27 de junho de 2025

Junho quase no fim



Eu gosto do mês de junho. Tem as festas juninas, as comemorações do orgulho, o clima mais frio e seco, as florações de ipê. Junho foi um mês bom, correu tudo bem. Passei alguns dias mais difíceis, mas fiquei feliz de conseguir vencer algumas maratonas, tipo a cirurgia da minha mãe, os médicos e tudo mais. Cuidar não é fácil, ainda mais quando grande parte da família mora longe. De qualquer forma, tudo se ajeita. De algum jeito. 

18 de junho de 2025

Hospital



Mais uma cirurgia que acompanhei minha mãe em uma cirurgia. Três dias direto no hospital. Cochilos na poltrona reclinável, barulhos e bipes o dia todo, a fragilidade da minha mãe no pós-cirúrgico e conviver em um ambiente de ficção científica como o de uma UTI. Camas futurísticas, aparelhos, cilindros de oxigênio, pessoas com uniformes de cores diferentes para designar sua função. Muitos idosos sozinhos em seus quartos, alguns inconscientes. Pensei muito na velhice. Espero ter alguém para me acompanhar em cirurgias ou ao menos que eu tenha dinheiro para pagar por cuidadores. Minha mãe ainda sente dores, mas a cada dia que passa se sente melhor. Logo ela voltará a caminhar normalmente. Admiro muito a força da minha mãe. Que bom que eu pude ajudá-la e uma pena que meus irmãos estão longe e não podem compartilhar esse cuidado.

4 de junho de 2025

Mar infantil



Ando com muita saudade do mar. Recebi uma foto antiga de família justamente das férias na praia. Um pequeno barco na cidade natal da minha mãe. Durante minha infância e adolescência nós íamos todos os anos passar as férias na casa dos meus avós. E com muitos passeios de barco. Algumas vezes havia passeios pelo alto mar e nunca vou esquecer a sensação de me sentir tão pequeno no mundo. Água por todos os lados, pequenas ondas que pareciam se transformar o mar em uma grande gelatina azul com um pequeno brinquedo em cima, um barco tão frágil, tão pequeno. E nós dentro desse brinquedo, isolados de todo o resto do mundo. A nossa dose anual de maresia e sal. Eu quase sempre enjoava, então precisava ficar com um limão cortado para me ajudar a não ficar tão mareado. Talvez era a falta de costume com o vai-e-vem das ondas, afinal minha vida era a mais de dois mil quilômetros de lá, bem no centro do país. Eu sempre gostei do mar. Lembro também de estar em uma praia com minha mãe, ondas fortes. Não dava mais pé para mim e eu não consegui mais chegar perto da areia nem da minha mãe. O mar me levava para cada vez mais longe. Mas não senti medo e nem nervosismo. Não consegui avisar minha mãe, mas ela sentiu e gritou socorro. Pensei que iria morrer, mas eu tinha uma vida boa até então e estava tudo certo, não era uma forma ruim de morrer. Eu sou uma pessoa medrosa, mas ali naquele momento não senti medo e nunca mais esqueci dessa sensação. O salva-vidas me resgatou e voltamos para a areia. Eu não tinha engolido água, nem havia me afogado, mas fiquei feliz de poder continuar minha vida. Não foi uma grande transformação e nem mudou o rumo da minha história, mas sempre lembro dessa coragem, certeza e resignação. E o mar gigante, as ondas, e eu não conseguia alcançar o chão e voltar.

22 de maio de 2025

Uma coisa de cada vez



Tenho pensado em formas de encontrar novamente aquela minha versão de uns vinte e poucos anos, que gostava de pesquisar, fazer coisas diferentes e não tinha medo de quase nada. Quando penso naquela época sinto uma sensação boa. Com o passar dos anos é difícil não enrijecer e ter mais medo. Nem sei porque tenho medo de tanta coisa, nada muito concreto, mas é um medo de coisas que realmente vão acontecer e não há nada que posso fazer. Meus pais estão idosos e sinto medo de como vai ser a vida sem eles por aqui, sem poder conversar com eles, abraçar apertado, ouvir histórias. Tenho medo até da burocracia terrível com a partida deles. E não adianta, a única certeza é que não somos eternos. Em seguida fico com medo da minha partida. Espero que seja daqui a muitos anos. Tenho medo de ser um idoso solitário e que só descobrem da partida dias ou semanas depois. Mas não tem o que fazer. O que me conforta é que para tudo se dá um jeito. Respiro fundo e então me acalmo um pouco. Realmente, tudo se ajeita de alguma forma, mesmo que não tenha jeito, o que também é uma solução. Respiro. Não adianta ter medo ou sofrer por antecedência. O jeito é viver. Cada dia. Um dia pós o outro. Pequenas coisas. Como arrumar o registro do banheiro que desgastou e gira sem fechar ou abrir. Quebrei a cabeça, fui em uma loja de material de construção aqui do lado de casa e consegui consertar. Talvez seja isso. Começar com os problemas mais fáceis de resolver e aos poucos resolver o que for possível. Por enquanto isso tem me ajudado muito.

16 de maio de 2025

Natureza



Tenho sentido mais vontade de natureza. Mas sem precisar pegar a estrada para algum lugar afastado. A natureza aqui do dia-a-dia, da gente. Tenho prestado atenção nas copas das árvores, nos saguis, nas borboletas, nas abelhas, nas frutas, nos líquens. Gosto de caminhar e olhar ao meu redor, sentir que faço parte de tudo isso. E que bom viver em uma região arborizada. Gosto de ser bicho, de ver o verde, respirar. E me encantar com essas pequenas alegrias, a alameda que se forma do encontro das copas de árvores, os jardins plantados pelos vizinhos. Natureza é a gente também. E está ao redor, nos pequenos detalhes. Espero não perder esse olhar de encantamento e continuar a voltar feliz pra casa depois de ver essa simplicidade. Aliás, essa complexidade da vida ao meu redor.

9 de maio de 2025

Nada



Não tenho conseguido pensar a logo prazo. Minha vida ultimamente tem sido conseguir vencer o dia, vencer a semana. Engraçado isso de vencer, talvez seja uma guerra mesmo. Mas de qualquer forma tenho essa sensação, cada dia é uma vitória. Não que realmente a vida esteja tão difícil assim, de qualquer forma não dá para relativizar, afinal eu só tenho minha própria vida como parâmetro. A vida está arrastada, mas é gratificante chegar no final do dia e ter aquelas poucas horas para não fazer nada. Aliás o que mais tenho gostado de fazer é ficar à toa. Isso, sem preocupação em ser útil ou mudar o mundo. Tenho gostado de me sentir um nada, apenas flutuando no universo junto com essa rocha gigantesca. Respirar, olhar as nuvens e as estrelas lá fora, olhar meus cachorros tirando uma soneca perto de mim, escutar os barulhos da cidade, escutar meus pensamentos. Parece que meu corpo e minha mente pedem esse nada. A vida já é tão cheia de estímulos ué não fazer nada parece ser uma riqueza sem tamanho. Meu desejo é essa vida mais devagar, mais besta, mais simples. Cansei de ser complexo e cheio de referências. Quero ser simples. 

30 de abril de 2025

Sozinho



Meu marido viajou a trabalho e estou só há alguns dias. Quer dizer, estou com os cachorros. Eu gosto aqui de casa e sempre acho coisas para fazer. Escutar música e podcasts, ler livros, assistir a um filme, novela, série ou algum programa de TV ou na internet. Passear com os cachorros. Brincar, conversar e apertar os cachorros. E muitas mensagens diárias para o meu marido, minha mãe e minhas amigas, mas falar mesmo só com o pessoal do prédio quando desço com os cachorros. Muitos "bom dia!", "pois é, ele late bastante mesmo!". Gosto de cozinhar para mim também. Preparei bastante comida para a semana e esquento no meu micro-ondas improvisado, uma frigideira pequena de ferro fundido, minha guerreira de todos os dias. Aliás, nela faço minha panqueca de tapioca, banana e aveia ou um ovo estrelado (com um cuscuz de peitinho), em dias alternados. E esquento meu almoço e meu jantar nela, afinal não é muita comida. Minha vida solitária é boa e tenho a impressão de que se eu vivesse sozinho seria assim quase sempre. Tenho uma tendência a ficar em casa mesmo, afinal aqui tem tudo o que gosto. Eu nunca imaginei que casaria e isso é maravilhoso. Afinal é ótimo ter alguém que sempre traz coisas diferentes para a vida e eu costumo topar tudo. Já são tantos anos juntos e eu estou aqui com muitas saudades. Ele acabou de mandar mensagem que já embarcou e daqui a duas horas estará aqui. E ainda vai ter feriado!

25 de abril de 2025

Monstro do pântano



Tinha tempo que não me sentia tão desanimado. Sinto que uma série de pequenas coisas chatas se juntaram e me derrubaram. Situações que sozinhas não me deixariam chateado, mas que ao se combinarem se transforaram em um grande monstro do lago, como naqueles filmes americanos dos anos 50.. Não tem muito o que fazer. Tente me distrair um pouco, dormir (sempre lembro dos livros do romantismo do século XIX em que as mocinhas simplesmente dormiam por horas quando tinham problemas) e conversar um pouco. Mas o que me ajudou mesmo foi fazer uma boa faxina na casa, limpar aqueles cantos difíceis, usar produtos cheirosos. Sei que os problemas que tenho ultimamente não vão se resolver, talvez sejam simplesmente a vida mesmo. De qualquer forma é bom poder desacelerar um pouco, deitar, deixar o desânimo tomar conta. Não tem muito o que fazer. E bom que hoje é sexta!

4 de abril de 2025

Ontem e hoje



Há 12 anos eu chegava em SP para uma grande mudança na minha vida. Passei quase três por lá e vivi muita coisa boa e também complicada. Foi a primeira vez que me virei mesmo, sem ter apoio de praticamente ninguém. Foi uma experiência ótima e terrível ao mesmo tempo, dessas que marcam a vida. Não me arrependo de ir e nem de voltar. Minha vida é uma antes de SP e outra após. Mas estou muito feliz agora aqui em Brasília. Não sei quais outras mudanças vão acontecer na minha vida, afinal não tem mesmo como saber. De qualquer forma envelhecer tem me feito bem. E sinto um abraço entre o meu eu de hoje e aquele rapaz de vinte e tantos anos. Como diz a maravilhosa Fernanda Torres, a vida presta. 

28 de março de 2025

Trabalho e casa



Já são cinco anos que trabalho de casa. Sento aqui no escritório em frente ao computador e resolvo várias coisas, converso com colegas, escrevo textos, faço análises, sem que precise pegar trânsito ou comer algo na rua. Nesse período contratei dois estagiários caninos, que adoram tirar uma soneca perto dos meus pés e que me lembram das horas de comer. Eu gosto de tudo de trabalhar de casa. Adoro passar o dia por aqui. Não sinto solidão, não falta de ir na firma. Nunca imaginei que poderia trabalhar de casa e realmente me dói ver o tanto de empresas que voltaram às jornadas inteiramente presenciais. Só posso mesmo torcer que aqui no meu trabalho continue tudo remoto, pois minha qualidade de vida mudou completamente. Adoro esse novo jeito de trabalhar.

17 de março de 2025

Pai



Meu pai completou 90 anos. Ele está lúcido e relativamente saudável, mas é um senhor de 90 anos. Às vezes a fala fica embolada, esquece algumas coisas, tem dificuldade para se locomover e parece cada vez mais frágil. Minha mãe tem se dedicado a proporcionar uma boa vida para o meu pai, mas sei que ele está no final da vida e já tenho preparado minha cabeça para a sua despedida. Grande parte das pessoas que meu pai conheceu já se foram. Ele nasceu em um mundo tão diferente, quase medieval. Trabalhou na infância no sítio do meu avô no interior do Ceará e aos doze anos saiu de casa para viver no seminário e se tornar padre, não sei se por vocação ou por vontade de seu pai. Ele foi padre em algumas cidades pequenas do Ceará e veio para Brasília no começo dos anos 70 para trabalhar em uma igreja. Ele veio de férias com dois irmãos em uma viagem enorme em um carro que já era antigo na época (um DKW ou "decavê") e gostou tanto que disse meio brincando que iria se mudar para a capital do país. Aos 40 anos deixou a igreja e se casou com minha mãe, uma moça recém formada na faculdade de letras. Sempre moramos aqui em Brasília. Ele é um ótimo pai, temos boas conversas e ele me ensinou muitas coisas (trocar pneu de carro, escolher legumes e frutas no mercado, conversar com todo mundo e ter a certeza de que tudo vai se ajeitar). Temos uma relação boa, mas sei que ele não entende várias coisas da minha vida. Não sei se vou chegar aos 90 anos. Como vai ser o mundo em 2073? Espero ter uma boa velhice e que o mundo ainda esteja habitável. Não quero ser idoso em um mundo Mad Max. Que bom poder comemorar mais um aniversário do meu pai, não sei quantos aniversários ainda poderemos comemorar

14 de março de 2025



Eu adoro ficar em casa. Posso ler, ouvir música, brincar com os cachorros, ver televisão, jogar. Mas é bom sair também. É uma sensação boa ver música ao vivo, encontrar amigos e finalmente ver de perto alguém que se admira. Assim que descemos do carro na frente do museu encontrei a curadora responsável pela programação musical das noites de show. E por acaso ela também é a apresentadora de vários programas que gosto de escutar e de ver. Perguntei se ela era mesmo quem eu pensava, pois vai que é apenas uma pessoa parecida. Então eu apenas agradeci o trabalho maravilhoso que ela tem feito na escolha dos artistas e disse que sou fã dos programas que ela apresenta no rádio e na TV. Não pedi foto, não abracei, mas me senti tão bem de finalmente ver de perto e agradecer um trabalho que tem apresentado tantos livros e artistas. Sou fã do Som a pino, Clube do Livro Eldorado, Cultura Livre e, claro, do Night Lab, todos organizados pela Roberta Martinelli. Mais tarde encontrei também uma artista que gosto muito, a Letrux, que foi super simpática. É bom poder agradecer e reconhecer essas pessoas que fazem diferença na nossa vida, mesmo que elas não tenham ideia de como fazem bem para a nossa vida.

7 de março de 2025

Carnaval



O carnaval foi uma maravilha. Caminhar na rua, dançar, encontrar os amigos, tomar cerveja, usar fantasias simples, voltar com a perna dolorida e repetir tudo no dia seguinte. Aparelhinho, Vassourinhas, Charretinha Tropicaos, Divinas Tetas e Calango Careta. Um carnaval em março e sem chuvas. Não imaginei que me tornaria alguém que planeja fantasias, organiza a agenda e gosta tanto do carnaval de rua. E eu levei anos para realmente entender o carnaval. Ocupar a rua, dançar, encontrar pessoas e se divertir por ao menos quatro dias. Claro, a quarta de cinzas é sempre estranha e complicada. E é estranho voltar para a vida normal, mas a vida volta de outra forma, um pouco mais colorida e com confetes e purpurina.

21 de fevereiro de 2025

Trabalha trabalha



Os dias têm sido de muito trabalho e muito cansaço. Os dias escorrem rápidos, quando vejo já está de noite. Mas é uma boa sensação marcar um "x" nas pendências ao longo do dia, resolver os problemas e perceber como já tenho uma muita expertise em várias coisas no escritório. Não é o trabalho dos meus sonhos, mas afinal qual seria? Não sei. Tento pensar e não me vem nada que não seja fictício e inalcançável. De qualquer forma, trabalho é trabalho. E mesmo que fosse o melhor lugar do mundo, aos poucos sempre se cai na rotina, pois é trabalho. E no final das contas o escritório é um bom trabalho. E o que importa é que chegou o final de semana!

11 de fevereiro de 2025

Livros 2024



2024 foi um ano que li menos, mas decidi não pensar como se fosse uma corrida maluca. Tento ler um pouco todos os dias, mas sinto que peguei um desafio enorme ao escolher ler Proust. De qualquer forma, aos trancos e barrancos, estou na metade do caminho. É provável que eu leve ainda o ano todo de 2025 e talvez um pouco de 2026 para terminar a saga do Em busca do Tempo Perdido.

1Q84 - Haruki Murakami 
Todo ano tento ler ao menos um livro de Murakami e o escolhido do ano foi o 1Q84. Uma saga em dois volumes enormes, mas devorei. Todos os ingredientes que mais gosto do Murakami estão lá. Personagens solitários, comida e um pouco de realismo fantástico. É um livro ótimo e que ficou comigo por um tempo depois do final da leitura. Uma das personagens, em um momento de isolamento, começa a ler o Em Busca do Tempo Perdido do Proust, mas larga logo em seguida, pois para ela parecia falar de um outro planeta. Fiquei intrigado e logo em seguida comecei minha saga do Proust.

No caminho de Swann - Marcel Proust 
A única coisa que eu sabia do Proust era a cena das madeleines e a xícara de chá, de como essa combinação lembrava imediatamente sua tia. Eu gosto de madeleines, o seu formato de conchinha, seu gosto meio de bolinho do lanche do final da tarde. A famosa cenas já acontece logo no começo, bom que não tem enrolação em relação às expectativas de grande parte das pessoas. O livro não tem palavras complicadas, mas fiquei perdido com o tamanho gigantesco dos capítulos, além dos parágrafos que seguem por várias páginas. Aliás, os parágrafos viraram capítulos para mim. Para navegar no livro tentava sempre deixar um começo de parágrafo para me guiar no próximo dia. Eu estava acostumado a ler meia hora, quarenta minutos, passei a ler apenas dez, quinze minutos. Demorei para engrenar e entrar mesmo no livro. A infância do narrador é cheia de cenas bonitas com os pais, a empregada e a tia (da madeleines). A vontade do beijo diário de boa noite da mãe.

À sombra das moças em flor - Marcel Proust 
A história segue na adolescência do narrador. Agora apaixonado pela filha de um amigo dos pais. Um homem judeu que se apaixonou por uma mulher com fama ruim por grande parte da sociedade. Muitos passeios pelo Champs-Élysées do final do século XIX, brincadeiras. Uma viagem com a avó para uma cidade litorânea em um hotel que me lembrou o Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson. Passeios na beira-mar para conversar com as garotas, visitas ao ateliê de um artista. A amizade com um rapaz nobre, que aos poucos vira um grande amigo. O namoro do amigo com uma atriz de má fama. A vida militar do amigo nobre.

O caminho de Guermantes - Marcel Proust
O narrador já é um jovem adulto. De volta a Paris. O rápido avanço da doença da avó, aliás a cena da morte da avó é uma das minhas partes favoritas até agora e me deixou muito impactado, achei a narração muito real, quase documental, a morte real, sem idealização. O amigo nobre do livro anterior é de uma família nobre que dá nome a esse livro. Encontros nas casas dos ricos para jantares e discussões sobre vários assuntos, inclusive antissemitismo, com base no caso Dreyfus, um evento verídico de um militar francês de origem judia que foi falsamente acusado de traição no final do século XIX. Dei uma pesquisada e realmente ocorreu como foi narrado no livro. Eu não esperava essa discussão, justamente quando ainda ocorre uma guerra nos dias de hoje, impensável na época do livro. Muitos jantares nas casas dos ricos, muitas discussões sobre nobrezas europeias, mas é interessante que o narrador percebe que apesar da aura de nobreza, muitas das pessoas ricas ali são medíocres. E agora sigo para a outra metade do Em Busca do Tempo Perdido.

7 de fevereiro de 2025

Leveza



Depois da rotina do dia-a-dia, ali com dias nem tão bons, mas nem tão ruins, aos poucos sinto um pouco de leveza, um simples sorriso, uma piada meio sem graça. É importante enxergar essas pequenas vitórias, principalmente depois de tantos dias um pouco cinzas. E nada muito extraordinário aconteceu. Talvez mais sol, mais calor, talvez o carnaval que vem chegando. Não sei, mas também não importa muito. O importante é sentir um pouco mais de leveza.

31 de janeiro de 2025

Montanha russa ou lago da preguiça



Eu nem senti janeiro passar, mas talvez porque eu tenha ficado muito pensativo. Tenho me sentido mais introspectivo nos últimos tempos, mas não exatamente triste. Uma sensação de barulho de estática, um som que não é alto e nem baixo, um som que sempre está ali ao fundo. Acho que é importante sentir-se assim também. De qualquer forma os dias passam e não são ruins. A rotina em si não é ruim. E nem boa. Janeiro teve alguns sustos de saúde e houve também alegria, principalmente no dia da alta da minha mãe. Logo em seguida volta a modulação, sem grandes picos. Também não estou com planos de nada, tenho pensando mais nos ciclos das semanas. Não há grandes eventos ou grandes marcos. E talvez envelhecer é entender que isso também é bom. A vida não precisa ser uma montanha russa.

22 de janeiro de 2025

Susto



Que bom que existem hospitais e pessoas que trabalham na área da saúde. Meus pais são idosos e apesar de se cuidarem, de vez em quando precisam de cuidados. Esses dias minha mãe estava com muita tosse e falta de ar. Na hora lembrei da pandemia e todo o sufoco que passamos naqueles anos terríveis. Fomos ao pronto socorro e depois de alguns exames e umas três horas de espera saímos com o diagnóstico de pneumonia. Antibióticos e outros remédios fortes. Alguns dias depois ela piorou, os remédios não fizeram efeito. Voltamos ao pronto socorro para novos exames e uma nova receita, mas dessa vez colocaram uma pulseira vermelha na minha mãe, trouxeram uma cadeira de rodas e a levaram para dentro. Eu fiquei do lado de fora para assinar a papelada, enquanto a levavam para a enfermaria. Soro na veia, mais antibióticos. Uma leve melhora, mas recomendaram internação na UTI, afinal ela é idosa. Foram dois dias de internação. Nós dois juntos. Remédios, barulhos de aparelhos, medo e muita espera. Conversamos bastante, ela sempre se manteve tranquila. Conversas interrompidas por acessos de tosse. Não é a primeira vez que fico de acompanhante, então já sei mais ou menos o que esperar. Trocas de adesivo de acompanhante, preços abusivos do estacionamento, cada profissional de saúde na UTI com uma cor diferente de uniforme, da cabeça aos pés, parecia um outro mundo. Contei uma sete cores diferentes, quase um arco-íris. E eu virei a Assessoria de Comunicação da família, recebia telefones, encaminhava o PDF dos resultados dos exames, tirava fotos da minha mãe, resumia tudo o que acontecia. Depois de muitos exames, médicos, enfermeiros e muita espera: bronquite viral. Não precisava tomar tanto antibiótico e nem de tanta espera. Depois uma espera longa para a alta geral, pois é preciso comunicar em vários setores do hospital. O que importa é que ela está melhor e já está em casa. Espero que continue saudável. Bom que ganhou uma batelada de exames e verificou que está tudo bem. Que bom que existem hospitais e que minha mãe tem um plano de saúde. Apesar dos erros de diagnóstico o melhor mesmo foi irmos ao hospital.

9 de janeiro de 2025

Começou o ano



Agora já a alguns dias no 2025 e, claro, não é muito diferente do ano passado. Não dá para entender o ano só com alguns dias, mas sinto que estou diferente. Acho que mais tranquilo, mais simples. Tenho gostado da solitude, da tranquilidade de ficar em casa. Aliás, a casa ganhou um significado maior de aconchego nas últimas semanas. Não tenho grandes planos para 2025 e nem mesmo resoluções, além das genéricas do tipo tentar ser mais saudável, ter mais tranquilidade e bondade. Não prevejo muitas mudanças, mas também não tenho o dom da premonição. Talvez envelhecer seja entender que simplesmente está tudo bem, mesmo quando não está. E que o tempo sempre segue.

30 de dezembro de 2024

Boas festas



Eu não sou um grande fã de natal ou ano novo, quer dizer, não idealizo essa época, mas independente do que eu penso o ano vai acabar e outro vai começar. Com o tempo tenho entendido que o melhor é não idealizar muito. Claro, mas cadê o sonho? A essa altura tenho gostado mais se ser realista. O sonho é poder estar em casa com meu marido e os dois cachorros jogados pelo chão dormindo e quando ouço o barulho da respiração deles e os pequenos roncos que parecem um motor de um brinquedo antigo. E então para fechar o ano investi em ter uma casa bonita. Finalmente coloquei em prática algumas reformas simples que estavam há uns seis meses atrasadas. Contratei o serviço de reparo do rejunte do banheiro, do teto de gesso da área de serviço e a pintura do teto da cozinha, afinal são dez anos por aqui. Além disso, finalmente trocamos a máquina de lavar roupa e reformamos a geladeira, que ainda está boa, mas a pintura estava ruim. Eu nem sei de onde tirei essa energia para finalmente dar um jeito na casa. E agora parece que a própria casa mudou, voltou a ser um lugar bonito e aconchegante. E me deixou feliz de ter planejado e colocado em prática do jeito que pensei. 

Então são essas pequenas vitórias que têm me atraído. Não quero nada grandioso, quero essas mini-alegrias na vida. Quero o simples e por mais difícil que seja o simples, ele me parece mais natural, mais o caminho a seguir.

Gostei do natal simples. Meus pais, minha sogra, minha cunhada e os cachorros. E comidas gostosas. Depois um passeio para ver a árvore de natal do centro da cidade, que não gostei muito, mas na verdade não tenho que gostar, fico feliz que ela está lá e cumpre a função dela. Aliás, pela primeira vez montei uma árvore com um galho de cipreste que veio em uma cesta de coisas de natal. Gostei. 

Logo começa o ano novo e quero simples, as pequenas alegrias. Gostei de voltar a sorrir com meu marido por coisas tão pequenas. Lembrar das nossas piadas internas, conversar besteiras. Quero a rotina simples de passear com os cachorros no começo da manhã, caminhar aqui pelo bairro, fazer ioga alguns dias na semana, beber vinho nas sextas, assistir filmes, ir a shows, encontrar minhas amigas, visitar meus pais. Acho que vai ser bom o 2025. Não ótimo, mas bom. Bom já está ótimo!