31 de julho de 2007

A bolha

É estranho perceber que existe uma bolha separando a cidade que vivo daquela que a maioria das pessoas vive. Na minha, sempre posso ir a qualquer lugar, tenho acesso à cultura, diversão, música, livros, saúde e a todas essas coisas que tornam a vida gostosa de se viver. Na da maioria, os ônibus são caros e raros e só se pode pensar em trabalhar para conseguir o mínimo para sobreviver. Aliás, o mínimo do mínimo ou, até mesmo, menos. Mas a bolha funciona muito bem: quem está fora dela torna-se praticamente invisível para os poucos que vivem no conforto do seu interior. Os de fora, ainda por cima, tem a certeza de que nunca vão ser um habitante da bolha. Mas será que é preciso estourá-la? Criar outras bolhas? Ampliar a que já existe? Ou simplesmente deixar tudo como está?

30 de julho de 2007

Fotossíntese

Ando meio fotossintético ultimamente. Acordo, abro a janela ainda vestindo roupas de baixo, boto um sambinha pra tocar e começo a conversar com minhas plantas enquanto as coloco para tomar um solzinho. Não sei se as fofocas com os vegetais ajuda ou atrapalha, mas elas andam cada vez mais verdes. A intimidade é tanta que as plantinhas ganharam até nomes e personalidades específicas. Já são seis vasinhos com apelidos esdrúxulos que dormem e acordam todos os dias comigo e, bem, se continuar desse jeito vou acabar criando uma filial da mata atlântica no meu quarto (e ganhar uma visita ao psiquiatra!).

28 de julho de 2007

Disparates

Gosto de conversar besteiras em cima da cama, na mesa do boteco, no restaurante fino, no telefonema com a tia-avó, no rolé de patins, no carro, nos almoços do trabalho. Falo coisas inimagináveis, impublicáveis e inesperadas que escapam assim sem a menor cerimônia. Às vezes um assunto a princípio simples e ingênuo descamba para as piores barbaridades, dignas das bocas de estivadores do século XIX, políticos investigados por CPIs, travestis da mais baixa categoria e até mesmo mc's de proibidões e rappers de gangsta. Até tento controlar meus disparates com um sorrisinho à la Monalisa, guardando-os só para mim, mas apesar desse esforço descomunal, eles conseguem ser mais fortes do que as barreiras que supostamente não deveriam deixá-los escapar e saem arrombando tudo. Só me resta esperar que os disparates alheios se sintam ajudados a escapar de suas respectivas prisões e façam companhia aos meus que estão ali recém-libertos, porque afinal de contas todo mundo tem aquele disparate, aquela história maluca e aquele palavrão loucos para escapar. Basta um estímulo!

26 de julho de 2007

Que se faça a luz

Quando você consegue instalar suas próprias luminárias, sua vida muda de sentido. Descascar fios, lidar com porcas e parafusos não é para qualquer um. Mas depois de tudo feito, apertar o interruptor e ver que a bagaça não explodiu na sua cara é uma das sensações mais gratificantes de uma experiência DIY (do it yourself, ou, em bom português, faça você mesmo!). Agora posso cuspir no chão e coçar o saco com todo meu orgulho viril.

25 de julho de 2007

Uh, monô!

Depois de uma oficina de percussão idealizada por ninguém menos que Plap... espera aí, PLAP? Sim, Pedro Luís e a Parede, ok? Então, depois da oficina, nasceu uma mini-bateria de escola de samba que toca, logicamente, samba, mas também funk, marcha, côco, ciranda e mais um monte desses ritmos que não deixam ninguém ficar parado. Isso tudo rolou no começo dos anos dois mil lá na terra da nova maravilha moderna do mundo. Alguns anos depois, à convite daquela grande loja francesa de pecados tecnológicos e culturais que me faz perder horas e horas do dia com desejo e prazer, o Monobloco finalmente toca aqui na cidade. E não poderiam ter escolhido melhor lugar: a praça do carecão!








29/07 Monobloco enfim invade a capital federal, pelo projeto FNAC no parque, com um show no Complexo Cultural da República, na Esplanada dos Ministérios

::atualização (30/07): o show foi fantástico e o lugar é maravilhoso!

21 de julho de 2007

Comédia romântica

Sinto falta de uma cama para dois. Só por estar ali debaixo das cobertas, falando coisas que só são engraçadas para quem divide o mesmo edredon. Depois de rir um monte com as coisas que realmente nem são tão engraçadas assim, haveria aquele momento em que tudo o que se ouve é o silêncio. Então só restam aqueles olhares de pertinho (tão perto que as pálpebras nem ousam se abaixar) e finalmente o beijo que não te faz pensar em mais nada a não ser em 'bem que o tempo podia parar nesse minuto, e que se foda todo o mundo ao redor'. Mas então percebo que não vivo em uma comêdia romântica de Hollywood. Ainda bem!

20 de julho de 2007

Tchocolatl

É engraçado imaginar que muito antes de Cristovão Colombo aportar nessas terras, a galera aqui já se acabava no chocolate, ou melhor, no tchocolatl. Eu pessoalmente não resisto, compulsão pura mesmo: imagina só aquela caixinha cheia de coisinhas embaladas em papel colorido olhando pra você e sua boca já se enchendo d'água, seus dedos coçando, sua barriga roncando e a pupila ficando cada vez mais dilatada. Não tem como fugir. E agora, depois de chegar em casa praticamente um trapo, tomar um banho demorado, tirar as lentes, ligar o som e o computador, eis que me baixa uma vontade absolutamente irracional de comer essas coisinhas pretas, marrons ou brancas. Aliás, só junkies da pior sarjeta conseguem me entender nessa hora. Mas como nada é fácil, meu estoque de 'bagulho' está no zero. Então pra controlar a fissura, uma receita da época de pirralho: chocolate quente, daqueles saindo fumaça, feito com cacau em pó. E eu aqui tomando e escrevendo. E lá se foi o último gole, com direito a um pouquinho de canela no fundo da caneca. Vou é pegar o restinho na panela, mas antes disso vou apertar o botão 'publicar', pois esse texto já está me enchendo o saco.

18 de julho de 2007

Pã pã pã

Não sou uma pessoa muito esportista. Aliás, nunca fui dos melhores em educação física e nem sei direito o que é impedimento, duplo twist carpado, medley e, muito menos, homerun. Mas é impossível não ficar ao menos um pouco ligado ao esporte quando por algumas semanas tudo o que se vê relaciona-se ao pan americano (até mesmo o recente acidente em Congonhas). Depois dessa overdose de esporte, me peguei esses dias assistindo (e torcendo) num jogo de vôlei entre Brasil e EUA. Quem diria... Mas bom mesmo é conferir aquelas modalidades em que não se tem a menor familiaridade, como softbal, pentatlo moderno, hóquei sobre grama, beisebal e squash, opinando com a maior cara de pau: "tá na cara que esse jogador de Cuba cometeu um overlap antes do time out, não viram?". E daí que esse campeonato custou milhões ao governo? O importante é curtir esse monte de jogos bebendo cerveja, fofocando e falando mal dos outros.

17 de julho de 2007

Lixa e pincel

A reforma tem me feito rever várias coisas. Acho que lixar paredes, escolher tintas, remover vernizes (e perceber que não dou conta de fazer tudo isso sozinho) é mesmo a melhor terapia. Sacos e mais sacos de lixo e coisas inúteis são levados embora todos os dias e cada vez mais a aparência do meu quarto tem ficado melhor. Mais luz, mais espaço e mais cor. Comigo sinto que as coisas ocorrem de maneira semelhante, mas não tão aparentes. Continuo sempre removendo as coisas (e pessoas) que já não valem mais a pena e dei até mesmo uma lanternagem no visual: aboli os óculos de grau, dei uma arrumada no cabelo e resolvi me desfazer daqueles quilinhos a mais com muitos rolés de patins no parque, aulas de dança e uma reformulada na alimentação (com algumas escapadas, é claro!). É gostoso ver o sol entrando pela janela...

16 de julho de 2007

Para escrever

Ando com preguiça de pensar em qualquer coisa mais complexa do que qual a cor vou pintar a minha parede. Todo o resto me cansa um pouco: as pessoas que ainda não conheço, as que já conheci e as que abandonei. Aliás, nunca fui mesmo muito bom nas tais relações interpessoais. Prefiro até mesmo as "interlitetárias" (meus livros), "interfotográficas" (minha câmera), "interadiofônicas" (minhas músicas) e "intergastronômica" (a comida, os tempeiros e as invenções), simplesmente porque não gosto de usar do tal sorriso forçado seguido do 'tudo bem?', das amizades falsificadas e da necessidade de ser sempre amigável e dizer coisas normais. Qual o problema de dizer "estou pouco me fudendo para o seus problemas, idiota!" ou "acho que essa conversa de política um tédio sem tamanho"? Mas sei que tenho de usar de vez em quando o tal do sorrisinho amarelo, de dizer os temíveis 'tudo bem?' e de fingir todo o interesse ao escutar os problemas familiares e amorosos de quem eu não ligo a mínima. A política, bem, dessa é mais difícil de se livrar, por mais que pouco me importe se o chefe do senado tenha ou não relações promíscuas com lobbistas, jornalistas, pecuaristas e donos de fábricas de refrigerante. Ou mesmo que se recuse a sair do seu cargo apesar de ter todas as evidências de corrupção à sua frente. E que o presidente da república foi vaiado em plena abertura dos jogos pan americanos e ficou com cara de menino mimado que não ganhou o elogio da professora. E daí? O que me importa agora é a cor que pinto a parede do meu quarto...