26 de maio de 2015

Paisagens

Você entra em um casulo de metal, geralmente sozinho, e segue para o trabalho junto a outros casulos de metais, em geral também só com uma pessoa em cada, e esquece de tanta coisa que acontece ao redor.

Resolvi vir ao trabalho de transporte público hoje. Uma parte do percurso de metrô e outra no ônibus da empresa.

Sair de casa e caminhar alguns minutos a pé nessa manhã ensolarada e fria. Um sol tão suave. E então a estação de metrô. De cara já tive de esperar uns três trens passarem até eu conseguir me jogar em um pequeno espaço lá dentro. Sempre cabe mais um. Sair do casulo te coloca em uma situação cheia de vida, com tudo de bom e ruim da vida em coletividade. Pessoas de todos os jeitos, alguns com livros, outros segurando bicicletas, outros dormindo sentados no chão.

A paisagem lá fora passa depressa. Em alguns trechos parece até uma área rural, com campos verdes e poucas construções.

Não canso de olhar para as pessoas e imaginar histórias. Um adolescente ao meu lado resolveu um cubo mágico em alguns minutos. Eu não imaginei que adolescentes ainda gostassem de cubo mágico. Eu nunca consegui resolver um. E fiquei hipnotizado com O brinquedo que girava na mão de rapaz de forma tão rápida, nem parecia que ele prestava atenção nos próprios movimentos. De repente, todas as cores ficaram organizadas. Eu quase dei parabéns a ele, mas achei melhor não. Era muito cedo na manhã e ninguém gosta de conversar nessa hora. Aliás, ninguém gosta de conversar com quem não se conhece, ainda mais dentro do metrô.

E havia homens engravatados, homens com roupas simples, pessoas de chinelo, garotas de uniforme da escola. Próxima parada: estação central.

A Rodoviária é impactante. Um prédio que não se sabe direito se é um viaduto ou um monumento. E com camadas inscrustadas de sujeiras ancestrais e fuligem.

Quero tirar fotos do céu azul, as linhas dos prédios, as pessoas, mas sinto um leve desespero, pois não sei direito onde o ônibus da empresa fica estacionado. Procuro rostos familiares, crachás, mas encontro filas, pastel, café, pedintes. Finalmente vejo o logo da empresa que eu trabalho estampado na lateral do ônibus.

Quando a gente mora há muito tempo na mesma cidade e faz os os mesmos caminhos todos os dias acaba por ficar meio anestesiado com a paisagem. Hoje dentro do ônibus eu me senti meio estrangeiro na Esplanada. Esse céu azul sem nuvens, os prédios pintados de branco, as pessoas apressadas. Pensei nos arquitetos, engenheiros e peões que trabalharam nas obras da construção da cidade, lá no final da década de 1950. E achei aquilo tudo tão bonito.

Eu queria ter continuado eternamente dentro do ônibus com a cidade passando devagar. Para qualquer lugar. Uma música gostosa nos fones de ouvido. Queria viajar. E então peguei meu crachá, olhei a foto ali já meio esmaecida. Respirei fundo. Quem sabe um dia.

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