13 de abril de 2013

Temps

Não tenho tantas responsabilidades, não tenho filhos, casa própria, emprego dos sonhos. Não tenho financiamento, não tenho carro, não tenho barriga avantajada, mas tenho quase trinta anos.

Os anos começam a pesar. Rugas, cabelos, barba e pelos brancos, entradas. Um pouco de mau humor, de preguiça, de medo de parecer ridículo. Distanciamento, silêncio, livros, música, casa.

Comprei meus primeiros cosméticos para rugas, marcas e olheiras. Inevitáveis sinais do tempo, mas gosto da vaidade de me cuidar. Relógio correndo, morte mais próxima, perda de tempo. Aliás, perder tempo? O tempo continua passando, independente do que eu escolha fazer. Mas o tempo acaba uma hora, independente do que eu faça.

Fecho os olhos caminhando na calçada de volta ao escritório. Vento no meu rosto, calor do sol. Pisco e estou numa praia, qualquer praia. Abro os olhos, calçada, carros, terno. Fecho os olhos, praia.

Deixei a barba crescer. Duas semanas. Ninguém fala nada, mas vejo que pareço mais velho. Alguns pêlos e cabelos brancos, rugas. Me sinto ainda adolescente. Me sinto imaturo, longe de estar no lugar que quero estar. Alguns amadurecem mais tarde, talvez. Será que vou ter mais tempo para ser velho? Me chamam de senhor, não sei se por causa do terno ou da barba. Tem dias que quando estamos juntos no fim de semana nos chamam de meninos.

O tempo passa tão depressa. O fim de semana ainda mais rápido. De repente isso tudo não é para nada. Mas já que estou por aqui, devo ter de fazer algo antes que tudo acabe. Penso em coisas malucas, idéias estranhas, algo para mudar tudo de novo, uma eureka para eu chegar nos quarenta e me sentir mais pleno, mas perto do que eu quero ser.

Enquanto isso passo meus cremes para tentar não parecer tão acabado quando chegar lá.



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