O livro "Ensaio sobre a Cegueira" veio parar em minhas mãos por causa de uma aula de ética no começo da faculdade (tinha ouvido falar alguma coisa sobre José Saramago, mas nada muito contundente). E a leitura, apesar da densidade do texto e do estilo inusitado do autor (sem locações definidas, nomes próprios ou diferenciação entre diálogo e corpo de texto), me fisgou de um tanto que não queria nunca que acabasse aquela experiência sobre a condição humana e a inobservância ao outro. Imediatamente se tornou um dos meus livros favoritos e me puxou para ler outros textos dele, como o "Intermitência da Morte". Mais ou menos há um ano soube que já estavam filmando o projeto "Blindness" e comecei a acompanhar o blog do diretor. Claro, fiquei com um pouco de receio, afinal de contas o filme já estava todo feito em minha cabeça: os rostos dos personagens, as locações, a degradação e claro que eu me apeguei a essa versão pessoal. Finalmente enfrentei a fila do cinema de domingo e fui conferir, sem preconceitos, se a minha versão e a versão do diretor eram parecidas. Adorei a forma como ele retratou a cegueira branca, a música instrumental, a câmera meio tremida, a cidade devastada e a luz quase sempre estourada. E foi reconfortante reconhecer pedaços de São Paulo e até perceber uma ponta daquele estilista da estampas de caveiras que eu gosto tanto. Vale a pena experimentar de novo a angústia de compreender que a linha que separa a humanidade e a animalidade é muito tênue.
"Ensaio sobre a Cegueira" (2008, Brasil, Japão e Canadá). Dir. Fernando Meirelles. Com Julianne Moore, Alice Braga, Mark Ruffalo, Danny Glover e Gael Garcia. Foto: Alexandre Ermel.
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