29 de maio de 2015

Zumbi

Acordo comum gosto amargo todos os dias. Respiro fundo quando ouço desligo o alarme do celular. E então me arrasto para o banheiro, olho o celular, notícias, fotos, besteiras. O espelho mostra como seria minha versão em um apocalipse zumbi. Por que será que nos filmes os zumbis gritam "Cérebro?". Vou atrás da minha comida de zumbi na cozinha. Tem vezes que não tem nada, outras vezes o pacote de tapioca me olha. Cérebro! Tem vezes que minha versão zumbi me acompanha durante o dia inteiro. Eu já nem faço mais a barba, meu cabelo não tem mais corte e nem ligo para as minhas roupas. Cérebros... Cadê o meu?

28 de maio de 2015

Coisas velhas

Eu adoro coisas antigas. Ou coisas que parecem ser antigos. Filmes, músicas, roupas, acessórios, sapatos, coisas de cozinha, discos de vinil, botas, óculos, livros, tatuagens.

Fico fascinado quando vou a um brechó, museu ou prédio antigo. E imagino como deve ter sido viver naquela época.

E acho incrível quando leio um livro de um autor que já morreu, um filme antigo em que todos os que participaram já morreram, escuto um disco de um cantor morto há anos. As pessoas morrem e as coisas que elas produziram continuam.

O envelhescimento não pára. Meus cabelos ficam brancos, as rugas cada vez mais marcadas. Uma dor nas costas, uma alteração nos níveis do sangue. Cada dia é menos um dia. E isso é ótimo! Imagina não envelhecer e viver para sempre? Eu não ia querer. Claro, eu ia adorar viver muito tempo, mas sabendo que um dia vou morrer!

27 de maio de 2015

Vagão de mulheres

Assim que passei na catraca vi que já havia um metrô na estação e que logo as portas fechariam. Seriam só alguns minutos de espera até o próximo trem, mas preferi correr e entrar no primeiro vagão disponível.

Corri e consegui entrar. Vem aquela sensação de vitória e a música do Ayrton Senna começa a tocar dentro da minha cabeça. Ou a do Missão Impossível. Peguei o celular e o trem começou a andar. Depois de algumas estações eu notei que só havia mulheres ao meu redor. Altas, baixas, gordinhas, magras, estudantes, secretárias, funcionárias públicas. Um vagão só de mulheres.

E então me dei conta que havia entrado no carro exclusivo para mulheres. Eu nem sabia direito que existia esse vagão, pois ele entrou em vigor em 2013, quando eu morava em São Paulo. No horário do rush, tanto no começo da manhã quanto no final da tarde, o primeiro vagão é exclusivo para mulheres a fim de evitar assédio e violência contra elas.

Eu realmente não tenho ideia do que é ser mulher e conviver diariamente com a possibilidade de que um maluco venha dar em cima ou até mesmo provocar algum tipo de violência sexual. Acho péssimo ter que existir um vagão que isole as mulheres, afinal elas não têm culpa que existam malucos e tarados, especialmente depois de um dia cansativo de trabalho.

Mas essa iniciativa conscientiza as pessoas para entender que realmente é um problema que existe e afeta muitas mulheres todos os dias.

Imaginei se eu tivesse que andar num carro isolado com medo de algum tipo de violência sexual. Ou se além de me preocupar com assaltos quando caminho até minha casa, também teria que me preocupar com estupro. Simplesmente não é uma preocupação para mim. Ninguém pega na minha bunda, ninguém assobia quando eu passo, ninguém me encoxa.

Nenhuma das mulheres ali do vagão me olhou de cara feia ou pediu para que eu saísse, mas é estranho se sentir fora de lugar e inadequado.

Quem sabe um dia acabe essa cultura machista que faz com que os tarados ou malucos se sintam no direito de assediar e estuprar mulheres e que não seja mais necessário um vagão só para mulheres.

E que eu preste atenção e não entre mais no vagão delas no horário do rush!

26 de maio de 2015

Paisagens

Você entra em um casulo de metal, geralmente sozinho, e segue para o trabalho junto a outros casulos de metais, em geral também só com uma pessoa em cada, e esquece de tanta coisa que acontece ao redor.

Resolvi vir ao trabalho de transporte público hoje. Uma parte do percurso de metrô e outra no ônibus da empresa.

Sair de casa e caminhar alguns minutos a pé nessa manhã ensolarada e fria. Um sol tão suave. E então a estação de metrô. De cara já tive de esperar uns três trens passarem até eu conseguir me jogar em um pequeno espaço lá dentro. Sempre cabe mais um. Sair do casulo te coloca em uma situação cheia de vida, com tudo de bom e ruim da vida em coletividade. Pessoas de todos os jeitos, alguns com livros, outros segurando bicicletas, outros dormindo sentados no chão.

A paisagem lá fora passa depressa. Em alguns trechos parece até uma área rural, com campos verdes e poucas construções.

Não canso de olhar para as pessoas e imaginar histórias. Um adolescente ao meu lado resolveu um cubo mágico em alguns minutos. Eu não imaginei que adolescentes ainda gostassem de cubo mágico. Eu nunca consegui resolver um. E fiquei hipnotizado com O brinquedo que girava na mão de rapaz de forma tão rápida, nem parecia que ele prestava atenção nos próprios movimentos. De repente, todas as cores ficaram organizadas. Eu quase dei parabéns a ele, mas achei melhor não. Era muito cedo na manhã e ninguém gosta de conversar nessa hora. Aliás, ninguém gosta de conversar com quem não se conhece, ainda mais dentro do metrô.

E havia homens engravatados, homens com roupas simples, pessoas de chinelo, garotas de uniforme da escola. Próxima parada: estação central.

A Rodoviária é impactante. Um prédio que não se sabe direito se é um viaduto ou um monumento. E com camadas inscrustadas de sujeiras ancestrais e fuligem.

Quero tirar fotos do céu azul, as linhas dos prédios, as pessoas, mas sinto um leve desespero, pois não sei direito onde o ônibus da empresa fica estacionado. Procuro rostos familiares, crachás, mas encontro filas, pastel, café, pedintes. Finalmente vejo o logo da empresa que eu trabalho estampado na lateral do ônibus.

Quando a gente mora há muito tempo na mesma cidade e faz os os mesmos caminhos todos os dias acaba por ficar meio anestesiado com a paisagem. Hoje dentro do ônibus eu me senti meio estrangeiro na Esplanada. Esse céu azul sem nuvens, os prédios pintados de branco, as pessoas apressadas. Pensei nos arquitetos, engenheiros e peões que trabalharam nas obras da construção da cidade, lá no final da década de 1950. E achei aquilo tudo tão bonito.

Eu queria ter continuado eternamente dentro do ônibus com a cidade passando devagar. Para qualquer lugar. Uma música gostosa nos fones de ouvido. Queria viajar. E então peguei meu crachá, olhei a foto ali já meio esmaecida. Respirei fundo. Quem sabe um dia.

25 de maio de 2015

Vida de abelha

A vida fica cheia de regras com o passar dos anos. Horário pra dormir, pra acordar,  pra chegar ao trabalho, pra almoçar, pra voltar pra casa. Comer direito, fazer exercício, tomar remédio...

De vez em quando é bom não seguir tantas regras. Beber demais, chegar de manhã em casa, dançar muito. O ruim é que a ressaca é dura e o corpo demora a se recuperar. Ontem eu não existi para nada antes das 18h.

Mas vale a pena! A vida de abelha não compensa. É preciso rir, se divertir, extravasar. Não sempre, claro! Mas tem dias que é preciso chutar o balde...

22 de maio de 2015

Sensual

Sensualidade é difícil de explicar. Não tem a ver com beleza, apesar de geralmente as duas coisas estarem associadas. Há pessoas lindas que não são nada sensuais e há pessoas que não tem lá grande beleza, mas são extremamente sexies.

O Jack Nicholson, por exemplo. Ele nunca foi um cara bonito, mesmo quando era jovem. Mas é um homem muito sensual até hoje. A Marilyn Monroe nem precisa comentar nada, sensualidade e lindeza.

E sensualidade é algo intrínseco. Não tem como aprender, não tem como ensinar. Ok, a pessoa pode aprender um truques, mas não fica natural. Falta aquele "je ne sais quoi".

Tem gente que consegue até mesmo beber água de forma sensual. Um copo de água sexy? Sim. Já vi. Não sei fazer igual. E nem precisa de câmera lenta e nem derramar água no rosto e nos cabelos com os olhos fechado balançando a cabeça de um lado para o outro. Aliás, será que isso é sexy?

Eu estou na categoria não-sensual. Sempre fui desengonçado, desde pequeno. E sempre tive uma barriga nada sexy. Nunca me senti muito confortável com meu corpo.

Tenho cara de bonzinho. Isso. Bonzinho. A pessoa olha pra mim e automaticamente já pensa que eu sou alguém tranquilo, limpo, cristão, que não mente e trabalha direito. Sempre foi assim. Eu escutei a frase "Por que você não é mais como o Vincius?" a infância inteira. E já consegui trabalho por que a entrevistadora (e futura chefe) foi com minha cara, "Fui com sua cara, você parece ser um cara decente".

Tentei ser sexy. Comprei lentes de contato, comecei a fazer natação, fiquei mais bronzeado e mais tonificado. Mas é uma cara de bonzinho em cima disso. E minha voz é de bonzinho. Não é voz sexy, forte, mas uma voz tranquila. Todo mundo acha que sou mais novo do que realmente sou. Uns cinco anos a menos pelo menos.

Tem dias que eu me sinto mais inspirado. Ajeito o cabelo, não faço a barba, coloco minhas lentes de contato, visto aquela camisa bacana e coloco minha bota. Nesses dias sinto vontade de fumar. E fumo e bebo muito. E danço. E converso. Nem parece que sou eu mesmo. Em geral dá merda e acordo com ressaca física e moral. E se tiver outro tipo de ressaca eu também tenho após esses dias (ou melhor, noites) de sensualidade.

Mas claramente não sou eu mesmo. Talvez seja o Victor (ainda não sei direito o nome da entidade que aparece aí na foto). E ainda não aprendi a chamá-lo, talvez seja a vontade de fumar, logo eu que não fumo nunca, tão certinho. Eu também nunca exagero na bebida, mas nesses dias sinto uma sede insaciável.

Não são muitas as vezes que eu saio assim. Em geral eu sou mais 'mãe americana' dos programas de transformação de imagem. Apesar de não ter filhos e nem ser americana, eu compartilho essa preguiça de investir muito no visual.

Depois de assistir vários episódios desses programas - que são todos iguais - percebi que basta um corte de cabelo repicado, dentes de resina em cima daquela mandíbula podre, cirurgia de miopia, depilação a laser, clareamento de manchas de pele e umas roupas estampadas. Mas não é nada sexy, ao menos não para mim. A pessoa desengonçada está ali atrás, dá pra ver. É tudo encenação. vai passar uma semana e o espírito de "mãe americana" volta com tudo.

Talvez seja a hora de deixar essa "mãe americana" de lado e investir mais no visual. Deixar essa "bonzisse" que várias vezes me mutila e aceitar minha maldade.

Quem sabe embaixo dessa carcaça de bonzinho não tem um cara sexy?

21 de maio de 2015

Eu, trombadinha

Aparece um problema e é preciso encontrar uma solução. Simples assim.

Nessa semana me deu vontade de andar de bicicleta após algumas semanas sem nem lembrar que eu tinha uma bike na garagem.

Troquei de roupa e desci correndo. O cadeado de segredo travou. Coloquei várias senhas e nada. Girei, puxei, tentei. E nada. E então notei que o cadeado estava meio estranho. Não que alguém tivesse tentado arrombar, mas sim que ele próprio cedeu com o peso da bicleta.

Peguei algumas ferramentas que tinha em casa e me imaginei um trombadinha com a missão de arrombar o cadeado. Um alicate e uma tesoura. Quase uma hora apertando e puxando e nada. Desisti. O cadeado estava bem desgastado, mas nada de abrir.

Dia seguinte mais uma tentativa, afinal de contas eu tinha que dar um jeito ou ao menos tentar algo. Cortes e calos nas mãos e nada. O alicate quebrou e eu continua usando a tesoura e o que mais eu tinha por perto. Eu quase desisti, quando finalmente o cadeado soltou.

Tirei três conclusões: 1. Nenhum cadeado é realmente seguro, basta um pouco de empenho do trombadinha; 2. Uma pessoa pode tentar arrombar um cadeado de bicicleta no meu prédio e ninguém diz nada e 3. É muito bom quando a gente se propõe a algo e consegue concretizar, apesar da pouca chance de sucesso.

E ainda nem consegui andar de bicicleta! Vou ver se hoje consigo dar uma volta.

20 de maio de 2015

Criogenia

O congelador é um mundo inexplorado e não sei direito o que tem lá dentro. Eu me sinto como um Indiana Jones no Ártico: encontro um pedaço de algo congelado e tento descobrir o que será deve ser aquilo. Será que é comestível? Será que vai me matar?

Já descongelei uma pedra de gelo vermelha que só poderia ser bife. Mas na verdade era carne moída. Já era meus planos de comer um picadinho, mas então fui fazer um quibe. A vida do dono-de-casa é assim.

Eu já abri potes de sorvete jurando que era de chocolate, mas era só feijão.

E tem frutas esquecidas desde o natal (será que vou usar aquelas cerejas para alguma coisa?). Tem caldo de legumes caseiro. Tem até algumas claras congeladas que sinceramente nunca vou usar. Eu sei, guardei porque fiquei com dó de jogar fora em um receita que pedia muitas gemas e pensei em fazer suspiro, pudim de claras ou até mesmo tentar macarrons, mas eu sei que não vai rolar.

Comecei a tentar esvaziar meu Polo Norte. Trouxe pro almoço um pedaço de torta de fango que estava há muitos meses por lá. Fiquei com receio, cheirei, provei e realmente ainda estava gostosa. Freezer + microondas e eu me sinto meio Jetsons: você tira de uma máquina, coloca em outra máquina e come.

A porta dessa era glacial quase não fecha. Outro dia achei que estava muito bagunçado e tentei arrumar tudo, mas ficou de um jeito que não fechava mais a porta. É um quebra-cabeça. Tirei tudo de novo e arrumei como estava antes de tentar arrumar. A porta fechou.

Quando minha mãe vem me visitar ela sempre me leva uma sacola de coisas congeladas: frutas do quintal, empadão, pão de queijo. Eu digo para ela que não cabe, mas de alguma forma mágica ela faz o impossível: torna um congelador abarrotado em um abarrotadíssimo. E a porta fecha. Isso que importa! Joga lá dentro, fecha a porta e esquece.

Aliás, minha mãe é uma expert em congelamento. Ela tem um freezer horizontal no quintal e dois verticais na cozinha. Quando eu era pequeno e não tínhamos empregada, minha mãe contratava uma cozinheira para fazer pratos e porções para congelar. A moça trabalhava um dia inteiro sem parar. Acho que não existe mais esse tipo de serviço e eu não me imagino contratando algo parecido.

A minha última geladeira tinha um congelador interno, desses que a camada de gelo vai crescendo um pouco todos os dias. Esqueci um pote de sorvete lá dentro e ele ficou soterrado no gelo. Foi terrível, mas era lindo ver aquele monte de neve dentro da geladeira. Eu nunca vi neve de verdade, essa é a minha neve. E o feltro na época das decorações de natal.

Hoje meu congelador é frost-free (ou frósfri). Não tem neve, mas agora cabe mais coisa. Cabe um frango inteiro, muitas peças de queijo e, quem diria, até formas de gelo vazias.

19 de maio de 2015

Gotas

O caos faz sempre parte da vida. Quando tudo está muito certo, uma hora vai surgir uma bomba para bagunçar tudo.

As bombas caem o tempo todo. Algumas são uns estalinhos de festa junina. Outras são cogumelos nucleares com efeitos que duram um bom tempo.

A última bomba que caiu me jogou para fora da órbita da Terra. Fiquei flutuando um bom tempo sem saber exatamente para onde ir, mas não estava ruim flutuar sem rumo.

Aos poucos voltei pro planeta, encontrei algumas coisas que me fazem bem e comecei a pensar em rumos pra reconstrução.

Acordei atrasado para vir ao trabalho e vi umas gotas nas folhas da planta que fica na sala (uma Monstera deliciosa). Achei aquilo tão bonito que tive de tirar uma fotografia. E pensei que a planta não controla muito onde ela está. Ela no máximo vira as folhas em direção ao sol, além de soltar algumas gotas de água pela transpiração. E assim ela sobrevive.

Talvez eu tenha começado a sentir a direção em que o sol está.

18 de maio de 2015

Primeiro passo

A gente sempre tem uma ideia do que precisa ser feito para chegar a algum resultado. Nem sempre é certa, mas em geral leva ao caminho certo.

A barriga, por exemplo. Para emagrecer é preciso comer direito e fazer exercício. Simples assim. Mas por que é tão difícil colocar em prática?

Para se chegar a algum resultado é preciso rotina e consistência. É um esforço diário. Todo dia um pouco. Ou então é melhor nem se enganar e assumir logo a barriguinha de cerveja, o que também não é nenhum problema. Ruim é essa insatisfação entre querer emagrecer, mas não fazer nenhum esforço para isso.

É tão melhor chegar do trabalho, comer uma besteira e ver TV e internet até a hora de dormir.

O mesmo pensamento se aplica quando se quer guardar dinheiro, mudar de emprego, estudar. Tudo é muito simples na teoria. Mas na prática, a teoria é outra.

E nunca vai chegar aquela vontade avassaladora de correr, guardar dinheiro e fazer algo que será bom a longo prazo. É sempre complicado sair da inércia, da preguiça, do "eu mereço".

Mas é preciso dar um primeiro passo.

15 de maio de 2015

Ressacas

Nem lembro a última vez que saí no meio da semana. Com o tempo a vida fica cada vez mais cheia de responsabilidade e mais cotidiana.

E então eu saí ontem para um samba numa quinta-feira. Hoje acordei com uma bomba dentro da minha cabeça e o último lugar que queria estar era o escritório.

Apesar de estar aqui com a cabeça explodindo, essas escapadas no dia-a-dia são imprescindíveis. Ou então a vida vira um manual cheio de regras rígidas: dormir tantas horas, comer bem, chegar no horário.

A vida precisa ser mais leve, ser mais descontraída. E uma ressaca num dia de trabalho pode não ser a melhor coisa do mundo, mas é tão bom dar uma quebrada no cotidiano e lembrar que tem tanta coisa pra se fazer numa noite de semana.

14 de maio de 2015

Moscas e borós

A gente contruiu torres imensas para morar e ficar cada vez mais longe do chão, talvez para fugir dos bichos que moram próximos ao solos e ficarmos mais assépticos.

Mas os bichos não se importam com a distância, talvez sintam falta da gente. Querem ficar próximos a nós e à nossa sujeira. Devem gostar do nosso cheiro.

Hoje quando acordei tinha uma mosca parada no vidro da janela. Ela voou mais de quarenta metros pra vir me ver, comer minha comida, colocar seus ovos. Pensando assim, ela merece estar ali e usufruir de todos os benefícios.

Acho que acordei de bom humor e a deixei do mesmo jeito que encontrei, parada no vidro.

Quando eu voltar talvez ela tenha ido embora. Ou tenha conversado com as traças que teimam em aparecer. Formigas e baratas eu ainda não vi por ali, mas outro dia tinha uma lagarta no vaso de hortelã que comprei. Os piores visitantes, sem dúvida, foram as larvas de mosquito que surgiram na lixeira da cozinha.

Já tinha mais de duas semanas que eu não trocava aquele lixo, então mereci ser recepcionado por vários borós. Aliás, esse nome parece ser de algo tão simpático e não mini minhocas filhas de moscas. Não foi uma cena bonita ver vários grãos de arroz se mexendo e agora quando cozinho troco o lixo na mesma hora. Malditos borós.

Será que a mosca que veio me visitar hoje de manhã foi um daqueles borós?

13 de maio de 2015

Corporativo

Sempre trabalhei em ambiente corporativo. Mesa, computador, roupa social, caneca, divisórias e conversas próximas ao filtro de água e à garrafa de café.

Sonho em trabalhar em algo diferente. Fora do escritório talvez. Meu próprio negócio? Uma ONG? Não sei ainda.

Trabalhar em um ambiente corporativo é bem cômodo. Há vários graus de hierarquia, modelos para os documentos a serem produzidos, etiqueta para reuniões, há espaço para conversas descompromissadas, há cursos de capacitação, em geral os horários de expediente são cumpridos e, o melhor, férias remuneradas, décimo terceiro.

Apesar da comodidade, uma hora o trabalho, mesmo que exaustivo, começa a ser pouco e passa a não suprir a necessidade de fazer algo relevante, algo mais em sintonia com quem queremos ser. E agora?

Ler, pesquisar, entender a si mesmo e finalmente chegar à ideia de qual será a nova profissão. Parece bem simples. Mas na verdade dói e dá muito medo. Medo de não conseguir dinheiro, de largar algo certo. Uma hora tem que sair algo!



12 de maio de 2015

Propósito

Acho incrível quando vejo pessoas que encontraram o propósito de suas vidas e mudam tudo, reviraram-se e fazem algo de relevante. Gente que largou o emprego na multinacional para ajudar refugiados na África, outros que fundaram uma start-up e ainda aqueles que escreveram livros, fizeram filmes, abriram baladas. Na verdade, adoro histórias que começam com "largou seu emprego e foi fazer o que realmente tinha vontade".

Largar o emprego é assustador, mas nem sempre significa aterrissar no seu propósito de vida. Eu tive essa experiência há alguns anos. Não larguei meu emprego, apenas tirei uma licença não remunerada de três anos. E fui atrás do que eu estava com vontade: trabalhar com meio ambiente em São Paulo. Entrei em um escritório de advocacia ambiental e fiquei lá por quase todo o tempo da licença. Foi uma experiência incrível e não me arrependo. Aprendi um monte de coisas, mas ainda não sintia como se estivesse no emprego certo.

Não consegui encontrar ainda qual o meu trabalho. Voltei pra Brasília e para o meu emprego anterior. E desde então tenho lido vários textos sobre vida, empregos significativos e tudo mais. Mas nada ainda. Parece que tem uma barreira que me impede de sequer pensar no que eu deveria fazer.

Meu trabalho atual tem uma carga de trabalho tranquila e trabalho oito horas por dia. Eu poderia então pensar em um hobbie ou emprego que eu pudesse conciliar até que eu ficasse só com esse novo emprego.

E então comecei a pensar nos meus hobbies, nos meus interesses, no que eu realmente gosto de fazer no meu tempo livre. E no que eu estaria disposto a abrir mão. Nada ainda. É tão frustrante!

Eu gosto de cozinhar, mas não quero ter restaurante ou café. Pensei em começar a escrever um blog de gastronomia, mas não simplemente com receitas. Pensei em algo mais exótico. Ingredientes diferentes, receitas malucas e um bom design.

Adoro escrever, adoro a internet, adoro cozinhar e tirar fotos. Talvez seja um bom começo rumo a um trabalho mais significativo. Quem sabe!?

Hoje faz quatro meses que voltei para o meu emprego antigo e ainda não fiz nada para mudar.

11 de maio de 2015

Comida caseira

Depois de começar a cozinhar mais em casa desenvolvi uma relação diferente com a comida. Cozinhar não é difícil, mas é um pouco trabalhoso ter que planejar o que comer, preparar, guardar e limpar tudo. É muito mais fácil ir a um restaurante, escolher o que se vai comer e pagar. Mas além do preço mais caro a se pagar ao se comer fora, nem sempre a comida vale o investimento: tempero sem graça e ingredientes de má qualidade são algumas das coisas que me fazem me arrepender de ter ido a um restaurante.

Cozinhar é como um músculo. No começo é chato, dói e é complicado, mas aos poucos se pega o jeito.

E no caminho se preparam pratos que não ficam do que jeito que foram planejados. Alguns ficam até difíceis de comer. Outros tem que ir direto pro lixo. E quando um prato sai ainda melhor do que foi pensado, aí dá aquele gosto de comer. E é ótimo ver como aos poucos o preparo se torna mais encadeado, o corte da cebola saí mais bem feito, as receitas dos livros sofrem pequenas modificações e até viram pratos completamente novos.

8 de maio de 2015

Simples

Nessa semana, enquanto esperava um café e uma empada eu fui invadido por uma sensação tão boa.

O lugar estava cheio e barulhento, os garçons perdidos, o pedido demorava muito. Mas ficar sentado ali e observar o final da tarde cair, sentir o clima gostoso após a chuva no jardim da parte de trás do Café e estar junto de quem eu amo me fez sentir tão bem.

De repente foquei não no meu trabalho chato, mas sim no fato de não ter uma carga gigantesca de tarefas e, o melhor, terminar o expediente em um horário decente e poder sair para tomar um café e ir ao cinema de rua que fica próximo ao café.

E isso me motivou a pensar em como me condicionei a enfatizar sempre o lado ruim. De tudo. O tempo todo. O lado bom se perde no mar de coisas ruins. E isso foi me sufocou aos poucos, ao ponto de não conseguir enxergar nenhuma saída para mudar.

E então num simples lanche após o trabalho, percebi como minha vida é boa e como ela pode ser simples.

Foi quase como apertar um botão dentro da minha cabeça. Aliás, foi como um exame no oftamologista. O médico vira as lentes daquela máquina gigantesca e pergunta: "Esse está melhor? Ou este?". Parece que estava com um binóculos e troquei por uma lupa.

Claro, minha vida continua cheia de pepinos, abacaxis e bombas. E sempre vai ser assim. Mas também tem tanta coisa boa, dessas que passam despercebidas. É uma sessão de cinema, um livro bacana, um sorriso da moça do caixa, uma promoção de um produto que ia comprar de qualquer forma. E são tardes gostosas esperando um café e uma empada.

7 de maio de 2015

Leitura

Livros sempre fizeram parte da minha vida. Sou filho de dois professores, então lá na casa dos meus pais tem mais livros e estantes do que qualquer outra coisa. E não importa o tanto de vezes que minha mãe organiza livros para doação, sempre aparecem mais livros. Acho que eles se reproduzem durante a noite.
Nos últimos dois anos de São Paulo li muito pouco. Fiquei esse tempo com só um livro, o "2666" do Roberto Bolaño. É um calhamaço de quase novecentas páginas, mas não é difícil de ler. Demorei por preguiça mesmo. Na verdade são uns cinco livros dentro desse, então não fica assim tão ruim a minha média.
Comecei a ler a coletânia de poesias do Leminski e da Ana Cristina César, mas ainda não terminei. Eu nunca tinha comprado nada de poesia.  Depois que cheguei em Brasília li uma coletânea do Caio Fernando Abreu ("A vida gritando pelos cantos") e o "Alta Fidelidade", do Nick Hornby.
Tento mais de um livro ao mesmo tempo, assim quando chego numa parte chata, pulo para o outro livro. E gosto de ler livros com capítulos mais curtos, não gosto de deixar um capítulo na metade, mas às vezes não tem jeito.
Nesse ano resolvi ler mais. E comecei a experimentar os livros digitais. Desde então tenho tentado ler ao menos um capítulo por dia, independente de quão cansado eu esteja.
Foi assim que terminei de ler "Barba Ensopada de Sangue", do Daniel Galera, e "O Fim" da Fernanda Torres". E agora estou no final da biografia de Clarice Lispector, escrita por Benjamin Moser.
Eu adoro os livros de papel, mas depois de tantas mudanças de apartamento e de ter uma estante que já está lotada, não tenho comprado mais livros de papel. Ainda tem vários livros que ganhei e ainda não li, me esperando nas prateleiras.
Não tenho um desses leitores que imitam papel, então leio no celular e no tablet. Não é tão bom quanto um livro de verdade ou aparelho de e-ink, mas como o celular está sempre comigo, consigo ler quando estou numa fila, depois do almoço ou sempre que sobra um tempo. O melhor é poder carregar centenas de livros no bolso e quando terminar não se preocupar onde guardar.


6 de maio de 2015

Marmita Marmota

Eu adoro comer, mastigar, experimentar coisas novas. E agora restaurantes, chefs e programas de cozinha na TV estão mais em alta do que nunca.

Apesar de adorar comer, não gosto muito de cozinhar. Preguiça, falta de criatividade e de tempo também não ajudam muito. Mas sempre vejo várias receitas na internet e nos programas de TV para quem sabe um dia colocar em prática. Mas esse dia nunca chega.

Nessa semana me fiz um desafio: levar marmita para o trabalho. Hoje foi o terceiro dia e vamos ver se consigo fechar uma semana. No primeiro dia quinoa e um franguinho que já estava pronto lá em casa, no segundo dia macarrão integral com pesto de manjericão da horta do apartamento e hoje trouxe carne louca (adoro esse nome! Deviam existir mais comidas loucas) com arroz e castanha. A comida pode não ter ficado assim uma maravilha, mas está boa e saudável, além de me ajudar a escapar da vontade de comer uma fritura ou doce.

Eu já estava cansado de comer nos restaurantes perto do trabalho, além da logística de precisar pegar o carro para sair, achar vaga e tudo mais. E, sei lá, as refeições em geral são meio sem graça.

Agora eu esquento minha comida e desço para o jardim. Depois me sobra um tempo para mandar mensagens pelo celular, ficar em dia com as atualizações das redes socias e ainda ler um pouco no celular.

Volto pro computador mais tranquilo, me alimento de forma mais saudável e ainda aprendo a cozinhar. Tem várias receitas que quero experimentar e vai ser legal sentar, pesquisar e planejar as compras da semana.

E essa foto é das flores que apareceram no pé de manjericão. Elas são lindas e bem miúdas, mas significam que a planta está preparada para morrer. Engraçado isso do manjericão: ele só tem uma floração. Depois frutifica, joga suas sementes e morre. Ouvi dizer que se cortar as flores o pé demora mais a morrer. Eu cortei, apesar de ficar triste em cortar algo tão bonito. E comi hoje no almoço (uma delícia!).

5 de maio de 2015

Internet

Há mais ou menos uns vinte anos meu irmão instalou um modem no computador que todo mundo dividia lá na casa dos meus pais. Ninguém entendia muito bem para o que servia a internet e todos aqueles barulhos intergaláticos para a conexão. Eram 20 ou 30 horas por mês, um só e-mail, além dos gastos com o telefone.
 
O primeiro site que entrei foi o da Nasa e depois o da Coca Cola. Não me lembro qual foi o primeiro site brasileiro, quase não havia. Todos os sites conectavam muito devagar, quase sem imagens e com fundo cinza. E ficava aquela dúvida: se eu entrar em um site japonês vou pagar por uma ligação telefônica para Tokyo?
 
Naquela época não havia redes sociais, não havia YouTube e baixar uma música demorava horas ou dias. Eu consumia só textos e imagens. Havia muitos sites pessoais - não eram blogs ainda - com assuntos específicos: homenagem a bandas, filmes, seriados, quase tudo hospedado no Geocities.
 
Não havia Google e as buscas eram feitas pelo Altavista, Yahoo, Cadê. Eu lembro que pesquisava mais. Colocava uma palavra-chave na caixa de busca e ia pulando de um site para o outro.
 
Os blogs começaram para mim lá para os anos 2000. Eu comecei o meu primeiro em 2001. Era uma plataforma chamada Weblogger. Lá abri o mininoobjeto, assim com "i" mesmo e tudo junto, bem diário mesmo. Eu passava horas tentando entender HTML para mudar o layout no Frontpage. Quase nunca dava certo e eu nunca entendi mesmo HTML. O blog entrou para os destaques uma vez e consegui mais de 100 comentários em alguns posts. Me senti meio celebridade.
 
Depois abri o Upa!Neguinho também no Weblogger. Em 2004 tive muitas brigas na família por me expor demais na internet e tive que fechar meu blog. Não guardei nenhum histórico dos textos. Ia ser engraçado ler esses textos tanto tempo depois.
 
Meu próximo blog foi o Lima Limão, já no Blogger. Não lembro muito sobre esse. E aí em 2007 abri o Nuancez, que é esse que escrevo até hoje, mas que uma hora virou Ceznuan. De vez em quando gosto de abrir aleatoreamente um texto antigo e lembrar como me sentia naquela época. Escrever esse blog para mim é quase como uma historiografia. Talvez seja esse medo de perder a memória, de lembrar de mim em uma época passada, de não me desconectar de mim mesmo.
 
A internet, por ser esse mundo com espaço praticamente ilimitado, facilita essa busca por um histórico, por arquivamento.
 
Hoje minha vida é dominada por internet todo o tempo. Não tenho jornal impresso, nem revistas. Não compro dvds ou cds, só vejo filmes e séries online. Escuto e baixo música pela internet. Leio livros digitais no tablet e no celular. A maioria das minhas compras são pela internet ou ao menos pesquiso antes de comprar em uma loja física. Pesquiso sobre viagens, lugares aqui em Brasília, tudo pela internet.
 
Pesquiso bem menos, é verdade. Hoje tem tantas sugestões de artigos e sites no Facebook, no twitter e nos meus feeds. É raro eu encontrar algo que não seja por essas curadorias.
Mas de vez em quando sinto uma saudade da época em que a vida era mais simples, menos ligada 24h por dia. Já era. Agora é tudo sempre conectado o tempo todo.

4 de maio de 2015

Pérolas

Acordei com o título do livro do Rubem Alves ecoando em minha cabeça: "ostra feliz não faz pérola". Realmente, para fazer pérolas a ostra precisa ficar incomodada com algo que tenha entrado em seu organismo.

Já há algum tempo estou com váios grãos de areia que me incomodam, mas nem sinal de pérola. Mas vi que uma ostra demora mais ou menos três anos para fazer uma pérola. E vive uma média de 20 anos, ou seja, um sexto da vida fabricando pérolas. Mas enquanto ela fabrica essas pérolas, a vida dela não pára.

No meu campo profissional não saiu ainda nenhuma pérola, apesar do tanto de areia. Mas vai, pelo tempo que estou me sentindo incomodado, acho que está para sair um colar inteiro de pérolas para que eu use no meu próximo emprego, que eu ainda não tenho ideia do que vai ser.

Pelo jeito vai ser tipo aqueles colares gigantescos dos anos 20, que de tão grandes é preciso dar um nó.

 

1 de maio de 2015

Sonhos

Até hoje ninguém sabe direito porque a gente dorme. Os gregos antigos achavam que dormíamos quando o cérebro se esvaziasse de todo o sangue, para encher-se de novo de sangue quando formos dormir. Quando li isso achei que fazia todo o sentido. Talvez o cérebro não esvazie de sangue, mas precise renovar o sangue que está por ali. Imagino o cérebro como uma esponja elétrica cheia de sangue.

Eu simplesmente apago. Sono para mim é quase como uma morte. E durmo com barulho, com luz e até com os olhos abertos. Já dormi até dentro do Madame Satã, mas acho que foi a combinação de cansaço com álcool. Em geral durmo bem e raramente sonho. Ruim que tenho dormido pouco, algo como seis, no máximo sete horas.

Li também que na época da Revolução Industrial as pessoas dormiam sentadas, com os braços amarrados em cordas que pendiam do teto. Talvez eu não conseguisse dormir assim, mas com as jornadas de trabalho de 18 horas, os operários não dormiam, mas sim desmaiavam.

Ultimamente não sonho, mas já tive muitos sonhos quase reais. Desde deja vus ridículos até sonhos sexuais em que acordava com a cueca melecada. Já sonhei que voava, que caia, que nadava, que meus pais morriam, que alguém me perseguia e até alguns sonhos lúcidos em que eu sabia que estava sonhando. Não sonhei com pessoas mortas ainda. Já sonhei que era amigo de pessoas famosas, tipo o Michael Jackson.

Apesar de estar no metrô, escrever sobre isso me deu muito sono. Acho que é o balanço do trem, a passagem passando lá fora. Espero sonhar hoje!