30 de abril de 2015

Cerrado

Nascer no Planalto Central deixa a gente impregnado de cerrado. Árvores pequenas e tortas, cascas grossas, folhas com pelinhos, poeira e seca por todos os lados, mas, ao mesmo tempo, perto dos rios tem umas árvores grandes e exuberantes.

Antes da construção de Brasília ninguém queria saber o que era o cerrado. Se não era litoral, era sertão. Derruba tudo, corta e transforma em pasto.

Depois da inauguração de Brasília não mudou muita coisa, mas trouxe muita gente pra cá. E mais pessoas começaram a se impregnar de cerrado.

Aliás, o próprio nome cerrado já é uma dificuldade: fechado,  instransponível. Savana é muito mais simpático e me faz sentir ali na África com girafas, elefantes e leões.

E o solo? Ácido e difícil. Mas a vida é meio assim! Então vamos encher de calcário pra equilibrar e poder plantar soja? Bem, quando a gente viaja de carro aqui pelo Centro-Oeste só se vê campos de soja, com uma árvore ou outra isolada.

Mas o cerradão tem me encantado. E encanta outras pessoas também! Nos últimos anos já é fácil encontrar sorvetes e sobremesas com frutas daqui: cagaita, pequi, baru. araticum, cajuzinho-do-cerrado.

Adoro esse diminutivo nos nomes de alguns frutos do cerrado, dá impressão que posso colocar tudo no cerrado, desde que sejam versões em miniatura: maçãzinha-do-cerrado, uvinha-do-cerrado, melanciazinha-do-cerrado (essa existe de verdade e chama cabacuí!).

E quem sabe os ingredientes daqui entrem nos pratos clássicos. Afinal de contas, será que não dá pra substituir um pinole por um baru no molho pesto? Um creme de araticum ao invés de um crème pâtissière tradicional no mil-folhas? Uma tarte tatin de pequi? Risoto de gabiroba? Sei lá, talvez alguns desses não rolem mesmo, mas dá pra sair do arroz-de-pequi e do frango-com-pequi. Arroz-de-baru? Frango-com-jatobá?

E tem gente pesquisando o cerrado, buscando inovar. Nessa semana fui numa palestra do Ossobuco (http://ossobu.co/) com o chef Agenor Maia do restaurante Olivae (http://www.olivaerestaurante.com.br) e ele falou exatamente sobre essa pesquisa e valorização dos ingredientes do cerrado. Tem castanha do pequi, tem baunilha-do-cerrado (na verdade um baunilhão-do-cerrado, ela é dez vezes maior que a outra), chocolate de jatobá, azeite de pequi, além de várias outros tesouros escondidos por aqui.

E eu com toda essa curiosidade tenho vontade de experimentar tudo! E de pesquisar e me impregnar cada vez mais com esse cerrado.

29 de abril de 2015

Chá chá chá

Um bom chá sempre me ajuda quando estou com algum problema. Acho que ferver a água, colocar o sachê ou a peneirinha na xícara e esperar o sabor de todas aquelas ervas se diluir no calor e nos vapores. E tomar com calma.

Quando eu era pequeno nunca fui fã de chás, pois era quase um sinônimo de remédio. Chá de boldo para dor de barriga, chá de limão para gripe, chá de gengibre para dor de garganta. Dessa época, o único que gostava era o chá de cidreira, porque não é remédio para nada e até hoje tem um arbusto enorme na casa dos meus pais.

Quando fiquei mais velho virei fã de chá mate gelado com limão. Depois fazia em casa e deixava em garrafas enormes na geladeira.

Um pouco depois disso virei o doido do chá. Sempre tinha uma caixinha em casa. E então fui para Buenos Aires e entrei na loja mais incrível de chás, a Tealosophy. Era quase como entrar em uma loja de brinquedos, só que de chá. Várias latas enormes com folhinhas e cascas secas e com nomes e aromas maravilhosos. O vendedor abriu muitas latas com toda a paciência. Acabamos com todos! Ainda bem que minha mãe foi há pouco para lá e me trouxe muitas latas, então ainda tenho um estoque. Sem dúvida naquele dia entendi realmente o que é fazer um chá, misturar sabores e a importância de preparar uma xícara de chá com calma, beber e relaxar.

Mas comecei a escrever porque estava naqueles dias em que tudo parece escuro e sem graça. Abri minha gaveta aqui no escritório e lembrei que tinha uma caixa de chá de gengibre com limão. Preparei uma xícara e as coisas continuavam escuras e sem graça, mas ao menos eu tomava algo saboroso e um pouco mais aquecido. Aos poucos foram surgindo ideias e inspirações.

Eu passo tanto tempo no trabalho e em casa e tenho produzido tão pouco. Leio alguns textos interessantes entre uma tarefa e outra, mas não coloco muito em prática. Um blog sobre Brasília e coisas do cerrado? Um blog com palestras do TED e de outros sites? Um blog sobre criatividade, inspiração?

Aos poucos tenho tentado fazer algumas coisas para melhorar minha criatividade. Tenho brincado com jogos de videogames antigos no celular, tenho lido todos os dias um livro sobre a Clarice Lispector e, bem, tenho tentado não enlouquecer. E tomado chás. E até meditei outro dia.

Então as coisas não estão assim tão ruins. O trabalho não me consome, ganho um salário razoável e tenho tempo para ler, pensar e ver besteiras na tv. Está pouco, eu sei. Mas aos poucos as coisas vão se encaixando. O importante é fazer, escrever, sem pensar muito.

27 de abril de 2015

Saudades, São Paulo!

São Paulo foi minha casa por quase três anos. Subi e desci tantas vezes a rua Augusta e a Frei Caneca, que mapeei os quarteirões em minha cabeça. E a mesma coisa para a Paulista.

Aliás, uma das experiências que mais gostei desse período foi não ter carro. Andar a pé, usar o metrô e ônibus e, claro, táxi de vez em quando.

E agora, quase seis meses depois de voltar de lá, sinto uma saudade imensa das ruas cheias de gente, das pixações, dos prédio e casarões do centro, do café da manhã na Casa Mathilde, de andar na Paulista, de assistir filmes no Reserva Cultura, no cinema da Livraria Cultura ou no Frei Caneca, de tomar cerveja no Barão de Itararé, de comer hambúrguer de madrugada no Rock'n'Roll ou na Bella Paulista, de descobrir lojas, restaurantes e bares. Sinto falta de ir ao MASP, à Pinacoteca, de descobrir coisas incríveis no centro. Sinto falta dos shows nos SESCs, nos parques.Sinto muita falta dos amigos que fiz lá. Dos happy hours, dos almoços. Sinto falta até da maluquice do escritório que eu trabalhava.

Mas eu sentia a mesma coisa em relação à Brasília. Acho que é uma eterna nostalgia do passado. Na hora tudo parece tão complicado, mas com um distanciamento de alguns meses, tudo se torna lindo e harmônico. Eu sei que passei por muitos perrengues na época paulista, mas hoje em dia só ficaram as coisas boas.

Eu preciso focar no presente. Em construir algo legal agora e parar de ficar idealizando o passado e com medo do futuro. Minha casa agora é Brasília e eu preciso fazer com que seja a melhor experiência possível.

Mas sinto falta de SP. Acho que preciso pegar um final de semana e ir lá matar a saudade. Vai ser bom rever minha versão de SP.

13 de abril de 2015

Molhar-se faz parte da vida

Viver um dia após o outro tem me deixado completamente desconectado de mim mesmo. Eu não tenho conseguido fazer nenhum plano para nada, seja para coisas simples como emegracer ou para mais complexos como mudar de trabalho.

Minha vida tem sido medíocre desde a volta para Brasília. O que parecia ser uma chance para me reinventar, virou uma prisão com as portas abertas, mas que não consigo sair.

Pensei em fazer mais uma pós, tentar um mestrado, estudar para um concurso, mas estou eternamente em uma estado de falta de motivação. Minhas únicas vontade são ler livros de literatura, comer besteiras, andar de bicicleta e assistir televisão.

Tem três anos desde o dia que peguei o diploma da minha pós e desde então nunca mais estudei. Nada. Não sei para que rumo seguir, não sei o que quero fazer, não sei qual trabalho ou curso procurar. E sinto que posso ficar nessa situação por anos.

Parece tão simples me matricular em um curso. Ok, o meu salário não é lá essas coisas, mas se eu apertar um pouco sobra o dinheiro da mensalidade. E o mestrado é de graça. Uma discipliana como aluno especial é bem barato. A questão é que não consigo me motivar.

Não tenho interesse para nada, estou sempre cansado e com sono. E as horas durante o dia demoram uma eternidade para passar. E de noite voam.

Hoje fez três meses que voltei ao meu trabalho antigo. E eu preciso dar um rumo para minha vida. Sempre interpretei como um passo para trás para dar dois pra frente. Mas ficar nessa indefinição tem me sufocado. Parece que estou em um  eterno moonwalk do Michal Jackson e ando sempre para trás. Preciso de algo para me trazer alegria. Preciso de um projeto. Preciso criar.

Ok, vamos lá. O que preciso fazer? Atividade física. Correr e caminhar já é um bom começo. Cozinhar mais em casa para me alimentar direito. Filé de frango, carne de panela, coisas assim, nada muito elaborado. Ler algums textos que me acrescentem e me ajudem. Deixar as redes sociais de lado. Criar mais, tirar mais fotos, escrever mais, passear, arejar a cabeça. Rir.

E do que eu gosto? Afinal de contas estou completamente desconectado de quem eu era/sou, né? Eu gosto de tirar fotos.  Gosto de ler, pesquisar, ouvir música e podcasts, escrever, cozinhar, ir a exposições de arte, ir ao cinema, ao teatro. Gosto de ler jornais e feeds. Gosto de andar de bicicleta, andar a pé, viajar. Gosto de ir a restaurantes e lanchonetes. Ok, não enxergo nada disso como um possível rumo para uma profissão.
Mas o que todas essas coisas tem em comum? Tudo isso tem a ver com criatividade, eu sei. E talvez não criar nada, não ser criativo, tem me causado tanta angústia. E não enxergar um crescimento na minha vida tem me esmagado.
Eu não tenho medo de trabalhar, mas preciso acreditar nesse trabalho. E não acredito que ficarei muito tempo por aqui. Acho pequeno para mim. Não me inspira. É só um quebra-galho até eu arranjar outro emprego. Mas esse outro emprego tem demorado tanto.

Então vamos lá. Uma coisa de cada vez. Vou tentar, ou melhor, vou sair desse marasmo e vou começar a fazer pequenas coisas. Correr depois do trabalho já ajuda (antes do trabalho não dou conta). E vou pesquisar algumas receitas para voltar a cozinhar. E tentar criar algo, seja um desenho, seja uma foto, seja um projeto.

Vou começar pequeno. Três tarefas para hoje: correr, pesquisar receitas e criar algo. Bora! Molhar-se faz parte da vida!