27 de fevereiro de 2015

Folga

Teve aniversário do órgão em que trabalho e foi como naquelas propagandas de supermercado: "o aniversário é nosso, mas quem ganha presente é você". E nada melhor do que ganhar um café da manhã e o resto do dia de folga.

E então ficamos eu e minha folga. Um dia inteiro só para mim. Nem lembrava como era isso. Nadei, fiz trilha, queimei no sol, aliás as minhas costas ardem até hoje, vi uma exposição de arte maluca, sentei num banquinho de praça pra ver o céu, dirigi sem rumo, meditei, respirei fundo e no final fui tomar uma cerveja com minha amiga.

Eu queria uma marmota pra fazer como no filme do Bill Murray em que ele repete o mesmo dia várias vezes.

Preciso diminuir minhas expectativas e curtir a simplicidade das coisas. A vida pode ser legal com pouca grana e sem pressão. Não é difícil ser feliz.

24 de fevereiro de 2015

Contando moedas pro salgado

Tinha tempo que eu não ficava tão sem grana. Como recebi os valores da demissão todos de uma vez, achei que o dinheiro fosse ser suficiente por um bom tempo. Bem, em dois meses sem trabalhar eu tinha gastado quase tudo que estava em minha conta.

O "passa no débito" parecia uma senha para uma conta inesgotável de dinheiro. Mas como não estou participando de nenhum golpe milionário, uma hora o dinheiro acabou.

Antes de entrar efetivamente no vermelho eu comecei a trabalhar, mas demorou para entrar dinheiro e, claro, entrou bem menos do que eu esperava, pois foi uma labuta de metade de mês.

Nesse período não teve nenhum luxo, nada que justificasse a saída tão rápida de grana. Mas "dinheiro na mão é vendaval". Aliás, é furacão, é tsunami. Não dura nada na minha mão.

O dinheiro que entrou já deu um belo tchau de Miss. Consegui pagar todas as contas e não sobrou mais quase nada. Nesse próximo mês, quem sabe, eu me equilibro.

Eu me sinto como aquelas donas-de-casa antes do real virar a nossa moeda. "Tudo está pela hora da morte" (faltou os bobs, lenço na cabeça e drama, muito drama). Gasolina, supermercado, alimentação, tudo caro. Eu sei, crise econômica, escândalos políticos, dólar alto. Parece que voltei de novo à década de 80, mas agora não preciso só do dinheiro para comprar álbum de figurinhas.

Na época de inflação galopante só entendi a crise quando todo dia era um preço diferente para comprar figurinhas do Snoopy e  chocolate Surpresa. E as maravilhosas máquinas de colar etiquetas de preço nos produtos, incansáveis. Tinha produto com uma crosta de etiquetas de preço, uma por cima da outra.

Desde o real a gente ficou mal acostumado com a estabilidade econômica e, claro, aquele monte de reportagem sobre o Brasil ser o país do futuro, os BRICS e tudo mais. Calma, galera. Não é assim. Vamos comer mais um capim aqui. Tá tudo bagunçado e acho que vai piorar ainda mais um pouco antes de melhorar.

Enquanto isso vou seguindo na economia, bem dona de casa. Menos restaurante, baladas mais baratas, menos compras. Contando moedas pro salgado.

18 de fevereiro de 2015

Carnavalizar

Carnaval é recente na minha vida. Imagina que passei anos achando que era só um feriadão no começo do ano com uns desfiles de escola de samba. Nessa época geralmente eu viajava com meus pais para alguma cidade aqui perto e de vez em quando assistíamos a um pedaço de desfile antes de dormir.

Depois virou um período de alugar vários filmes e ficar em casa. Ou colocar as leituras em dia.

E então há uns três anos descobri o carnaval de rua, desses de marchinha e fantasias simples lá em São Paulo. Afinal Brasília não tinha mesmo nada de carnavalesca e a cidade virava um cenário de filme de apocalipse nuclear.

Demorei quase trinta anos pra enteder realmente o que é carnaval. É sair na rua, usar roupas que normalmente não se usa e dançar até ficar com os pés doendo. É o escape da vida chata e certinha e é o marco para começar os planos do ano. Aliás, feliz ano novo!

E nesses últimos anos esse amor pelo carnaval vem crescendo. Agora a gente se prepara, compra acessórios, pensa na fantasia, olha a agenda dos blocos e escolhe o que parece ser mais legal no dia. E cansa, fica com os pés doloridos, dorme pouco, toma chuva, abraça desconhecidos, tira foto com gente que nunca viu na vida, encontra pessoas que não se via há anos e, claro, se diverte. E em Brasília! Sim, o cenário de filme apocalíptico descobriu o carnaval de rua.
Mesmo sem nenhum apoio de dinheiro público, a gente botou o bloco na rua, botou pra gemer, gingou, pra dar e vender.

E de repente, tudo isso acaba. Chega a quarta-feira de cinzas e que nome mais adequado pra esse sentimento pós-carnaval. Bom que o bom senso e a tradição carnavalesca deixa a manhã de hoje pra gente acordar tranquilamente, tomar um banho, varrer os confetes, guardar as fantasias, tomar um remédio pra ressaca e almoçar antes de vir ao trabalho pra fingir que faz alguma coisa. Ninguém faz nada.

Mas se não fosse assim eu certamente iria para outro bloco, mesmo com os pés doloridos e a cabeça avoada.

Eu não entendo quem não gosta de carnaval e, pensando bem, é um feriado de utilidade pública. É preciso mesmo extravasar, se fantasiar, sair da normalidade, sambar na rua. Cinco dias pra se divertir, uma manhã pra descansar antes de volta pra rotina chata. Ressaca, dor nas pernas, mas um sorriso.

E que mais pessoas curtam o carnaval. Afinal, "Eu, por mim, queria isso e aquilo / Um quilo mais daquilo, um grilo menos disso / É disso que eu preciso ou não é nada disso / Eu quero é todo mundo nesse carnaval. (www.youtube.com/watch?v=PiCteoGZf7Q)

13 de fevereiro de 2015

Caminhos

No colégio só tem um caminho linear a seguir: uma série após a outra. Mesmo que se repita, é preciso cumprir todas aquele percurso Acho que foi a última vez que não me senti perdido na vida.

Aliás, quando passei no vestibular ainda tinha toda essa certeza do caminho linear, sempre em frente.

E então acabou ali minha paz. A faculdade abre um milhão de possibilidades e não tem nenhuma opção errada. E, claro, começa a comparação com as outras pessoas da faculdade e fora dela. Sempre aparece aquele prodígio que se destaca desde o primeiro semestre.

E só piora. Já tem quase seis anos que saí da faculdade e nunca me senti tranquilo. Sempre sinto que posso mais, que tudo isso é pouco pra mim. Mas será que é?

Eu queria me sentir tranquilo de novo, num caminho profissional legal, mas tudo anda tão bagunçado com esse vai e volta de cidade e emprego. E eu me sinto tão preguiçoso e medíocre. Cadê aquela coragem de mudar tudo e de buscar algo novo?

Por enquanto só penso que o carnaval começa hoje nessa sexta-feira 13. Na quarta-feira de cinzas eu penso no que fazer. Lembra que o prazo era janeiro? Bem, do final do carnaval, quando o ano finalmente começa, não passa.

9 de fevereiro de 2015

Ajeita

Eu ainda não tenho do que vai acontecer na minha vida e isso tem me deixado completamente imobilizado. Mas a gente nunca tem mesmo certeza do que vai acontecer. Pode ser que não aconteça nada. E nada é pior do que a possibilidade de acontecer algo. Tantas coisas que me incomodam que não tenho ideia de por onde começar a arrumar o domingo e os próximos dias.

E então comecei pela bagunça de casa, mais visível que a de dentro da cabeça. Dobrar roupas, jogar fora papeis velhos, arrumar a mesa. Dor nas entranhas, lágrimas caindo pelo rosto. Táboa e ferro de passar, roupas de trabalhar amarrotadas, vincos, vapor. Gosto amargo na boca. Organizar armários, jogar fora lixo, esconder tralhas em caixas. Leve dor de cabeça.

Aos poucos o desespero ameniza. Pegar o celular no final da tarde para ouvir a voz da mãe, saber como foi o dia. Voz de irmã depois de tantos dias sem se falar. Voz do pai preocupado. Respirar fundo para sair um pouco do lago congelado que se tornou a vida.

Cheiro de comida. Comer sem diálogo. Mais lágrimas. Mais arrumação de casa. Dizem que remédio bom é lavar louça suja. Talvez seja.

Filme de noite, aconchego no sofá. Primeira paz no dia. As coisas vão melhorar, não adianta ansiedade. Tudo tende a se encaixar. Respirar. Respirar. Respirar.

5 de fevereiro de 2015

Feliz Cidade

Não é fácil ser feliz. A vida é chata e o tempo todo aparecem coisas pra estragar o dia. E a grana anda curta, o tempo anda pouco e nada de comer direito e fazer esporte como se deve.

Mas na verdade, em tese, é fácil ser feliz. A vida não vai mudar de uma hora pra outra, os problemas não vão acabar. a felicidade precisa ser uma escolha: escolher não ficar mau humorado por causa dos pepinos. Escolher rir. Escolher comer bem. Escolher não adiar a alegria para quando aparecer um emprego melhor ou para quando juntar dinheiro para uma viagem. A felicidade precisa ser diária. Uma escolha consciente. E sempre relembrada.

É muito mais fácil ser triste. Motivos não faltam. E tristeza vai puxando mais tristeza. É gostoso ficar ali jogado no sofá vendo séries e comer um brigadeiro de panela porque o dia foi uma porcaria. E quando se percebe, já tem tanto tempo que a gente foi feliz que já nem se lembra como é.

Mas como é ser feliz? Vai de cada um. Pra mim é leveza. É não se preocupar tanto com cenários malucos que se vai montando na cabeça. É viver o hoje, sem idealizar o passado e sem se preocupar demais com as incertezas do futuro.

Eu preciso ser feliz hoje. Tô cansando de arrastar tantas correntes e carregar tantas pedras.

2 de fevereiro de 2015

Dia de festa no mar

Não sou uma pessoa religiosa e nem tenho ali uma religião pra chamar de minha. Aliás, já fui em várias cerimônias e cultos, mas não me liguei a nada espiritual.

Ok, quando as coisas apertam eu rezo na maior tradição católica.

Não conheço quase nada das religiões africanas, mas adoro esse mistério dos orixás. E do pouco que conheço, minha orixá favorita é a Iemanjá.

Sempre lembro da música na voz da Bethânia sobre a rainha do mar. E que dia dois de fevereiro é dia de festa no mar.

Acho que meu fascínio por Iemanjá é porque sou fascinado pelo mar. Como moro há mais de mil quilômetros da praia mais próxima, posso ficar horas só vendo e ouvindo as ondas, quase em um transe.

Aliás, água é algo muito forte pra mim. Mesmo o lago Paranoá já me deixa encantado.

Então, Odoyá, Rainha do Mar!!