27 de julho de 2010

Dois sempres e um nunca

Sempre tive medo. De não dar certo, de não conseguir, de me frustrar, de machucar, de ser menor. Talvez em alguns momentos a falta de coragem tenha sido tão grande que me ausentava de mim mesmo e percebia toda aquela cena de fora, olhando-me assim de terceira pessoa do singular. Quando me dava conta, havia deixado a covardia de lado e resolvia minha vida. Foi assim ao sair de casa. Chorei, tive medo, não queria magoar meus pais, mas precisava zarpar, mesmo que não fosse para muito longe. Zarpei em um lampejo de calmaria e lucidez.

Sempre fui chorão. Desde criança. Lembro que não conseguia segurar o aperto seco que me dava na garganta. Um dos piores momentos foi o primeiro dia na escola. Mas até hoje ainda deixo escapar algumas lágrimas em filmes ou textos, e também quando a saudade resolve se instalar. Aliás, mesmo sem útero ou oscilações hormonais bruscas, alguns dias me sinto mais triste e fragilizado. Em um desses dias, especificamente na semana passada, foi a primeira vez que chorei ao telefone. Doeu de verdade. Chorei até me sentir vazio. Chorei um rio, como na música da Ella Fitzgerald.

Nunca me encaixei. Tudo parece tão diferente. Gosto de coisas que quase ninguém gosta, meu temperamento é completamente diferente do da maioria das pessoas e frequentemente presto atenção em coisas que ninguém dá valor. Não gosto de futebol, não assisto novela, não chamo atenção, não reclamo, não brigo, não me destaco, não gosto de roupas sociais - sou o único de jeans e allstar no trabalho. Não sei o que quero fazer no futuro e não sei especificamente qual o meu talento.

Dois sempres e um nunca, quem sabe eu ainda consiga me conhecer. Prazer, meu nome é Vinicius.




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