27 de janeiro de 2015

Vergonha na cara

Tentei pensar como seria a primeira vez que se toma consciência na vida, naquele estágio quase não humano. Será que é algo como acordar depois de um sono bem longo? Um sono pesado, sem sonhos, sem preocupações, sem sentir nada. E então começam barulhos, movimentos, luzes, cheiros. E então a consciência.

Aliás, são várias as vezes que se toma consciência na vida, geralmente após um baque. A tendência é se acomodar, acostumar, adaptar, até que a não se reconhecer mais. Mas a essência está ali: a bagunça, a desordem, o desconforto, a insatisfação, tudo ali escondido só esperando o baque, que sempre vem.

E vem de várias formas: falta de grana, falta de saúde, falta de tempo, falta de amor. Nem sempre por falta, pode ser por excesso também.

O meu dinheiro está acabando e não fui atrás de outro emprego no mesmo ramo. Decidi voltar para um emprego antigo, que saí há quase três anos. E voltei, apesar de sentir um nó nas minhas entranhas. Preciso do dinheiro e preciso de um emprego que me proporcione ter um horário fixo e uma grana certa. Afinal de contas, dívidas e necessidades básicas (e não tão básicas) é o que faz a gente parte da engrenagem gostosa do capitalismo.

Mas então vamos pensar que paguei minhas dívidas, usufruí da jornada fixa e ainda guardei um pouco de dinheiro. E agora? Frio na barriga. Não sei. Estudo para conseguir outro emprego (qual?)? Faço mestrado (em que?)? Abro minha empresa (de que?). Não faço nada e continuo aqui com meu nó nas entranhas?

Eu sei que não se deve atrelar a felicidade a um futuro incerto, o negócio é ser feliz agora e tudo mais. Vou ser feliz quando eu emagrecer/arranjar um emprego melhor/viajar para o exterior/sei lá. Mas quem disse que dá pra ser feliz hoje com todos esses perrengues e dúvidas?

Tem vezes que quero fazer ioga, viajar para um retiro espiriual, fazer uma massagem tântrica, tomar um chá espiritual. Mas não adianta ficar procurando coisas externas, O negócio está aqui na minha cabeça. Preciso decidir o que quero, seguir com esse plano e entender que as coisas levam um tempo mesmo, mas que é preciso curtir de hoje.

Sei. Minha vontade é chegar em casa, comer algo gostoso e ver um filme. E ler um livro. Até quando eu vou ficar de férias na minha cabeça?

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