22 de março de 2023

Ralados



Na infância era tão comum correr, pular e então cair no chão, ralar a mão e os joelhos. Mas então a gente cresce e já não corre tanto, nem sobe em árvores. O computador e o celular não parecem assim tão perigosos. Mas então tem uma promoção no bar em comemoração ao dia do Saint Patrick (que eu só vi a saber da existência depois de adulto) para tomar várias cervejas e chopps por um preço fixo que dá mais ou menos o valor de dez copos de cerveja. Parece uma boa ideia. E então depois de várias cervejas eu pisei em falso e cai no chão. Claro, o tanto de cerveja não ajudou no equilíbrio. Não quebrei dente, não estraguei meus óculos ou minhas roupas, mas ralei minhas duas mãos. Nada demais, claro. Mas como é ruim ficar com as mãos raladas. Mesmo sem merthiolate ou salmoura. Mesmo só com um spray antisséptico que nem arde. Lavar louça, usar o mouse, digitar, tudo incomoda. Eu não lembrava como era chato. Mas logo logo a pele vai se regenerar e esses ralados vão virar história, como aconteceu com os vários ralados da infância. O sangue, o vermelho, as camadas de pele, tudo vai ser coberto como se fossem dunas de um deserto ou sedimentos em um rio. Como é bom ter um corpo.

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