21 de julho de 2014

Água e seca

A vida tava seca. Ainda está, na verdade. Cada um em um canto tentando curar os próprios machucados. Mas não precisa ser assim, afinal os arranhões não vão se curar sozinhos.

A vida continua seca. A Cantareira já no fim do volume morto. As roupas secam de um dia pro outro no varal.

Cavando mais fundo talvez tenha água. Mas é preciso ter forças pra cavar e encontrá-la. Ou pode ser que se achem mais coisas que estavam escondidas embaixo de tantas camadas. Talvez lá embaixo esteja a gente. Lá no fundo, embaixo de tantas camadas.

Mas o importante agora é cavar. E encontrar alguma água que ajude com essa secura da vida. Nem precisa ser água líquida. Pode ser um vapor de algo que um dia ajudou a umedecer essa secura da vida.

A pior coisa é chorar seco. Já nem tem água mais pra lágrimas. Nem cor. O choro nem sai. E nem fica.

Ontem encontrei um pouquinho de água, umas gotinhas só. Até ri um pouco, acredita? Ri assim de falar besteira. E foi bom rir. E o riso parecía uma bomba de água, puxando lá do fundo algo legal. E puxando. Não puxei tudo pra não secar.

Parece que vou encontrar mais água lá embaixo. Talvez plantando até dê um jardim legal nesse deserto. Lembro que um dia já teve um jardim bem bonito que foi morrendo aos poucos por falta de cuidado. Mas devem ter sobrado no fundo umas sementes danadas, dessas que não morrem nem com fogo.

E elas vão germinar.

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