20 de dezembro de 2018

Quase 2019

A volta para o cotidiano não é fácil. A viagem para a praia com meu marido (agora oficialmente marido, com direito a aliança e papel passado!) parece um sonho tão distante, mesmo que na semana passada a gente ainda estivesse com os pés na areia e o corpo cheio de sal. Eu vejo como realmente viagens de férias são essenciais para nos tirar do automático do dia-a-dia. Ainda mais uma viagem em que só rolaram coisas boas, não teve estresse e a natureza é simplesmente maravilhosa, de deixar a boca aberta.

Chegar das férias em um dia e voltar para o trabalho no outro não é algo que recomendo. Ainda mais com uma sinusite e tosse seca que não me deixam em paz. Eu nunca fiquei tanto tempo com sintomas de doença e isso me fez repensar muito sobre saúde. Emendar uma risada com uma tosse e depois ficar sem ar não é algo que eu achei que fosse acontecer. E aconteceu muitas vezes. Agora finalmente depois de alguns médicos e muitos exames, incluindo duas tomografias, parece que meu corpo está voltando a ter um pouco mais de saúde. O antibiótico tem me ajudado, mas também detonado meu corpo.

Estou me arrastando no trabalho. Sem energia, sem motivação, sem me ajeitar. Venho praticamente de pijama (comprei duas calças de moletom que imitam jeans e fico variando elas). Bom que semana que vem já estou de mini-férias novamente e só volto de vez no começo do ano. Eu reclamo do meu trabalho, mas realmente é muito bom trabalhar aqui. Só que trabalho é trabalho e tem dias que dá vontade de sair correndo.

E então daqui a pouco termina o ano. Tenho pensado muito também de como essas eleições me fizeram me afastar um pouco da minha família. Não sei explicar direito, mas parece ter sido a gota d'água que me fez repensar minhas relações familiares. Não aconteceu nada drástico, nenhum trauma. Parece que entendi o tanto que idealizei minhas relações familiares, como se desejasse ter uma família dessas de comercial de margarina. Entendi que tanto eu quanto eles nunca buscamos nos aproximar realmente, entender um ao outro. Criamos personagens para cada membro da família e então vivemos assim de uma forma simplificada, meio que em um script que não varia muito. Talvez tenha sido uma boa solução.

Nos falamos quase todos os dias por mensagens de grupo no celular. Combinamos almoços ou lanches, falamos bons dias, tiramos dúvidas burocráticas. Mas realmente não nos conhecemos. Penso até que se não fôssemos uma família, nem amigos seríamos. Não sei ainda se isso é bom ou ruim.

Com as eleições eu parei de idealizar a minha família e tentei entendê-los como indivíduos. Entender suas motivações, suas ideias. Fiquei um pouco chateado com algumas coisas, afinal o candidato que eles apoiaram é notadamente racista, machista e homofóbico, mas decidi não me estressar e nem discutir. Essa conclusão (e a minha decisão de não me envolver em brigas políticas) foi o estopim para que eu deixasse de idealizá-los e me sentir meio desconectado a eles. Eu me sinto mais lúcido, como se tivesse regulado a nitidez na televisão. Eu percebi que tanto eles quanto eu mesmo gostaríamos que todos fossem um pouco diferentes. Por exemplo, eu adoraria que meus pais curtissem ir a museus, cinemas, arte. Comecei a dar livros clássicos de presente para eles, falei de exposições de arte e tudo mais. Mas eles simplesmente não gostam e acho que não tem nenhum problema com isso. Já em relação a mim, eles gostariam que eu passasse em outro concurso, que não fizesse uma faculdade de arte e que eu morasse mais perto do centro da cidade. E, claro, que eu não fosse gay e que eu fosse cristão. Decidi então parar com essa idealização e, claro, tentei não me incomodar com a idealização que eles têm de mim.

Não é fácil. Vou ter que aprender a ter essa nova relação, sem me machucar e sem me afastar, pois eles são minha família. Eu sei que eles me amam e que posso contar com eles para me ajudarem quando houver um problema. E talvez seja exatamente isso que importa.

Vamos ver como vai ser 2019...

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