27 de junho de 2011

Cegueira

Não consigo ver direito. Desde pequeno uso óculos, aliás não apenas uso, mas sou completamente dependente deles, pois colocá-los é a primeira coisa que faço ao acordar e a última antes de dormir. E mesmo assim consegui perder meu par de óculos. Eu sei, tenho lentes de contato e óculos de sol com grau, mas não é a mesma coisa. Mas o que me deixou mais intrigado foi dilatar minhas pupilas no oftamologista para fazer uma nova receita para levar à ótica. Aumentou um pouco, ok, era de se esperar. Mais tarde eu tinha um compromisso, então coloquei minhas lentes, apesar dos meus olhos parecerem o olho escuro do David Bowie, e fui. Não sei bem a razão ou o risco que corri, mas eu havia perdido a habilidade de enxergar de perto, apesar de ver perfeitamente de longe. Algo como uma "vista cansada" antecipada e fulminante. Não enxergava as horas no telefone, os números da máquina do Visa ou mesmo qual era o número da minha poltrona no teatro. Fiquei horas nessa cegueira, realmente com medo de não voltar a enxergar. Mas voltei. E isso me fez pensar em outro tipo de deficiência visual, quer dizer, na minha dificuldade de enxergar minha própria vida, minhas habilidades e como eu quero meu futuro. Isso além de me cegar, me angustia e paralisa. Hoje precisei parar tudo e tentar me focar. Ainda não enxergo muito bem, mas acho que logo logo terei uma visão melhor. Ou ao menos uma visão menos restrita da minha vida. Sabe, diminuir um pouco o zoom e prestar atenção na figura como um todo.

22 de junho de 2011

Tecer

Estou em um momento artesanal da minha vida. Crio, recrio, destruo, reconstruo e faço tudo de novo. Sinto que ao arrumar a bagunça que estava a minha casa, depois de umas duas semanas sem qualquer tipo de faxina, depois de algumas pequenas viagens, bem, precisei mesmo parar e reorganizar, ou melhor, ajeitar, quer dizer, dar meu jeito às coisas ao meu redor. Sinto que ao ajeitar, jogar fora o que não mais me servia e fazer uma faxina braba com minhas próprias mãos, redescobri a vontade de criar. E me redescobri. Encontrei um furacão, desses que são capazes de destruir pequenas cidades, desses que juntam céu e mar numa imensa tromba d'água. E me refiz, me reencontrei, me reanimei. E enxerguei que sim, pode rolar um futuro legal. E o fluxo de criação segue e não sei aonde vai dar. E isso é ótimo! Livre...

18 de junho de 2011

Imaterial

Desapegar tem sido mais fácil do que eu imaginava. Na verdade não se trata de um desapego, mas de uma troca: do material para o imaterial, do analógico para o digital. Não escuto mais cds, mas sim os arquivos em mp3. Quase não revelo mais as fotografias e ainda digitalizo as antigas. Comecei a ler alguns livros em pdf, mas ainda não consigo abandonar meus livros de papel. Tudo fica digital, mas ao mesmo tempo mais leve, mas fácil de carregar. Alguns arquivos nem estão mais no computador, mas sim, sei lá, na nuvem, como dizem agora, fácil de acessar por qualquer notebook ou telefone ligado à internet. Seria um desapego material ou um apego imaterial?

16 de junho de 2011

Nós

Ele ficava no quarto quando pequeno, pois sua mãe sentia um pouco de vergonha de sua aparência. Deitava e pensava na vida. O fato de sua mãe o achar feio não o incomodava. Sempre foi meio introspectivo. Ela ficava também em seu quarto, gostava de ler. Tinha coleções de clássicos e lia sem parar. Sua mãe sempre gostou mais dos filhos do que da filha, mas isso não a incomodava muito. Eu sempre fui mais introspectivo, desde pequeno. Não chorava muito, de acordo com meus pais. Sempre fui calado. Gostava de ler, de ouvir música no quarto. Meu avô uma vez disse que eu não fui um bebê bonito e isso nunca me incomodou.

Alguns aspectos da vida sempre se repetem.

2 de junho de 2011

Medo

Tenho medo. De falhar, de não conseguir mudar de vida, de não crescer, de estagnar na vida, de não exercer todo o meu potencial. Esse medo me paralisa, sinto um frio na barriga, penso em desistir de tudo. Mas não paro, não desisto, pois a minha vida chegou em um ponto em que não é mais possível ficar do jeito que está. Então de um lado aquela montanha de medos, de outro um enjôo, uma náusea da situação atual. E aí? Fico embaixo da cama em posição fetal ou tento mudar? Já planejei - claro, sempre planejo tudo! -, mas quando vou colocar em prática? Ainda não achei o equilíbrio e talvez isso seja bom. Ao menos é o que eu quero acreditar.