28 de setembro de 2023

Ida e volta



De volta. É difícil, mas ter ido compensa tudo. É importante sair da rotina, sair de tudo, chegar em outro planeta em que tudo é diferente. Outras comidas, outras pessoas, outra língua. E é bom ter para onde voltar, mas a volta é difícil. O mundo continua a roda, então tudo é diferente na volta, inclusive eu mesmo. Mas é preciso voltar, para depois ir de novo em outro momento. Como um pêndulo eterno. Vai e volta. O pêndulo é eterno, mas cada movimento é diferente. Voltar é difícil, mas é preciso voltar. E rever tudo. Mas também reencontrar, inclusive comigo mesmo. Depois de tanta cor, sabor e som, acho que é importante voltar para o cinza, insosso e silencioso para entender mais essas cores, sabores e som e pensar nos próximos.

25 de setembro de 2023

Peru



O Brasil se considera um continente, diferente dos outros países da América Latina. Não chegam muitas informações ou notícias dos vizinhos, a não ser quando ocorre algo muito fora do comum, mas em geral mesmo assim são pequenas notas. 
Antes de viajar ao Peru eu só sabia que lá se come ceviche, quinoa e milhos de vários tipos, não necessariamente nessa ordem. Vizinho ao Acre. E que lá estão as ruínas dos incas, principalmente Machu Picchu. E que houve uma tentativa de golpe de estado há poucos meses, com a prisão do presidente. Pronto, pequeno resumo da cultura peruano que chega ao Brasil.

Para comemorar meus quarenta anos fomos para o Peru. Voo direto de Brasília a Lima, poucas horas. E depois para Cusco, a capital do império inca e o umbigo do mundo inca. Assim que chegamos já deu para sentir uma identificação, pois há muito mais coisas parecidas do que diferentes. Colonização europeia, desigualdade social e instabilidade política. 

Cusco me pareceu um pouco as cidades históricas mineiras com suas ruas de paralelepípedo e os sobrados coloniais. Mas sem a escravização africana e o extermínio dos povos tradicionais. E com as ruínas incas, construções que resistiram a séculos de colonização e a vários terremotos.

Machu Picchu foi um dos lugares mais lindos que eu já fui. Até agora não consigo explicar. O trem (com uma pequena peça de teatro musical), o ônibus (rente ao despenhadeiro), a chegada de perder o fôlego, as ruínas em si, os alinhamentos com o sol e as estrelas. Sentir a cultura inca ainda tão viva. O condor, o jaguar e a serpente. As lhamas e alpacas pastando aos pés das ruínas. Tão tranquilas, como grandes poodles misturados com ovelhas e camelos.

Lima parece uma mistura de Rio de Janeiro com São Paulo. Uma metrópole com praia, cheia de restaurantes e cafés, igrejas coloniais. Mas bem segura e limpa.

Foram muitos ceviches, chichas moradas, inca colas, chicharrónes, choclos, arroz chifas, tacu tacu, lomo saltado, cusqueñas, piscos e tudo mais. Voltei apaixonado pelo Peru, pelos soles, pelas lhamas, alpacas, cuis (não tive coragem de comer os porquinhos-da-índia). As pessoas todas muito simpáticas, muita gente com roupas típicas sem ser para turista ver. Uma viagem perfeita! Mal posso esperar para voltar. Mais fotos aqui.

11 de setembro de 2023

40tinha



Cheguei nos quarenta. Não foi fácil chegar até aqui, mas nunca é. Claro, não faltaram crises, mas também teve muita risada e muito amor. Não gosto de ser o centro das atenções, então é bem difícil organizar uma festa de aniversário e ser o anfitrião, mas respirei fundo e fui. Contratei churrasqueiro, garçom, preparei um convite, encomendei o bolo e os docinhos com minha amiga, conversei com várias pessoas e comprei aos poucos as bebidas. Decidi fazer na churrasqueira da casa dos meus pais, da casa da minha infância. O quintal cheio de plantas, um dia de sol. Meus pais chamaram alguns amigos e eu decidi chamar apenas as pessoas que considero família, não queria algo muito grande. Pensei em 25 pessoas, mas no final, como foi no meio do feriado, vieram umas vinte. E foi ótimo. Um dos dias mais divertidos que eu já tive. Esses rituais são importantes. Certamente se eu não tivesse comemorado eu teria me arrependido. Fiquei muito cansado, mas com um sorriso de orelha a orelha. E todos se divertiram muito, inclusive meus pais. O único contratempo foi uma tentativa de golpe bancário bem na hora que eu ia cantar os parabéns. Depois liguei para o banco e correu tudo bem.

Finalmente chegaram os 40 e estou feliz de envelhecer. O mais difícil é que o tempo não fica parado, então todos envelhecem, inclusive os mais velhos. Mas é a regra. O tempo cronológico só vai em uma direção, implacável. O jeito então é seguir e aproveitar os bons momentos, comemorar sempre que possível.

O bom do aniversário cair no final de semana é que foram dois dias de festa. No sábado o churrasco e no domingo apenas preguiça. Meu marido encomendou pães, croissants e muitas coisas gostosas para um café da manhã especial aqui em casa. Até pensei em sair, mas depois da festa senti tanto cansaço que queria apenas ficar em casa. Aliás, tenho amado cada vez mais minha casa. Talvez já é um indicativo da passagem do tempo.

Eu não me sinto velho, mas ao mesmo tempo sei que não sou mais jovem. Não sei o que vai acontecer nos próximos anos. Sei que sou apegado e acomodado, mas também sei que tudo tem seu tempo. Espero viver bastante e viver muitas vidas. Quem sabe quais novas oportunidades podem aparecer. De qualquer forma sei que sou cauteloso e me preparo sempre para os momentos difíceis. E que venham os próximos anos. Tenho gostado muito do que já vivi, talvez a metade da minha vida tenha passado e é ótimo. A vida não é para sempre.

8 de setembro de 2023

Respiro e tradições



Tenho uma tradição de sempre tirar férias perto do meu aniversário. E agora não foi exceção. Consegui tirar uns dias fora do trabalho para comemorar meus quarenta anos e ainda viajar aqui pela América Latina. Na frente do prédio tem um ipê rosa que sempre floresce no começo de setembro e segura a floração até meu aniversário. Virou também uma pequena tradição. Assim que saio do prédio a pé ou de carro vejo logo em frente esse ipê lindo e agora florido. Aproveitei uma caminhada para ir mais perto dele, sentir as pétalas que caiam com o vento, como em um filme japonês antigo, só que não é floração de cerejeira, mas é quase. Gosto de observar esses pequenos tesouros da vida. Enquanto vejo o por do sol da janela do escritório aqui de casa escrevo esse texto e deslogo dos sistemas do trabalho. Sinto uma felicidade calma. Um respiro. Estou feliz comigo mesmo e com minhas escolhas. Feliz em envelhecer. Feliz.

6 de setembro de 2023

Mergulho do corpo



Chegou um convite para um evento presencial de trabalho. Na mesma hora já me veio a ansiedade de sair completamente da minha rotina e de deixar meu cachorro sozinho em casa. Mas então o jeito é resolver uma coisa de cada vez. Não tenho mais roupas de trabalho, pois há quase quatro anos trabalho de casa, ou seja, camiseta e bermuda. Na mesma hora entrei em uma loja online e escolhi algumas camisas de botão, que foram entregues antes do dia que eu precisei ir ao evento. Programei vários lembretes no calendário do meu celular, pois sempre imagino que minha versão do futuro não tem nenhuma memória.

Na noite anterior já não dormi direito, acordei bem mais cedo do que de costume. Brinquei com meu cachorro e expliquei para ele que precisava ficar o dia todo fora. Coloquei um café da manhã caprichado para ele, descemos para passear e depois meu café. Esqueci como o trânsito de horário comercial é pesado. Como é bom trabalhar de casa. Cheguei, não tinha mais cadastro e não havia feito minha biometria, mas expliquei que vim para o evento e me liberaram com crachá provisório. Assim que entrei encontrei um colega da época da faculdade e que também ia para o evento. Conversamos. Fui para o setor do meu trabalho conversar com os colegas que estão no presencial. Foi bem legal rever as pessoas e conhecer outras tantas que só via pela janelinha da videochamada. 

Hora do evento. Muitas palestras. Mais encontro com colegas. Almoço com o pessoal no restaurante de quilo de comida nordestina. Mais palestras. Pausa pra o lanche. Conversas com outros colegas. Fim do evento. Engarrafamento. Já chego em casa de noite. Meu cachorro briga comigo, mas abana o rabo e já está feliz que vai comer seu jantar. Estou completamente esgotado do trânsito e das interações sociais.

No dia seguinte a mesma coisa, mas dessa vez na hora do almoço vou a um centro cultural ao lado do meu trabalho ver um pouco de arte. Oiticica e Portinari. Parece que sou turista na minha própria cidade. É bom ter um respiro de arte no meio de tudo isso. Saudades da minha casa. Mais palestras. Engarrafamento pior do que do dia anterior, chego ainda mais tarde e meu cachorro já está adaptado a essa nova rotina. Mas bom que foram só dois dias.

É bom sair da rotina, viver coisas novas, reencontrar colegas, interagir. Mas eu gosto mesmo da minha boa e velha rotina.