31 de julho de 2020

Ventania


Deu um vento danado aqui hoje de tarde. As cortinas foram para o lado de fora e me senti uma casa de praia. Uma casa isolada no litoral. Quem dera. Mas quem sabe o final de semana vai ser de muitos ventos bons...

30 de julho de 2020

Dia de feira


Eu sinto uma saudade imensa de ir à feira. Nos sábados eu e meu marido íamos a pé até a feira aqui perto e já tínhamos feito amizade com as pessoas de algumas barracas. Acabamos sempre nas mesmas. A barraca de hortifruti, a barraca de queijos e a barraca do holandês para comprar embutidos e carnes. De vez em quando a gente tomava café da manhã ou então comíamos pastel com caldo de cana. E às vezes um suco de cupuaçu na barraca do Pará. Ainda tinha a parte de eletrônicos em que dava pra comprar película de vidro e capinha de celular. Era o nosso passeio de sábado. Mas desde que começou a pandemia achamos melhor não sair de casa e desde então pedimos entrega tanto de mercado quanto de hortifruti. Tem sido uma experiência boa. Hoje foi o dia de entrega e adoro ver o tanto de cores quando tiro da embalagem e higienizo tudo antes de guardar. E me dá uma alegria ver o tanto de coisas gostosas que podemos fazer.

29 de julho de 2020

Raios de sol


Eu adoro quando termino o meu dia de trabalho e termino a prática de ioga e consigo ver o por do sol da janela em que olhei quase o dia todo. Quase sempre tem um por do sol maravilhoso. Hoje o dia terminou com algumas nuvens. Tinha tempo que eu não via tantas nuvens, acho que me acostumei com o céu limpo, quase sempre azul claro. E então vi os raios de sol que saíam e entravam em algumas nuvens. Parece algo sobrenatural, um contato da natureza, do universo. Um recado de que as coisas vão ficar bem. Não sei explicar. Talvez seja mesmo um presságio. Nem achei que a câmera do celular fosse captar esse recado, mas ficou bom. Claro que ao vivo foi bem mais bonito. As coisas podem não estar fáceis, mas ao menos tenho o por do sol para olhar da janela no final do dia.

26 de julho de 2020

Nós dois


Nós dois. O primeiro beijo foi há treze anos e até hoje sinto uma sensação tão boa de estar em casa quando estamos juntos. Nem mesmo a quarentena faz a gente brigar, mesmo trabalhando de casa todos os dias. Tomamos juntos café da manhã, almoço e jantar todos os dias. Ao ver nossas fotos antigas percebo como a gente era jovem em 2007, ainda estávamos na faculdade, eu ainda morava com meus pais e fazia estágio. Era um mundo tão diferente. E já passamos tantas coisas juntos. O começo do blog é quase todo sobre o começo do nosso namoro. E acompanhou nossa vida desde então. Fomos morar juntos em abril de 2009. Moramos em cidades diferentes entre 2011 e o começo de 2012. Fomos morar juntos em São Paulo entre 2012 e final de 2014. E estamos aqui no mesmo apartamento desde 2014. É tanta história juntos, tanto amor. Nem parece que já vivemos tantas coisas. E quero viver muitas mais. Quero envelhecer junto com você!



25 de julho de 2020

Butter Chicken


Tem um prato que adoro fazer em casa e me dá uma sensação gostosa de comida que alimenta não só o corpo. O butter chicken é um prato indiano bem simples, feito com peito de frango em cubos, manteiga, creme de leite e massala (um tempero indiano parecido com o curry, feito com várias especiarias tipo gengibre em pó e vários outros, cada família faz de um jeito). É mais ou menos como um estrogonofre de frango, só que indiano.

É simples e não precisa de muito planejamento. A única diferença com a receita original que peguei é que não passo o molho na peneira, gosto mais rústico. E uso um mixer de mão direto na panela. E não trituro as castanhas, só corto grosseiramente com a faca em pedaços menores.

Aqui em casa tínhamos ainda um restinho de arroz basmati, um tipo de arroz indiano que tem um leve aroma de jasmim. Fiz de acordo com a receita da embalagem. É preciso deixar de molho por vinte minutos e fazer com algumas especiarias (cardamomo, canela e cravo). Fica muito gostoso, mas um arroz normal tipo agulhinha já fica ótimo como acompanhamento. Por cima ainda colocamos um pouco de batata palha, pra dar uma cara de estrogonofre.

Agora na quarentena a gente tem feito muito estronofre (no estilo da década de 90, com cogumelo em conserva, ketchup e creme de leite de lata) e o butter chicken.

24 de julho de 2020

Sem pressa


Desde que começou a quarentena acho que há alguns poucos pontos positivos. O primeiro é que não preciso mais de alarme para acorda. Não tem trânsito e nem percurso até a sede do trabalho. O segundo é que por causa disso eu não preciso mais ter pressa. Antes eu acordava com o alarme e sempre estava atrasado. Tinha fazer meu café da manhã o mais rápido possível e tomar o quanto antes, pois a cada minuto o trânsito piorava e eu demoraria mais tempo para chegar. E como eu batia ponto, o quanto antes eu chegasse, mas cedo voltaria para casa. Eu parecia o coelho da Alice no País das Maravilhas. Sempre com pressa, sempre atrasado. Agora eu consigo respirar, consigo tomar meu café da manhã com calma. Consigo acordar no meu próprio ritmo. Parece besteira quando olho para trás, eu não precisava ter essa pressa toda, mas eu tinha. E como é bom não precisar estar sempre atrasado, poder respirar, sentir. Fazer tudo com calma. Eu preciso de calma.

E com calma eu consigo ver as cores do céu que mudam no decorrer do dia. A janela de repente vira quase um quadro sobre um degradê simples e lindo. E que muda com o tempo.

23 de julho de 2020

Pai


Minha mãe mandou hoje a seguinte mensagem:

"Ontem ele segurou firme na minha mão e disse que desejava uma boa morte e que fosse para o céu. E me pediu perdão do que me fez sofrer. E disse que ainda está vivo por que eu trato muito dele. Disse pra ele que também pedia perdão, que me perdoasse, pois sou muito sangue quente. Ele disse que me admira muito, que sou muito boa".

Meu pai está doente. Está de cadeira de rodas e não consegue fazer mais nada sozinho. Desde a semana após seu aniversário de 85 anos em março o seu estado de saúde só piora. Vários médicos o examinaram e passaram vários remédios e exames. A última suspeita é parkisonismo, mas mesmo com a medicação ele não tem melhorado. Imagino tudo o que passa na cabeça dele agora ao sentir que a morte se aproxima. Ele é um ótimo pai e tenho inúmeras lembranças boas dele e muitos ensinamentos. Ele sempre foi muito presente na minha infância. Ele me levava e buscava todos os dias no colégio. E me levava e buscava das festas quando eu era adolescente. Nós nunca brigamos sério, sempre nos entendemos. Ele sempre me chama de "véi", desde que eu era muito pequeno. Eu sou a única pessoa que ele chama de véi. Nunca achei estranho e sempre gostei desse apelido. De vez em quando ele me chama de Vi ou então simplesmente de filho. E sempre me dá sua benção quando nos falamos por telefone ou presencialmente.

A piora do meu pai coincidiu com a chegada da pandemia aqui. Vou sempre na casa dos meus pais aos sábados. Faço as compras para eles no mercado e farmácia. Mas desde março não abraço e nem beijo meus pais e vou sempre de máscara e com álcool em um borrifador. Que saudade de abraçar meus pais. Mas não quero que eles tenham risco de se contaminar com esse vírus.

É muito duro notar que ele está cada vez mais triste por não conseguir mais andar e quase não consegue mais falar. Sua voz está bem baixa e ele não consegue articular algumas palavras. Ele está lúcido, sabe de tudo o que se passa. Reza todos os dias os terços pela TV. Eu ainda tenho esperança de que algum médico vai descobrir um remédio que o vai ajudar a voltar a andar e a falar. Mas ao mesmo tempo começo a tentar me resignar e me preparar para a sua morte.

Não há nada que pudesse me preparar para a dor que tenho sentido. Essa saudade do meu pai de alguns meses atrás que dirigia e fazia piadas com várias pessoas quando saímos para almoçar em algum restaurante. Ou que gostava de contar histórias da sua infância. Hoje em dia ele fica quase o tempo todo calado e o olhar distante. Sempre fica feliz quando eu vou visitar e sempre me abençoa e me deseja uma ótima semana. Imagino o que se passa na cabeça do meu pai. A mensagem da minha mãe hoje mais cedo me encheu os olhos d'água. Meu pai está cansado. O corpo dele está cansado. Ao mesmo tempo que eu quero que ele continue a viver, mesmo que sem autonomia, eu quero também que ele seja feliz. E que saiba que sua vida foi plena, cheia de conquistas, cheia de amor. E tenho certeza de que ele irá encontrar o céu que ele imagina. E que vá reencontrar seus amigos e familiares que já faleceram. E que vai mandar energias positivas para mim e para minha mãe, meus irmãos e seus parentes.

Eu nunca vivenciei o fim da vida de alguém próximo e que eu realmente amo. Quando meus avós ou alguns tios faleceram eu não senti muito. Fiquei triste, mas não foi algo que me impactou. Com meu pai eu venho sofrendo desde a primeira internação. A morte dele parecia algo tão distante, sempre brincamos que ele viveria até os 95 anos, como seu tio-avô e realmente até março ele era muito saudável, fazia tudo o que queria, dirigia, fazia compras, ia ao banco. Ainda teria mais dez anos com meu pai com esses cálculos. Acho que minha frustração é que não controlamos nada, não controlamos o tempo de vida das pessoas que amamos. Mas é tão bom ter um pai presente, amoroso e cheio de histórias. Nunca vou esquecer do meu pai enquanto eu viver. Ele vai sempre estar comigo. É um conexão forte, por algum motivo escolhemos ser pai e filho nessa vida. E sempre estaremos juntos. Sempre vou sentir esse amor tão forte pelo meu pai.

22 de julho de 2020

Remendos


A quarentena me fez repensar várias coisas. Meus hábitos, o que eu compro, o que consumo. Por estar mais em casa tudo se desgasta mais, mas tenho gostado de fazer pequenos consertos e remendos. Tenho uma latinha com linhas, agulhas e mais coisas de costura. O edredom rasgou e decidi fazer alguns pontos. A agulha na linha, a pequena cirurgia no tecido e de repente a espuma não está mais exposta e o edredom pode ser usado por mais algum tempo. Tenho feito pequenos consertos em mim mesmo também. Tenho me entendido mais e me permitido sentir várias sensações. Tenho respirado, meditado, tenho ficado em silêncio. Pequenos remendos na alma e no corpo.

21 de julho de 2020

Céu


Antes da quarentena e de trabalhar em casa em não olhava muito para o céu. Claro, o céu sempre estava ali e não tem como notá-lo, mas eu não tinha o costume de olhar. Agora eu trabalho virado para uma janela e o céu está tão presente no meu dia-a-dia. Especialmente nesta época do ano o céu fica bem bonito em qualquer hora. Todos os dias o por-do-sol é maravilhoso. E todos os dias presto atenção na mudança de cores, no degradê que se forma um pouco antes de anoitecer. A janela se torna quase uma pintura em movimento. O céu sempre esteve no mesmo lugar, mas só agora eu presto atenção. Penso que várias outras coisas da minha vida são como o céu, sempre estiveram lá, mas nunca parei para prestar muita atenção. Em um período tão doloroso como o que temos vivido acabei por ter um pensamento mais interno, prestei mais atenção em mim mesmo. É um trabalho diário e permanente, pois é muito fácil voltar para o modo automático. Mas espero conseguir notar várias coisas tão evidentes quanto o céu, mas que acabam por ficar obscurecidos por todas as outras coisas da vida.

20 de julho de 2020

Milho


Tem algo ancestral de pegar as espigas de milho, debulhar e fazer um bolo. Mas é preciso agir logo, milho verde em espiga não dura muito tempo. Fiquei na dúvida entre um cural e uma pamonha assada. Pensei que não queria ficar perto da panela muito tempo para mexer o mingau de milho até engrossar, além de não saber o que fazer com o bagaço de milho, se faria uma farofa ou apenas refogar. Milho são muitas possibilidade. Fiz então o bolo de pamonha do Panelinha. Debulhar, misturar tudo no liquidificador e depois assar. Só precisei fazer algumas adaptações, pois o milho debulhado rendeu mais do que a receita pediu e eu queria usar o milho todo. A sala de repente ficou com um cheiro maravilhoso de pamonha para deixar a tarde de domingo um pouco mais acolhedora para o começo da semana. Comer o bolo ainda morno com um café recém passado é uma das melhores sensações. Fazer bolo no final de semana deixa a vida um pouco menos áspera.

17 de julho de 2020

Sexta


Só penso que hoje é sexta-feira e o final de semana está aí. Os dias têm passado tão depressa, mas ao menos chega o final de semana e não tem trabalho.

16 de julho de 2020

Respirioga


Alguns dias têm sido bem puxados. Trabalhar em casa não é sinômino de tranquilidade. Claro, é bem melhor do que enfrentar trânsito para ir e voltar e tudo mais. Mas esses dias têm sido bem chatos, cheios de reuniões e mensagens no computador e no celular. Decidi pausar um pouco e fazer uma prática de ioga no meio do expediente, ainda mais com uma reunião maluca marcada para às 19h. Já que vou ter que ficar mais tarde, vou parar um pouco no meio da tarde. E foi ótimo. O celular apitou um monte, fiquei um pouco ligado ainda no trabalho, mas logo desliguei e comecei a respirar fundo e a entrar na prática da ioga. E fiz a sessão inteira e com o relaxamento no final. A essa altura os apitos do celular não significavam mais nada. Foi ótimo! Parece que voltei um pouco a mim, voltei a me priorizar. Que bom que descobri uma prática que tem me ajudado tanto. Já são dois meses que consigo fazer todas as semanas. E quero continuar!

15 de julho de 2020

Vinho


O meu nome tem raiz em vinhos, uva, videira. Fui pesquisar um tempo atrás e achei essas definições. Eu adoro vinho. Lembro quando era pequeno meu pai sempre tinha aqueles garrafões de sangue de boi e tomava um pouco no almoço. De vez em quando ele me dava com um pouco de água e açúcar. Eu adorava a sensação de tomar vinho. Depois que fiquei mais velho e lembro de sair com os amigos e a gente comprar esses vinhos baratinhos da prateleira mais baixa do mercado.

Eu nunca tomei um vinho caro e não entendo muito. Hoje em dia compro vinhos entre 20 e 30 reais em que há o nome da uva no rótulo. Em geral os vinhos são chilenos, argentinos, portugueses e espanhóis. E tem sido uma experiência boa. Tenho gostado mais de tintos ultimamente e meu marido gosta mais de brancos e verdes, então acaba que fica cada um com sua garrafa.

Aprendi a deixar o vinho gelar. E de abrir a rolha e deixar um pouco aberto para ele respirar. No mais é algo como "gosto ou não gosto". Mas depois que passei a adotar esse critério de ver se tem o nome da uva no rótulo nunca mais bebi um vinho que não gostei.

Alías, ruim mesmo é só olhar os dentes ficarem azulados, mas nada que uma boa escovada nos dentes não melhore.



14 de julho de 2020

Ouvido


Estou com um zumbido no ouvido há algumas semanas, não lembro direito quando começou. Várias vezes durante o dia esqueço dele, mas quando paro e presto atenção, o zumbido está lá. Dei uma olhada no google e, claro, o zumbido é sintoma de várias doenças, desde perda de audição até excesso de cafeína. Com essa pandemia resolvi adiar ao máximo, mas fiquei com muito receio e decidi ir ontem ao médico. Procurei uma clínica longe de hospital e consegui para o mesmo dia, aliás, para uma hora depois. Coloquei minha máscara, o álcool em uma garrafinha e fui. Correu tudo bem por lá, a médica inclusive já pegou COVID e tomou todas as precauções. Foi estranho ter de tirar a máscara para ela olhar minha garganta. Ela inclusive inseriu uma câmera em um tubo dentro do meu nariz e chegou até meu ouvido. Viu que tinha uma secreção lá, tipo um uma sinusite dentro do ouvido. Que coisa. Fiz testes de audição também e está tudo certo. Já estou na medicação, o zumbido ainda está aqui, mas sinto que tem diminuído. O dia que não tiver mais zumbido vai ser algo como "uau, não tem barulho de nada!".

10 de julho de 2020

Conexão


Tenho dormido muito, mas sempre estou cansado. Fico quase o tempo todo em casa, só saio para ir na casa dos meus pais e fazer mercado e ir à farmácia para eles. O resto faço tudo pela internet. O trabalho não está muito pesado, mas sinto um cansaço enorme. Pensei então que pode ser pelo momento que passamos agora. Quase 70 mil pessoas já morreram no Brasil, de acordo com os números oficiais. E 550 mil pessoas morreram no mundo todo, desde o final do ano passado. E não há certeza de quando a epidemia vai passar. É algo muito pesado e acho mesmo que todo mundo está mal. E estamos conectados, nós, seres humanos. Eu acho mesmo que há uma conexão além da questão física. Acho que estamos conectados e sofremos juntos. São muitas mortes. É muito estresse e tramas coletivos. Todos sofremos, todos temos medo. Mesmo aqueles que dizem não acreditar no vírus, como se um vírus precisasse do respaldo de alguém para agir. É algo invisível, difícil de entender. Mas o sofrimento é real. E todos nós temos sofridos, todas as vidas passaram por mudanças drásticas. Nada é igual ao mesmo período de 2019, aliás parece outro mundo. E temos sentido mais essa conexão com o outro, a vontade de ajudar, de contribuir. Vamos levar esse trauma para o resto da vida. Acho é algo que nunca vamos esquecer e ainda não entendemos direito. Vai precisar de um pouco de distanciamento para entender realmente o que é isso que temos passado. Mas sinto muito forte esta conexão com tudo, com os outros, com o planeta e comigo mesmo. Tenho buscado me reconectar com tudo isso. Estamos todos juntos e uma hora a pandemia vai passar.

9 de julho de 2020

Torta de limões à mão


A casa dos meus pais parece um sítio com várias árvores frutíferas. Nesta época do ano o pé de limão galego (ou limão cravo ou capeta, o nome depende da região do país) está repleto. Quando eu era pequeno não gostava muito do limão galego, achava que ele tinha algum problema, pois a casca dele tem alguns pontos secos, como se fosse uma doença de pele. Anos depois descobri que ele é uma mistura entre tangerina e limão feita na Índia no século XIX. Será que pegaram o pólen de uma planta e colocaram na flor de outra? Hoje em dia adoro esse limão e ganhei uma sacola cheia da casa dos meus pais.

Na quarentena tenho notado essa minha reconexão com várias coisas, inclusive com minha infância e meus pais. Eles ainda moram na mesma casa que nasci e cresci. Fiquei um tempo sem ir lá por causa da pandemia, tinha medo de levar o vírus para eles e então nos falamos todos os dias pelo telefone. Mas com a piora da saúde do meu pai tenho ido mais lá, sempre com máscara.

Fizemos caipirinha e tenho usado os limões para finalizar alguns pratos, dar aquele toque ácido no final do preparo. Ainda tem um monte, então resolvi fazer aquela boa e velha torta de limão.

Tem poucas coisas na nossa despensa e eu não havia me planejado para fazer torta. Não tinha biscoito maizena para a base, por exemplo. E nem ovos ou manteiga sem sal para fazer a base. Pesquisei um pouco e achei uma base com tâmaras, coco ralado e castanhas e tinha tudo aqui em casa. Como meu marido trabalha da sala e estava no meio de uma videoconferência, não quis fazer barulho. Mas a torta precisa gelar e não podia adiar muito. Decidi fazer tudo na mão, sem nada elétrico.

Piquei as castanhas, tirei os caroços das tâmaras, juntei o coco ralado. Piquei muito. Demorou um bocado, mas é uma experiência boa. Junta e pica. Junta e pica. E de novo. Não virou uma farinha, mas ficou pequeno o suficiente. Virou uma massa mesmo. Coloquei na forma de fundo removível e fui para a segunda parte. Eu fazia tanto essa torta quando era pequeno que nem preciso de receita.

Eu estudava de manhã e depois do almoço assistia o Jornal Hoje com meus pais. No final de uma edição lá em 1995 ou 1996 mostraram a receita de uma torta de limão, que na verdade é uma base de biscoito triturado com manteiga e um mousse de limão. Fiz a torta e todo mundo gostou, meu irmão disse que parecia cheesecake, mas na época eu não tinha comido ainda cheesecake. E virou a torta que eu sempre fazia, além do brigadeiro de sempre e do pudim de leite feito no microondas. Até hoje fazem essa torta de sobremesa na casa dos meus pais. Talvez desde aquela época eu não fazia.

E hoje foi bom sentir essa reconexão e fazer tudo na mão, quer dizer com a faca e um batedor de claras.

Tomara que o limão galego tenha dado um toque diferente pra torta. Coloquei um pouco de limão tahiti também para dar mais um pouco de acidez. Engraçado que essa torta só funciona com limão, maracujá e cupuaçu, só com frutas bem ácidas. Tentei fazer com morango e não deu certo. Agora ela está na geladeira para endurecer.

7 de julho de 2020

Café da manhã junino


Ainda está na época de festa junina, apesar de já estarmos em julho. Acordei com vontade de comidas típicas de arraial. Fiz um cuscuz com ovo, canjica (ou mugunzá) e umas frutas. Em tempos de quarentena é um pequeno afago fazer um café da manhã mais caprichado, mas pensado. Mesmo que tenha sido só para mim. E estava uma delícia. Tenho ficado cada vez mais caprichoso na cozinha. Cozinhar é prática mesmo.

3 de julho de 2020

Casa


Durante essa pandemia desenvolvi outra relação com minha casa. Eu sempre gostei daqui, mas agora realmente tenho vivido realmente a casa. Antes disso tudo, em alguns dias da semana eu praticamente só vinha para dormir. O quarto que usamos como escritório eu quase nem vinha, só para pegar alguma roupa, sempre só de passagem. Agora vivencio a casa. Sei que horas o sol bate na janela, sei os barulhos da vizinhança, o jeito que a luz fica aqui. E gosto de cuidar da casa, arrumar, limpar. Eu me sinto em casa. Acho que casa é mais do que o lugar físico, é o lugar em que nos sentimos acolhidos.

E a casa virou local de trabalho, local de esporte, local de cultura, local de amor. Virou quase tudo, além de ser apenas o local de se morar. Virou a minha sobrevivência, o meu acolhimento. A casa é tudo, especialmente agora.

2 de julho de 2020

Esperança


Depois de quase quatro meses, muitos médicos e vários exames, parece que finalmente chegamos a um diagnóstico para a dificuldade de mobilidade e de fala do meu pai. Tudo indica que ele tem uma doença do espectro do Parkinson (chamada parkinsonismo) e a medicação é baseada em dopamina. Espero que seja mesmo o diagnóstico certo e há possibilidade de que ele volte a andar e a falar de forma mais clara.

É tão bom ter ao menos uma pequena luz no final do túnel. Ter um pouco de esperança no meio disso tudo. A vida não está fácil desde março. Mas quem sabe agora podemos ter notícias boas.

A pandemia deixa tudo mais complicado, não podemos fazer exames e nem consultas. Meus pais não saem mais de casa.

Espero que o tratamento dê certo e que meu pai consiga melhorar.