27 de janeiro de 2023

Dias ligeiros



Os dias passam ligeiros. Outro dia era réveillon e de repente janeiro já está no final. Talvez seja a quantidade de trabalho, reuniões e tudo mais, mas cada dia que passa percebo como eu gosto de trabalhar de casa. Não sinto falta de nada da época de trabalhar na firma. O meu trabalho é o mesmo, mas a qualidade de vida, quanta diferença, apenas para parafrasear aquela propaganda antiga de creme para cabelos. E meu colega de escritório tira longas cochiladas na almofada que deixei perto de onde eu passo a maior parte do tempo. Eu nunca imaginei que eu poderia trabalhar assim e não cansei, mesmo após três anos. Gosto de silêncio, gosto de ficar sozinho e amo minha casa. Que bom que já chegou a sexta...

23 de janeiro de 2023

Livros 2022



Continuo com o hábito de ler quase todos os dias depois do almoço e em 2022 consegui ler livros maravilhosos. Não teve nenhum livro que não gostei, mas alguns me marcaram mais. Peguei indicações de vários lugares, anoto sempre no bloco de notas de celular. E alguns livros puxaram outros. Percebi que a capa do meu kindle ficou bem marcada com o tanto que ele foi levado comigo em bolsas e mochilas, além de ir e voltar da praia. 

O álbum branco - Joan Didion
Eu tinha visto o documentário da Joan Didion na Netflix e fiquei com vontade de ler mais textos dela. Ainda não tive coragem de ler o livro sobre a morte do marido e da sua filha, então peguei um mais leve. O álbum branco é uma leitura deliciosa.

Homens sem mulheres - Haruki Murakami
Todos os anos tento ler algum livro do Haruki Murakami, um dos meu autores favoritos. Nesse livro de contos há o que virou um filme de muito sucesso (Drive My Car), que eu ainda não assisti, mas o conto é maravilhoso. Não tem erro para mim, o texto do Murakami é sempre sensacional.

Kadosh - Hilda Hilst
Eu não entendi muito bem o Kadosh, mas não preciso entender para gostar. O texto de Hilda Hilst veio como ondas, sensações e cores. Vários fluxos e imagens na minha mente. 

Antropoceno: notas sobre a vida na Terra - John Green
Esse livro do John Green ouvi por indicação no podcast de Aline Valek (o Bobagens Imperdíveis) e foi uma leitura leve e muito interessante. Eu me senti lendo os blogs de antigamente e aprendi várias coisas sobre aqueles adesivos de arranhar e que soltam um cheirinho, algo que não fez parte da minha infância.

Breasts and eggs - Mieko Kawakami
Eu não lembro onde peguei a indicação para esse livro, acho que foi no podcast da Companhia das Letras ou no da 451 mhz. Fiquei curioso com o título e valeu a pena. A história de uma moça japonesa que recebe em sua kitnet a visita da irmã e da sobrinha. A irmã quer fazer uma cirurgia de implante de silicone. O livro traz ainda a questão da maternidade, a falta de desejo sexual e vontade de ter filho sem estar em uma relação amorosa. Eu adorei o livro e fiquei com vontade de experimentar um chá gelado de cevada que as personagens sempre tomam, o mugicha.

O avesso da pele - Jeferson Tenório
Eu ouvi falar muito desse livro há meses e finalmente consegui ler. O livro é doloroso, mas é impossível de parar de ler. Uma história de violência policial, racismo, a dificuldade de ser professor na periferia e de luto. Mal posso esperar para ler os outros livros de Jeferson Tenório. E ainda deu de presente para uma amiga, junto com o livro da Natércia.

Os tais caquinhos - Natércia Pontes
Eu conheci a Natércia na época que morava em São Paulo, ela é amiga de um amigo. Quando vi que ela lançou esse livro fui atrás para ler. O livro é doloroso também e muito sensorial, mas é uma leitura voraz. Depois de terminar fiquei um bom tempo com essa história na cabeça. E escutei muito "Pra começar", da Marina Lima, música que inspirou o título.

Se o passado não tivesse asas - Pepetela
Eu nunca tinha lido  um autor angolano. Ganhei esse livro de uma amiga há muito tempo, tinha começado a ler, mas não engrenou, pois são muitas expressões diferentes do Português do Brasil. Mas dessa vez recomecei e a história me cativou e aprendi muitas expressões angolanas, como o bué (que é muito). Fiquei curioso nos pratos e bebidas citadas e percebi como há mais semelhanças com o Brasil do que eu pensava. As duas histórias são bem costuradas, com dois recortes temporais. Fiquei curioso para ler outros livros de Pepetela e outros autores angolanos.

Pequenos discursos. E um grande - Hilda Hilst
Eu adoro Hilda Hilst, mesmo sem entender alguns de seus livros. Estou lendo a coletânea de prosa picadinho para durar mais.

O guia definitivo do mochileiro das galáxias - Douglas Adams
Precisei de um pouco de leveza e ficção científica e lembrei do Guia do Mochileiro das Galáxias. Peguei essa coletânea com todos os livros (a trilogia de cinco livros) e adorei todos os personagens e os nomes malucos. Agora consigo entender a necessidade da toalha e tudo mais, que sempre é mencionada no dia 25/05. Ficção científica é sempre sobre a nossa realidade, mas de uma outra forma. Gostei das críticas, dos personagens, do ambiente. E gostei que começou como um programa de rádio. Algumas coisas muito inglesas eu não consegui captar completamente, mas de qualquer forma é uma ótima leitura.

A elegância do ouriço - Muriel Barbery
Peguei essa indicação no podcast da 451 mhz. E valeu cada minuto. Eu adorei a história da concierge que gosta de ler e estudar. E da adolescente filha de ricos e que não quer mais viver. O livro é curtinho e uma leitura maravilhosa.

Anna Karenina - Leon Tolstoy
De tanto que Anna Karenina é mencionado em A Elegância do Ouriço (os nomes dos gatos de dois personagens importantes são Levin e Kitty (dois personagens importantes em Anna Karenina) e Leon (o autor). O livro é denso, mas entendi porque é um clássico. Os personagens são todos muito bem construídos e desde o começo já percebemos que o destino de Anna não vai ser dos melhores, ela precisa ser uma heroína trágica para dar andamento na história. Consegui imaginar a Rússia da época dos czares, as viagens de trem, os agricultores, os chás e cafés nos samovares e as festas da elite. Depois fui ver a versão de 2012 com Keira Knightley e Jude Law, agora já tendo lido o livro e gostei bastante da adaptação mais teatral.

O manual da faxineira - Lucia Berlin
Peguei essa indicação em uma entrevista com a Letrux para o Arte1 e achei que seria um livro leve e engraçado com contos sobre faxinas na casa das pessoas. Esse é um dos livros mais pesados e maravilhosos que eu já li. Contos sobre pessoas marginalizadas e com problemas com o álcool, contos sobre infância, família e histórias quase surreais (como a da neta do dentista que ajudou a extrair os dentes do avô). Pesquisei sobre Lucia Berlin e vários de seus contos são inspirados em sua própria vida. E que somente após sua morte é que seus livros tiveram destaque. Mal posso esperar para ler outros livros de Lucia.

Cidades invisíveis - Italo Calvino
Eu ganhei esse livro na adolescência, mas nunca tinha lido. Depois de uns 20 anos resolvi ler e gostei muito. Imaginei todas as cidades narradas e nessa história costurada por um Marco Polo que inventou todas essas cidades, mas que a partir do momento que ele inventa essa cidades passam a existir. 

Sandman, Endless Nights, Death Deluxe, Overture, Nightmare Country - Neil Gaiman
Depois de ver a série do Sandman no Netflix fiquei interessado em ler os gibis e realmente nunca tinha lido algo assim. Devorei os 75 números originais e mais alguns que saíram após. E mal posso esperar para a 2ª temporada da série.

A viagem do elefante - José Saramago
Tinha tempo que não lia Saramago e chegou para mim esse sobre a viagem de um elefante de Lisboa até a Áustria. Uma história que realmente aconteceu, mas que ganha ainda mais realidade e cor a partir do momento que Saramago decidi contá-la. Fiquei dias pensando no elefante Salomão e no cornaca. 

Querida Kombini - Sayaka Murata
Mais um livro japonês, o terceiro do ano. Eu não podia ficar apenas no Murakami. Esse livro é curtinho, conta a história de uma moça neurodiversa, mas que não sabemos qual é o seu diagnóstico, apenas que ela é diferente de todo mundo ao seu redor e decidi se adequar à "normalidade" trabalhando numa loja de conveniências de uma rede famosa japonesa. A loja tem regras para vestimentas, para falar com o cliente e tudo mais, que a ajudam a guiar sua rotina e sua vida. Ela já trabalha há 20 nessa loja e gostava muito de trabalhar lá, sua vida estava boa, mas todo mundo ao seu redor achava estranho e queria que ela se adequasse a uma vida normal. Eu adorei o livro e me coloquei no lugar da personagem principal. Todo mundo tem alguma neurodiversidade, todo mundo sofre pressão para se adequar. É um livro árido e que ficou comigo muito tempo.

Anos de chumbo - Chico Buarque
Comecei a ler esse livro no avião com destino às férias na Bahia. Eu adoro os livros do Chico e esse livro curtinho de contos maravilhosos. O meu preferido é o do fã de Clarice Lispector. Eu li quase todo no avião e foi uma ótima companhia.

Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres - Clarice Lispector
Esse livro é citado no conto do Chico Buarque o "Anos de Chumbo" e fiquei curioso. Uma mulher e um homem que querem ficar juntos, mas que precisam entender várias coisas antes de ficarem juntos. Uma mulher independente e inteligente. Um livro dolorido, mas com cenas lindas, como o banho de mar solitário de madrugada. O livro retrata as poucas possibilidades das mulheres nos anos sessenta e o que era precisa sacrificar para poder ter uma vida do jeito que se queria. Pensei muito em Lóri depois que terminei o livro. Não sei se é o melhor livro para se ler nas férias, mas foi o livro que li na Bahia.

Tieta do Agreste - Jorge Amado
Eu lembro da novela e o do filme, mas nunca tinha pensado em ler o livro até que foi indicado por Chico Felitti em seu instagram. Aproveitei que estava na Bahia e resolvi ler Jorge Amado. Não poderia ter escolhido um livro melhor. Comecei a ler no final dos meus dias de férias, mas a Bahia me acompanhou até ontem, quando finalmente acabei o livro. Tieta é bem diferente do livro e da novela. E é um livro que não envelheceu. Trata de meio ambiente (ainda não sei o que dióxido de titânio), de política, de corrupção, de hipocrisia, de uma religião cristã menos punitiva e mais harmoniosa e, claro, trata de prostituição como uma empresa e como função social. Tieta é uma personagem maravilhosa e com a capacidade de mudar toda uma cidade. Ainda estou impregnado de Bahia e de Tieta. E que bom!

18 de janeiro de 2023

Saudades do mar



Já tem muitos dias que voltei pra casa. É ótimo voltar, mas sinto muita falta do mar. As ondas, o cheiro, o sal. Gosto de morar aqui no cerrado, longe do litoral. Vivo aqui quase minha vida inteira, mas gosto de imaginar como seria morar em uma cidade de praia. Será que uma hora ela perde o encanto? Talvez seja melhor doses homeopáticas mesmo. De vez quando o mar, a maioria do tempo o cerrado. Sobram memórias, saudades e fotos.

Voltei da Bahia, mas ainda não terminei o livro que comecei por lá. Uma história que se passa na Bahia e na praia. Parece que me transporto para as férias quando leio Tieta, mas já estou quase no final. A volta ao cotidiano tem sido atenuada com a literatura.

Mas a saudade, a imaginação, a criatividade também são formas de viver. Sinto que tenho encontrado de novo um pouco de umidade, sol e maresia. Foi muito tempo num deserto cinza apocalíptico, talvez ainda não tenha entendido quão cinza, desértico e distópico, mas com o passar do tempo vou entender.

Tem tanto sal e água no nosso corpo. O mar está aqui também, em qualquer lugar.

11 de janeiro de 2023

Despaixão



Ando sem paixões, sem vontades avassaladoras. Não sinto a falta de ar, o aperto no peito, a boca seca, a necessidade extrema. Não sinto apego. Não sinto necessidade, apenas as básicas: comer, beber água, dormir. Não tenho desejo. Não tenho sonhos. Sobrevivo desde não me lembro quando. E continuo a sobreviver. Minha única meta é sobreviver. Penso lá na frente, espero ter saúde e dinheiro na minha velhice. Já vivi tempo suficiente para saber que a vida é feita de estações, não apenas as quatro do ano, mas várias estações, algumas que duram bastante tempo. Sinto que estou em uma longa estação, talvez um longo inverno de preparação para sobreviver. Tenho plantado de alguma forma, da forma que é possível, não sei quando ou o que irei colher. Nesta estação a vida está pequena. Leituras, músicas, conversas, passeios. Vida pequena sem grandes planos, mas vida mesmo assim. A vida também é miúda e simples. Sem gerúndios e superlativos. Vida simples, quase no infinitivo, mas no presente, indicativo. E continuo, sobrevivo, miúdo. 

10 de janeiro de 2023

Distopia brasiliense



Domingo eu fui dormir mal ao ver a destruição da Praça dos Três Poderes por tantos fanáticos. Eu não conseguia imaginar ser possível tanta irresponsabilidade das forças de segurança que deveriam cuidar desses prédios e tanta maldade das milhares de pessoas que se deslocaram a Brasília para rasgar obras de arte, destruir vidraças, quebrar móveis, roubar e destruir tudo o que estivesse pela frente. Parecia que eu assistia a um filme distópico na TV, mas que se passava a alguns quilômetros de casa. Espero que essa cena não se repita e que possamos aprender a evitar tudo isso. E que os responsáveis paguem por todo esse estrago. E é bom saber que o Governo Federal e os demais poderes agiram rapidamente, já que o GDF não fez nada, aliás, apenas ajudou na destruição.

2 de janeiro de 2023

Posse


Depois de quatro anos de tristeza, violência e banalização da morte, finalmente foi possível respirar aliviado com posse para o terceiro mandato de Luís Inácio! De manhã, com ressaca do ano novo, a gente acompanhou pela televisão, mas no final da tarde fomos para um dos festivais de música mais maravilhosos que eu já participei. Fomos de metrô, andamos pela rodoviária e pela Esplanada junto com uma multidão de pessoas. E foram tantos artistas que me emocionaram (Maria Rita, Martinho da Vila, Tulipa, Fernanda Takai, Otto, Odair José), além de um discurso surpresa do recém empossado presidente. Os shows foram até de manhã (teve ainda Pabllo, Duda, Walesca, Gaby, Margareth Menezes e muita gente) e foi com o coração apertado que fomos embora um pouco antes de meia noite, mas muita gente ainda chegava enquanto fomos pegar nosso metrô para ir embora procurar algum lugar pra comer. E mesmo com as ameaças de bombas, tiros e tudo mais, que não passaram de ameaças dos extremistas, foi uma sensação indescritível sentir paz, amor e tranquilidade com um novo governo preocupado em reconstruir o país e unir as pessoas. Cheguei em casa com as pernas doloridas e um cansaço sem tamanho, mas com o sentimento de ter participador de um momento histórico e que me encheu de lágrimas de alegria em vários momentos. Estou aqui com ressaca de sono e com dor no corpo, mas muito feliz. E fez um dia de sol lindo, atípico para essa época de muita chuva.

1 de janeiro de 2023

Ano novo


Os últimos réveillons temos passado em casa, mais simples e mais introspectivos. O ano novo é uma data que eu sempre fico bem pensativo, acho que é uma forma de fazer um balanço. De qualquer forma tenho gostado de envelhecer, a passagem do tempo tem sido boa. Então fomos nós três aqui em casa e, claro, os vizinhos sempre se empolgam com os fogos de artifício, mas Tominhas está um pouco mais tranquilo. Demos um ossinho defumado e ele não se estressou tanto com o barulho dos fogos e nem foi se esconder no banheiro. Abrimos uns vinhos, fizemos um pedaço de pernil, farofa, arroz, lentilha e compramos rabanadas e pães recheados para o dia seguinte... Mas mesmo com uma tacinha de espumante à meia noite, acordei com ressaca e azia... De qualquer forma 2023 já começou ótimo!