensar em mim e pensar em tudo o que tem acontecido.
Tenho lavado tanto as mãos, tenho evitado beijar ou abraçar pessoas. Por enquanto não tenho sintomas, mas qualquer espirro ou tosse já fico com receio. E a gente tem assistido muita coisa na televisão e jogado videogame. E tenho lido também.
Uma hora isso tudo vai passar e espero que a gente como um todo consiga aprender várias coisas com esse colapso do capitalismo, a necessidade de saúde pública e geral, esses governantes inaptos para lidar com crises e aprenda a ajudar mais os outros.
Vou já lavar minhas mãos de novo...
6 de março de 2020
Resumão
Tanta coisa aconteceu nesse período do carnaval. Pra começar bateram no meu carro. Eu paradinho no semáforo e um rapaz com cara de adolescente (hoje todo mundo com menos de 30 parece adolescente) bateu na traseira do meu carro. Ele não tinha seguro e parecia que não tinha acontecido nada. Claro que aconteceu: cheguei em casa e a porta do maleiro não abria. E depois abriu e não fechou mais. No dia seguinte, fui trabalhar e quase todos os motoristas me buzinaram para avisar que a porta do maleiro estava aberta. Sim, eu sabia. E assim que o carro parava em um semáforo ou engarrafamento eu descia e fechava, só para repetir essa mesma rotina alguns quilômetros pra frente. Se um dia eu estiver carente vou andar com a porta do maleiro aberta para receber muitas buzinadas e joinhas.
O carnaval foi bom, bloquinhos, cervejas, confetes. Sempre é divertido. Escolhemos bem os lugares, voltei com celular e sem nenhum estresse todos os dias. O melhor é ficar velho e se tornar precavido. Fizemos bastante comida em casa e tivemos almoço pré-bloco todos os dias (e comida pra larica da volta): arroz de pato e butter chicken, num encontro entre Pará e Índia, afinal é Carnaval e a gente precisa fazer algo diferente. E um arsenal de pães, queijo, presunto e tomate para o bauruzinho na chapa para o café da manhã. Aliás, descobri que não faço muitas coisas gostosas, mas o meu sanduíche na chapa é sensacional, tem até crosta de queijo na parte de fora do pão. Melhor que o de padaria.
A volta para o trabalho e o começo efetivo do ano foi bem doloroso. Ando me arrastando, mas talvez esse seja meu novo ritmo pós-36. Melhor me acostumar. Não está bom nem ruim, só é o que é.
Meu marido viajou a trabalho e eu estou há uma semana sozinho em casa. Não tenho feito quase nada, só jogado um pouco de videogame, assistido alguma besteira na TV, esquentado minha comida e dormido. Sinto muita falta dele, a casa fica gigante e silenciosa demais. E eu só faço o mínimo necessário para sobreviver. É legal ficar sozinho por um tempo, pensar na vida, ficar tranquilo, mas eu prefiro a vida com ele.
Ontem ou alguns dias atrás meu celular trincou o vidrinho da câmera. Já imaginei que teria que comprar um aparelho novo, que preciso ter uma câmera, mas o celular ainda está bom para redes sociais e livros. Levei numa loja de reparos perto de casa e deu trinta reais o conserto, mas a câmera tinha parado de focar. Pesquisei na internet e dei uma batidinha na lateral do celular, funcionou. Essa foto aí de cima foi tirada com o vidro quebrado. Gostei do efeito, parece uma câmera antiga com filme vencido.
Agora é sexta, não vou ter o nosso tradicional happy hour em que a gente faz drinks, ouve música e conversa. Vou ficar em casa e talvez jogue, leia, veja TV e durma. Domingo ele chega, amanhã vou fazer compras e faxina pra deixar a casa bem gostosa.
Semana que vem volta a faculdade, dessa vez sem minha amiga que me chamou para fazer o curso. Ainda não sei como vai ser e se estou empolgado, mas falta tão pouco para acabar o curso. Quem sabe as matérias me empolguem.
Eu sei que esse desânimo vai passar, o negócio é seguir em frente. Tenho achado bom ficar recolhido nesses último dias.
5 de fevereiro de 2020
Rotina e respiro
Eu tenho vivido em ciclos semanais. Segunda a sexta, depois sábado e domingo. Repete. Não é um ciclo ruim, consigo organizar algumas coisas, repito outras e a passagem do tempo fica mais digerível e menos fácil de gerenciar.
Meus cafés da manhã são quase sempe os mesmos (frutas, iogurte, cuscuz ou tapioca ou pão e um chá para tomar no caminho para o trabalho), o almoço é geralmente o mesmo de segunda a sexta com minha boa e velha marmita feita no domingo. Na quinta a noite rola uma faxina na casa. Na sexta compro algumas frutas e verduras na feira orgânica do meu trabalho. Depois temos nosso happy hour com a casa limpa e é o melhor momento da semana. Sábado vamos na feira a pé e tomamos café da manhã na padaria que fica no caminho ou então na própria feira (pastel frito ou bolo e salgado). Na feira tem uma rotina também nas mesmas barracas (feijão a granel; queijo e pão de queijo; verduras, frutas e capim santo; linguiça, bacon e alguma outra carne artesanal; sabonetes; suco de cupuaçu). De vez em quando vamos para algum bar ou festa com os amigos (geralmente Beirute e alguma festa de música brasileira) no sábado à noite. No domingo eu almoço com meus pais e a família da minha irmã, geralmente em um restaurante perto da casa dos meus pais ou então um de comida natural seguido de um sorvete artesanal. Quase sempre durmo no sábado a tarde e no domingo de tarde, um sono leve enquanto escuto tv. Domingo de tarde a gente faz a comida para a semana e de noite pedimos pizza e vemos algum filme ou série na tv. E então começa tudo de novo.
Eu tinha muita ansiedade quando era mais novo, principalmente no final dos domingos. O passar do tempo me agoniava, mas aos poucos moldei essa rotina e fiz as pazes com o tempo. E tenho gostado do passar do tempo, da rotina. Talvez isso seja envelhecer. Tem sido bom.
Depois de alguns anos vou querer reler esse texto para ver se a rotina se manteve ou o que mudou.
Esses dias me bateu uma leve tristeza, mas então olhei o restinho de sol pelo janela da sala, respirei e tirei essa foto. E me senti muito feliz por ter essa vida e poder ver esse céu tão bonito, respirar. Ouvi meu marido que fazia alguma coisa no quarto e vinha para a sala. E então só o abracei bem demorado.
A gente não é acostumado a ser feliz. Alguma parte da nossa mente fica em um constante jogo de "falta isso ou aquilo". Uma insatisfação crônica. Claro que tudo pode melhorar e nada é constante, mas é bom respirar e calar um pouco essa voz de insatisfação. Tem tanta gente na merda. Preciso parar e respirar mais vezes.
28 de janeiro de 2020
Verão?
O verão daqui nunca é muito verão. Chove bastante e até faz um pouco de frio. Aliás, as estações em Brasília são só duas: chuvosa e seca. Mas é engraçado ver o resto do país na praia e piscina e a gente aqui de casaco.
14 de janeiro de 2020
Rép
Uma das melhores decisões que a gente tomou foi instituir nosso happy hour semanal. Só nós dois em casa, compramos vinho e cerveja, queijos e alguma comidinha leve. Colocamos uma som para tocar e até estabelecemos algum tema para as próximas músicas na fila (em geral cada um coloca duas músicas por vez) e conversamos sobre tudo: nós, o país, nossa família, nossa casa, planos. É um momento só nosso pra que a gente se conecte e se conheça mais, para sabermos o que tem passado com o outro e para falarmos besteiras. Um ritual só nosso de quase todas as sextas. O final de semana ganhou um novo tom, já com a preparação do nosso encontro.
E é tão simples, talvez por isso mesmo tenha vingado. Não é um peso. Eu não lembro bem como começamos a fazer, mas já tem alguns meses. Parece até que é algo que sempre foi feito, desde os tempos antigos, desde antes de nós.
Mal posso esperar para o próximo!
13 de janeiro de 2020
Sentir-se em casa
É a primeira vez que a gente mora há tanto tempo em um mesmo apartamento, já faz mais de cinco anos que estamos no Guará. No final do ano começamos a reformar algumas coisas e só agora terminou tudo. Eu chego em casa e me dá uma sensação tão boa de casa, de aconchego. E é interessante ver o quanto a gente mudou nesses anos. Há mais plantas e menos coisas. E não vejo a gente morando em outro lugar tão cedo. Tão bom sentir-se em casa.
Essa parede foi pintada por nós mesmos, deu um super trabalho, mas adorei o resultado. Eu gostei também da estante de quadros, fica mais fácil mudar os quadros e objetos, sem precisar furar a parede. A melhor aquisição dos últimos tempos foi a parafusadeira e que também é furadeira.
E acho que quando envelhecemos ficamos com mais vontade de ficar em casa. Tomar um vinho, ver filme, ler, ouvir música.
6 de janeiro de 2020
Livros de 2019
[Sapiens - Yuval Noah Harari]
Ouvi uma entrevista com Yuval em um podcast do James Altucher e gostei muito do que ele falou sobre o ser humano. Nesse livro ele se baseia em diversas pesquisas e remonta a trajetória do homo sapiens, passando pela caça e coleta, a agricultura, a colonização, a industrialização e a atualidade. É ótimo poder rememorar as aulas de história e entender de forma mais cadenciada. Muito bom de ler e com várias teorias interessantes (como a do trigo ter domesticado o ser humano e não o contrário).
[Contos completos - Caio Fernando Abreu]
Eu adoro Caio Fernando desde a adolescência. Um dos primeiros livros dele que li foi o Morangos Mofados e virei fã. Ler todos os contos em ordem cronológica foi ótimo. Os primeiros, claro, são mais simples e juvenis, mas é muito bom poder ver a trajetória do escritor no decorrer do tempo. E me fez voltar para esse Vinicius da adolescência.
[A obscena Senhora D - Hilda Hilst]
Eu adoro tudo o que li sobre Hilda Hilst, mas nunca tinha lido nada que ela escreveu. Comecei com um dos mais famosos e fiquei completamente sugado pela escrita fluida, simples e complexa ao mesmo tempo. Não consigo nem explicar direito, é preciso ler. A escrita é maravilhosa.
[Você tem fome de quê? - Deepak Chopra]
Um ótimo livro sobre alimentação com base em filosofia indiana, mas que é um pouco difícil de colocar em prática. Há algumas receitas no final, mas não fiz nenhuma.
[Dance dance dance - Haruki Murakami]
Eu já sou fã do Murakami, então peguei esse aqui pelo título. Maravilhoso e que já fisga nas primeiras páginas. Depois que li descobri que ele é a continuação do livro abaixo, mas que podem ser lidos como livros independentes. Como em vários livros dele, há um pouco de sobrenatural.
[Caçando carneiros - Haruki Murakami]
Murakami, né? Nunca me deixa na mão. A primeira parte do livro acima, mas que funciona como história independente. Explica mais do personagem Rato, que é mencionado no Dance dance dance.
[Um coração ardente - Lygia Fagundes Telles]
Eu adoro a relação da Lygia com a Hilda. O único livro que tinha lido de Lygia foi o As meninas, talvez o único livro que li obrigado na escola e que realmente gostei. Um coração ardente são de contos e todos são ótimos.
[Me poupe - Nathalia Arcuri]
Livro de finanças de um jeito bem fácil e descontraído. Eu li após ver alguns vídeos da Nathalia no YouTube. Bem simples, mas não coloquei muita coisa em prática.
[Não me abandone jamais - Kazuo Ishiguro]
Kuzuo ganhou um Nobel há alguns anos e nunca tinha lido nada dele. O livro é bem tocante, lento e distópico e fala bastante sobre humanidade. Depois descobri que foi adaptado ao cinema, mas não vi o filme. Muito bom, depois quero ler outros livros dele. Mas gosto mais de Murakami.
[A mágica da arrumação - Marie Kondo]
Isso me traz alegria? O livro me surpreendeu e coloquei em prática alguns ensinamentos, principalmente a forma de dobrar camisetas na gaveta. A série da Kondo na televisão me incomodou um pouco pelo modo infantilizado em que ela foi retratada, mas o livro mostra sua verdadeira voz, bem mais engraçada e adulta.
[Variações enigma - André Aciman]
Depois de me apaixonar por Me chame pelo seu nome quis ler outro livro de Aciman. É muito bom, mas não tão bom quanto o Me chame. Muitos amores de um homem que se apaixona por homens e mulheres, mas que os troca constantemente, sempre buscando estar apaixonado.
[As águas vivas não sabem de si - Aline Valek]
Sou fã de Aline há algum tempo, leio seus textos em blogs e newsletters e agora escuto também seu podcast. O livro é muito bom. Uma expedição ao fundo do mar, mas que poderia ser a outro planeta.
[Pós-F - Fernanda Young]
Ainda chocado com a morte de Fernanda Young, que li muito na adolescência. O livro é ótimo e polêmico, seu último lançamento. Ela discute o feminismo.
[Akira - Katsuhiro Otomo]
Eu vi o anime do Akira quando era pequeno e não entendi nada. Revi há pouco tempo e fiquei com vontade de ler o mangá, que é bem diferente. Adorei.
[Tudo o que você não soube - Fernanda Young]
Outro livro de Fernanda Young. Bem ácido. Uma filha que nunca se relacionou bem com seu pai escreve um livro para que ele leia antes de morrer numa cama de hospital. Mas muito mais para que ela consiga entender mais de sua própria vida. O livro é delicioso.
[Quarto de despejo - Carolina Maria de Jesus]
Eu nunca tinha ouvido falar de Carolina, uma das primeiras escritoras negras a ter destaque. O livro é um diário, escrito em um português real e narra a fome e as dificuldade de uma mulher que cria três filhos e mora em uma favela de SP na década de 1950. Um dos livros que mais me impactou no ano.
[Vozes de Tchernóbil: A história oral do desastre nuclear - Svetlana Aleksiévitch]
Depois de terminar a série de TV, quis saber mais e ler o livro em que ela é baseada. O livro é dificílimo de ler, não pela escrita, mas sim pelos relatos de pessoas que viveram tudo aquilo. Várias vezes precisei parar e respirar. Também me impactou muito.
[My year of rest and relaxation - Odessa Moshfegh]
Eu adorei esse livro. Uma moça rica e linda decide ir numa psiquiatra mequetrefe para conseguir vários calmantes e passar o ano meio desligada da realidade e poder processar o luto e vários perrengues que ela havia passado. O livro se passa entre 1999 e 2001, na explosão das torres gêmeas. É muito doido sentir raiva e empatia por essa personagem. A escrita é muito fluída e é bem fácil de ler.
[Sobre o autoritarismo brasileiro - Lilia Moritz Schwarcz]
Livro essencial para entender mais o país. Descobri que o país foi cagado desde o começo. As raízes de tudo o que a gente passa hoje vem desde o século XVI. Que beleza. Adoro o trabalho da Lilia e esse livro é essencial para todos.
[Patti Smith - Devotion]
Sou devoto de Patti. O show dela ano passado foi sensacional. No aquecimento li o Devotion, sobre o processo de escrita, criatividade e tem um conto bem interessante sobre uma patinadora. É um livro curto e bem fluído. Não é meu favorito da Patti, mas é um livro muito bom. E aprendi muitas palavras novas em inglês, pois tive que pesquisar várias.
[Ricardo e Vania - Chico Felitti]
Eu já tinha lido a reportagem do Chico Felliti que saiu no Buzzfeed sobre o Ricardo, mais conhecido como Fofão da Augusta. Quando morava em SP (entre 2012 e 2014) eu vi algumas vezes na rua o Ricardo e sempre me questionei se o seu rosto era uma doença ou se foi congênito, mas lendo a reportagem entendi que foram várias aplicações caseiras de silicone industrial. O livro retoma a reportagem e dá andamento também à vida de Vânia. Muito bem escrito e um soco no estômago.
[Eu, travesti - Luísa Marilac e Nana Queiroz]
Comprei o livro do Chico Felitti junto com o da Luísa Marilac e acabei lendo um seguido do outro. Há muitos paralelos entre as vidas de Luísa, Ricardo e Vânia, personagens sempre à margem da sociedade e que vivenciam diariamente o preconceito. O livro da Luísa e da Nana é muito bom. É narrado em primeira pessoa, num misto entre Luísa e Nana.
[Patti Smith - Year of the monkey]
Apenas maravilhoso esse livro! Uma mistura de sonho e realidade do que foi o ano de 2016, com a eleição do presidente dos EUA. Uma delícia de ler. E me lembrou um pouco o Linha M, um livro anterior da Patti.
[Fernanda Montenegro - prólogo, ato e epílogo]
Devorei esse livro que conta a vida de Fernanda Montenegro. E as fotos são lindas também. Não é à toa que ela é a atriz brasileira mais famosa.
[Albert Camus - o estrangeiro]
Sempre fiquei curioso com o livro que inspirou a música "killing an arab" do The Cure. Eu li quando estava na praia ainda e a primeira metade do livro se passa no litoral da Argélia, com vários banhos de mar. A segunda parte é só a prisão e o julgamento. O livro é muito bom e realmente um clássico. Depois eu vi que o The Cure tem cantado "kissing an arab" para evitar essa fobia que as pessoas ocidentais têm dos árabes.
[Me encontre - André Aciman]
Eu amei o Me chame pelo seu nome e desde que soube que teria uma continuação fiquei com vontade de ler. O livro é muito, mas frusta e surpreende bastante. Metade do livro é sobre o pai do Elio, mas depois de passar essa ansiedade por Elio e Oliver, curti bastante saber mais sobre o pai. Não é o que eu esperava e isso é ótimo. O encontro de Elio e Oliver é narrado em umas dez páginas e acho que se conclui bem. No capítulo dedicado ao Elio e gostei muito do novo romance dele e do mistério (que não é resolvido no livro).
2 de janeiro de 2020
Começou
A festa de final de ano foi uma delícia. Apesar do cansaço da viagem de volta, organizamos uma festinha com alguns amigos lá em casa. Festa pequena só com gente que gostamos. E meia noite um dos vizinhos das casas perto do prédio fez um super show pirotécnico, os fogos explodiam quase que na nossa janela e durou mais de 20 minutos. Foi lindo! Todo mundo dormiu lá em casa e ainda almoçamos o que havia sobrado da ceia (e ainda trouxe para comer aqui no trabalho hoje e amanhã).
O ano vai ser bom. A gente amadurece todos os dias, aprende a viver. Tenho gostado bastante de envelhecer.
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