
Todo esse perrengue que passei nesse ano talvez tenha sido uma forma de fazer essa minha cabeça dura entender que preciso de uma vida mais tranquila.
Eu estava no avião voltando para São Paulo depois de passar alguns dias em Brasília, naquele misto de tristeza pelos rumos da minha vida e saudade de uma vida mais simples. Não sou a pessoa mais sociável dos aviões e em geral não passo do "bom dia", "com licença" e "até mais".
A pessoa da cadeira do lado parecia bem simpática e me perguntou sobre minhas tatuagens, dizendo que sempre teve vontade de fazer, mas hoje, por estar com um pouco mais de trinta anos, acha que já está velho para isso.
Conversamos mais um pouco e recebi uma proposta de emprego. Eu nunca havia combinado de jantar com uma pessoa que acabei de conhecer em um avião. Ainda mais em um contexto nada sexual.
A conversa foi ótima e já virou um almoço com outra pessoa da empresa. Não há nada certo e eu realmente não esperava por nada disso, mas pode ser que meus rumos profissionais mudem.
O engraçado é perceber que não estamos mesmo no controle da nossa vida. O tempo inteiro há coincidências que podem alterar tudo. Nada é permanente, nada é para sempre. É bom deixar um espaço para o acaso.
Ainda não sei se é o melhor caminho a seguir, mas ao menos é um caminho diferente. A vida já me levou para tantos lugares diferentes. Sinceramente, nunca achei que estaria onde estou (não que seja muito!). Mas sinto orgulho do caminho que escolhi, das opções que fiz quando apareceu alguma bifurcação. Claro, muita coisa poderia ter sido diferente, mas não adianta pensar no "e se...".
Frio na barriga. Não sei o que vai acontecer. Mas algo vai acontecer.
Qual é a minha paixão, o que me move, o que me faz acordar todos os dias? A primeira coisa que me vem à cabeça é uma grande interrogação.
Acho que aos trinta anos já se deve saber qual é a paixão na sua própria vida e realmente é estranho não saber.
Gosto de fotografar, cozinhar, escrever, criar, mas será que é essa minha paixão?
Claro, paixão pode ser algo muito efêmero, ideológico, meio que um sonho inalcansável. Mas pode ser também um norte.
Não me encaixo no meu atual trabalho e nem no anterior. E nem no antes desse. E não tenho ideia de qual será o próximo.
Talvez eu apenas queira um trabalho simples, com horas fixas e dinheiro no fim do mês. Um trabalho que não exija muito de mim para que eu possa me dedicar a outras atividades mais criativas e que não me trarão nenhum retorno financeiro, mas que, claro, me darão muita alegria. Um trabalho simples que me proporcione horas livres para fotografar o que eu quiser, escrever livremente, cozinhar pratos diferentes, pesquisar sobre comida, lugares, fazer cursos, ver filmes, peças, exposições, ir a shows, descobrir novos músicos e viajar.
Não preciso de muito para viver e não tenho muitas ambições. Acho que nem todo mundo precisa ter sucesso profissional, ser reconhecido, ser um exemplo. Eu queria apenas um trabalho tranquilo com horas fixas e um salário ok, não precisa ser nada demais. Não preciso ter o carro do ano ou um super apartamento. Ou ter roupas de estilistas famosos, obras de artes caras, essas coisas grã-finas. Talvez um outro luxo de comer num restaurante mais caro, de comprar uma ou outra peça de roupa legal.
Eu quero uma vida tranquila. Não quero me comparar com os filhos dos amigos dos meus pais, com meus amigos da época do colégio ou da faculdade, nem com pessoas que tem uma década a menos do que eu e que ganham mais que o dobro do meu salário. E que já têm apartamento próprio, carro do ano, viajam para o exterior e que vivem em casas saídas de blogs de decoração.
Sempre fui devagar, sempre parei para olhar as flores, as nuvens, as coisas que não têm muito significado para as outras pessoas. Meio no mundo da lua. Sempre me interessei pelo diferente, pelo exótico, pelo esquecido, pelo desvalorizado. O ruim (ou o bom!) é que as coisas que eu gosto de fazer não dão dinheiro.
Desde pequeno quis ser alguém que meus pais tivessem orgulho. Fui criado para ser médico, juiz, promotor e quando meus pais perceberam que não teriam um filho que seguisse nessas áreas, desejaram apenas ter um filho funcionário público e com um apartamento próprio. Bem, atualmente não cumpri com nenhum desses requisitos.
Eu quero uma vida simples, um trabalho tranquilo. E admitir isso é perceber uma certa preguiça profissional. Talvez todo aquele potencial de tirar notas boas no colégio, ser aprovado numa das melhores faculdade e em um dos cursos mais difíceis não signifique exatamente a felicidade.
Não me enxergo como um sucesso profissional. Aliás, sempre me achei uma fraude, mesmo após a aprovação em tantas provas da vida (colégio, vestibular, diploma da faculdade, da pós, entrevista de emprego). Já fui elogiado pela minha inteligência, pela minha calma, pelo bom relacionamento com os demais profissionais. Mas não tenho ambição ou maturidade, tanto que mesmo com trinta anos as pessoas ainda me chamam de menino.
Talvez eu devesse procurar um trabalho tranquilo, mas que me proporcionasse algum retorno social. Atendimento jurídico para a população carente ou encarcerada, ONG ambiental, idosos, crianças orfãs, dependentes químicos. Não sei.
Ou um trabalho burocrático em um órgão público de meio ambiente ou social.
É estranho viver meio sem rumo na vida. Parece que estou esperando um sinal que nem sei bem qual é. Mas o tempo tem passado tão rápido ultimamente que sinto que talvez eu fique assim para sempre. Até ser demitido. Até aposentar. Até morrer. O cara que tinha um potencial bacana, mas que nunca soube utilizá-lo.
E tudo isso começou com a pergunta sobre qual é a minha paixão na vida. Eu, hein.
Mas ok, essa indefinição na vida já está um pé no saco. Preciso de prazos (advogado, prazos, sei...). Vou tirar umas férias forçadas daqui a alguns meses, viajar para bem longe (bem longe mesmo!) e tentar entender essa cabeça maluca.
Estou contando com você, Vinicius do Futuro. Espero que quando eu (ou você) reler(relermos) esse texto daqui a um tempo (não muito tempo, espero!), a gente esteja bem e tenha um rumo na vida. Só isso.
Até agora eu não entendi como a gente conseguiu ficar tanto tempo pagando a academia e nem sequer pisar lá. Foram algo como três meses de preguiça e roupas ficando apertadas.
E depois de adiar muito, de colocar o alarme para seis da manhã, acordar e voltar a dormir até as sete e pouco, finalmente resolvemos colocar o tênis, o short e a camiseta e arriscar uma corridinha de leve na esteira.
Foi ótimo perceber que em poucos meses de academia e de dieta a gente conseguiu perder uns cinco quilos e vários centímetros.
Agora não tem muito mistério. É só seguir esses dois passos.
E engraçado que esses dois dias de treino já fizeram uma diferença na minha cabeça.
É engraçado viver esses últimos dias ainda na casa dos vinte anos. Daqui a alguns dias entro com tudo nos 30. Apesar do peso de estar há três décadas por aqui, não acho ruim chegar nessa idade.
Talvez a principal mudança que quero pra essa nova fase é uma simplificação da vida. Quero um trabalho mais significativo. Não quero apenas ajudar gente muito rica a ficar ainda mais rica. Quero sim poder fazer algo que eu me orgulhe. E quero algo que o Vinicius de 1998, lá com 15 anos, se orgulhe de ver o Vinicius de 2013. No momento não é bem isso que acontece.
Quero ter mais arte na minha vida, quero um trabalho mais interessante e criativo, que me proporcione dar um retorno legal para a sociedade. Quero uma vida mais simples, mais saudável, mais tranquila.
Eu ainda olho no espelho e acho bacana o reflexo. Gosto de mim e acho que tenho melhorado com o tempo.
Passei uma fase muito complicada aqui em São Paulo, mas acredito que agora tudo está ficando melhor.
O ano acabando e eu já tenho que começar a me mexer para chegar em 2014 do jeito que quero. E já com os 30!
Uma das coisas que mais falta em minha vida atualmente é criatividade. Não crio nada. Nada de fotos, nada de textos, nada de nada. Quer dizes, depois do mixer eu até tenho feito alguns muffins, mas, bem, isso não conta. Tá, conta um pouco, mas dá pra fazer mais do que isso.
O fim de semana tá chegando e quem sabe consigo tirar umas fotos, escrever um pouco, pensar em um roteiro para um vídeo.
A vida está sem graça, mas sempre dá pra colorir um pouco.
Tinha tempo que eu não bebia até não lembrar do que havia feito na festinha do museu. Tequila tem dessas coisas. Ainda mais intercalada por doses de vinho, cerveja e não jantar.
Mas acordei na minha cama de pijama e banho tomado, mas com dores por todo o corpo e alguns pequenos roxos e machucados. Não lembro de nada. E durante meia hora ninguém sabe o que eu fiz, nem mesmo eu. E não lembro de ter vomitado no taxi de volta pra casa ou no chão da sala.
Sempre que subo a Rua Augusta de manhã cedo e vejo algumas pessoas com cara de balada desmaiados na calçada, lembro que poderia ser eu. Mas ufa, que bom que tenho amigos e namorado que me ajudam nas horas que a pomba-gira resolve baixar.
Mas a vida não está fácil. Aliás, está bem chata e cansativa. Muitas horas de trabalho, pouca grana, muita ralação e pouca diversão. Daí porque fui abraçar a tequila.
Mas agora quero me jogar em outras coisas. Cozinhar mais, criar mais pratos diferentes, investir em bugingangas gastronômicas (um mixer e um jogo de panelas decentes fez toda a diferença!). Quem sabe aprender a fazer blends de chá? Desenvolver receitas diferentes? Mais na frente quero muito abrir um café, um bistrôzinho com meu amor e alguns amigos. Algo simples, aconchegante, sem muitas pretensões.
No mais eu não sei mais nada da vida. Não sei se fico aqui, não sei se volto pra lá, não sei se mudo de trabalho, não sei se vou para um outro lugar.
Em menos de um mês completo as trinta primaveras. Continuo me achando com vinte e poucos, mas talvez um pouco mais tranquilo.
Ainda procrastino um pouco, ainda ando a pé, ainda gosto de usar roupas coloridas, barba, cabelo não tão curto (enquanto ainda me resta cabelo!). Mas quero resgatar outras coisas que ficaram pelo caminho. Quero tirar mais fotos, escrever mais, cozinhar, viajar, cuidar da casa, criar, desenhar, pintar, voltar pra academia, cuidar do corpo, ler mais.
Quem sabe uma vida mais tranquila!? Mas será que me acostumo?
Enquanto isso vou vivendo essa vida. Ela não é ainda como eu quero, mas também não é assim tão ruim.
Eu sempre me perguntei como as pessoas aceitam fazer trabalhos que elas não gostam. Como elas podem vender tantas horas do dia para algo que não acreditam?
Ainda não sei a resposta. Mas me sobram poucas horas do meu dia para fazer o que realmente gosto. Aliás, nem eu sei mais o que realmente gosto de fazer.
Tenho sentido um desânimo tão grande e uma vontade de ficar apenas em casa dormindo e vendo tv. O despertador toca, toca de novo e só quando vai tocar lá pela quinta vez começo a me levantar.
Eu não quero mais esse modelo tradicional de trabalho. Preciso fazer algo que eu realmente acredite. Mas não tenho ideia do que seja. Ok, talvez eu tenha uma ideia. Algo mais simples, menos burocrático e formal, algo com mais arte, mais criatividade, mais leveza. Talvez algo com comida, com chá, café. Talvez fotos, filmes. Uma startup? Ok, meu problema é que não consigo focar no próximo passo, quero sempre mudar radicalmente sem pensar muito no depois.
De qualquer forma me dei um prazo. Tenho uma viagem em novembro e durante esse período de férias quero tentar esquematizar uma estratégia para mudar de vida.
Mas até novembro tem muito tempo ainda!
Quero logo entender o que eu quero fazer.
A gente tem exatamente o que quer da vida, mesmo que isso não seja bom para nós. Eu, por exemplo, queria ser advogado ambiental. Entrei na melhor faculdade da minha cidade, não fui o melhor aluno, mas me formei no tempo previsto, passei num concurso, fiz uma pós em meio ambiente, mudei de cidade, distribui currículo e comecei a trabalhar em um dos melhores escritórios da área, mesmo sem ter experiência. Era exatamente o que eu queria. Era esse o plano, não?
O universo tem dessas. Mais ou menos como o gênio da lâmpada mágica que nós concede três desejos. Ele concede exatamente o desejo que a pessoa pediu, assim ao pé da letra. E no final, quando a pessoa se fode completamente com o que pediu, ele simplesmente diz: "Não foi isso que você pediu?". Foi exatamente isso, mas quem disse que eu queria isso?
A vida não está fácil, mas se eu encontrasse com minha versão de 2011, esse outro Vinicius estaria completamente satisfeito. O de hoje não. Mas não é o mesmo Vinicius?
As coisas acontecem por algum motivo. Ou ao menos é o que dizem. Sim, acontecem. E acho também que nada é perda de tempo. Vivi, amadureci e percebi várias coisas nesse período. E sei (não sei como eu sei!) que isso tudo é necessário para que eu chegue num lugar bacana. Ou para que eu finalmente saiba fazer os tais pedidos para o gênio da lâmpada.
Bem, seguro a lâmpada e não consigo desejar. Então nem adianta esfregar. Enquanto isso penso nos desejos. Sei que esse último que fiz não deu muito certo. Mas o próximo, quem sabe?
O inverno não é minha estação favorita, ainda mais nos dias em que o sol não aparece. Colocar várias camadas de roupa, comer coisas gordas e sentir aquele vento frio cortando o rosto não é das sensações mais gostosas.
E o frio desse ano chegou ainda mais intenso para mim. Talvez eu precise mesmo ficar mais reflexivo para entender tudo o que vem acontecendo e o que precisa acontecer. Tenho chegado no meu limite de cansaço e desânimo com o rumo que minha vida tomou, mas quando em penso no que preciso mudar parece haver uma névoa no caminho que quero seguir, impedindo minha visão.
Hoje o sol já aparece um pouco e, apesar de fraco, deu uma esquentada nesse monte de camadas de roupa. Preciso mesmo derreter esse monte de coisas desnecessárias na minha vida.
A vida está em um desses picos de tédio em que o trabalho ocupa a maior parte do dia e me sobram ali três horinhas de noite para descansar e ser feliz antes de desmaiar na cama de cansaço.
Mas chega de reclamar e de me sentir a pessoa com o emprego mais sem graça e sem possibilidade de mudar tão cedo.
Então decidi escrever, tirar fotos e ler. Voltar à minha rotina de criar pequenas coisas, mesmo que apenas para mim. Quero de novo me sentir vivendo e não apenas levando essa vida de gado.
Quero entender o que está acontecendo comigo nesses quase trinta anos. Desânimo eterno alternado por alguns poucos momentos de diversão? Chega.