2 de março de 2023

Mar e memória



Esses dias me lembrei de um grande medo que passei na infância. Fomos passar as férias na cidade da minha mãe, uma cidade de praia. Pegamos um barco para outra cidade de praia e foi preciso ir para o alto mar. É uma sensação estranha ver mar por todos os lados, parecia estar solto no espaço sideral ou em um planeta feito de gelatina. E, claro, que eu fiquei enjoado e precisei vomitar, pois a fatia de limão não me ajudou. Correu tudo bem na outra praia, mas na volta começou a chover muito e mar ficou muito agitado. Nunca tinha vivenciado algo tão assustador. O barco parecia feito de brinquedo. As mulheres e as crianças desembarcaram primeiro, mas como o mar e a chuva não diminuíram, o capitão do barco decidiu desatracar e ir com o barco para além da linha das ondas. Meu pai ainda estava no barco e voltei para casa da minha avó rezando e torcendo para correr tudo bem. Acho que foi a primeira vez que vivenciei um perigo e a possibilidade de morte. Talvez por ser de uma perspectiva da infância o perigo parecia ainda maior. Há alguns dias conversei com meus pais sobre esse episódio que ocorreu há trinta anos e a memória deles foi completamente diferente, ao invés de algo assustador foi apenas um evento corriqueiro, nada demais. As memórias não são confiáveis. De qualquer forma, não fiquei com medo do mar e ainda acho um dos maiores encantos. Essa viagem continua mágica e assustadora para mim.

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