9 de julho de 2020

Torta de limões à mão


A casa dos meus pais parece um sítio com várias árvores frutíferas. Nesta época do ano o pé de limão galego (ou limão cravo ou capeta, o nome depende da região do país) está repleto. Quando eu era pequeno não gostava muito do limão galego, achava que ele tinha algum problema, pois a casca dele tem alguns pontos secos, como se fosse uma doença de pele. Anos depois descobri que ele é uma mistura entre tangerina e limão feita na Índia no século XIX. Será que pegaram o pólen de uma planta e colocaram na flor de outra? Hoje em dia adoro esse limão e ganhei uma sacola cheia da casa dos meus pais.

Na quarentena tenho notado essa minha reconexão com várias coisas, inclusive com minha infância e meus pais. Eles ainda moram na mesma casa que nasci e cresci. Fiquei um tempo sem ir lá por causa da pandemia, tinha medo de levar o vírus para eles e então nos falamos todos os dias pelo telefone. Mas com a piora da saúde do meu pai tenho ido mais lá, sempre com máscara.

Fizemos caipirinha e tenho usado os limões para finalizar alguns pratos, dar aquele toque ácido no final do preparo. Ainda tem um monte, então resolvi fazer aquela boa e velha torta de limão.

Tem poucas coisas na nossa despensa e eu não havia me planejado para fazer torta. Não tinha biscoito maizena para a base, por exemplo. E nem ovos ou manteiga sem sal para fazer a base. Pesquisei um pouco e achei uma base com tâmaras, coco ralado e castanhas e tinha tudo aqui em casa. Como meu marido trabalha da sala e estava no meio de uma videoconferência, não quis fazer barulho. Mas a torta precisa gelar e não podia adiar muito. Decidi fazer tudo na mão, sem nada elétrico.

Piquei as castanhas, tirei os caroços das tâmaras, juntei o coco ralado. Piquei muito. Demorou um bocado, mas é uma experiência boa. Junta e pica. Junta e pica. E de novo. Não virou uma farinha, mas ficou pequeno o suficiente. Virou uma massa mesmo. Coloquei na forma de fundo removível e fui para a segunda parte. Eu fazia tanto essa torta quando era pequeno que nem preciso de receita.

Eu estudava de manhã e depois do almoço assistia o Jornal Hoje com meus pais. No final de uma edição lá em 1995 ou 1996 mostraram a receita de uma torta de limão, que na verdade é uma base de biscoito triturado com manteiga e um mousse de limão. Fiz a torta e todo mundo gostou, meu irmão disse que parecia cheesecake, mas na época eu não tinha comido ainda cheesecake. E virou a torta que eu sempre fazia, além do brigadeiro de sempre e do pudim de leite feito no microondas. Até hoje fazem essa torta de sobremesa na casa dos meus pais. Talvez desde aquela época eu não fazia.

E hoje foi bom sentir essa reconexão e fazer tudo na mão, quer dizer com a faca e um batedor de claras.

Tomara que o limão galego tenha dado um toque diferente pra torta. Coloquei um pouco de limão tahiti também para dar mais um pouco de acidez. Engraçado que essa torta só funciona com limão, maracujá e cupuaçu, só com frutas bem ácidas. Tentei fazer com morango e não deu certo. Agora ela está na geladeira para endurecer.

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