10 de outubro de 2013

Largar

Mas é claro que estou perdido na vida. Vi uma revista dessas semanais com a manchete de capa sobre como encontrar o trabalho da sua vida. Eu me iludo, claro. Daí comprei a bendita revista pela primeira vez na vida.
 
Vários exemplos legais e receitas de como facilitar esse processo de mudança de carreira. A moça que trabalhava com tecnologia e largou tudo para virar mecânica. A publicitária que largou tudo e foi virar professora de balé.
 
Eu adoro esse conceito de largar tudo e, inclusive, baseio minha biografia futura nessa frase. Larguei tudo e... Bem, só não sei para onde vou depois de largar tudo. Sempre penso em surpreender as pessoas no futuro contando que já fui servidor público, que já fui advogado, que já tive carteirinha da OAB, que já tive carteira de trabalho assinada. Na minha cabeça as pessoas ficariam bem supresas e responderiam com "Sério? Você? Nunca imaginei!".
 
Fiz um ensaio de "largar tudo". Ou melhor, de "largar". Deixei meu emprego público, minha cidade e vim morar em São Paulo, procurando um emprego que eu não tinha a menor experiência. Mas preciso largar de novo, depois de um ano e meio.
 
Não é bem que eu precise. Na verdade eu achei que eles me largariam, mas ainda estou por aqui. Não tenho coragem de pedir demissão e acho que não tenho aptidão para ser advogado. Mas venho todos os dias, faço alguns trabalhos, vou a eventos. Aprendo. E recebo um salário bem baixo em uma posição de recém-formado.
 
Gosto de meio ambiente. Sempre gostei, apesar de nunca ter me engajado. Aliás, eu nunca me engajei em nada. Nunca encontrei minha paixão na vida e isso tem me deixado tão insosso. Dias seguidos de outros dias e nada de emoção, nada de novidade, nada de nada. Pago as contas, leio algumas coisas, vejo um pouco de tevê, trabalho, namoro.
 
Minha grande emoção nos últimos dias foi quando chegou o sofá. Sim, um sofá, ou melhor, um sofá-cama. E um rack. Ou buffet, não me lembro. Nunca tive um sofá na minha vida. Já tive rack, mas não tão bonito como esse que compramos.
 
Eu sei que é um sentimento completamente burguês, mas acho linda nossa nova sala. Sofá, rack (ou buffet, não lembro!), mesa e quatro cadeiras. Uma sala em que pessoas podem sentar, conversar, escutar música.
 
Eu quero mais que uma sala. Quero paixão, loucura, ressaca, risadas, bebidas, música alta. Quero viver aqui de verdade, quero um emprego que eu me orgulhe do que faço, que eu possa ser mais sincero comigo mesmo.
 
Quero largar minha vida profissional e começar outra, do zero. Mas antes disso tudo, quero saber o que quero fazer. Ou então largar tudo e depois saber o que fazer? A pessoa tem trinta anos e contas para pagar e, claro, fica bundona. Cadê meus colhões? Quem é você, Vinicius? Tá na hora de (se) descobrir!

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