30 de junho de 2021

Caminhadas



Já virou meu hábito caminhar com Tominhas de manhã cedo. Fazemos quase sempre o mesmo percurso aqui perto de casa. Ele já domina o caminho, pula na grama, sobe e desce nos meio-fios, quer saber tudo o que acontece. Enquanto a gente caminha escuto podcasts, penso na vida, presto atenção ao que acontece ao meu redor. Só depois que ele chegou que finalmente tenho a sensação de viver em um bairro. Dou bom dia para algumas pessoas, conheço mais as ruas aqui perto, as fachadas das casas, imagino histórias dos moradores. É uma sensação boa para começar o dia, antes mesmo de tomarmos nosso café da manhã. Tenho gostado da nossa rotina matinal.

28 de junho de 2021

Fora!

Está difícil viver no Brasil em 2021. Estamos com o pior presidente na pior crise sanitária. Uma pessoa insensível, estúpida e genocida. Mais de 500 mil pessoas faleceram em decorrência do COVID-19 e os números de infectados e mortos continuam a crescer. Poucas vacinas disponíveis, mesmo com a expertise e a capilaridade do SUS. Não temos opção a não ser sobreviver, mesmo que abandonados pelo governo. Mas vamos sobreviver. Uma hora esse presidente sairá do poder, uma hora uma pessoa mais sensata vai ocupar o Palácio do Planalto. 




25 de junho de 2021

Sexta!



Finalmente outra sexta. A semana passou até rápido, mas é dolorido. A pandemia continua, mortes, contaminações. Quase sem notícias boas. Mas o jeito é sobreviver. Ao menos chegou a sexta, vai ter vinho, vai ter conversas com meu marido, vai ter música. Um pouco de alento.

23 de junho de 2021

Saudável



Tenho gostado de comer de forma mais saudável nos últimos tempos e tem sido muito bom notar que não tenho mais tanta azia e nem problema de digestão. E tenho conseguido emagrecer. Os quarenta já estão bem ali e quero ser mais saudável. A gente tem dividido as tarefas aqui: meu marido faz as comidas no domingo e eu fico com a faxina da casa. Na semana a gente só esquenta e come. Domingos já são meio chatos mesmo, mas agora é o dia quase todo trabalhando. Tem valido a pena.

22 de junho de 2021

Ovos no purgatório / Shakshuka



É gostoso falar shakshuka, mas é melhor ainda de comer. Significa simplesmente "mistura" no árabe do Magreb. Eu vi a receita em vários programas de televisão, mas é mais uma orientação. Fizemos um molho de tomates assados, congelamos e resolvemos fazer almôndegas com o molho para comer com pão no final de semana passado. Claro, sobrou muito molho, mas não o suficiente para uma grande refeição. Resultado: ovos no purgatório (ou shakshuka). Fiz a versão individual para um café da manhã mais diferente no meio da semana. Bastou esquentar um pouco do molho em uma frigideira pequena, quebrar um ovo com cuidado, colocar um pouco de sal, pimenta e ervas (tinha tomilho aqui em casa) em cima da gema, tampar por alguns minutos e pronto. Enquanto isso, cortei em tiras um pouco de pão e deixei na chapa de ferro com um pouco de manteiga. Depois é só colocar com cuidado em uma cumbuca e comer. E de repente nem parecia que eu estava em casa... Que delícia! Já que não dá para viajar na pandemia, o jeito é fazer comidas de outros lugares.

21 de junho de 2021

Família



Família é uma relação complexa. Cada pessoa é de um jeito, mas parece que não conseguimos enxergar essa individualidade. Eu sou o mais novo e acho que até hoje as pessoas da minha família me enxergam como "café com leite". É cansativo e preciso me posicionar mais, já tenho quase quarenta anos, mas minha imagem ainda não foi atualizada no sistema familiar. Família é complexo demais. São relações fortes e ao mesmo tempo frágeis, muito amor, muita tensão. E a pandemia complica tudo ainda mais. Viver com medo de tudo o tempo todo e por quase um ano e meio é algo impensável. Mas o jeito é seguir em frente e tentar melhorar.

11 de junho de 2021

Sexta!



Finalmente chegou a sexta. As semanas após feriado sempre parecem mais longas. Quase como se tivesse vivido o dobro de dias. Aliás, não tem sido nada fácil viver no Brasil nos últimos meses. Mas o importante é sobreviver. E me dei conta que não chorei nenhuma vez desde o começo da pandemia. Nenhuma lágrima, mesmo com séries e filmes tristes, mesmo com dias tristes no trabalho, mesmo com dias tristes na pandemia. Eu sinto raiva, muita raiva. Raiva do país estar desse jeito, raiva do descaso do presidente, raiva das 500 mil mortes que poderiam ter sido evitadas, raiva da exigência de fingir que nada disso tem acontecido para continuar a trabalhar e a estudar. Descobri que a raiva é maior que a tristeza e sinto que vou chorar uma cachoeira quando tudo isso acabar. Essa tristeza uma hora vai sair. E vai ter muito choro, de alegria e tristeza.

10 de junho de 2021

Paçoca



Adoro festa junina. O clima mais frio, comidas gostosas, milho e amendoim. Essa semana na encomenda das compras pedimos paçoca (é tão fácil de falar e estranho escrever, acho que é esse cedilha no meio da palavra). Minha família é do nordeste, então há dois tipos de paçoca na minha vida, a doce (rolha ou quadradinho de amendoim) e a salgada (farofa de carne seca desfiada no pilão). Eu gosto das duas. Mas a doce é vendida em todos os lugares, especialmente agora na metade do ano. Chegaram as compras e, depois de guardar tudo, preparei um café e comemos. É uma sensação tão boa. Um pouco de infância, um pouco de velhice. É preciso comer com cuidado para não esfarelar. É como a vida...

7 de junho de 2021

Feriadão



Eu precisava não fazer nada. Nem aula, nem trabalho, nada. E foi ótimo ter vários dias para não fazer nada. Acordei hoje sem saber direito que dia era, se precisava ou não trabalhar, mas em alguns segundos me lembrei que é segunda. E sim, preciso trabalhar. Tenho gostado de trabalhar em casa, não sinto falta do trabalho no escritório, nem do percurso de carro. Adoro minha casa e a companhia do meu marido e do nosso cachorro. Já quero mais feriado, mais clima frio, mais coisas de arraial.

3 de junho de 2021

Cogumelo

Eu adoro cogumelos. Shiitake, shimeji, paris, champignon, funghi. Eu fui experimentar um cogumelo fresco só quando já estava adulto, antes era só o champignon em conserva, que até hoje compro pra usar no bom e velho Strogonoff de frango. 

No jardim da casa dos meus pais de vez em quando nascia cogumelos no chão ou em então as orelhas de pau nos troncos de árvores. Sempre senti um certo receio, apesar de saber que as orelhas de pau são comestíveis. 

Comecei a ler o novo livro do Michael Pollan e fiquei mais curioso sobre cogumelos. Resolvi experimentar psilocobina. Devagar, apenas para ver como são. Eu e meu marido, luz baixa, playlist especial, um pequeno ritual para nós dois. A importância do "set and setting", o ambiente sonoro, visual, a segurança e a dosagem. Eu com menos e ele com mais, eu cuidaria caso acontecesse algo. Na vez seguinte invertemos os papeis. 

Uma sensação boa de conexão com o universo. As plantas da minha casa respiravam, as nuvens formavam desenhos que pareciam rochas e cavernas no céu. Introspecção, pensamentos soltos, ideias, o tempo passou ligeiro. Nada de televisão ou celular, apenas nós dois, a música, a respiração, os pensamento.

Na semana seguinte eu com mais e ele com menos. Sensação boa, introspecção, mas agora mais forte. Estampas que se moviam pela parede, plantas inspiravam e expiravam. Parecia haver um tecido fino nas paredes e com muitas plantas por trás. Lembrei a dica do livro do Pollan para apenas aceitar e seguir, não ter medo. Senti um pouco de enjôo e preguiça. Fechei os olhos e parecia que minhas pálpebras eram transparentes, não tinha muita diferença entre estar com olhos abertos ou fechados. A casa se transformou em uma floresta iluminada pelo luar. De repente eu era outra pessoa, vivia e experimentava a vida e então percebia que me enganei, estava em casa. Outra história começava e eu era outra pessoa. Deixei de ser eu mesmo, esqueci das minhas coisas, da minha história. E então me lembrava e me sentia enganado. Depois veio uma sensação de que fiz algo errado no trabalho, mas não lembrava o que era. Mas não importava. Deixei passar, lembrei que era engano novamente. Voltei para a floresta. Cheguei em uma personificação do mundo, uma montanha com rosto. Não tive medo e me senti acolhido. Uma floresta tranquila. Ouvi de longe um sino meio budista, mais sinos. Era o panelaço contra o maldito presidente. Alguns xingamentos, mais panelas. Aos poucos voltei para a minha floresta.

A música conduzia tudo, músicas New Age. De repente reconheço uma Enya ao fundo. A floresta se tornou toda em tons de roxo, folhas, flores e borboletas. E eu planava no ritmo da música. Uma sensação gostosa por todo meu corpo. Depois uma música indígena e cheguei em uma colina, perto de um precipício.  

Aos poucos voltei. A música continuava. Uma sensação boa no corpo todo. Um cansaço de viver tantas coisas. Foram quatro horas de várias vidas, locais, pensamentos. Autoconhecimento. A vida é tão complexa. Não apenas o que vemos. Que bom existem os cogumelos. 


2 de junho de 2021

Respiro e cores



Tem dias que a vida melhora um pouco. Acho que ter uma rotina mais saudável ajuda. Caminhar com o cachorro pela manhã, caminhadas pelo bairro a tarde, comer melhor, saladas, frutas, iogurte, pouca carne vermelha. Tem dias que parece haver um respiro.