10 de janeiro de 2017

Simplificar

A gente não costuma notar os próprios privilégios. Eu comecei a trabalhar quando a economia do país estava ótima e tinha muita perspectiva de dinheiro para todo mundo. As pessoas mais pobres podiam entrar na faculdade, podiam comprar eletrodomésticos, viajar de avião. Havia toda uma sensação de que tudo ia dar certo, a desigualdade social ia diminuir e que tudo continuaria bem por muito tempo.

Lembro que a gente ia aos shoppings e gastava muito. Comprava várias coisas legais, sem se preocupar muito com o preço. Era só parcelar! A vida era boa, tudo corria bem. Às vezes as verduras e frutas estragavam na geladeira, mas tudo bem, é só comprar mais e jogar aquelas fora. Algumas roupas e sapatos não eram usados e ficavam ali com etiqueta por anos no armário. Talvez nem coubesse mais roupa ou sapato no armário.

Nos últimos anos a economia como um todo piorou muito. Aumentou o desemprego, a inflação e todo mundo foi afetado. Hoje a gente tem que planejar as compras no mercado, voltamos a comer mais em casa, a economizar, a planejar os gastos, comprar apenas o necessário. E na verdade percebi que não é preciso comprar tantas coisas, não é preciso acumular tanta coisa. Dá pra cortar vários gastos que antes pareciam necessários. Dá pra repensar, reduzir as coisas, transformar algumas, criar. A gente dá um jeito, a gente aprende. E a gente se diverte, mesmo na pindaíba.

Na verdade aquela ideia do "compre, compre, compre!" ou do "movimente a economia" parece tudo meio furado hoje. Todo mundo tem buscado simplificar e tem retornado para uma maneira mais antiga de fazer as coisas, um novo antigo. Mais pessoas cozinham em casa ao invés de comprar produtos processados. Mais pessoas costuram e criam suas roupas. Mais pessoas tem hortinhas na varanda ou nos prédios. Mais pessoas preferem comprar coisas feitas por gente que mora na mesma região. Mais pessoas usam bicicletas e transportes público ao invés de trocar de carro todo ano.

E mesmo com esse monte de loucura na política e na economia a gente vai sobreviver. A gente dá um jeito. 

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