19 de outubro de 2015

Faxinas

Ele acordou e não conseguiu ir ao trabalho. Não era uma doença grave, bastava algumas medicações intravenosas, um atestado e algumas horas para ajeitar de novo a cabeça. Era preciso um dia inteiro para isso.

Uma faxina na casa, uma faxina nele. Enquanto se arruma a casa a cabeça também vai se consertando aos poucos. Ao arrumar a sala, o quarto, a cozinha, sempre se encontra alguma coisa esquecida atrás do sofá, do fogão, da cama. Da mesma forma, algumas coisas ficam escondidas dentro da cabeça. As ideias estão lá dentro, mas escondidas atrás de outras. No meio da faxina ele encontrou uma fotografia sua antiga e sentiu saudade daquele rosto, sorriso e olhos que já foram - e ainda são - seus. Onde estão? Tinha um monte de ideia empoeirada na frente, uma bagunça, mas ele sabia que ele mesmo ainda estava ali. A bagunça é ele também.

A faxina durou o dia inteiro, dentro e fora da cabeça. Quando terminou a arrumação da casa, ainda precisa terminar de arejar a cabeça. Tinha uma bicicleta ali em algum lugar. Encontrou dentro e fora da cabeça. Pegou e foi passear na tarde quente. Vento quente, asfalto quente, cabeça quente. O cabelo balançava, o suor escorria e a cabeça arejava enquanto o sol atrasado do horário de verão descia no horizonte.

Amanhã não vai ter folga. Vai trabalhar dobrado. Mas com a casa e a cabeça menos bagunçadas tudo fica mais fácil.

Quem sabe essa bagunça seja uma forma de ver que o que está bagunçada é a vida mesmo. Ele ainda precisa descobrir como ajeitar a vida, mas uma coisa de cada vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário