20 de maio de 2015

Criogenia

O congelador é um mundo inexplorado e não sei direito o que tem lá dentro. Eu me sinto como um Indiana Jones no Ártico: encontro um pedaço de algo congelado e tento descobrir o que será deve ser aquilo. Será que é comestível? Será que vai me matar?

Já descongelei uma pedra de gelo vermelha que só poderia ser bife. Mas na verdade era carne moída. Já era meus planos de comer um picadinho, mas então fui fazer um quibe. A vida do dono-de-casa é assim.

Eu já abri potes de sorvete jurando que era de chocolate, mas era só feijão.

E tem frutas esquecidas desde o natal (será que vou usar aquelas cerejas para alguma coisa?). Tem caldo de legumes caseiro. Tem até algumas claras congeladas que sinceramente nunca vou usar. Eu sei, guardei porque fiquei com dó de jogar fora em um receita que pedia muitas gemas e pensei em fazer suspiro, pudim de claras ou até mesmo tentar macarrons, mas eu sei que não vai rolar.

Comecei a tentar esvaziar meu Polo Norte. Trouxe pro almoço um pedaço de torta de fango que estava há muitos meses por lá. Fiquei com receio, cheirei, provei e realmente ainda estava gostosa. Freezer + microondas e eu me sinto meio Jetsons: você tira de uma máquina, coloca em outra máquina e come.

A porta dessa era glacial quase não fecha. Outro dia achei que estava muito bagunçado e tentei arrumar tudo, mas ficou de um jeito que não fechava mais a porta. É um quebra-cabeça. Tirei tudo de novo e arrumei como estava antes de tentar arrumar. A porta fechou.

Quando minha mãe vem me visitar ela sempre me leva uma sacola de coisas congeladas: frutas do quintal, empadão, pão de queijo. Eu digo para ela que não cabe, mas de alguma forma mágica ela faz o impossível: torna um congelador abarrotado em um abarrotadíssimo. E a porta fecha. Isso que importa! Joga lá dentro, fecha a porta e esquece.

Aliás, minha mãe é uma expert em congelamento. Ela tem um freezer horizontal no quintal e dois verticais na cozinha. Quando eu era pequeno e não tínhamos empregada, minha mãe contratava uma cozinheira para fazer pratos e porções para congelar. A moça trabalhava um dia inteiro sem parar. Acho que não existe mais esse tipo de serviço e eu não me imagino contratando algo parecido.

A minha última geladeira tinha um congelador interno, desses que a camada de gelo vai crescendo um pouco todos os dias. Esqueci um pote de sorvete lá dentro e ele ficou soterrado no gelo. Foi terrível, mas era lindo ver aquele monte de neve dentro da geladeira. Eu nunca vi neve de verdade, essa é a minha neve. E o feltro na época das decorações de natal.

Hoje meu congelador é frost-free (ou frósfri). Não tem neve, mas agora cabe mais coisa. Cabe um frango inteiro, muitas peças de queijo e, quem diria, até formas de gelo vazias.

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