11 de janeiro de 2023

Despaixão



Ando sem paixões, sem vontades avassaladoras. Não sinto a falta de ar, o aperto no peito, a boca seca, a necessidade extrema. Não sinto apego. Não sinto necessidade, apenas as básicas: comer, beber água, dormir. Não tenho desejo. Não tenho sonhos. Sobrevivo desde não me lembro quando. E continuo a sobreviver. Minha única meta é sobreviver. Penso lá na frente, espero ter saúde e dinheiro na minha velhice. Já vivi tempo suficiente para saber que a vida é feita de estações, não apenas as quatro do ano, mas várias estações, algumas que duram bastante tempo. Sinto que estou em uma longa estação, talvez um longo inverno de preparação para sobreviver. Tenho plantado de alguma forma, da forma que é possível, não sei quando ou o que irei colher. Nesta estação a vida está pequena. Leituras, músicas, conversas, passeios. Vida pequena sem grandes planos, mas vida mesmo assim. A vida também é miúda e simples. Sem gerúndios e superlativos. Vida simples, quase no infinitivo, mas no presente, indicativo. E continuo, sobrevivo, miúdo. 

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