5 de fevereiro de 2020

Rotina e respiro


Eu tenho vivido em ciclos semanais. Segunda a sexta, depois sábado e domingo. Repete. Não é um ciclo ruim, consigo organizar algumas coisas, repito outras e a passagem do tempo fica mais digerível e menos fácil de gerenciar.

Meus cafés da manhã são quase sempe os mesmos (frutas, iogurte, cuscuz ou tapioca ou pão e um chá para tomar no caminho para o trabalho), o almoço é geralmente o mesmo de segunda a sexta com minha boa e velha marmita feita no domingo. Na quinta a noite rola uma faxina na casa. Na sexta compro algumas frutas e verduras na feira orgânica do meu trabalho. Depois temos nosso happy hour com a casa limpa e é o melhor momento da semana. Sábado vamos na feira a pé e tomamos café da manhã na padaria que fica no caminho ou então na própria feira (pastel frito ou bolo e salgado). Na feira tem uma rotina também nas mesmas barracas (feijão a granel; queijo e pão de queijo; verduras, frutas e capim santo; linguiça, bacon e alguma outra carne artesanal; sabonetes; suco de cupuaçu). De vez em quando vamos para algum bar ou festa com os amigos (geralmente Beirute e alguma festa de música brasileira) no sábado à noite. No domingo eu almoço com meus pais e a família da minha irmã, geralmente em um restaurante perto da casa dos meus pais ou então um de comida natural seguido de um sorvete artesanal. Quase sempre durmo no sábado a tarde e no domingo de tarde, um sono leve enquanto escuto tv. Domingo de tarde a gente faz a comida para a semana e de noite pedimos pizza e vemos algum filme ou série na tv. E então começa tudo de novo.

Eu tinha muita ansiedade quando era mais novo, principalmente no final dos domingos. O passar do tempo me agoniava, mas aos poucos moldei essa rotina e fiz as pazes com o tempo. E tenho gostado do passar do tempo, da rotina. Talvez isso seja envelhecer. Tem sido bom.

Depois de alguns anos vou querer reler esse texto para ver se a rotina se manteve ou o que mudou.

Esses dias me bateu uma leve tristeza, mas então olhei o restinho de sol pelo janela da sala, respirei e tirei essa foto. E me senti muito feliz por ter essa vida e poder ver esse céu tão bonito, respirar. Ouvi meu marido que fazia alguma coisa no quarto e vinha para a sala. E então só o abracei bem demorado.

A gente não é acostumado a ser feliz. Alguma parte da nossa mente fica em um constante jogo de "falta isso ou aquilo". Uma insatisfação crônica. Claro que tudo pode melhorar e nada é constante, mas é bom respirar e calar um pouco essa voz de insatisfação. Tem tanta gente na merda. Preciso parar e respirar mais vezes.