16 de fevereiro de 2014

Lógica analógica

Ando numa vontade de reduzir o ritmo de várias coisas na minha vida com o objetivo de me reconectar comigo mesmo. Em algum momento desses últimos anos, principalmente depois de vir morar em S. Paulo, me perdi de mim. Mas talvez esteja na verdade conseguindo me reencontrar. 

Lembro dos vinis de quando era pequeno. Minha irmã tinha um desses enormes aparelhos de som com vitrola, rádios e tocadores de fica k7. Eu tinha alguns discos herdados e ganhados. Alguns da Xuxa, dos Simpsons, do Jive Bunny, do Balão Mágico. Adorava colocar a agulha em cima dos discos, brincar com a velocidade, ouvir a voz ficar mais aguda e rápida ou mais grossa e arrastada. Mas nunca me senti muito a vontade, pois a vitrola ficava no quarto da minha irmã. 

No começo da década de noventa meu irmão viajou para fora e trouxe um aparelho de CDs. O primeiro disco que vi na vida foi o do Dire Straights. E então ninguém mais queria os vinis. Vieram outros aparelhos de CDs e mais discos. E os vinis foram doados e vendidos por quase nada. 

Depois os mp3, discografias inteiras, discos vazados antes do lançamento. Depois o streaming, as playlists e tudo mais. 

Quase vinte depois, eu e meu marido resolvemos comprar uma vitrola, assim do nada. Quer dizer, fomos comprar uns vinis usados para o aniversário de um amigo. E saímos direto para uma busca de um vitrola com um preço acessível. Não existe. Então parcelamos em algumas vezes no cartão de crédito, mas voltamos pra casa com uma de madeira com visual meio tosco dos anos 40 que tem radio e fica k7. E de uma marca que nunca ouvi falar. Mas que toca discos que é uma beleza. 

Ouvir de novo discos de vinil ressignificou o meu jeito de ouvir música. Eu não comprava música havia muito tempo. E nem dava muito valor para os discos novos dos artistas que sempre gostei. Ouvia, gostava e deixava num eterno modo randômico no meu celular pra ouvir enquanto caminhava na rua ou ia pra academia. 

De repente nós vimos em casa com uma pilha de discos usados, alguns com dedicatórias de amigo secreto de 1986. Ouvir as faixas na ordem que o artista escolheu, trocar o lado do disco, colocar a agulha, ver arte da capa. Tudo isso eu havia esquecido. 

Esse retorno ao analógico me fez perceber que preciso dar um novo significado para vários outros aspectos da minha vida. Preciso simplificar, retomar, perceber, sentir e tocar as coisas. 

Essa vida digital em que nada mais tem forma física é realmente ótimo. Ler, ouvir, escrever, assistir tudo instantaneamente, sem se preocupar com peso, forma, data de validade. Mas é bom também não perder o parâmetro físico, analógico. 


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