30 de abril de 2012

Olhar

Tudo muda tão depressa que perdi completamente meus referenciais, não sabendo mais nem mesmo quem/como/que/se sou. Nunca me imaginei em papeis, situações e desejos que me rondam.

Por trás dessa suposta serenidade que me acompanha(ou) a vida toda há uma tormenta, uma necessidade estrondosa de trabalhar/viver/amar até não conseguir sentir mais minhas costas, minha cabeça, meus pensamentos.

E tenho gostado de como a cidade tem me moldado. Ou como me deixei moldar, endurecer, enraivecer. Vejo outro reflexo no espelho, com um olhar negro, sobrancelhas grossas, rugas, dentes, boca. Não sei mais se esse seria quem realmente sou ou se me tornei algo diferente.

Gosto disso.

28 de abril de 2012

Ondas

Eu nunca havia sentido tanta vontade trabalhar em um lugar, sentir que várias coisas que fiz na vida me prepararam de alguma forma para estar lá. Fiz as provas, a entrevista e agora é só torcer para que se não me chamarem para lá, ao menos me indiquem para outro escritório.

Mesmo que eu não consiga a vaga, já me sinto feliz de ao menos ter sentido a possibilidade, ter visto como a vida pode sim mudar e essa mudança é mais rápida do que se imagina.

Não quero mais sentir que estou aquém do meu potencial, que estou parado, estagnado.

26 de abril de 2012

Dona de casa

Engraçado esses dias de dona-de-casa. A gente acorda cedo, tomamos café da manhã juntos, vou até a porta pra nos despedirmos e sigo pra cozinha lavar as louças. E então vou estudar, passear, resolver algum pepino, almoço, estudo mais, passeio mais, resolvo outro pepino. Então de noite nos encontramos, fazemos algo juntos pra janta, assistimos um pouco de tv, às vezes leio algo, depois vamos para o quarto, cada um em seu treco eletrônico ver as bobagens e atualizações da internet. E dormimos cedo para acordar cedo no dia seguinte.

A vida está tranquila e surpreendentemente temos gostado dessa calmaria. Já faz quase um mês que saí de Brasília e nunca vivi nada parecido com o que tenho vivido agora. A vida tem dessas coisas, quando menos se espera acontece algo que nunca imaginamos ser possível

Mas sei que isso tudo é bem temporário. Logo as coisas começam a apertar, trabalho, estudos, rotina. Bom é viver cada momento em sua hora.

25 de abril de 2012

Istudiare

Redescobri como gosto de estudar. Nessa semana tenho me preparado para algumas provas que fazem parte de uma entrevista de emprego. Comprei alguns livros, água, barrinhas de cereal e me mandei para um centro cultural daqui, cheio de mesas de madeira, árvores, luz natural e o melhor, pertinho de uma estação do metrô.

Estudar fora de casa tira várias das distrações de quem, como eu, pode se perder na procrastinação. Não tem geladeira, não tem internet fácil (ok, tem o 3G do celular, mas não é o mesmo de se usar banda larga em casa). O ruim de se estudar só é perder o lugar quando se tem de ir ao banheiro (maldita garrafinha de água).

Bom que percebi que as pessoas aqui não tem problema em dividir as mesas.

Espero que essa preparação me ajuda a voltar a trabalhar, seja naquela escritório, seja em outro.

24 de abril de 2012

E se...?

Se eu estivesse em Brasília como seria minha vida? Eu estaria na casa dos meus pais, talvez eu tivesse ido trabalhar na diretoria, talvez continuasse no mesmo lugar, não me preocuparia com aluguel, condomínio, seguro-fiança, iria aos fins de semana pra algum centro cultural, estaria com quase todos os meus amigos por perto, poderia acompanhar o envelhecimento dos meus pais, dormiria em uma cama gigante, chegaria em dez minutos no trabalho, faria yoga, natação, academia, comeria uma carne argentina de vez em quando, curtiria o por-do-sol, andaria de bicicleta, lancharia com minha irmã e cunhado.

Aqui em São Paulo não tenho emprego, ainda não alugamos um apartamento, gastei muito mais do que planejei, estou longe dos meus pais, da minha irmã, de vários amigos, não sei andar direito por aqui, não vou fazer nem yoga, nem natação, nem academia, precisamos comprar geladeira, fogão e máquina de lavar, não chegou minha carteirinha da ordem dos advogados, talvez eu tenha de trabalhar em outro ramo, sei lá, vendendo livros, dando aulas de inglês, não tenho intimidade com ninguém, me sinto uma freira de tão recatada na frente das pessoas, comprei um terno e me sinto um personagem nas entrevistas.

Mas apesar de 90% do meu tempo aqui ter sido de tapas na cara e socos na barriga, sinto que amadureci muito, sinto que agora tenho um pouco do gosto da vida adulta. Vida sofrida pra caralho, mas quem sabe eu dê certo por aqui.

Só de ter me "demitido" e tentado algo diferente já está valendo a pena!

Ta na hora de criar uma casca grossa!

23 de abril de 2012

Clique

Aos poucos São Paulo vai se encaixando na minha cabeça, percebo que aquela rua não é tão longe quanto parece, que a baldeação do metrô é simples, que aquela linha cruza com a outra, reconheço qual lado da Avenida Paulista eu tenho de andar pra chegar aonde quero, distingo a direção centro da direção Jardins, marcos pontos na cidade da minha cabeça, que se torna cada vez mais próxima da cidade real.

E a própria vida aqui vai se tornando mais fácil. Já aparece um apartamento ali, quem sabe um emprego acolá. E se nem um nem outro aparecerem, outras possibilidades surgirão. Mudo de área, mudo de região, mudo desejos, mudo aspirações, vou me adaptando e me conhecendo.

Meus dias brasilienses estão cada vez mais distantes e mais deliciosos na minha memória. O clima bucólico, as ruas largas, os traçados, os centros culturais, cinemas, lojinhas, a casa dos meus pais, o café francês, o bar libanês, o restaurante mexicano, o parque. Parece outra vida. Mas por mais que eu queira muito continuar vivendo por lá, preciso amadurecer, crescer. E para isso nenhum lugar é melhor do que aqui.

Ainda não fechei um mês e nunca passei tanto perrengue, tanto desespero. Já me questionei, requestionei, já fundamentei, me convenci. E isso é só o começo. Daqui a pouco começa a parte mais difícil: viver, morar e trabalhar aqui.

21 de abril de 2012

Brasiliana

Brasília não é uma cidade fácil. Mas mesmo quem não gosta, não importa o motivo, sabe que essa é uma cidade diferente de tudo, com seus prédios de caixinha, seus monumentos, suas vias largas, as tesourinhas, o buraco do tatu, os eixos, o cerrado. Eu quis sair de lá para viver algo diferente, viver em uma cidade mais caótica, menos planificada, mais antiga, mas não tem um dia que não sinto falta das árvores tortas, do céu azul sem nuvens, do concreto armado, do por do sol, do silêncio. Saudades de Brasília!

19 de abril de 2012

Azulzin

Precisei me desesperar pra sentir que as coisas não estão tão ruins assim. Calma lá! Resolvi me dar uma manhã de folga, li um pouco no parque, dei uma volta pelas ruas vendo lojas e falando ao telefone com as pessoas que amo lá em Brasília, como se estivesse ali do ladinho. E nisso percebi como S. Paulo é bacana. Talvez não role um escritório de advocacia ambiental agora, mas algo vai rolar. Além do mais, tenho uma grana guardada exatamente pra essa entressafra. Não quero voltar agora.

Quinze dias longe de casa, ainda sem casa nem trabalho, mas mais leve. Parece, sei lá, que estou na década de sessenta ou setenta, meio retirante na cidade grande. Algo como se o que eu vivesse agora fosse o flashback de outro "eu" no futuro, lembrando de como foi o começo da mudança. Um flashback futuro ou um flashfoward retrô? Sei lá!

Lembrei de uma das conversas com meu pai, na ultima manhã lá em Brasília: "Aconteça o que acontecer, não me desaponte". Na hora eu não entendi direito e nem lembro direito se ele usou o verbo desapontar, mas hoje eu entendi melhor. Foi algo como "ei, você dá conta. Pode não perceber agora ou se desesperar, mas sei que você dá conta, afinal te conheço desde que você nasceu". Vai que ele não quis dizer isso, mas ok, pra mim vai ser isso por enquanto.

E então respirei fundo, olhei pra cima e vi um céu tão brasiliense, quer dizer, azul e sem nuvens. E na hora me senti melhor, menos autosufocado em S. Paulo.

18 de abril de 2012

Angústia angustia

Eu só vou conseguir relaxar na hora que conseguir um emprego e um apartamento para morar. Antes disso é essa angústia por não estar de verdade aqui, sentindo á toa, um inútil, sempre incomodando alguém de alguma forma. Sempre gostei da minha independência, de fazer o que quisesse, do dinheiro não ser um problema na minha vida, pois mesmo que faltasse, bem, no outro mês o novo salário entrava. Agora eu não sei quando vou receber dinheiro de novo, quando vou trabalhar, quando vou me sentir em casa. São Paulo é cheia de possibilidades, cheia de eventos, cheia de emprego. São Paulo é cheia. Só quero que tenha um lugar pra mim, não precisa ser muito.

17 de abril de 2012

Costume cravate

Eu já estava quase sem ar ao chegar no prédio, só de imaginar como seria a entrevista. Tudo ali era diferente da minha vida profissional e eu não me sentia nada confortável em estar naquela situação. Mas já nos primeiros minutos da entrevista consegui respirar fundo e tudo transcorreu como um bate-papo. Claro, ainda me sinto cru, mas um pouco menos do que ontem. E continuo sem experiência nessa área!

E de imaginar que tive coragem de mudar completamente de vida, sem ter nada certo me aguardando. Ainda me surpreendo com isso.

Agora é torcer!

16 de abril de 2012

Dedos cruzados

Amanhã pode ser que tudo vá mudar por aqui. Aliás, pode ser que minha vida como um todo dê mais uma reviravolta. Pensando bem, tudo o que tem acontecido nos últimos dez ou onze dias são mudanças. Tento não ficar tão nervoso, mas isso é inevitável. De qualquer forma, estou me preparando e acho que tem muitas chances de dar certo. Dedos cruzados!

14 de abril de 2012

Fios

Já começo a esquecer algumas coisas, alguns detalhes. A memória parece mesmo esse fiozinho, esse fiapo. E o tempo, esse danado, anda cada vez mais relativo. Parece que já faz meses desde que saí. Ou apenas algumas horas. E a vida segue, já não tanto como férias, mas ainda não está no ritmo de trabalho. A saudade, essa sim, forte como nunca! Já comprei passagens para passar o dia das mães na minha terra.

12 de abril de 2012

Resumo

Eu assisti a um concerto na hora do almoço, com muitas velhinhas na platéia, consegui ir no dia gratuito do museu, andei na chuva de terno e gravata, olhei várias ruas e vários apartamentos sem conseguir encontrar um com bom custo/beneficio, fui chamado para uma entrevista de trabalho, comprei meu cartão de bilhete único, cortei o cabelo e comprei um terno novo pra entrevista, pego saladas prontas no mercado e incremento em casa na hora do almoço, tive uma crise porque não consegui contratar um vidraceiro, tive outras crises porque achei que não ia dar conta de viver aqui, sinto falta da minha familia e dos meus amigos todos os dias, perdi a vontade de fazer coisas de turista na cidade, finalmente consegui cozinhar pra ele (fiz uma carninha asiática com gergelim, gengibre e shimeji, tudo inventado na hora), comecei a me localizar na Avenida Paulista, dei entrada na papelada para tirar a carteirinha da ordem, aprendi a me virar só com o tablet, pois esqueci o carregador do notebook, ligo quase todos os dias pra Brasília (ainda bem que existe promoção de ligações!). E estou começando a gostar daqui, não só pra passar as férias...

10 de abril de 2012

Respiro

Precisei tirar um dia para mim. Não que a rotina esteja ruim ou a cidade tenha me engolido, mas já que hoje o MASP tem entrada liberada, resolvi passar o dia no museu. Vi exposições, revi alguns quadros e até curti um concerto de uma orquestra argentina na hora do almoço, tudo sem nem mesmo gastar um real.

Aliás, aproveitei que já estava ali perto e fui ao Trianon ler um pouco e espairecer, ainda sem gastar nada. Esse parque me faz esquecer que estou em São Paulo, apesar de estar em uma das regiões mais movimentadas.

Voltei e fui almoçar bem tarde em casa, apenas uma saladinha e um pouco do gorgonzola.

Os dias estão ótimos, mas sei que logo logo minha rotina vai ser bem diferente.

9 de abril de 2012

Acostumar-se

A primeira segunda-feira. Ainda não me acostumei com a cidade, parece que ainda estou de férias. E isso não me faz sentir o peso de se estar desempregado.

Claro que o desespero de vez em quando vem com tudo e me dá vontade de deitar no chão, fingir-me de morto. No ápice do desespero chega um email -sempre chega um email! - com uma proposta de entrevista. Nada concreto, nada certo, mas é um ótimo acalanto. Calma, respiro fundo. Quem sabe? Quero logo trabalhar! Nunca achei que ia sentir saudade de trabalhar. Ainda não tem dez dias que saí do antigo emprego.

Sinto falta de casa, dos meus pais, minha família, meus amigos. Mas adoro ter de novo essa rotina de casamento, de dormirmos juntos, acordarmos, planejar.

Ainda não sei se vou dar conta de sentir-me em casa aqui. Mas sinto que S. Paulo pode me dar uma mãozinha.

5 de abril de 2012

Começo. Ou recomeço.

Primeiro dia, saudade misturada com medo. Não sei o que esperar, não sei o que fazer. Parece que estou de férias ou que nada do que passei nos últimos anos em termos de trabalho aconteceu de verdade. E me sinto um inútil, tenho medo de não ser capaz de me virar na cidade. Tudo é diferente, parece que estou flutuando no espaço. Ou como num daqueles sonhos em que se tem consciência de estar sonhando, mas não se pode acordar. Ok, vou acordar. Preciso fazer coisas práticas: cadastros, currículo, jornal, continuar procurando, dar entrada na documentação para tirar a carteirinha da ordem. Ou tentar algo completamente diferente, como o emprego na livraria. Chega de flutuar.

4 de abril de 2012

Partidas... E chegadas!

Cheguei na minha nova cidade. A primeira música que tocou no meu fone de ouvido foi "maps", do Yeah Yeah Yeahs e na mesma hora me lembrei de uns cinco anos atrás, senti algo legal. Acho que vai ser boa a estada aqui. Estou mais maduro, mais preparado para os desafios daqui. Tenho um pouco de receio de embrutecer aqui, pela loucura dessa cidade de S. Paulo. Sinto que vou trabalhar muito e vou conhecer muita coisa. Espero que esse presságio esteja certo.

Cataratas

Eu nunca tinha sentido uma dor tão forte. Eu, meus pais e minha irmã ali no saguão do aeroporto, lágrimas, desejos de boa sorte, memórias e a certeza de que amanhã vai ser tudo diferente. Vou estar em outra cidade, sem minha família próxima a mim. Mas sinto que preciso passar por essa experiência. E até mesmo as cataratas do Iguaçu que chorei hoje valeram a pena! E agora é entrar naquele avião e começar mais uma fase da minha vida!

3 de abril de 2012

Floresta

Pertinho da casa dos meus pais uma floresta enorme. Ok, na verdade é uma mata de galeria, mas para mim não deixa de ser uma floresta. Resolvi passar as últimas manhãs de Brasília por lá. Pode parecer meio hippie, mas esse contato com a natureza, o sol, as árvores, tudo isso tem me feito tão bem, principalmente depois de uma temporada de concreto e cinza-escritório.

Tenho tomado sol, nadado e curtido a trilha na tal mata de galeria. E lido muito!

Essa é a vida! Por mais que seja apenas um breve intervalo até a próxima temporada de concreto e cinza-escritório.

De qualquer forma, é ótimo dar essa recarregada. Meu lado hippie agradece.

2 de abril de 2012

Despedida

Ontem foi a despedida. Um lugarzinho tranquilo com jazz, cervejas, hambúrguer e o famoso sorvete frito. E em uma mesa enorme pessoas que fizeram parte de várias fases da minha vida. Gente que estudei no colégio, na faculdade, gente que conheci nas noites de Brasília, gente que me conhece desde que eu nasci. E o melhor foi ter conseguido manter o clima leve, sem aquele peso da mudança, do "nunca mais", da distância.

Vai ser muito difícil ficar longe de tanta gente que eu amo. Mas eu preciso dessa experiência!

1 de abril de 2012

Ramos

Não me considero uma pessoa religiosa e nem sigo nenhuma doutrina espiritual. Claro, acredito em Deus, no além-vida e em fazer boas ações.

Meu pai é bastante religioso e todos os dias reza o terço pela televisão, além de ir à missa aos domingos. Acho ótimo ele ocupar seu tempo com questões religiosas.

Eu não vou à igreja há muitos anos, a não ser para casamentos. Durante minha infância e adolescência sempre acompanhei meu pai, mais pra lhe fazer companhia do que por realmente acreditar na liturgia. Mas hoje, não sei bem porque, resolvi acompanhá-lo.

A missa desse domingo foi sobre o início da semana santa, o domingo de ramos, e durou mais de duas horas. Surpreendentemente não foi difícil passar esse tempo: aproveitei para pensar em minha vida, lembrar da infância, além de ver como a religião faz parte da vida do meu pai.

Sei que não vou adotar esse costume para minha vida, mas foi interessante ir à missa pela primeira vez na vida de forma voluntária.

Guardei o ramo que eles entregaram na missa de hoje. Mal não vai fazer, principalmente nesse período de mudanças.