30 de junho de 2012

Road trip

Subir a Augusta cedinho num sábado de manhã dá uma vontade de pegar uma cerveja e curtir o fim da balada com quem ainda está por ali. Mas eu não estava saindo de uma balada. Meu destino é Santos.

Depois de uma viagem de metrô até o fim da linha azul, bastava só torcer para que tivesse um ônibus partindo pro litoral na hora que eu chegasse no terminal.

E tinha. Não era da companhia que eu queria. Era um ônibus velho, lotado de velhinhas. Mas ok, tenho fones de ouvido, tenho uma seleção boa de músicas. Daqui a uma hora chego. Minha primeira "road trip" desde que me mudei pra cá.

Só quero ver o navio do Greenpeace, reencontrar meu amor e ver o mar.

E, claro, sair um pouco de São Paulo.

Daqui a uma hora espero estar de frente pro oceano!

28 de junho de 2012

M-m-m-mudanças

Estou mudando. É a primeira vez que sinto isso tão concretamente. Mudando, crescendo, amadurecendo, envelhecendo, enrijecendo, endurecendo, tudo assim no gerúndio, num gradiente talvez meio cinza ou talvez apenas menos infantil, menos colorido e aromatizado artificialmente.

Sinto um potencial que eu não conhecia. Até mesmo uma força minha.

Tive de me afastar do meu cordão umbilical, do mundo rosa, das facilidades. Tive de cair em um lugar quase inóspito. Caótico. Incrível.

Não é um processo fácil. Não posso ficar doente, não posso me dar moleza, não posso parar de seguir. Talvez amanhã eu acorde e ache tudo isso uma bosta, o que é bem possível. Mas quem sabe no dia seguinte eu volte a achar que é esse meu caminho. Aliás, independente de tudo, pelo primeira vez é o meu caminho. Afastado de todos e de quase tudo que é tão querido por mim.

Fiquei lutando tantas semanas pra conseguir um pouco de apoio, tentar reafirmar que estou no rumo certo. Mas ninguém pode me dar esse apoio, ninguém pode reafirmar nada. Só eu. E às vezes nem mesmo eu consigo me apoiar.

Agora é engrossar a voz, levantar a cabeça e seguir dando cabeçadas nessa cidade de loucos. Agora é comigo mesmo!

27 de junho de 2012

Argh!

Nunca me senti tão perdido e tão sozinho. Talvez seja parte do processo de amadurecimento. Talvez seja só um pouco de melancolia.

Tenho receio de me tornar frio, distante, engolido pela cidade.

Sinto falta de pequenas coisas familiares, de ter tempo para mim, fazer algum esporte, estudar, receber mimos e ter dinheiro para fazer mais coisas.

Mas conviver com todas essas restrições é necessário por enquanto. É bom ter me afastado da minha família e de quase tudo que estava sedimentado na minha vida. Eu precisava mesmo dar essa movimentada na vida, provar que sou capaz de passar por mudanças drásticas.

Só preciso não perder meu foco, não me abalar com esse monte de obrigações. Logo tudo vai estar mais claro.

26 de junho de 2012

Pés entrelaçados

Depois de tantos dias da sua viagem a trabalho ainda acordo e fico te vendo dormir, só pra ter certeza de que você está realmente ali do meu lado.

E os pés entrelaçados na hora de dormir? E eu roubando toda a coberta? E você dormindo com um cachecol e um gorro boliviano? E chegar do trabalho e te encontrar em casa com o cabelo recém-cortado?

Ainda fico besta com nosso cotidiano juntos. Depois de tanto tempo ainda me vejo completamente apaixonado por você.

22 de junho de 2012

Alguns anos a menos ou a mais

Eu devia estar mais ou menos com uns quarenta e cinco anos. Trabalhava o dia inteiro, ia pra casa, comia, via televisão e dormia cedo para acordar bem para mais um dia de trabalho, casa, comida, televisão. Então lembrei que eu não tinha nem trinta anos. Ou poderia ter ainda menos.

Um show assim no meio da semana, desses de bandas de garagem com o público reduzido a amigos dos membros da banda. Minha vontade era de ligar pra minha amiga, inventar uma desculpa e ir dormir cedo.

Contrariando todos os meus impulsos, tomei banho, me arrumei e fui. Cheguei lá e eu já estava com uns vinte e um anos. Tomei cerveja de balde, ri, lembrei da época de adolescência, ouvi músicos divertidos e que não estavam ligando para tocar bem, mas só se divertir.

Duas da manhã, levemente alcoolizado e feliz. Taxi pra casa, sozinho. O trânsito fluindo, a cabeça a mil, um sorriso. Por que eu fui perder isso de me divertir? Como fui envelhecer tanto?

Alarme toca às sete e pouco, a cabeça dói e a vontade é de ficar embaixo do edredon. Não estou mais com vinte e um, mas também não tenho quarenta e cinco.

14 de junho de 2012

Click

Não tem porque ficar nesse esquema de casa ao trabalho, do trabalho pra casa. Hoje resolvi escapar, dei uma volta depois do expediente, cortei o cabelo e percebi como a cidade é bacana. Foi como se desse um click em minha cabeça, como se eu parasse de olhar pro chão e visse o céu, o horizonte.

3 de junho de 2012

60 dias

Dois meses de São Paulo. Dois meses longe de casa ou dois meses em casa? Aprendi a gostar daqui, com a multidão, o sotaque, a pretensão, os preços. Uma semana sozinho, um apartamento vazio e vazio. Vazio de móveis, vazio de você.

Mas até hoje gosto de abrir a janela e observar o horizonte cheio de prédios e luzes. Ainda me tira o fôlego. Gosto de abrir a porta e dar de cara com a porca, a cachorra e o veado. Gosto de falar com o porteiro e ele me desejar bom descanso. Gosto de descer do metrô e dar de cara com a Avenida Paulista, ver as performances, os executivos, os adolescentes, os trabalhadores. Gosto de descer minha rua, ver os casais de mãos dadas, os bares cheios, o shopping. Gosto de caminhar todo dia mais de meia hora na ida e outra meia hora na volta. Gosto de sentir que estou emagrecendo, mesmo sem estar na academia. Gosto de não precisar pedir dinheiro aos meus pais. Gosto de pela primeira vez trabalhar como advogado.

Mas, claro, uma série de coisas que não aprendi a gostar. A principal delas, a danada da distância. A distância da minha familia, dos meus amigos, dos lugares que vou desde pequeno, do desenho de avião, da seca, dos sorvetes de frutos do cerrado, do bar árabe, do eixão e dos eixinhos, das quadras, dos prédios de caixinha, do lago, das árvores tortas, dos ipês floridos.

Não fiz amigos paulistas ainda. Sou muito fechado e detesto me sentir pedindo favores. Fico na minha bolha, passeando sozinho pela cidade, assistindo filmes em casa, indo a pé para o cinema, para o museu, caminhando por ai, sem rumo, escutando músicas. Vou ao parque com um livro e me sinto um pouco como um aposentado lendo em um banquinho. Detesto ir sozinho a restaurantes, mas tenho ido a alguns aqui perto, escolho sempre algo diferente.

Sei que poderia estar ainda em Brasília. Poderia ter tentado mudar de emprego lá. Mas aqui a mudança faz ainda mais sentido. Estou feliz como resultado desses dois meses. Da dificuldade no começo, da alegria de ter conseguido um emprego em um escritório bacana, de aprender a andar pela cidade e entender os caminhos, não ter carro.

No fim acabo percebendo que tudo gira, tudo muda, mas acaba sendo a mesma coisa.