3 de junho de 2012

60 dias

Dois meses de São Paulo. Dois meses longe de casa ou dois meses em casa? Aprendi a gostar daqui, com a multidão, o sotaque, a pretensão, os preços. Uma semana sozinho, um apartamento vazio e vazio. Vazio de móveis, vazio de você.

Mas até hoje gosto de abrir a janela e observar o horizonte cheio de prédios e luzes. Ainda me tira o fôlego. Gosto de abrir a porta e dar de cara com a porca, a cachorra e o veado. Gosto de falar com o porteiro e ele me desejar bom descanso. Gosto de descer do metrô e dar de cara com a Avenida Paulista, ver as performances, os executivos, os adolescentes, os trabalhadores. Gosto de descer minha rua, ver os casais de mãos dadas, os bares cheios, o shopping. Gosto de caminhar todo dia mais de meia hora na ida e outra meia hora na volta. Gosto de sentir que estou emagrecendo, mesmo sem estar na academia. Gosto de não precisar pedir dinheiro aos meus pais. Gosto de pela primeira vez trabalhar como advogado.

Mas, claro, uma série de coisas que não aprendi a gostar. A principal delas, a danada da distância. A distância da minha familia, dos meus amigos, dos lugares que vou desde pequeno, do desenho de avião, da seca, dos sorvetes de frutos do cerrado, do bar árabe, do eixão e dos eixinhos, das quadras, dos prédios de caixinha, do lago, das árvores tortas, dos ipês floridos.

Não fiz amigos paulistas ainda. Sou muito fechado e detesto me sentir pedindo favores. Fico na minha bolha, passeando sozinho pela cidade, assistindo filmes em casa, indo a pé para o cinema, para o museu, caminhando por ai, sem rumo, escutando músicas. Vou ao parque com um livro e me sinto um pouco como um aposentado lendo em um banquinho. Detesto ir sozinho a restaurantes, mas tenho ido a alguns aqui perto, escolho sempre algo diferente.

Sei que poderia estar ainda em Brasília. Poderia ter tentado mudar de emprego lá. Mas aqui a mudança faz ainda mais sentido. Estou feliz como resultado desses dois meses. Da dificuldade no começo, da alegria de ter conseguido um emprego em um escritório bacana, de aprender a andar pela cidade e entender os caminhos, não ter carro.

No fim acabo percebendo que tudo gira, tudo muda, mas acaba sendo a mesma coisa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário