23 de janeiro de 2023

Livros 2022



Continuo com o hábito de ler quase todos os dias depois do almoço e em 2022 consegui ler livros maravilhosos. Não teve nenhum livro que não gostei, mas alguns me marcaram mais. Peguei indicações de vários lugares, anoto sempre no bloco de notas de celular. E alguns livros puxaram outros. Percebi que a capa do meu kindle ficou bem marcada com o tanto que ele foi levado comigo em bolsas e mochilas, além de ir e voltar da praia. 

O álbum branco - Joan Didion
Eu tinha visto o documentário da Joan Didion na Netflix e fiquei com vontade de ler mais textos dela. Ainda não tive coragem de ler o livro sobre a morte do marido e da sua filha, então peguei um mais leve. O álbum branco é uma leitura deliciosa.

Homens sem mulheres - Haruki Murakami
Todos os anos tento ler algum livro do Haruki Murakami, um dos meu autores favoritos. Nesse livro de contos há o que virou um filme de muito sucesso (Drive My Car), que eu ainda não assisti, mas o conto é maravilhoso. Não tem erro para mim, o texto do Murakami é sempre sensacional.

Kadosh - Hilda Hilst
Eu não entendi muito bem o Kadosh, mas não preciso entender para gostar. O texto de Hilda Hilst veio como ondas, sensações e cores. Vários fluxos e imagens na minha mente. 

Antropoceno: notas sobre a vida na Terra - John Green
Esse livro do John Green ouvi por indicação no podcast de Aline Valek (o Bobagens Imperdíveis) e foi uma leitura leve e muito interessante. Eu me senti lendo os blogs de antigamente e aprendi várias coisas sobre aqueles adesivos de arranhar e que soltam um cheirinho, algo que não fez parte da minha infância.

Breasts and eggs - Mieko Kawakami
Eu não lembro onde peguei a indicação para esse livro, acho que foi no podcast da Companhia das Letras ou no da 451 mhz. Fiquei curioso com o título e valeu a pena. A história de uma moça japonesa que recebe em sua kitnet a visita da irmã e da sobrinha. A irmã quer fazer uma cirurgia de implante de silicone. O livro traz ainda a questão da maternidade, a falta de desejo sexual e vontade de ter filho sem estar em uma relação amorosa. Eu adorei o livro e fiquei com vontade de experimentar um chá gelado de cevada que as personagens sempre tomam, o mugicha.

O avesso da pele - Jeferson Tenório
Eu ouvi falar muito desse livro há meses e finalmente consegui ler. O livro é doloroso, mas é impossível de parar de ler. Uma história de violência policial, racismo, a dificuldade de ser professor na periferia e de luto. Mal posso esperar para ler os outros livros de Jeferson Tenório. E ainda deu de presente para uma amiga, junto com o livro da Natércia.

Os tais caquinhos - Natércia Pontes
Eu conheci a Natércia na época que morava em São Paulo, ela é amiga de um amigo. Quando vi que ela lançou esse livro fui atrás para ler. O livro é doloroso também e muito sensorial, mas é uma leitura voraz. Depois de terminar fiquei um bom tempo com essa história na cabeça. E escutei muito "Pra começar", da Marina Lima, música que inspirou o título.

Se o passado não tivesse asas - Pepetela
Eu nunca tinha lido  um autor angolano. Ganhei esse livro de uma amiga há muito tempo, tinha começado a ler, mas não engrenou, pois são muitas expressões diferentes do Português do Brasil. Mas dessa vez recomecei e a história me cativou e aprendi muitas expressões angolanas, como o bué (que é muito). Fiquei curioso nos pratos e bebidas citadas e percebi como há mais semelhanças com o Brasil do que eu pensava. As duas histórias são bem costuradas, com dois recortes temporais. Fiquei curioso para ler outros livros de Pepetela e outros autores angolanos.

Pequenos discursos. E um grande - Hilda Hilst
Eu adoro Hilda Hilst, mesmo sem entender alguns de seus livros. Estou lendo a coletânea de prosa picadinho para durar mais.

O guia definitivo do mochileiro das galáxias - Douglas Adams
Precisei de um pouco de leveza e ficção científica e lembrei do Guia do Mochileiro das Galáxias. Peguei essa coletânea com todos os livros (a trilogia de cinco livros) e adorei todos os personagens e os nomes malucos. Agora consigo entender a necessidade da toalha e tudo mais, que sempre é mencionada no dia 25/05. Ficção científica é sempre sobre a nossa realidade, mas de uma outra forma. Gostei das críticas, dos personagens, do ambiente. E gostei que começou como um programa de rádio. Algumas coisas muito inglesas eu não consegui captar completamente, mas de qualquer forma é uma ótima leitura.

A elegância do ouriço - Muriel Barbery
Peguei essa indicação no podcast da 451 mhz. E valeu cada minuto. Eu adorei a história da concierge que gosta de ler e estudar. E da adolescente filha de ricos e que não quer mais viver. O livro é curtinho e uma leitura maravilhosa.

Anna Karenina - Leon Tolstoy
De tanto que Anna Karenina é mencionado em A Elegância do Ouriço (os nomes dos gatos de dois personagens importantes são Levin e Kitty (dois personagens importantes em Anna Karenina) e Leon (o autor). O livro é denso, mas entendi porque é um clássico. Os personagens são todos muito bem construídos e desde o começo já percebemos que o destino de Anna não vai ser dos melhores, ela precisa ser uma heroína trágica para dar andamento na história. Consegui imaginar a Rússia da época dos czares, as viagens de trem, os agricultores, os chás e cafés nos samovares e as festas da elite. Depois fui ver a versão de 2012 com Keira Knightley e Jude Law, agora já tendo lido o livro e gostei bastante da adaptação mais teatral.

O manual da faxineira - Lucia Berlin
Peguei essa indicação em uma entrevista com a Letrux para o Arte1 e achei que seria um livro leve e engraçado com contos sobre faxinas na casa das pessoas. Esse é um dos livros mais pesados e maravilhosos que eu já li. Contos sobre pessoas marginalizadas e com problemas com o álcool, contos sobre infância, família e histórias quase surreais (como a da neta do dentista que ajudou a extrair os dentes do avô). Pesquisei sobre Lucia Berlin e vários de seus contos são inspirados em sua própria vida. E que somente após sua morte é que seus livros tiveram destaque. Mal posso esperar para ler outros livros de Lucia.

Cidades invisíveis - Italo Calvino
Eu ganhei esse livro na adolescência, mas nunca tinha lido. Depois de uns 20 anos resolvi ler e gostei muito. Imaginei todas as cidades narradas e nessa história costurada por um Marco Polo que inventou todas essas cidades, mas que a partir do momento que ele inventa essa cidades passam a existir. 

Sandman, Endless Nights, Death Deluxe, Overture, Nightmare Country - Neil Gaiman
Depois de ver a série do Sandman no Netflix fiquei interessado em ler os gibis e realmente nunca tinha lido algo assim. Devorei os 75 números originais e mais alguns que saíram após. E mal posso esperar para a 2ª temporada da série.

A viagem do elefante - José Saramago
Tinha tempo que não lia Saramago e chegou para mim esse sobre a viagem de um elefante de Lisboa até a Áustria. Uma história que realmente aconteceu, mas que ganha ainda mais realidade e cor a partir do momento que Saramago decidi contá-la. Fiquei dias pensando no elefante Salomão e no cornaca. 

Querida Kombini - Sayaka Murata
Mais um livro japonês, o terceiro do ano. Eu não podia ficar apenas no Murakami. Esse livro é curtinho, conta a história de uma moça neurodiversa, mas que não sabemos qual é o seu diagnóstico, apenas que ela é diferente de todo mundo ao seu redor e decidi se adequar à "normalidade" trabalhando numa loja de conveniências de uma rede famosa japonesa. A loja tem regras para vestimentas, para falar com o cliente e tudo mais, que a ajudam a guiar sua rotina e sua vida. Ela já trabalha há 20 nessa loja e gostava muito de trabalhar lá, sua vida estava boa, mas todo mundo ao seu redor achava estranho e queria que ela se adequasse a uma vida normal. Eu adorei o livro e me coloquei no lugar da personagem principal. Todo mundo tem alguma neurodiversidade, todo mundo sofre pressão para se adequar. É um livro árido e que ficou comigo muito tempo.

Anos de chumbo - Chico Buarque
Comecei a ler esse livro no avião com destino às férias na Bahia. Eu adoro os livros do Chico e esse livro curtinho de contos maravilhosos. O meu preferido é o do fã de Clarice Lispector. Eu li quase todo no avião e foi uma ótima companhia.

Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres - Clarice Lispector
Esse livro é citado no conto do Chico Buarque o "Anos de Chumbo" e fiquei curioso. Uma mulher e um homem que querem ficar juntos, mas que precisam entender várias coisas antes de ficarem juntos. Uma mulher independente e inteligente. Um livro dolorido, mas com cenas lindas, como o banho de mar solitário de madrugada. O livro retrata as poucas possibilidades das mulheres nos anos sessenta e o que era precisa sacrificar para poder ter uma vida do jeito que se queria. Pensei muito em Lóri depois que terminei o livro. Não sei se é o melhor livro para se ler nas férias, mas foi o livro que li na Bahia.

Tieta do Agreste - Jorge Amado
Eu lembro da novela e o do filme, mas nunca tinha pensado em ler o livro até que foi indicado por Chico Felitti em seu instagram. Aproveitei que estava na Bahia e resolvi ler Jorge Amado. Não poderia ter escolhido um livro melhor. Comecei a ler no final dos meus dias de férias, mas a Bahia me acompanhou até ontem, quando finalmente acabei o livro. Tieta é bem diferente do livro e da novela. E é um livro que não envelheceu. Trata de meio ambiente (ainda não sei o que dióxido de titânio), de política, de corrupção, de hipocrisia, de uma religião cristã menos punitiva e mais harmoniosa e, claro, trata de prostituição como uma empresa e como função social. Tieta é uma personagem maravilhosa e com a capacidade de mudar toda uma cidade. Ainda estou impregnado de Bahia e de Tieta. E que bom!

Nenhum comentário:

Postar um comentário