3 de junho de 2021

Cogumelo

Eu adoro cogumelos. Shiitake, shimeji, paris, champignon, funghi. Eu fui experimentar um cogumelo fresco só quando já estava adulto, antes era só o champignon em conserva, que até hoje compro pra usar no bom e velho Strogonoff de frango. 

No jardim da casa dos meus pais de vez em quando nascia cogumelos no chão ou em então as orelhas de pau nos troncos de árvores. Sempre senti um certo receio, apesar de saber que as orelhas de pau são comestíveis. 

Comecei a ler o novo livro do Michael Pollan e fiquei mais curioso sobre cogumelos. Resolvi experimentar psilocobina. Devagar, apenas para ver como são. Eu e meu marido, luz baixa, playlist especial, um pequeno ritual para nós dois. A importância do "set and setting", o ambiente sonoro, visual, a segurança e a dosagem. Eu com menos e ele com mais, eu cuidaria caso acontecesse algo. Na vez seguinte invertemos os papeis. 

Uma sensação boa de conexão com o universo. As plantas da minha casa respiravam, as nuvens formavam desenhos que pareciam rochas e cavernas no céu. Introspecção, pensamentos soltos, ideias, o tempo passou ligeiro. Nada de televisão ou celular, apenas nós dois, a música, a respiração, os pensamento.

Na semana seguinte eu com mais e ele com menos. Sensação boa, introspecção, mas agora mais forte. Estampas que se moviam pela parede, plantas inspiravam e expiravam. Parecia haver um tecido fino nas paredes e com muitas plantas por trás. Lembrei a dica do livro do Pollan para apenas aceitar e seguir, não ter medo. Senti um pouco de enjôo e preguiça. Fechei os olhos e parecia que minhas pálpebras eram transparentes, não tinha muita diferença entre estar com olhos abertos ou fechados. A casa se transformou em uma floresta iluminada pelo luar. De repente eu era outra pessoa, vivia e experimentava a vida e então percebia que me enganei, estava em casa. Outra história começava e eu era outra pessoa. Deixei de ser eu mesmo, esqueci das minhas coisas, da minha história. E então me lembrava e me sentia enganado. Depois veio uma sensação de que fiz algo errado no trabalho, mas não lembrava o que era. Mas não importava. Deixei passar, lembrei que era engano novamente. Voltei para a floresta. Cheguei em uma personificação do mundo, uma montanha com rosto. Não tive medo e me senti acolhido. Uma floresta tranquila. Ouvi de longe um sino meio budista, mais sinos. Era o panelaço contra o maldito presidente. Alguns xingamentos, mais panelas. Aos poucos voltei para a minha floresta.

A música conduzia tudo, músicas New Age. De repente reconheço uma Enya ao fundo. A floresta se tornou toda em tons de roxo, folhas, flores e borboletas. E eu planava no ritmo da música. Uma sensação gostosa por todo meu corpo. Depois uma música indígena e cheguei em uma colina, perto de um precipício.  

Aos poucos voltei. A música continuava. Uma sensação boa no corpo todo. Um cansaço de viver tantas coisas. Foram quatro horas de várias vidas, locais, pensamentos. Autoconhecimento. A vida é tão complexa. Não apenas o que vemos. Que bom existem os cogumelos. 


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