10 de outubro de 2016

Portugal - dia 4

Saimos de Lisboa em direção ao sul, vamos ficar hospedados em Évora (será que tem a ver com a Cesárea?). Hoje o dia está mais frio, passamos numa cidade chamada Setúbal (Ishtúbal, como dizem aqui). Tive uma briga feia com minha mãe, coisas guardadas há muito tempo, mágoas antigas dos dois lados. Não sei se nos conhecemos. Ela me perguntou o que ela fez comigo que há meses estou distante. E me disse que se arrepende de ter me trazido com ela, não sabe se me convidou ou se achei que estava obrigado a vir com ela. Realmente estou introspectivo e alguns passeios eu não curto mesmo, afinal o foco da excursão é a terceira idade. Ela pagou minha viagem e minha hospedagem. Só gastei com os euros para minha alimentação e para minhas compras. Ela me ajuda muito financeiramente, pagou mais da metade do meu apartamento e me deu seu antigo carro quando voltei a Brasília. Sei que ela faz de bom coração e não me cobra, mas acho essa situação opressora, apesar de me acomodar e não fazer esforço para mudar.
Ganho pouco para os padrões de Brasília, não atuo no ramo que me formei e comecei a estudar uma nova graduação que não tem uma utilidade prática a não ser me dar prazer de voltar a estudar. Eu tenho 33 anos e me sinto tão pequeno e infantilizado. Não vou conseguir aprovação dos meus pais e sei que nunca vou conseguir. Não dou conta de me adequar aos padrões deles, sei que não fazem por mal, mas simplesmente tenho que me dedicar e tomar as decisões de minha vida de acordo com os meus ideais. Mas no fundo quero a aprovação deles e, claro, me frustro com isso.
São tantas coisas juntas que nem sei me expressar. Somos muito diferentes, temos ideais, visões da vida, planos completamente opostos. Não sei se vamos conseguir realmente nos conhecer. Não sei se vamos conseguir isso. Não há errados, simplesmente diferentes. Ela não me entende e eu não a entendo. E essa convivência diária tem sido bastante difícil, cada um em seu iPad, cada um em seu mundo. Não dialogamos. E quando tentamos o fazer acabamos por brigar. É melhor não ter expectativas. Já nem sei porque não me sinto confortável perto dela. Sou muito grato por tudo que ela fez para mim e sei que ela me ama, assim como eu a amo. Mas não sei como me aproximar. E ela não sabe como se aproximar de mim. Isso tudo é muito incômodo. Espero que a gente consiga se entender.
Na foto está uma estátua de Botero que representa a maternidade. Fica na praça Amália Rodrigues, em Lisboa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário